14.6.06

Liberdade

Alguns dizem assim: "Podemos fazer tudo o que queremos". Sim, mas nem tudo é bom. "Podemos fazer tudo o que queremos", mas nem tudo é útil.
1 Coríntios 10. 23

Liberdade exige responsabilidade. É por isso que muitos de nós preferem ser prisioneiros. O prisioneiro não tem liberdade mas também não tem qualquer responsabilidade por suas ações e sua vida. Ela, a vida, é condicionada pelas regras e paredes que constituem sua prisão. Sua vida tem limites claros definidos por aquilo que o prende.
Se está em uma prisão física, não tem muito o que fazer. Logo, não precisa responder muita coisa – responsabilidade significa a capacidade de dar resposta pelos seus atos. Preso, encarcerado entre quatro paredes, não age muito para precisar responder. E, ainda que aja, na maioria das vezes segue ordens, obedece e faz o que outros mandam. São os outros – os que o prendem – os responsáveis pelos seus atos.
Ser prisioneiro – no que pese o fato de não ter liberdade – não é tão difícil quanto queremos crer. A gente prefere ser prisioneiro a ter liberdade. A gente sabe, ainda que inconscientemente, que ser livre implica se responsabilizar pelo que faz. E a gente não quer se responsabilizar.
A gente age como age porque nossos pais não souberam nos criar, porque fomos abusados na infância, porque somos pecadores, enfim, nunca assumimos a nossa responsabilidade por nossos atos: sempre a culpa é dos outros – sempre eles são os responsáveis.
Mas liberdade é responsabilidade. Especialmente na vida cristã. A vida da graça é a vida da liberdade. É a vida do podemos fazer tudo o que queremos. Mas também é a vida do mas nem tudo é bom, nem tudo é útil. O que complica a nossa vida nessa hora é que Deus coloca em nós a liberdade e a maturidade para que sejamos responsáveis de saber o que convém, o que é bom e o que é útil, em todas coisas que nos são lícitas fazer. Paulo está nos dizendo que somos livres, enquanto cristãos, mas que somos responsáveis por saber que nossa liberdade não significa que tudo o que podemos fazer pode ser feito. Mas tenham cuidado para que essa liberdade de vocês não faça com que os fracos na fé caiam em pecado (1 Co. 8. 9).
Então, deparados com a liberdade revolucionária da graça, preferimos a prisão por não querermos nos responsabilizar por nossos atos. Temendo a liberdade, preferimos as regras, as normas, a Lei, para que ninguém debande para a libertinagem – nem nós mesmos – uma vez que não aprendemos nem queremos viver de maneira responsável.
Por isso, é fácil o sentimento religioso de que viver com Cristo é cumprir normas. Mas esse sentimento não tem fundamento bíblico. Ser santo, na Bíblia, não é seguir normas – não é adotar certos estilos de comportamento. Não é fazer – ou deixar de fazer – um monte de coisas, como parecem acreditar parte considerável dos cristãos. Aliás, esse sentimento não é novo e já era combatido por Paulo como mundanismo: Então, por que é que vocês estão vivendo como se fossem pessoas deste mundo? Não obedeçam mais a regras como estas: "Não toque nesta coisa", "não prove aquela", "não pegue naquela". Todas essas proibições têm a ver com coisas que se tornam inúteis depois de usadas. São apenas regras e ensinamentos que as pessoas inventam (Cl. 2. 20 – 22).
Muitos de nós procuram regras religiosas, normas e Leis simplesmente porque não se sentem capazes de serem responsáveis por si só. Alguns não entenderam que a graça liberta. Outros não quiseram entender e preferem a Lei à graça porque a Lei torna a vida mais fácil à medida que me tira a necessidade de responder por meus atos – eu não preciso pensar no que faço, nem preciso responder por minhas ações; eu só preciso fazer o que mandam o pastor, a Igreja e as leis que assumi como minhas. Eu não preciso de liberdade porque não quero ser responsável e, assim, opto por não experimentar a vida na liberdade da graça – barateando o sacrifício de Cristo e tornando a Sua morte unicamente o passaporte para o Céu e não a entendendo como o Caminho para uma vida abundante e verdadeira a partir de agora até a eternidade. Porque eu prefiro seguir regras a viver.