O abalo
E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. As bases do limiar se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça.
Isaías 6. 3-4
Acho que seria um exercício interessante para a nossa fé se pudéssemos imaginar mais. Por exemplo, se pudéssemos nos imaginar entrando no Santo dos Santos com Isaías na visão do capítulo 6 de seu livro. Com ele, olharíamos por cima dos querubins sobre a Arca e veríamos o Senhor. O Formoso Senhor Deus, sentado em uma Alto e Sublime Trono de Glória. Acredito que nossos olhos tentariam fugir de tal visão. Chegariam a doer diante do brilho da Luz do Senhor. Temeríamos ficar cegos.
Mas o abalo maior ainda estaria por ser sentido. Quando víssemos aqueles seres celestiais, que o profeta chama de serafins, voando com seus três pares de asas, tremeríamos. Mas seríamos radicalmente abalados quando ouvíssemos a sua voz, o seu canto, a sua declaração. A voz de todo universo ressoaria em nossos ouvidos, em nossa mente, em nosso coração: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos. Isso, sim, nos abalaria. A visão de Isaías descreve isso. Os próprios fundamentos do templo balançaram, ao som do coro celestial. Imagino o som das vozes vibrando ao longo de todo meu corpo. Ensurdecedor. Imagino as emoções se aflorando quando o coração pulsasse ao ritmo do canto. Batesse, enquanto dizia: Santo, Santo, Santo... A realidade do Deus Santo penetraria o mais íntimo de meu ser. E aquele canto não seria mais o canto dos querubins, dos seres celestiais ou dos vinte quatro anciãos. Agora, diante de tanta Glória, Beleza e Majestade, era o meu próprio canto. O meu próprio pulsar. Era eu mesmo quem declarava: Santo, Santo, Santo é o Senhor.
Quanto mais íntima se tornava a percepção da santidade de Deus à minha volta, mais a seriedade do abalo se agravava. Tornava-se real para mim o que o Senhor disse a Moisés quando este pediu para ver a Sua Glória: Não me poderás ver a face, porquanto nenhum homem verá a minha face e viverá (Ex. 33. 20). O canto à santidade de Deus, que cada vez mais dominava a mente e o coração, pouco a pouco ia se tornando um canto de desespero e destruição. Estou diante do Deus santo, cuja glória preenche todo o universo. Estou diante do Deus todo-poderoso, maravilhoso em Sua justiça. Estou diante do Senhor. Mais que isso: a sua glória está enchendo a minha vida. O meu corpo está vibrando enquanto declara que Ele é Santo, Santíssimo. Mas eu posso ver o meu pecado. Percebo toda a minha iniqüidade. O meu corpo e minha vida são abalados pela santidade gloriosa do Senhor. Agora, mais do que nunca, eu sei que não posso permanecer vivo diante de Deus tão santo e poderoso. Vou ser consumido pelo Fogo Consumidor. Não sou digno de estar no monte do Senhor. Diante de Sua Glória e Santidade. Em lágrimas, rasgo o coração e a alma diante do Senhor e, em desespero, grito com Isaías: Ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos! (Is. 6. 5). Desespero! Estou perdido! Deus é Santo e eu sou pecador!
O abalo da santidade do Senhor quebrou-me inteiramente. Prostrei-me, rasguei-me, aos pedaços me joguei diante do Deus do Universo. Mas é nessa hora que Ele vem restaurar. O abalo me destrói para que Ele possa me reconstruir, me fazer de novo. Ele vem a mim, junta os cacos e me faz novo. E me ama. E tira todo desespero. E enche meu peito de esperança, perdão e paz. O anjo tira uma brasa viva do altar com uma tenaz e vem até onde estou, me toca os lábios, e me restaura, me faz de novo: Eis que ela tocou os teus lábios; a tua iniqüidade foi tirada, e perdoado, o teu pecado (Is. 6. 7). O pecado foi tirado e perdoado.
Agora, aliviado, estou pronto para servir. Como vaso restaurado, posso me pôr, com Isaías, às ordens do Senhor e atender a sua vocação. Aquilo que Ele requer de mim. O serviço que Ele me põe na mão. No meu caso, contar essas histórias para vocês. À pergunta do Senhor sobre quem Ele enviará, diante de Sua Glória e Santidade, restaurado e de pé novamente, posso dizer: Eis-me aqui, envia-me a mim.
Imagine.
Daniel Dantas
Missionário da 1ª IPI do Natal