8.12.03

O texto abaixo me foi enviado por minha amiga Lívia:

O cristão é cheio de contradições

O cristão crê que morreu em Cristo, porém está mais vivo que antes e alimenta a esperança de viver plenamente para sempre. Caminha na terra enquanto assentado no céu e, conquanto nascido na terra, vê que, depois da sua conversão, não se sente em casa aqui. Como o falcão da noite, que nos ares é a essência da graça e da beleza, mas no chão é desajeitado e feio, vê-se o cristão em sua melhor forma nos lugares celestiais, mas não se adapta bem aos modos da própria sociedade em que nasceu.
O cristão logo vem a compreender que, para ser vitorioso como filho do céu entre os homens da terra, terá que seguir, não o padrão comum da humanidade, mas o contrário. Para ter segurança, arrisca-se; perde a vida para salvá-la, e corre o perigo de perdê-la, se procura preservá-la. Desce para subir. Se se recusa e descer, já está embaixo, mas quando começa a descer, está subindo.
É mais forte quando está mais fraco, e mais fraco quando está mais forte. Embora pobre, tem o poder de enriquecer a outros, mas quando fica rico, desaparece a sua capacidade de enriquecer a outros. Possui mais quando distribui mais, e possui menos quando mais podde retém.
Ele pode ser superior, e muitas vezes o é, quando se sente inferior, e mais sem pecado quando tem maior consciência de pecado. É mais sábio quando sabe que não sabe, e sabe menos quando adquire a maior soma de conhecimento. Às vezes faz mais, nada fazendo, e vai mais longe quando fica parado. Na prostração ele consegue manobrar para regozijar-se, e mantém alegre o coração mesmo na tristeza.
Ele crê que já está salvo e, no entanto, espera ser salvo mais tarde e aguarda ansiosa e jubilosamente a salvação futura. Teme a Deus, mas não tem medo dEle. Sente-se dominado e nulo na presença de Deus e, contudo, não prefere nenhum outro lugar a estar em Sua presença. Sabe que já foi purificado se seu pecado e, todavia, está penosamente ciente de que em sua carne não habita bem algum.
Ama supremamente a Alguém que ele nunca viu e, apesar de pobre e de baixa condição, conversa familiarmente com Aquele que é Rei de todos os reis e Senhor de todos os senhores, e o faz consciente de que não há incongruência em agir assim. Está certo de que seus direitos são menos que nada, e, entretanto, crê sem nenhuma dúvida que ele é a menina dos olhos de Deus e que por ele o Filho Eterno fez-se carne e morreu na cruz da infâmia.
O cristão é cidadão do céu e admite que a sua lealdade prioritária é a essa cidadania; mas pode amar a sua pátria terrena com a intensidade e dedicação que levou John Knox a orar: "Ó Deus, dá-me a Escócia, ou morro".
Espera jubilosamente entrar logo no fulgente mundo além, mas não tem pressa de deixar este mundo e está plenamente disposto a aguardar a convocação do seu Pai Celeste. E não pode entender por que o incrédulo crítico deva condená-lo por isso; tudo lhe parece tão natural e certo, dentro das circustâncias, que ele não vê nisso nada de incoerente.
Além do mais, o cristão, que leva a sua cruz, é tanto um pessimista declarado como um otimista sem rival na terra.
Quando olha para a cruz é pessimista, pois sabe que o mesmo julgamento que caiu sobre o Senhor da glória condena, naquele ato, a natureza inteira e todo o mundo dos homens. Ele rejeita toda esperança humana fora de Cristo porque sabe que o mais nobre esforço do homem é apenas pó edificando sobre o pó.
Todavia, ele é serena e confiantemente otimista. Se a cruz condena o mundo, a ressureição de Cristo garante a vitória final do bem no universo todo. Através de Cristo, tudo estará bem no final, e o cristão aguarda a consumação.
A. W. Tozer