9.6.15

Cruzes

A Cruz era a execução de um sujeito subversivo que se levantou contra o poder de Roma, afirmando-se Messias, e contra o poder do Templo, assumindo o amor e a comunhão com os excluídos (prostitutas, publicanos, pecadores). A cruz aponta um Deus que se fez um de nós encarnando-se no mais excluído dos seres humanos, denunciando a opressão, a violência, a morte e o poder - fosse da religião, fosse das estruturas estatais. 
A Cruz fez do Deus cristão o mais abjeto dos seres.
Por isso, a Cruz foi bem representada na crucificação da transexual.
Qualquer um que fale diferente não entendeu o evangelho do reino de Deus anunciado por Jesus. 
Mas, curiosa confirmação das palavras, são os religiosos opressores e repressores que mais se sentiram atingidos. Porque na analogia da cena bíblica, esses são os que gritam "crucifica-o"!

Conversões

A gente passa por algumas conversões na vida, que podem mexer um tanto mais ou um tanto menos conosco.
Uma radical se deu em 1996 comigo quando deixei de crer como um espírita e encontrei sentido em uma versão do evangelho de Jesus que ouvi, naquela ocasião, na Igreja Presbiteriana Independente.
Já disse aqui: hoje olho a forma como eu cri naqueles primeiros anos e me apiedo de tanta repressão, opressão, tradicionalismo. Nem acompanhar uma canção com palmas me era possível - imagine as coisas que hoje eu creio.
Outros momentos de conversão se deram: vim, pela primeira vez, para Fortaleza fazer seminário em 2001. Antes disso, estive alguns meses à frente da congregação da IPI em Pajuçara. Experiências de conversão.
Elas foram se tornando mais aprofundadas com o passar do tempo.
Em 2011, comecei uma paquera teológica com Ricardo Gondim e a Igreja Betesda. O processo se acentuou entre 2013 e 2014. Eu me reencontrei nesta comunidade de fé. Aqui em Fortaleza tenho tido ricas experiências andando com esse povo que pensa uma fé contemporânea de maneira adulta e em busca da maturidade e autonomia.
Estava lembrando isso por um fato que contava a um amigo no sábado. Em 1996, ao dizer que "queria receber Jesus como Salvador", optei por uma religião da qual desconhecia a teologia, formulações, crenças básicas. Fui doutrinado e até pensava, de vez em quando, que cria como um presbiteriano porque havia me convertido em uma igreja presbiteriana - como se me fosse possível crer de maneira diferente da que cria então.
Caminhei muitos anos até me reencontrar na comunidade onde estou hoje. Dessa vez, foi tudo absolutamente diferente: quase duas décadas de vida eclesiástica, muita leitura teológica, experiências em eventos de reflexão, mestrado, doutorado, seis anos de estudos de teologia. A minha escolha não foi afetivo-emocional. A minha escolha foi teológica: assumi a comunidade Betesda como a minha comunidade porque encontrei ali uma forma de viver e pensar a fé cristã de maneira que me pareceu relevante, significativa e extremamente valiosa.
Não foi um adolescente que encontrou a fé na vida da igreja: foi um adulto, homem, maduro. Tanto que primeiro essa foi a minha experiência. Mas veio a ser também a experiência de Kênia. Não cabemos em outro espaço. A fé em Cristo que compartilhamos, compartilhamos na forma, na crença, nas propostas, nos sonhos, nos planos, nas proposições da Betesda.
Não chegamos aqui como neófitos: chegamos aqui como buscadores de uma fé madura que julgamos ter encontrado entre as irmãs e os irmãos dessa comunidade.
(Se cria no passado na relevância de uma mensagem evangelística e na conversão pessoal através da confissão de Jesus, hoje creio no evangelho do Reino nos impulsionando à vida, vida verdadeira, intensa, desalienada, comprometida. Desse modo, compreendam, falo de ter recebido Jesus como Salvador apenas para ressaltar o modo como cria naqueles dias. Jesus é o Salvador independentemente se eu confesso isso ou não. Aliás, o confessar não significa nada no que se refere à minha vida e ao sentido do evangelho nela. Mas isso é outra conversa).