6.6.06

Sobre o orgulho

Ó Senhor Deus, eu já não sou orgulhoso; deixei de olhar os outros com arrogância. Não vou atrás das coisas grandes e extraordinárias que estão fora do meu alcance.
Salmo 131. 1

Quantas coisas são inalcançáveis para nós! Na nossa relação com Deus entramos em uma dimensão em que, mesmo as coisas nos dizendo respeito, são coisas que não são para nós: estão longe e além de nós.
No entanto, a religião é uma cilada eficaz que pavimenta nosso caminho até a arrogância. A arrogância que nasce da sensação de nos sentirmos proprietários do Divino. Se o compreendemos por inteiro, somos donos dele.
O místico e o espiritual existem na dimensão do que extrapola nossa capacidade intelectual. O âmbito de nossa comunhão íntima com o Pai não é a racionalidade pura, mas a experiência: a amizade, o afago, o afeto.
A experiência não pode se tornar em um termo de posse espiritual. A experiência é a liberdade da vida em comunhão. Apenas o pensamento religioso se supõe possuidor e dono da experiência espiritual. Desse modo, a encarcera nos moldes cúlticos, teológicos e religiosos que se coadunam com a religiosidade do sujeito.
O religioso reafirma, como única forma válida, a sua forma particular de expressar fé e culto a Deus. Ele enquadra tudo na sua fôrma e tudo o que a supera ou foge dela não é reconhecido como santo. Ele reduz a experiência e vida de fé à racionalidade religiosa, manifesta nos moldes de uma arrogância que supõe a compreensão racional do que envolve a relação com Deus: coisas que estão além do racional.
Ó Senhor Deus, eu já não sou orgulhoso; deixei de olhar os outros com arrogância. Não vou atrás das coisas grandes e extraordinárias que estão fora do meu alcance. O ser que encontra a esperança, a confiança e o descanso na experiência de comunhão íntima com o Senhor – o adorador – reconhece a cilada da racionalidade: a cilada da arrogância. O adorador fiel se liberta da tentação da arrogância religiosa e se rende à experiência da vivência íntima com Deus. Abre mão do compreendo a Deus e o que Ele faz e vive a dimensão da fome e da sede insaciáveis por mais dEle.
Paulo relata uma experiência que lhe ensina algo semelhante ao que aprendeu o salmista: Embora não adiante nada, eu preciso me gabar de mim mesmo. Agora vou falar a respeito das visões e revelações que o Senhor tem me dado. Conheço um cristão que há catorze anos foi levado, de repente, até o mais alto céu. Não sei se isso, de fato, aconteceu ou se ele teve uma visão; somente Deus sabe. Repito:sei que esse homem foi levado, de repente, ao paraíso. Não sei se isso, de fato, aconteceu ou se foi uma visão; somente Deus sabe. E ali ele ouviu coisas que palavras humanas não conseguem contar. Eu me gabarei desse homem. Mas não me gabarei de mim mesmo, a não ser das coisas que mostram as minhas fraquezas. No entanto, se eu quisesse me gabar de mim mesmo, isso não seria uma loucura, porque estaria dizendo a verdade. Mas eu não me gabarei, pois quero que a opinião que as pessoas têm de mim se baseie naquilo que me viram fazer e me ouviram dizer (2 Co. 12. 1 – 7). Mesmo tendo visto e ouvido coisas inimagináveis, Paulo se põe em seu lugar humilde. Ele não possui nenhuma dessas coisas. Apenas as experimentou. É Deus quem possui Paulo, não o contrário.
Assim como Paulo e o salmista compreenderam isso, espero que eu e você possamos viver a experiência da intimidade com o Senhor, abandonando toda religiosidade arrogante.