Em tempos difíceis, Ele me esconderá no Seu abrigo.
Salmo 27. 5
Anos atrás eu passei por uma experiência que ainda hoje, quando penso nela, falta-me ar e as mãos suam frio. Praticava natação na faculdade como educação física e, uma tarde, não consegui terminar um trecho que me havia sido pedido pelo professor. A piscina da UFRN não dava pé para mim. Cabeça fora d´água, flutuava sem conseguir respirar. Desesperei-me ao perceber que ia me afogar, mesmo estando flutuando e nadando bem. Por mais que tentasse puxar o ar, não conseguia. Estava em uma crise de pânico. Em um último esforço, tentei chamar por socorro e me joguei com o resto de minhas forças na margem. Parte da sensação terrível que senti naquela tarde me aflige enquanto digito essas palavras. Terminei deixando a educação física incompleta, mas consegui aproveitar os créditos complementares através de um acordo com o professor. Não consegui mais entrar naquela piscina depois de quase me afogar.
Estive pensando nessa história porque é exatamente como naquela tarde em me senti que tenho me sentido ultimamente. E esse é um dos motivos pelos quais tenho estado mais ausente nas meditações que, um dia, foram diárias. Nada exatamente físico, mas tenho me sentido extremamente pressionado pela situação emocional, espiritual e familiar em que me encontro. Como se estivesse me afogando de novo, perco as forças. Fisicamente, minha casa está um tumulto. Primeiro, minha tia e minha avó se mudaram e, três semanas depois, estão de volta. Mudanças e móveis já bagunçam o coreto. Se você acrescentar a isso a pintura de um apartamento, o cenário é desolador.
Esse é apenas um dos aspectos que compõem essa nuvem pesada que afoga a minha alma. Tenho me sentido pressionado e sufocado por uma série de coisas que vão desde esse exemplo que dei até coisas como problemas envolvendo o relacionamento com a liderança da minha igreja, passando pelas responsabilidades acadêmicas que tenho hoje no mestrado. Tenho me sentido me afogando como naquela tarde, sob o peso de tanta pressão.
Desse modo, fui assistir ontem, com minha mãe, As crônicas de Nárnia. Confesso que jamais li essa obra de C.S. Lewis, mas quis assistir a versão da Disney para o que escreveu o intelectual cristão. Sem contar meu encanto com a menininha Georgie Henley, que faz Lucy, o filme me fez pensar.
Todos nós, quando no meio de lutas que nos sufocam, queremos fugir para outros lugares. Isso é natural. Ninguém que não seja masoquista vai querer ficar para sofrer, para se afogar. E quando a gente vê em um filme como aquele a existência de um escape, um guarda-roupas que nos leva a um Reino mágico onde somos reis, talvez queiramos ainda mais descobrir uma forma de fugir de nossas lutas e problemas. Quem sabe fugir para Nárnia.
Quando a gente se vê desprotegido e, talvez, sem amigos muito leais, quem sabe que efeito provoca em nossos sonhos a figura imponente do leão Aislam. Doce e forte, delicado e corajoso. Amigo que protege, que entrega a vida – inocente – por um traidor culpado. Alguém que tem a palavra certa para cada ocasião. Alguém que inspira cuidado e amor. Confesso que enquanto via o leão se deslocar na tela e lembrava de meus problemas, desejava eu mesmo acariciar a sua juba e sentir o cuidado de sua proteção. Vendo o filme e pensando nas minhas lutas diárias, desejei demasiadamente que aquilo fosse real e houvesse um guarda-roupa que me transportasse, desde uma vida que me afoga e mata pouco a pouco para um mundo mágico sob a proteção de Aslam, o leão ressuscitado.
Quer saber o que é melhor? Algo que a gente corre o risco de esquecer? Existe o guarda-roupa. Aislam é real. Você pode viver – eu posso viver – sob Seu cuidado e proteção. Podemos sentir o Seu carinho e amor. Sua doçura e fortaleza. Sua vida, Sua morte e Sua ressurreição. Podemos escapar para o Reino de Nárnia para recuperar as forças. A vida mais real é a que corre em Nárnia. A que ocorre do lado de cá do guarda-roupa, na terra da “salavazia”, é reflexo do mundo espiritual.
Nárnia não é metáfora; é a própria verdade bíblica. E me fez recuperar a porta de escape para a sua dimensão que eu havia esquecido. A oração e a comunhão com o Pai são os nossos guarda-roupas que abrem o portal mágico para o contato íntimo com Aislam/Jesus Cristo. Se a vida nos afoga, se nos sufoca – podemos contar com o socorro e o abrigo de Jesus. Durante o filme eu pensei em um momento como seria ótimo ter um leão como Aislam ao nosso lado, para nos proteger. Por um instante esqueci que Ele – Jesus – está de verdade ao nosso lado. De verdade podemos tocar-lhe, ouvir Sua voz carinhosa e sentir Seu amor infinito. Se queremos escapar para o Reino do amor precisamos da força da oração e da comunhão com o Pai e com o Leão. Só assim podemos suportar o peso da vida sem nos afogar.
2 comentários:
vou ver na próxima sexta feira...mas depois desta descrição ainda me deu mais vontaade!
um abraço!
Apesar de não comentar eu gosto muito de ler os teus textos...são preciosos!
Hang on, brother!
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