Vidas roubadas

O ladrão só vem para roubar, matar e destruir; mas eu vim para que as ovelhas tenham vida, a vida completa.
João 10. 10

A vida com Jesus, em Sua intimidade e relacionamento, tem riquezas maravilhosas. Aliás, Jesus é a fonte de toda a vida e riqueza. Conhecê-lo é ter a possibilidade de dispor de uma fonte inesgotável de vida, graça, beleza, enfim, bênção sem fim. Quando encontramos e conhecemos Jesus, encontramos e conhecemos o maior tesouro da vida. Tesouro que, para ser mantido, compensa abrir mão de todo o resto, vender tudo, entregar-se inteiramente para usufruí-lo.
Não estou falando em bênção material, necessariamente. Muito menos estou insinuando que viver com Jesus é ter a garantia de uma boa vida, sem problemas, sem lutas ou males. De forma alguma. Não creio, nem de leve, que vida com Cristo seja afirmação de prosperidade. Vida com Cristo, ao contrário, é vida de riqueza espiritual, unicamente firmada no fato de que podemos nos relacionar íntima e pessoalmente com o Deus de toda glória, com o Senhor do universo. A riqueza da vida com Jesus é a riqueza de andar com Deus, em comunhão profunda, por mais que jamais entenderemos perfeitamente o que significa isso. Porque o que ninguém nunca viu nem ouviu, e o que jamais alguém pensou que podia acontecer, foi isso o que Deus preparou para aqueles que o amam (1 Co. 2. 9). A riqueza de graça e vida disponível para os que vivem com Cristo é de ordem imensurável, é a manifestação de um Deus, de Todo Poder, que age em favor do Seu povo, com Todo Poder: Peço que Deus abra a mente de vocês para que vejam a luz dele e conheçam a esperança para a qual ele os chamou. E também para que saibam como são maravilhosas as bênçãos que ele prometeu ao seu povo e como é grande o seu poder que age em nós, os que cremos nele. Esse poder que age em nós é a mesma força poderosa que ele usou quando ressuscitou Cristo e fez com que ele se sentasse ao seu lado direito no mundo celestial (Ef. 1. 18 – 20). Ser íntimo de Jesus não é garantia de vida fácil, mas sim de vida numa dimensão que conhece a grandeza do maior poder da terra, o poder que ressuscitou Cristo dentre os mortos.
Toda essa riqueza espiritual está aí, disponível para qualquer um que se dispuser e se comprometer com um relacionamento íntimo e pessoal com o Deus Triúno. O que mais me chama atenção, no entanto, não é a grandeza do poder que podemos conhecer e a riqueza da graça que podemos usufruir na intimidade com Jesus. O que mais me desperta a atenção é como eu e você, tão facilmente, abrimos mão dessas coisas, permitindo que satanás roube de nós os tesouros que fazem da vida cristã uma vida abundante. O que me chama a atenção, principalmente quando olho para mim mesmo, é como eu entrego minha vida e minha dignidade com tamanha facilidade ao furto qualificado do diabo.
Sou desesperadamente apaixonado por Cristo. Mas sei cada vez mais que, por mais que eu O ame, ou por mais que eu O conheça, meu nível de amor e compromisso com Ele, meu grau de conhecimento, está muito aquém do que seria possível a mim. Como se o nível de produtividade e eficiência da minha vida cristã fosse muito menor do que poderia ser. Resultado do grau, contraposto, de permissividade que eu dou ao diabo para que roube a minha vida.
Eu poderia usufruir muito mais da vida abundante em Cristo do que tenho feito e isso acontece porque o ladrão mercenário tem tido eficiência, com a minha conivência, em me roubar parte de meu tesouro mais precioso. Eu me deixo envolver por seus laços, eu caio em suas ciladas, que ele arma para tentar me afastar de Deus.
A ação de roubo mais efetiva que o ladrão mercenário empreende é a tentativa de nos roubar a vida, roubando a nossa comunhão com o Pai, o nosso conhecimento de Jesus, a nossa compreensão sobre a Palavra de Deus, sobre a intimidade em oração, e sobre as prioridades corretas que fazem rica a vida com Jesus. É aqui que o diabo age para roubar, matar e destruir. Jesus tem, ao contrário, vida para nós, uma vida completa, que usufruímos obedecendo-o, conhecendo-o em oração e meditação da sua Palavra, investindo tempo em mergulhar na riqueza da Sua vida, graça e amor. Esse é o nosso maior tesouro, que permitimos que seja roubado pelo maligno quando o desprezamos, quando somos desobedientes, quando cedemos às suas ciladas, quando abrimos mão da intimidade de Jesus abrindo mão da oração, comunhão e conhecimento dEle por meio de Sua Palavra. E eu sei que tenho agido assim muito mais que deveria, ao ponto de me sentir, ainda, às vezes, escravo de meu pecado, sujeito ao ladrão mercenário.
Ainda assim, que Deus seja louvado, pois ele fará isso por meio do nosso Senhor Jesus Cristo! (...) Agora já não existe nenhuma condenação para as pessoas que estão unidas com Cristo Jesus (Rm. 7. 24 – 8. 1). O que quero dizer com isso é que o Senhor, ainda sabendo do nosso descuido em evitar a perda da bênção que Ele tem para nós quando permitimos que o próprio diabo nos roube a vida, não nos deixa sem vida. Seus braços de amor e a riqueza da sua vida e graça continuam a chegar até nós, transformando-nos, restaurando-nos, amando-nos e trazendo-nos vida, apesar de nós mesmos. O fato de sermos assediados e cedermos algumas vezes às investidas do diabo não significa a nossa condenação. Porque estamos em Cristo. A nossa vida está nele, não em nós mesmos, nem vendida ao maligno. Estamos em Cristo e não há mais condenação alguma, em circunstância nenhuma, para quem está em Cristo. Perderemos, com certeza, como sou consciente que tenho perdido, parte da riqueza que poderia usufruir na vida em Cristo, mas não perderemos essa vida sob hipótese alguma, porque não nos pertence mais, mas está segura nas mãos do Senhor. Podemos empobrecê-la, podemos reduzir a sua eficiência, roubados pelo diabo com nossa permissão, mas não a perderemos, porque ela não é mais nossa.