16.9.05

A hora

Pai, chegou a hora.
João 17. 1

John Stott, em seu livro A cruz de Cristo, descreve uma pintura em que Jesus aparece trabalhando na marcenaria de José, ainda jovem, e sobre Ele se projeta uma sombra em forma de cruz. Para o autor inglês, esse quadro é uma boa metáfora da realidade de que, desde o nascimento, Jesus esperava a Sua hora. E a Sua hora era a cruz. Sua vida na terra se dirigia, sem desvios possíveis, na direção da cruz. Por isso, o diabo tenta o Mestre para que escolha um caminho de glória sem a cruz (cf. Mt. 4. 1 – 11 e Lc. 4. 1 – 13).
A toada do evangelho de João é a expectativa pela hora de Jesus. Desde o início, toda referência das ações e milagres do Senhor é a chegada do momento exato, da hora de Jesus. Já no diálogo com Sua mãe, antes do primeiro sinal em Caná da Galiléia, revela-se a preocupação de Jesus com a Sua hora: Ainda não chegou a minha hora (Jo. 2. 4). E que hora era essa que dirigia os passos do Mestre?
Essa hora chegou na última noite e Jesus revela isso na oração que conhecemos como oração sacerdotal: Pai, chegou a hora. Jesus ansiava, desde o início do Seu ministério, pelo momento em que se revelaria, claramente, nEle e através dEle a glória do Pai que O enviou. Essa era a hora tão aguardada: o momento em que os homens veriam em Cristo a glória manifesta do Pai. Revela a natureza divina do Teu Filho a fim de que Ele revele a Tua natureza gloriosa (Jo. 17. 1).
Essa glória não se manifestaria através dos inúmeros milagres e sinais que Jesus concretizara. Nem se manifestaria por meio das Palavras de Deus que Ele pronunciara. A expectativa da hora de Jesus, o momento em que a glória de Deus se manifestaria através dEle, era a expectativa pela cruz. Era na cruz que a glória de Deus se manifestaria, no juízo sobre o pecado do homem e na certeza do perdão gratuito de Deus para aqueles que assumissem para Si o sentido da morte de Jesus. Era na Sua morte e ressurreição que Jesus manifestaria, de maneira mais vívida, a glória do Senhor a toda terra. E através do anúncio e fé nessa cruz, o conhecimento dessa glória inundará todos os países do mundo.
Jesus aguardava ansioso o momento mais decisivo da história. Ele esperava a Sua hora, a hora em que a glória de Deus se manifestaria de forma plena através do Filho de Deus. Essa hora, finalmente, havia chegado e não havia a chance de que ela acontecesse em momento errado. A glória de Deus se manifestaria apenas no momento exato, apenas naquela hora. Pai, chegou a hora.
Quantos de nós estamos esperando pela hora do Senhor em nossas vidas? Quantos ansiamos para vermos a manifestação da glória de Deus em nós e em nosso favor? Quantos estamos carentes de socorro e ação de Deus em nossas vidas, com graça, livramento? Quantos queremos que Deus glorifique Seu nome em nós através de milagres e ações que tanto necessitamos?
Essa hora vai chegar. Há um momento exato para isso na minha e na sua vida. Há um momento e uma forma exata que Deus fará exaltar a glória dEle em nossas vidas, em nossas lutas, nas nossas dificuldade, em nossos anseios. Não exatamente a hora que mais desejamos ou que mais achamos apropriado que tudo aconteça. Mas Deus vai glorificar Seu nome na minha e na sua vida na hora exata. No momento mais apropriado segundo o critério e o entendimento que Ele mesmo tem dos fatos. Só o Pai sabe a hora dEle em nossas vidas. Não podemos tentar tomar o controle disso, não podemos achar que as coisas estão atrasadas. O Pai sabe a melhor hora. Não podemos nos adiantar, mas apenas aguardar que, no momento exato, possamos ouvir unicamente a voz do Senhor a dizer: Pai, chegou a hora.

15.9.05

Perdoador

Deus perdoou todos os nossos pecados
Colossenses 2. 13

Vez por outra, é até cíclico, provavelmente em virtude da instabilidade do coração humano, eu me sinto como quem chegou ao fim. Falo especificamente a respeito da relação de graça e amor com o Senhor. Vez por outra me sinto tão pecador que penso que tudo acabou, desespero da própria vida, acho que é o fim de minha relação de perdão com o Pai.
Vejo isso em um texto controvertido de Paulo: Sabemos que a Lei é divina; mas eu sou humano e fraco e fui vendido ao pecado para ser seu escravo. Eu não entendo o que faço, pois não faço o que gostaria de fazer. Pelo contrário, faço justamente aquilo que odeio. Se faço o que não quero, isso prova que reconheço que a lei diz o que é certo. E isso mostra que, de fato, já não sou eu quem faz isso, mas o pecado que vive em mim é que faz. Pois eu sei que aquilo que é bom não vive em mim, isto é, na minha natureza humana. Porque, mesmo tendo dentro de mim a vontade de fazer o bem, eu não consigo fazê-lo. Pois não faço o bem que quero, mas justamente o mal que não quero fazer é que eu faço. Mas, se faço o que não quero, já não sou eu quem faz isso, mas o pecado que vive em mim é que faz. Assim eu sei o que acontece comigo é isto: quando quero fazer o que é bom, só consigo fazer o que é mau (Rm. 7. 14 – 21). Não me importa a respeito de quem e de que circunstância o apóstolo está falando. Não me importa que sentido teológico ou exegético mais profundo ele queira transmitir. Só o que me importa é que eu, como a maior parte dos cristãos sinceros, se identifica ou já identificou, pelo menos uma vez, com esse texto. É que nos tornamos cada vez mais conscientes da santidade do Deus vivo a quem servimos e da impureza e pecado de nossa mente e coração. E nos sentimos como homens e mulheres derrotados. Derrotados pela força de inimigos já destruídos, o que é mais humilhante.
Nessas horas penso ser fundamental se derramar na presença do Senhor para voltar a ouvir, da parte dEle, verdade irrefutáveis e eternas. Coisas que dizem respeito a nós e à nossa relação com o Pai do Céu e que jamais devemos nos deixar esquecer.
Uma dessas verdades é que Deus perdoou todos os nossos pecados. Se me sinto um homem dividido, preciso crer naquilo que é absoluto e irrefutável: ainda que a consciência de pecado me divida, posso estar certo que Deus, em Cristo, perdoou todos os meus pecados, os do passado, os de agora e todos os que vier a cometer. E nada nem ninguém, nem mesmo meus pecados, são capazes de me separar do amor de Deus que se revela em Seu Filho Jesus (Rm. 8. 38 – 39). Por mais dobre que eu seja em minha alma e por mais que eu me afaste do Pai, Ele jamais desistirá de mim ou se deixará levar para longe demais de mim. Não porque eu mereça, porque não mereço, mas porque Ele assim decidiu amar a mim e a você. Um amor que não desiste: Israel, como poderia eu abandoná-lo? Como poderia desampará-lo? Será que eu o destruiria, como destruí Admá? Ou faria com você o que fiz a Zeboim? Não! Não posso fazer isso, pois o meu coração está comovido, e tenho muita compaixão de você (Os. 11. 8).
Deus é um Deus perdoador. Por mais distante que você esteja se sentindo hoje do Seu amor, tente lembrar que nunca é longe suficiente para esse amor que larga tudo em busca de cada um de nós. Ele não desiste de nós. Quando Deus decide se lançar em direção de um relacionamento íntimo e profundo com o ser humano, como fez em Cristo, não haverá obstáculo que o impeça. Nem mesmo a minha e a sua consciência de que não somos merecedores. Não é por sermos merecedores, mas é pela graça. Nossa relação com o Pai começa, prossegue e se concluirá pela graça. Seu amor eterno é que é garantia de nossa vitória e de nosso perdão. Porque Deus é um Deus perdoador. Deus perdoou todos os nossos pecados.

14.9.05

Simples e espetacular

Senhor, eu não tenho ninguém para me pôr no tanque quando a água se mexe. Cada vez que eu tento entrar, outro doente entra antes de mim.
João 5. 7

Temos a tendência de complicar as coisas para nós. Achamos que quanto mais espetacular – e difícil – melhor. Às vezes as soluções dos problemas, as respostas às questões são muito simples, mas tão simples que, como pensamos que questões difíceis merecem respostas complicadas, somos tendentes a não acreditar nelas. Abrimos mão das coisas mais simples e fáceis porque nos encantamos com o complicado e difícil.
Quando penso nisso é quase inevitável lembrar da história do general Naamã. Esse comandante do exército sírio, leproso, procura a ajuda de Deus em Israel. Ela vem por meio do profeta Eliseu. Mas o general esperava algum espetáculo grandioso para lhe garantir a cura. Ela, no entanto, é ministrada através de um processo simples. O profeta lhe diz que basta ao comandante que se banhe sete vezes no rio Jordão. Eliseu manda dizer por um recado, nem sequer vai falar pessoalmente com Naamã. Naamã fica decepcionado: Eu pensava que pelo menos o profeta ia sair e falar comigo e que oraria ao Senhor, seu Deus, e passaria a mão sobre o lugar doente e me curaria! Além disso, por acaso, os rios Abana e Farpar, em Damasco, não são melhores do que qualquer rio da terra de Israel? Será que eu não poderia me lavar neles e ficar curado? (2 Rs. 5. 11 – 12) Naamã queria um show da fé, um espetáculo religioso para ser curado. O que o profeta manda que faça é muito simples para ser eficaz na cabeça daquele homem. A sua cura só se dá, então, porque seus homens foram sábios no que lhe disseram: Se o profeta mandasse o senhor fazer alguma coisa difícil, por acaso, o senhor não faria? Por que é que o senhor não pode ir se lavar, como ele disse,e ficar curado? (2 Rs. 5. 13). Por fim, Naamã foi curado da lepra, não num grande espetáculo pirotécnico, mas na simplicidade de sete banhos no rio Jordão.
Isso nos traz de volta para o tanque de Betezata, ou Betesda. Havia um ritual conhecido de cura naquele lugar. Era um show verdadeiramente. De tempos em tempos, a água era misteriosamente movida, de modo que todos entendiam ser por ação de anjos. Naquele momento, quem primeiro entrasse nela seria curado de suas enfermidades. O processo era complicado, envolvia seres desconhecidos e uma espécie de poder mágico. E toda a forma de cura e de vida que aqueles em volta do tanque conheciam era esse complexo show de fé.
Era assim que funcionava na cabeça daquele mendigo, paralítico havia trinta e oito anos. Há trinta e oito anos a única forma de cura e vida que aquele homem conhecia era o tanque de Betezata. Há trinta e oito anos, dia após dia, ele queria tomar parte no espetáculo. Era tudo o que ele sabia, era tudo o que ele via. Era a única possibilidade e esperança que ele tinha. Mas fazia trinta e oito anos que ele perdia aquela corrida pela vida, dia após dia. Aquilo já tinha virado uma rotina, já fazia parte dos esquemas mentais de vida daquele homem.
Imagino que o fato de ele não conseguir entrar a tempo na água, quando era movida, tão ritual em sua vida há trinta e oito anos, já devia fazer parte de sua carreira como pedinte. Provavelmente, era esse o apelo que ele fazia: Ajudem o aleijado que não consegue entrar no tanque faz trinta e oito anos.
A única forma de cura e vida que ele conhecia era aquela. Ela o cegava. Ele só podia conhecer a cura pelo espetáculo, pelo show, por soluções mágicas, como um anjo que move a água de um poço. Por isso, ele não entende aquele Homem que se dirige a ele de maneira tão especial: Você quer ficar curado? (Jo. 5. 6). Que tipo de pergunta é esse? É claro que ele queria, mas lhe era impossível porque não conseguiria jamais entrar no poço.
O paralítico estava cego com sua obsessão pela cura espetacular e mágica. Ele não conseguia imaginar que a Cura estava falando com ele naquele momento. A vida e a cura não seria alcançada pela água de Betezata, mas sim pela Água da Vida. A Cura estava diante dos seus olhos, mas ele não parecia capaz de ver.
Não preciso dizer que isso se repete conosco dia a dia. Queremos ver e viver coisas espetaculares e mágicas quando, muitas vezes, o mover de Deus é simples como mergulhar no Jordão. Às vezes, será uma só palavra: Levante-se, pegue sua cama e ande! (Jo. 5. 8). Corremos o risco de ficarmos tão obcecados com o espetacular a ponto de perder a ação simples e eficaz de Deus em nosso favor. A Cura e a Vida podem estar diante de nossos olhos e nós podemos estar cegos. Porque não queremos a simples cura e vida, mas o espetáculo e o show da fé.
Abramos os olhos para não perdermos o que de simples e profundo Jesus quer fazer conosco. Aquele homem tinha a Cura diante de si, mas só pensava no espetáculo mágico de anjos e águas movidas de Betezata. Pode ser que Jesus esteja diante de nós e estejamos perdendo tempo em busca de mágicas, shows e espetaculares lances de poder. Tudo o que precisamos é uma Palavra: Levante-se, pegue sua cama e ande!

13.9.05

Desejo de conhecer

Eu afirmo a vocês que isto é verdade: se vocês não comerem a carne do Filho do Homem e não beberem o seu sangue, vocês não terão vida.
João 6. 53

Não sei se acontece com todo mundo, mas algumas vezes eu ouço falar acerca de pessoas e passo a ter o maior desejo de conhecê-las. Seja porque têm uma bonita história de vida, seja porque são admiráveis de alguma outra forma, o certo é que às vezes ouço falar de pessoas que teria o maior prazer em conhecer. Já aconteceu, algumas vezes, de eu ser abençoado por construir amizades com pessoas a quem admirava profundamente quando elas nem sequer tinham idéia de quem eu era.
De uns tempos para cá, ando meio na caça de uma dessas pessoas. Ouvi testemunhos abençoados a respeito dela e passei a desejar conhecê-la. E como eu sou um tanto insistente, acredito que só ficarei sossegado quando, finalmente, puder realmente travar conhecimento e intimidade com essa pessoa.
Isso me fez pensar no texto de João 6. Meses atrás eu já escrevi acerca dele. Nele vemos uma multidão que segue Jesus, não porque estejam entendendo os sentidos dos Seus milagres, Seu ministério, Sua Palavra. A multidão O segue e procura por Ele por causa do milagre da multiplicação de pães e peixes, porque comeram os pães e ficaram satisfeitos e não porque entenderam os meus milagres (Jo. 6. 26). É um povo que está ansioso por estar com Jesus, ao ponto de ter ficado até tarde da noite no dia anterior com Ele e ter se levantado cedo, de manhã, e partido em busca dEle. Esse povo tem um certo prazer em estar na companhia de Jesus, não porque O queira conhecer, mas porque descobriu que Ele é fonte de bênçãos sem igual.
Todo o discurso do Mestre dali em diante é para desafiar a multidão a querer conhecê-Lo. É um desafio para que aqueles muitos que correm desertos atrás de Jesus agora o façam não porque saciarão sua fome física, mas porque descobriram Alguém que desejam conhecer em intimidade. A dureza do discurso faz com que Jesus termine a passagem acompanhado unicamente do grupo dos doze (Jo. 6. 66 – 67).
O desafio de Jesus para nós é que desejemos comer o Seu corpo e beber o Seu sangue. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: se vocês não comerem a carne do Filho do Homem e não beberem o seu sangue, vocês não terão vida. Essa é a imagem do tipo de relacionamento íntimo e profundo que o Senhor quer ter com cada um de nós. Ele quer conosco uma intimidade tão profunda que passemos a tomar parte de Sua natureza e do Seu ser, comendo e bebendo dEle. O tipo de intimidade que Ele deseja conosco é tão impressionante que dificilmente encontraríamos palavras que o descrevessem. Por isso, nos nossos limites, Jesus fala em uma intimidade e comunhão que come e bebe do Seu ser.
O desafio de Jesus para nós é que aumente em nós o desejo de conhecê-Lo. Da mesma forma que vez por outra fazemos questão de conhecer uma pessoa ou outra que admiramos, precisamos desejar conhecer ao Senhor de maneira íntima e profunda. E esse desejo precisa e só pode ser mais ardente do que qualquer desejo de conhecer pessoas à nossa volta. E como movemos céus e terra para conhecer essas pessoas, ainda de forma mais ardente precisamos nos mover para conhecermos o Senhor. Para saciarmos o desejo de conhecê-Lo mais e melhor. O Senhor nos quer conhecendo a Ele profundamente.
Eu afirmo a vocês que isto é verdade: se vocês não comerem a carne do Filho do Homem e não beberem o seu sangue, vocês não terão vida. Esse é meu desejo e minha oração. Mais do que conhecer determinada pessoa, tenho sede por conhecer mais e mais a Deus. Quero mergulhar no conhecimento do Senhor de maneira mais real a cada dia. Quero buscar saciar a minha sede na única fonte e da única forma que ela pode ser saciada: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Como dizem as Escrituras Sagradas: “Rios de água viva vão jorrar do coração de quem crê em mim” (Jo. 7. 37 – 38). Esse é o maior desejo de meu coração e espero que seja o seu desejo também. Desejo de conhecer mais e melhor o Senhor Jesus.

12.9.05

Primeiro em nós

Pois o tempo de começar o julgamento já chegou, e os que pertencem ao povo de Deus serão os primeiros a serem julgados.
1 Pedro 4. 17

Vez por outra eu ouço alguém falar sobre o juízo de Deus sobre os ímpios e perseguidores do povo de Deus. Eu realmente acredito que esse juízo vem e tem vindo no mundo. Mas cada vez que eu ouço falar dele, eu me lembro do texto de Pedro: Pois o tempo de começar o julgamento já chegou, e os que pertencem ao povo de Deus serão os primeiros a serem julgados. O texto me lembra também que, se é verdade que Deus manifesta Seu juízo contra os pecadores, esse juízo começa comigo e com você. O fogo do juízo de Deus arde primeiro no meio do Seu povo. Se Deus age com juízo contra o mundo, o Seu juízo começa conosco, começa com a Igreja.
Aliás, sempre foi assim. Os profetas que Deus levantou no Antigo Testamento anunciaram juízo contra povos e nações de todo mundo conhecido, mas se detinham, a maior parte do tempo, para anunciar o juízo de Deus contra o Seu povo antes de tudo. É isso que está expresso em Am. 3. 2: No mundo inteiro, vocês são o único povo que eu escolhi para ser meu. Por isso, tenho de castigá-los por causa de todos os pecados que vocês cometeram. Amós mostra que o fato de ser povo escolhido de Deus não é exatamente um privilégio que torna a nação de Israel protegida da ação do juízo de Deus. Pelo contrário: justamente por ser o povo de Deus, será alvo prioritário do julgamento do Senhor.
Amós é um desses profetas que fala contra todos, mas gasta seu tempo profetizando contra Israel e Judá. A partir do versículo 3 do primeiro capítulo, Amós anuncia juízo contra nações. Por três versículos fala contra a Síria (Am. 1. 3 – 5), contra a Filistéia (Am. 1. 6 – 8), contra Amom (Am. 1. 13 – 15) e contra Moabe (Am. 2. 1 – 3). Contra Tiro (Am. 1. 9 – 10) o oráculo se estende por dois versículos e contra Edom (Am. 1. 11) apenas um versículo. Já contra o povo de Deus, os oráculos de condenação são por demais extensos na primeira parte do livro de Amós (Am. 2. 4 – 3. 2). E todo o restante da profecia se dirige contra os pecados do povo de Deus, anunciando o tempo de castigo que estava por vir.
O mesmo se repete com Isaías, Jeremias, cada um e todos. Mesmo que profetizem juízo contra as outras nações do mundo, não poupam o povo de Deus do juízo.
Esse é o ministério de João Batista. É contra o povo de Israel, o povo de Deus, que ele anuncia que o machado já está posto à raiz das árvores, ou seja, anuncia que o juízo de Deus contra a nação é iminente. E ele veio, cerca de 40 anos depois, quando Tito tomou Jerusalém.
Pois o tempo de começar o julgamento já chegou, e os que pertencem ao povo de Deus serão os primeiros a serem julgados. Ser povo de Deus não é habeas corpus contra o juízo de Deus. Pelo contrário, ser povo de Deus é garantia de que o juízo começa conosco. Porque temos o nome do Senhor em nós e o padrão que Ele requer de nós certamente é mais alto do que o que se pode esperar no mundo. Pois eu afirmo a vocês que só entrarão no Reino do Céu se forem mais fiéis em fazer a vontade de Deus do que os mestres da Lei e os fariseus (Mt. 5. 20).
É por isso que cada manhã nossa atitude deve ser a humildade de confessar diante do Pai as nossas faltas e clamar por Sua transformação em nossa vida. Se não abrirmos o nosso coração, se não rasgarmos a nossa alma, se não estivermos dispostos a mudar, nós mesmos seremos os alvos do juízo de Deus. Ele exaltará o Seu nome em nossas vidas, mesmo que para isso tenha de agir com dureza conosco. Ter consciência de que o juízo de Deus começa com o Seu povo deve nos empurrar à humildade e confissão permanente diante da santidade do Pai. Ter consciência disso, de quem somos e de quem Deus é, deve nos levar à conversão diária. Diariamente aprendendo a sermos povo de Deus. Cada manhã abrindo o coração à busca pela graça e misericórdia do Pai.

11.9.05

Exposto

Naquele dia, quando soprava o vento suave da tarde, o homem e a mulher ouviram a voz do Senhor Deus, que estava passando pelo jardim. Então se esconderam dele, no meio das árvores.
Gênesis 3. 8

Lembro de uma experiência que fizemos na faculdade, na aula de fotojornalismo. Apesar da modernização da era digital, ainda estudávamos os princípios mais artesanais da fotografia. Passávamos boa parte das aulas na sala escura do laboratório de fotografia da universidade, aprendendo truques sobre como revelar filmes, copiar e reproduzir fotos. Brincar com a luz. E lembro que me chamou a atenção uma coisa que o professor fez e que, na época, não imaginava o resultado que teria, por mais que me pareça óbvio hoje. Um dia, ele apagou as luzes do laboratório, inclusive aquela luz vermelha que nos permite trabalhar, e bateu uma foto de umas meninas no escuro total. Como não havia nenhuma fresta de luz no ambiente, imaginei que a foto seria um estrago total. Ilusão. O registro ficou quase perfeito porque a pouca luz do flash era suficiente para impressionar o filme. O pouco de luz que surgiu no ambiente, naqueles poucos instantes, foram suficientes para registrar a foto.
Quando a luz, por menos que seja sua quantidade, penetra a escuridão, traz uma revelação total do ambiente. Nunca esqueçamos disso. E, quando qualquer coisa é trazida para a luz, então a sua verdadeira natureza é revelada (Ef. 5. 13). É assim que vejo a relação entre nós, Deus e o nosso pecado. Muitas vezes, os nossos pecados são tão interiores que temos a impressão de sermos capazes de os ocultarmos até de nós mesmos. Porém, em todos os momentos em que nos vemos diante do Senhor, na presença dEle, é como se o flash daquela máquina iluminasse a sala escura do nosso coração. E os pecados mais escondidos são trazidos à tona. As culpas mais ocultas são reveladas, como aquela foto que meu professor tirou no escuro.
Vejo isso em mim, mas vejo isso ainda no primeiro casal. Desobedecendo a Deus, perceberam a grande besteira que fizeram, tiveram consciência imediata de seu pecado e culpa. Nesse momento os olhos dos dois se abriram, e eles perceberam que estavam nus. Então costuraram umas folhas de figueira para usar como tangas (Gn. 3. 7). O sentimento de vergonha surge da consciência do pecado e da desobediência. É preciso se esconder dos olhos do Deus que tudo vê. Nossa atitude, quando na presença do Senhor, é semelhante à do primeiro casal: quando pecamos, a consciência de nossa culpa e vergonha nos empurra à tentativa de nos escondermos. Queremos ocultar, se possível de nós mesmos, a nossa falta.
Naquele dia, quando soprava o vento suave da tarde, o homem e a mulher ouviram a voz do Senhor Deus, que estava passando pelo jardim. Então se esconderam dele, no meio das árvores. A primeira atitude que tomamos, coração consciente do pecado, é tentarmos nos esconder do Senhor. Sabemos que o Deus a quem servimos é santo e sabemos que aborrece o pecado. Constrangidos e envergonhados por nosso pecado, como o primeiro casal, buscamos refúgio e esconderijo contra os olhos perscrutadores do Deus vivo. Temos a ilusão de que, pecadores, o melhor a fazer é correr para longe do Senhor. Temos medo que Ele nos consuma. Por isso, é tão comum que um pecado que cometamos seja o suficiente para nos tirar por completa da presença de Deus: achamos que Deus não pode mais nos restaurar, que vai nos fulminar e, por isso, decidimos fugir dEle. Mas a nossa ilusão é tão imensa que Ele vem atrás de nós, nos procurando. Mas o Senhor Deus chamou o homem e perguntou: - Onde é que você está? (Gn. 3. 9). Ao mesmo tempo, continuamos com a vergonha e a culpa pelo pecado: não adianta nada fugir. O caminho é ir na direção de Deus, por mais que doa a culpa, porque só Ele, em Sua graça, pode providenciar a restauração: Mas, onde abundou o pecado, a graça de Deus aumentou muito mais ainda (Rm. 5. 20). Ele tem graça para nos perdoar, vida a nos dar, mesmo quando não acreditamos mais nisso.
Vocês que me lêem não me conhecem o suficiente e diante de vocês eu não estou exposto. Nem mesmo as pessoas que convivem comigo podem ter noção dos meus pecados, dos segredos do meu coração, das sujeiras que, vez por outra, sou obrigado a limpar do meu interior. Só eu mesmo, e somente quando me exponho diante do Senhor, posso conhecer a sujeira do meu interior, o quão miserável e pecador eu sou, o quanto preciso, todo dia, de mais e mais da graça do Senhor. Posso me esconder de todo mundo, mas não posso me esconder de Deus. E exposto diante de Deus, estou exposto a mim mesmo. Não posso me esconder de mim também. A verdade me expõe e me mostra que eu preciso desesperadamente do meu Salvador. E você também. Não tenha ilusões de santidade e de pureza: se não for o Senhor na sua vida, você está perdido. Como eu, como o primeiro casal, como todos os homens, você precisa da graça de Deus para ser perdoado e limpo de suas culpas: Antigamente, por terem desobedecido a Deus e por terem cometido pecados, vocês estavam espiritualmente mortos. (...) Mas a misericórdia de Deus é muito grande, e o seu amor por nós é tanto que, quando estávamos espiritualmente mortos por causa da nossa desobediência, ele nos trouxe para a vida que temos em união com Cristo. Pela graça de Deus vocês são salvos (Ef. 2. 1 e 4 – 5).