23.4.05

Tomando o lugar

Mas Deus nos mostrou o quanto nos ama: Cristo morreu por nós quando ainda vivíamos no pecado.
Romanos 5. 8

A função e o papel dos guarda-costas de filmes chamam muita atenção. Já vimos muitas produções representando como trabalham aqueles agentes do serviço secreto americano na proteção das autoridades. A coisa que mais se destaca é o fato de que aqueles homens e mulheres são treinados para levarem os tiros no lugar dos protegidos. Não levando em grande consideração as próprias vidas, sem pensarem direito, são preparados para se jogarem na frente de uma arma. Estão preparados para morrerem no lugar das pessoas a quem protegem.
Recentemente vimos isso acontecer de verdade. A jornalista italiana Giuliana Sgrena havia sido seqüestrada no Iraque ocupado. Uma operação do serviço secreto italiano a estava resgatando e conduzindo ao aeroporto para que saísse do país. Militares americanos disparam contra os veículos italianos. O agente Nicola Calipari jogou o seu corpo sobre o da jornalista, para protegê-la, e acabou sendo morto. Ela sobreviveu.
Esses homens e mulheres se preparam para morrerem no lugar de outras pessoas. Tomam o lugar de outros cada vez que isso for necessário. Não são motivados por outra coisa senão o sentimento de dever. Não devem titubear. Não devem ter dúvidas.
Jesus fez algo assim por nós. Ele tomou o nosso lugar de uma vez por todas. Mas não por qualquer sentimento de dever. Aliás, não era, absolutamente, isso que deveria acontecer. É absurdo imaginar que o Filho de Deus se fizesse um de nós e morresse uma morte que estava reservada a toda humanidade. É absurdo imaginar que Ele tomasse o nosso lugar no castigo que todo pecado merece. É absurdo, mas aconteceu porque o Amor é absurdo.
De fato, quando não tínhamos força espiritual, Cristo morreu pelos maus, no tempo escolhido por Deus. Dificilmente alguém aceitaria morrer por uma pessoa que obedece às leis. Pode ser que alguém tenha coragem para morrer por uma pessoa boa. Mas Deus nos mostrou o quanto nos ama: Cristo morreu por nós quando ainda vivíamos no pecado (Rm. 5. 6 – 8).
Costumo dizer que todos nós merecemos uma mesma coisa. Todos nós merecemos a condenação do inferno, a morte eterna, o sofrimento sem fim. Somos pecadores resolutos. Nossa natureza corrupta se opõe à santidade de Deus. Por isso, merecemos uma única coisa: castigo e morte. Era o que merecíamos. Mas Jesus, como um guarda-costas, mas motivado por um absurdo Amor, e não por dever, tomou o nosso lugar. Ficou na frente do tiro e foi ferido mortalmente. Éramos nós que deveríamos ter estado naquela Cruz. Mas aquela Cruz é o ato máximo do amor de Deus que toma o nosso lugar, levando a nossa morte e o nosso castigo sobre Si, para que tivéssemos a Sua vida e a Sua bênção sobre nós. Como qualquer humano guarda-costas, Jesus não titubeou, não pensou duas vezes, mas levado pelo Amor, tomou o nosso lugar, morreu por nós pecadores, quando ainda éramos fracos. Morreu pelas mãos daqueles a quem veio salvar.

22.4.05

Juízo e misericórdia

Eu lhes darei um coração novo e uma nova mente. Tirarei deles o coração de pedra, desobediente, e lhes darei um coração humano, obediente.

Ezequiel 11. 19

Não existe juízo de Deus apartado da Sua misericórdia. Em momento algum na história ou em momento algum de nossa vida. Sempre que o Senhor manifesta uma palavra dura ou uma ação de juízo, isso sempre acontece acompanhado pela mais profunda misericórdia, graça de Deus em nosso favor. Em favor do povo amado pelo Senhor. Da menina de Seus olhos.
Ezequiel tem uma coletânea de palavras muito duras de juízo de Deus contra Seu povo. Um dos textos mais chocantes na Bíblia para mim é o seu capítulo 8. Deus leva o profeta a ver o que acontece nos bastidores do templo de Jerusalém, nos bastidores dos cultos de Israel. E o que profeta vê é muito feio. É nojento. É escandaloso. É uma visão terrível. Mas Deus anuncia juízo: Por causa disso, eles sentirão toda a força da minha ira. Não deixaria ninguém escapar e não terei pena de ninguém. Eles gritarão com toda a força, pedindo minha ajuda, mas eu não os atenderei (Ez. 8. 18). E o juízo começa.
Logo em seguida, Deus não permite que se esqueça que o juízo não acontece sem misericórdia. No fim desta visão, quando Deus mostra a Ezequiel a Sua Glória deixando o Templo e Jerusalém, Ele o envia a falar a um remanescente, àqueles que estão exilados. E promete o tempo de restauração total ao Seu Povo amado. Como se cantava no Templo, Ele se mostra Bom e demonstra que a Sua misericórdia, e não o Seu juízo, dura para sempre. O Senhor promete que aquele povo voltará a ser Seu, promete que voltará a ser o Deus deles. Eu lhes darei um coração novo e uma nova mente. Tirarei deles o coração de pedra, desobediente, e lhes darei um coração humano, obediente.
Em vários momentos da história a ação de juízo de Deus foi acompanhada por um gesto de extrema misericórdia. Gênesis 6 fala da maldade da raça humana e da decisão, tomada pelo Senhor, de pôr fim a ela por meio do dilúvio. Ainda assim, Deus vai à caça de Noé e sua família e no meio do juízo preserva o ser humano através daquele escolhido. No meio do juízo, promove misericórdia por toda humanidade em Noé.
Mais à frente, nos capítulos 18 e 19, o alvo do juízo de Deus é Sodoma e Gomorra. No entanto, o Senhor decide partilhar os Seus planos com Abraão. E Abraão começa a interceder pelo povo daquelas cidades. E no final, apesar de destruí-las em Seu juízo, a misericórdia de Deus preserva a vida de Ló e suas filhas.
Chegando aos tempos de Ezequiel, vemos nos relatos do seu contemporâneo Jeremias que, ao mesmo tempo em que Deus afirmava a destruição de Jerusalém por Nabucodonosor, prometia que aqueles que se entregassem, por Sua misericórdia, preservariam a própria vida.
No entanto, o momento máximo do Juízo e Misericórdia de Deus, unidos, está na Cruz de Cristo. Naquela Cruz, Deus estava condenando todo o pecado. Ali, Ele estava afirmando toda a culpa da humanidade e estava dizendo que as iniqüidades do homem não podem ficar sem castigo. Todo pecado precisa ser castigado. Todo pecado é alvo do juízo de Deus. É inescapável.
Ao mesmo tempo, não existe gesto de misericórdia, de graça e de amor maior do que a Cruz. Todo pecado precisava ser castigado, mas Deus não podia permitir a destruição da humanidade, a quem ama. Como resolver isso? Jesus. O Filho que é dado para levar sobre Si todo o peso do Juízo de Deus sobre nós para que, a partir dali, quem nEle crer não morra, tenha vida. Jesus, morrendo em nosso lugar, sofrendo o nosso juízo, é a maior manifestação sequer imaginável da Misericórdia de Deus. É tamanho amor que faz com que o próprio Deus morra por nós, para que tenhamos vida. O próprio Deus julgue a humanidade em Si mesmo, na Pessoa do Filho, para que nós possamos escapar dessa condenação. Era o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele.
Ainda hoje, fez por outra, Deus levanta uma palavra de juízo contra o Seu povo. Nessas horas, precisamos lembrar que Ele também está promovendo uma abertura para a Sua ação misericordiosa em nosso favor. Se Deus nos fala com dureza é porque ainda há jeito para nós. Se não fosse assim, Ele simplesmente poria fim à nossa história sem maiores explicações. O falar duro do Senhor é a certeza de que Ele ainda não desistiu. Ainda há misericórdia em nosso favor. Ainda somos alvos dela. Basta abrir o coração para recebê-la. Deus não desiste de nós com tanta facilidade. A Cruz de Cristo ainda está aí. Juízo e misericórdia do Senhor.

21.4.05

Fugindo

Porém, se vivermos na luz, como Deus está na luz, então estamos unidos uns com os outros, e o sangue de Jesus, o Seu Filho, nos limpa de todo pecado.

1 João 1. 7

De vez em quando tenho a impressão que as pessoas lutam para se manterem superficiais. Gritam para que ninguém lhes obrigue a qualquer relacionamento mais profundo, seja com o próximo ou mesmo com Deus. Quando parece que há qualquer risco para que as circunstâncias a levem a um aprofundamento, as escusas começam, os desvios de assunto, a fuga. As pessoas brigam consigo e com quem se aproxima para que não sejam obrigados a encarar o próximo ou Deus em intimidade. Parecem ser cientes, mesmo que inconscientemente, que essa intimidade é espelho da alma que, por fim, revelará quem se é de verdade, no fundo, onde ninguém olha, onde ninguém vê.

Parece-me que a maior parte deste problema se resumiria a uma dificuldade de relacionamento. E esse problema de relacionamento se deve à incapacidade que temos de nos desarmar. Explico. Mesmo quando procuramos as pazes com as pessoas à nossa volta, o normal é não abrirmos mão de nossas posições, não revermos os nossos conceitos, não admitirmos que estamos errados. Fazemos as pazes, mas fugimos do perdão.

Fazemos as pazes, voltamos a nos falar, mas no íntimo continuamos armados. Não abrimos mão de nossas certezas por nada. Empunhamos as nossas espadas no rosto das demais pessoas. É como se disséssemos: Perdoe-me, amigo. Voltemos a nos falar. Mas eu sou o dono da verdade. Eu estou mais que certo nessa situação. Encenamos uma farsa. E gostamos disso, preferindo à verdade.

Nós somos incapazes de nos entregarmos ao outro e vivemos em nossas fortalezas muradas, protegidos do contato. Nesse caso a crítica que desenvolvemos é sátira mortífera que condena a tudo e a todos. Que julga sem justiça e sem misericórdia. Que só admite como padrão de verdade a minha verdade.

Se há um sapo enterrado que atrasa o desenvolvimento de nossas comunidades, é isso. Nós somos incapazes de nos desarmarmos, de nos esvaziarmos e de buscarmos uma reconciliação ao nível mais profundo com as pessoas a nossa volta. Testemunhamos falso amor, egoísmo e superficialidade. Protegidos por armas difíceis de serem depostas. Que nos matam, matam nosso sonho, matam nossos relacionamentos. Preferimos viver ficções a construir vidas profundas, reais e produtivas, pautadas no amor e reconciliação em Jesus.

Hoje faz vinte anos da morte de Tancredo Neves. Esses dias a Globo mostrou uma reportagem com os médicos que trataram dele. E uma grande revelação que eles trouxeram é que Tancredo não morreu de septicemia (infecção generalizada). A patologista disse que eles não encontraram nenhum foco de infecção. Um outro médico disse que todas os micróbios que porventura tivessem estado circulando no seu sangue foram mortos pelos antibióticos. Mas o corpo de Tancredo não percebeu isso. O seu sistema imunológico atacou seus próprios órgãos, provocando a sua falência. Começou pelos pulmões, que estavam enfraquecidos pelas transfusões de sangue que ele tinha recebido. Os pulmões foram tomados pela fibrose e foram endurecendo.

Algo semelhante acontece quando fugimos do perdão, de um ponto de vista espiritual. Mesmo que façamos as pazes, eliminando as bactérias por meio de antibióticos, na verdade isso é muito superficial. Não provoca mudança espiritual, do mesmo modo em que o corpo não se dá conta. E começamos a nos destruir por dentro. Endurecemos o nosso interior, que se toma pela fibrose. E, pouco a pouco, vamos morrendo. Atacados de dentro, envenenados pelo nosso próprio ser. Endurecidos por fora, impedindo que a luz de Deus brilhe em nós. Endurecidos, atacados e sendo mortos por dentro, por um coração que não perdoa. Um coração que foge do perdão.

Somos superficiais em nossa relação com Deus e com o próximo? É hora de olhar para dentro, para nossos corações. Do que estamos fugindo? O que evitamos? Por que falamos alto e não queremos nos olhar no espelho de nossas almas no rosto do próximo e, principalmente, na presença de Deus? Temos medo de nós, de ver o que está dentro?

Se deixarmos de fugir, se buscarmos a luz do Senhor, há esperança. Não morreremos a partir da dureza de nossos corações. Encontraremos vida nova na dimensão do perdão pleno. Unidos uns com os outros. E, então, o sangue de Jesus, o Seu Filho, nos limpará de todo pecado.

20.4.05

Profundas no coração

Se alguém tem sede, venha a Mim e beba.

João 7. 37

Uma das coisas mais fantásticas que o Espírito Santo pode fazer dentro de nós é a cura das feridas emocionais e espirituais. Diz o profeta que Jesus levou sobre Si todas as nossas dores e o Seu castigo nos trouxe a paz. E é o Espírito em nós quem torna real isso, como água viva a jorrar para a eternidade.

Tem muita gente andando por aí com os corações e as almas pesados. Com uma sede violenta, sem poder identificar a Fonte que lhe poderia saciar, buscando em toda parte cura, alívio, saciedade. Paz. Muitos andam em busca de aliviar sua sede e suas dores. É com esses, é conosco que Jesus fala: Se alguém tem sede, venha a Mim e beba. Todo alívio que tanto precisamos, que tanto desejamos, que tanto procuramos, está nEle.

Dois anos atrás, ouvi uma canção do Vineyard que me impressionou pela beleza e simplicidade de seus versos:

Todos que têm sede

E os que fracos são

Venham à fonte

Imergir o seu coração

A dor e a tristeza lavadas serão

Nas ondas do amor de Deus

Profundas no coração

(Todos que têm sede, Brenton Brown & Glenn Robertson, versão de Andreiev & Eliza Kalupniek)

Essa canção calou profundo em meu coração em um momento em que eu me refazia. A promessa de que a “dor e a tristeza lavadas serão/Nas ondas do amor de Deus/Profundas no coração” explodiu dentro de mim. Eu passei a desejar como nunca antes que as águas do Senhor Jesus pudessem correr dentro de mim. Eu quis como nunca buscar o Senhor como Fonte da Água que corre para vida eterna. Eu me entendi como um dos que tinham sede e que deveriam ir até Jesus. Correndo, se pudesse. Imergir o coração na presença do Senhor. E deixar-se ser amado por Ele, enquanto Suas águas lavariam a profundidade do meu ser, do meu coração.

Existe muita gente se arrastando sob pesos e feridas de diversas ordens. Arrastam-se, sobrevivendo, enquanto poderiam aprender o sentido de uma vida plena em Jesus. Vida que se renova todas as manhãs pela ação dessa Água da Vida. Pela ação do Santo Espírito, profunda na alma e no coração.

Existe gente se arrastando sob o peso de pecados. Existe gente se arrastando sob o peso de ressentimentos, de amarguras, de dores emocionais. Existe gente se arrastando sob o peso cheio de mágoa da falta de perdão. Existe gente se arrastando sob o peso da frustração de sonhos desfeitos, de planos acabados, de projetos destruídos. Todos esses podem ser caminhos de morte. Todos esses geram uma sede insaciável na alma.

Todos esses caminho de morte podem desviados de nós. Não precisamos nos arrastar sob esse peso todo. Não precisamos deixar que nossas feridas e pecados nos empurrem para o fundo de um poço sem volta. Não precisamos deixar que estes nossos pesos nos empurrem à morte. Existe uma saída, bela e simples como a música do Vineyard: Se alguém tem sede, venha a Mim e beba. Como dizem as Escrituras Sagradas: “Rios de água viva vão jorrar do coração de quem crê em Mim” (Jo. 7. 37 – 38).

19.4.05

Laços de amor

Com laços de amor e de carinho eu os trouxe para perto de mim

Oséias 11. 4

Com que podemos comparar o amor de Deus? Passei muitos minutos refletindo sobre esse texto e buscando uma metáfora para torná-lo mais acessível. Pensei em muitos filmes de amor, pensei em muitas histórias românticas. Lembrei de muitos casos em que pais se devotaram a filhos, ou filhos se devotaram a pais. Nenhuma dessas histórias parecia satisfazer o que eu procurava como comparação. Até que me toquei do óbvio, do que o insucesso de minha busca significava. O amor de Deus é incomparável.

Oséias 11 é um dos textos mais impactantes do texto sagrado. É a história do amor de Deus. O amor que escolhe alguém sem nenhuma razão. É a história do que o amor de Deus pode fazer pelo ser a quem ama.

O profeta descreve o pecado e a falta do povo. Enquanto Deus amava o povo desesperadamente, o povo se afastava dEle: quanto mais eu o chamava, mais ele se afastava de mim (11. 2). Oferecia sacrifícios a falsos deuses. Deus cuidava do povo como um pai ensina seu filho a andar, mas esse filho não conseguia perceber o que Deus fazia. Deus cuidou do Seu povo o tempo todo, mesmo sem receber qualquer gratidão em troca. Qualquer gesto de amor.

É o próprio Senhor quem denuncia o grande pecado do povo: O povo de Israel me cerca com mentiras e falsidades, e o povo de Judá se revolta contra mim, o Santo Deus, que sou sempre fiel (11. 12). É o próprio Pai quem diz o quanto o seu filho amado é merecedor do castigo pelo que tem feito a esse amor imensurável. Um povo que o tempo todo tem rejeitado o amor, o chamado carinhoso do Senhor a estar junto a Ele. O povo que não consegue tributar glória e honra Àquele que lhe tem guardado e protegido desde muito tempo, desde sua mais tenra idade. Esse é um povo que merece castigo. É um povo que rejeita o amor e não deveria, portanto, ser alvo desse amor.

Mas esse amor de Deus é coisa de doido. É algo que extrapola, e muito, a nossa capacidade de compreensão. A nossa mente jamais vai poder entender as loucuras de amor de Deus. O nosso coração nunca vai conseguir conter integralmente esse amor. O amor de Deus é coisa de doido. Qualquer um de nós desistiria diante de qualquer reiterada rejeição. Qualquer ser humano desistiria. Mas, é Deus quem se explica: eu sou Deus e não um ser humano (11. 9). O Seu amor é além de qualquer imaginação.

Israel, como poderia abandoná-lo? Como poderia desampará-lo? Será que eu o destruiria, como destruí Admá? Ou faria com você o que fiz com Zeboim? Não! Não posso fazer isso, pois o meu coração está comovido, e tenho muita compaixão de você (11. 8)

Uma das verdades mais fantásticas da Palavra de Deus é que Deus não desiste de nós. O Seu amor não desiste de nós. As Suas mãos não desistem de segurar as nossas. Deus não desiste de nós. Ainda que tenhamos nos afastado terrivelmente dEle. Ainda que tenhamos rejeitado insistentemente o Seu amor. Ainda que tenhamos lutado contra a ação dEle em nossa vida. Ainda que tudo tenha parecido acabado. Ainda assim, Deus não desistiu, Ele não desiste e Ele não desistirá de nós até o último instante.

Até o último instante, o Amor de Deus está aí para nos socorrer. Até o último instante, você se deparará com as Suas mãos estendidas para abençoar, para tirar você do lugar de aperto em que se encontra, e levar até a Rocha Eterna, o Lugar Firme, a Sua presença. Até o último instante, Deus amará você de uma maneira que é impossível ao homem traduzir, explicar, alcançar ou entender. Até o último instante, o Deus vivo está atraindo você com laços de amor e de carinho. Até o último instante Ele vai querer você ao Seu lado, por Seu amor.

18.4.05

Agarrado ao barco

Mas, já agora, vos aconselho bom ânimo, porque nenhuma vida se perderá entre vós, mas somente o navio.

Atos 27. 22

Nos últimos três anos eu vivi alguns dos momentos mais difíceis de minha vida. Não podia imaginar, antes disso, que alguma coisa pudesse provocar tamanho sofrimento, muito menos que eu poderia suportar tamanha dor. Foram momentos muito dolorosos, muito difíceis.

Em 2002, na parte do final do ano, eu me vi morto. Era uma sensação estranha. Não havia nenhum risco imediato à minha vida biológica. Não se tratava de qualquer situação de morte física, mas a vida que eu tinha até ali estava morrendo. Várias vezes a gente passa por momentos difíceis mas sabe ainda, lá no fundo, que o Deus que cuida de nós pode e vai nos trazer livramento. A gente sabe que nada é definitivo e ainda nos resta um tanto de fé que nos alimenta. Várias vezes eu havia experimentado isso na vida. Mas aqueles dias foram diferentes. Por mais eu buscasse lá dentro de mim, não sobrava nada. Não havia nada. Eu não tinha nenhuma esperança de salvação. Nenhuma mesmo. O poço em que estava era muito fundo, tão fundo que seria impossível mesmo ver qualquer luz, contemplar qualquer saída. É incrível esse tipo de sentimento. O tamanho da tempestade, a constância da luta, todas essas coisas geram um sentimento pleno de morte total. Morte. Fim de tudo. Não pensei, enfatizo, em nenhum momento na morte física. Mas não restava nada em mim. Nem desejos, nem sonhos, nem prazer. Qualquer sensação de vida fôra embora. O que restava era uma morte pior que a física. Fisicamente vivo, estava emocionalmente morto. Era o fim de tudo.

Pouco menos de um ano depois, quando parecia que as coisas se encaminhavam para uma resolução, tudo foi posto abaixo de novo. E, de novo, não me restava nada. Nem fé, nem amor, nem vida, nem paz, nem sonhos, nem desejos. Não me restava nada. Não esperava mais nada. Somente seguia, rotineiramente, com a vida.

Atos 27 conta uma história interessante. Paulo sabe que deve ir à Roma testemunhar de Jesus ao César. Desse modo, ele deixa-se ser preso e vai conduzido de navio até a capital do império. Antes de uma nova etapa da viagem, ele alerta que a viagem não seguirá bem. Deus lhe havia mostrado isso. Mas os homens não lhe dão atenção. Então começa uma tempestade terrível. Tufão. Dias e mais dias de escuridão, de água arremessando o barco de um lado a outro. Todas as esperanças de salvação se esvaíram. O fim era certo. Depois de tanto tempo, nenhum daqueles homens certamente conseguiria escapar. Mas Deus queria levar Paulo a Roma. E, em função disso, avisa que todos serão preservados, mas o navio será perdido.

Para serem salvos, no entanto, eles deviam permanecer no barco. Isso é um absurdo. O navio está sendo partido pelas ondas. Não existe mais carga, os mastros cederam, não há como içar velas. O pior lugar para se estar naquela tempestade é naquele navio. Qualquer um pode perceber isso. Mas a Palavra de Deus foi muito clara: se todos quiserem sobreviver, todos devem permanecer no navio. Se agarrar a cada parte que puderem, mas manter-se no navio. Mesmo diante da morte certa.

Nos dois momentos que eu vivi, experimentei a necessidade de me agarrar ao navio, mesmo que não significasse nada para mim, mesmo que eu não tivesse mais fé nem qualquer esperança. Não fazia sentido para mim manter meus momentos devocionais, porque Deus me parecia muito longe, quando ainda pensava que Ele estava em algum lugar. Não fazia sentido ir aos cultos de minha igreja, ou de qualquer outra, porque não era confortável para mim. Chegava depois de começar, saía antes de acabar, porque não queria falar com ninguém. Mas algo me fazia acreditar que a única chance que eu tinha de sobreviver era me agarrando no navio, mesmo que tudo fosse sem sentido. Mesmo que não significasse mais nada. Eu persistia, apesar da minha falta de fé, apesar de me sentir morto. Eu não acreditava que pudesse ressuscitar. Eu não acreditava em nada. Não possuía nenhuma fé. Mas nos dois momentos, permaneci agarrado ao barco porque sabia que tinha de fazê-lo, mesmo que não quisesse.

O fim dessas histórias é basicamente o mesmo. Depois de todo processo, restaurado por Deus, percebi que tinha morrido mesmo. Aquela vida que eu tinha até então, os sonhos, os planos, os projetos e os prazeres que eu tive até ali foram desfeitos por Deus. Porque Ele desejava me levar a salvo até uma praia, um projeto e uma vida melhor. Se eu não tivesse experimentado tudo aquilo, possivelmente hoje não teria qualquer vida de verdade.

Atos 27 termina com a melhor notícia, relatada em uma frase simples e direta: E foi assim que todos se salvaram em terra. A mensagem é simples, apesar de complicada de viver. Cada um e todos puderam sobreviver porque se agarraram ao barco, mesmo quando parecia a pior a coisa a ser feita. Sobreviveram fazendo uma coisa que lhes parecia completamente sem sentido. Perseveraram, mesmo quando estavam sem esperança. Como eu, que continuei fazendo aquelas coisas que não me pareciam ter sentido. Até que Deus fez uma nova vida em mim. Eu realmente morri naqueles dias, mas revivi em uma nova vida porque tive coragem de seguir fazendo o que não me parecia certo. Tive coragem de me agarrar ao barco.

Firmeza e aperfeiçoamento

Estejam alertas e fiquem vigiando porque o inimigo de vocês, o Diabo, anda por aí como um leão que ruge, procurando alguém para devorar. Fiquem firmes na fé e enfrentem o Diabo porque vocês sabem que no mundo inteiro os seus irmãos na fé estão passando pelos mesmos sofrimentos. Mas, depois de sofrerem por um pouco de tempo, o Deus que tem por nós um amor sem limites e que chamou vocês para tomarem parte na sua eterna glória, por estarem unidos com Cristo, Ele mesmo os aperfeiçoará e dará firmeza, força e verdadeira segurança.

1 Pedro 5. 8 - 10

Muita gente deve lembrar de uma série que a Rede Globo exibiu em meados dos anos 90, O toque de um anjo. Esta série está em exibição contínua de reprises no canal fechado Warner Channel, tendo sido cancelada desde 2003. Os horários de exibição não são muito convenientes então não é sempre que eu consigo assistir, mas a série conta as aventuras de alguns anjos, cujo principal chama-se Mônica, que são enviados para socorrer as pessoas nos momentos mais diversos de luta.

Houve um episódio de O toque de um anjo em que os anjos foram alertados por Deus de que iriam enfrentar Satanás pessoalmente. Eles passaram o tempo inteiro tentando identificá-lo, até que, afinal, ele se revelou travestido na forma de um garoto. Pouco depois, Satanás apareceu na forma assustadora de um leão que queria tragar uma criança que estava para nascer. Mônica encara o leão olhos nos olhos. Ele estava andando ao redor o tempo todo, mesmo que escondido e passando despercebido.

Na continuação do texto em que meditamos ontem, Pedro traz uma série de alertas para a igreja. Mais uma vez a Palavra de Deus nos instiga a estarmos alertas e vigilantes o tempo todo, justamente porque o Diabo, nosso adversário, está andando por aí, como um leão, procurando alguém para devorar. Esse é o alerta para sobriedade e vigilância a fim de que não cedamos às pressões do mundo. As lutas, a perseguição, a injustiça podem nos abater, nos entristecer, podem nos derrubar. Inclusive, podem nos levar a pecar. É preciso estar sempre precavido, por isso, com o Diabo que nos rodeia e espera pela nossa falha. Ele não tem piedade e quer nos devorar. É preciso resistir.

Por isso, também, a exortação do apóstolo é para que permaneçamos firmes na fé. Essa é a chance que temos de resistir a este leão faminto. Nossa firmeza na fé é condição sem a qual não há nem pode haver qualquer chance de escapatória.

É interessante que o fundamento para que estejamos firmes, mesmo parecendo muito estranho, é deixado claro por Pedro: em toda parte, os cristãos têm enfrentado as mesmas lutas, sofrido as mesmas dores, mas passam por isso na certeza de que Deus é um Deus de Graça. Nada disso durará indefinidamente. Nossa herança está reservada por Cristo e em Cristo no céu. Nosso sofrimento é passageiro, por um pouco de tempo, principalmente quando comparado à eterna glória de Cristo. O nosso futuro é um livramento eterno de tudo isso por meio de Jesus Cristo e Sua Cruz.

Por fim, o texto explica que os nossos sofrimentos, nossas lutas e nossos enfrentamentos contra Satanás têm um propósito, não são sem razão, sem sentido. O nosso sofrimento, quando estamos em comunhão com Cristo, serve para nos aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar. Como se fôssemos um edifício, que dia a dia, minuto a minuto, é erguido gradativamente para a Glória de Deus. Que tem o próprio Deus como principal Arquiteto, Engenheiro e Construtor.