28.1.05

O amigo do Noivo
João 3. 22 – 36

De repente, chegaram para João Batista, o maior líder religioso daquele momento em Israel, e disseram que o tal Jesus estava batizando e que o povo começava a seguí-Lo. O que João iria fazer com aquilo? Certamente, ele começaria a perder influência e espaço entre o povo. Os discípulos de João, provavelmente, se sentiam um tanto perdidos e desconcertados com aquela situação. Esperavam uma orientação do profeta.

Então, o profeta usa uma ilustração. Ele, João, é o amigo do Noivo. Está fazendo companhia aos convidados, orientando a Noiva enquanto o Noivo, seu amigo, não vem. Mas agora o Noivo chegou. João, como Seu amigo, tem que dar o lugar a Ele. O lugar pertence a Ele, o Noivo Jesus. A festa de casamento é do Noivo e da Noiva, é de Jesus e da Igreja.

É exigida de João muita humildade e submissão. O povo até então o seguia. A partir de agora, não o seguirá mais. O povo até então ouvia sua palavra e agora não ouvirá mais. Era João quem estava à frente, sendo o centro das atenções da vida religiosa daquele lugar. Todos confiavam nele e Deus estava agindo por meio dEle. O plano de Deus estava correndo através da vida de João. O Espírito de Deus estava fazendo as coisas novas através da sua vida. Agora não será mais assim. João precisava de humildade e muita submissão para poder vivenciar esse novo momento na carreira de seu ministério. Ele precisava entender que o plano de Deus agora não se realizava mais por meio dele e precisava estar disposto a sair de cena. Com humildade.


O mais surpreendente é que João era capaz de estar feliz porque o Noivo e a Noiva se alegravam juntos. Ele também se alegrava porque conseguia entender que Jesus era mais importante que ele, vindo do Alto, falando das coisas que ouvira diretamente do Pai. Acima de tudo, a alegria de João era a manifestação do sentimento de missão cumprida. Agora sim, ele executou o papel que lhe determinara em Seu plano e poderia sair de cena e abrir espaço para o Noivo conquistar e festejar com Sua Noiva.

Essa história me ensina algumas coisas. Primeiro, que é preciso ter humildade e ser submisso para darmos a Jesus o lugar que só pertence a Ele em nossas vidas. Outra coisa tão importante quanto essa é que não podemos querer aparecer mais que o Noivo: a festa é dEle, Ele é o mais importante e precisa ser o centro das atenções.

Deus nos convida a usufruir o prazer e a alegria que Jesus tem em comunhão com Sua Noiva e nos convida a adorarmos e nos alegrarmos nEle, por tudo o que Ele é. Somos desafiados a completar o ministério e a missão que Ele pôs em nossas mãos.

27.1.05

Avivamento ou Fingimento?

Em muitos aspectos os dias do profeta Jeremias na Palestina se assemelham ao nosso tempo. Jeremias, filho do sacerdote Hilquias, era um profeta influente na corte de Jerusalém. Seu ministério se realizava na cidade, na capital. Anatote, onde nasceu, distava poucos quilômetros do templo. Profetizou nos reinados de Josias, Jeoaquim e Zedequias. Um extenso período de anúncio da Palavra de Deus.

Em que seu tempo se assemelha a nossos dias? Parte do ministério do profeta acontece em um tempo de Avivamento. O culto ao Deus de Israel está se fortalecendo diante dos cultos idólatras, especialmente o culto a Baal.

São os dias do Rei Josias. 2 Crônicas 34 nos conta a história de Josias:

1) Tornou-se rei aos oito anos de idade, após a morte de seu pai Amom;

2) Com dezesseis anos, começa a buscar a Deus e tentar acabar com todas as falsas religiões na terra de Israel;

3) Com vinte anos, Josias viaja pela terra e purifica Judá e Jerusalém, acabando com os cultos aos falsos deuses;

4) Aos vinte e seis anos ordena a Reforma do Templo de Jerusalém, de onde são retirados todos os elementos que faziam parte dos cultos idólatras;

5) Enquanto o Templo era Reformado, foi encontrado, pelo sacerdote Hilquias (provavelmente, o pai de Jeremias) o Livro da Lei, que é lido diante do Rei. “Quando ouviu o que o Livro da Lei dizia, o rei rasgou as suas roupas em sinal de tristeza”, diz o texto.

6) O resto do capítulo e o capítulo seguinte nos contam como Josias desenvolveu o seu projeto de Reforma Religiosa, como o rei levou o povo a renovar a Aliança com Deus, pondo fim a todo culto a falsos deuses, e como o rei realizou a maior Páscoa da história de Israel.

7) A Palavra de Deus se espalhou, sendo pregada em toda parte, tanto em Judá, quanto em Israel.

Certamente, o templo andava cheio. As pessoas estavam buscando refrigério para suas almas. A religião estava avivada. Como hoje, as multidões sedentas por respostas, por vida com Deus, corriam para o templo para ouvir o ensino e a pregação. Como hoje, a religião do Deus vivo se tornou religião da moda. As pessoas estavam abandonando o culto a Baal e toda idolatria. Os líderes diziam, com razão, que se vivia um Avivamento.

Mas qual a sua profundidade?

Nesse ponto, olhar o livro de Jeremias é inquietante.

Jr. 3. 6 e 9: “Durante o reinado do rei Josias (!), o Senhor me disse: ‘Você viu o que fez Israel, a infiel? Subiu todo monte elevado e foi para debaixo de toda árvore verdejante para prostituir-se. (...) Judá, a traidora, não voltou para mim de todo o coração, mas sim com fingimento’, declara o Senhor”.

A ilusão do crescimento da religião se desfaz em poucas palavras. Fingimento, não Avivamento. É assim que Deus vê as coisas.

O oráculo de Deus continua descrevendo a forma como o Senhor insistiu com a conversão do povo: “Voltem, filhos rebeldes! Pois eu sou o Senhor de vocês”, declara o Senhor” (14)

Talvez passasse pela cabeça do povo que conversão era ter o templo cheio, uma festa de Páscoa concorrida, mas a conversão real não é uma questão de culto. Por isso o Senhor diz que se o povo se converter “não dirão mais ‘A arca da Aliança do Senhor’. Não pensarão mais nisso nem se lembrarão dela; não sentirão sua falta nem se fará outra arca” (16), porque o próprio Senhor habitará no meio do povo.

A conversão real não se resolve com palavras bonitas, ou palavras religiosas impressionantes, mas vazias de poder e conteúdo concreto. A conversão real se resolve com a presença do Deus vivo e um Avivamento Genuíno que não é encenação religiosa.

Deus continua falando: “Voltem, filhos rebeldes! Eu os curarei da sua rebeldia” (22). O povo responde com um belo discurso de arrependimento: “Sim! Nós viremos a ti, pois tu és o Senhor, o nosso Deus. De fato, a agitação idólatra nas colinas e o murmúrio dos montes é um engano. No Senhor, no nosso Deus, está a salvação de Israel.” (22-24).

Quase ouvimos Deus lamentando em sua resposta: “Se você voltar, ó Israel, volte para mim!” (4. 1).

E a partir daí Jeremias profere uma das condenações mais veementes contra o povo de Deus e seus líderes. No capítulo 5, o profeta denuncia toda a falsidade e superficialidade de sua religião, de seus sentimentos, de sua vida espiritual. Seu Avivamento, anteriormente chamado de Fingimento, não tem melhorado a vida ou o testemunho do povo. Mas nada ficará sem castigo. “Não devo eu castigá-los? Não devo eu vingar-me de uma nação como essa?” (5. 29), refrão repetido inúmeras vezes.

Ele diz que o “povo tem coração obstinado e rebelde; eles se afastaram e foram embora” (5. 23). Eles não têm ousadia para viverem na presença do Deus vivo de maneira coerente. “O meu povo é tolo, eles não me conhecem. São crianças insensatas que nada compreendem. São hábeis para praticar o mal, mas não sabem fazer o bem” (4. 22).

Jeremias diz que procurou alertar a liderança sobre a fragilidade da vida que fingem viver. Mas eles quebraram o jugo de Deus, diz o profeta. O castigo os alcançará por isso.

“Irei aos nobres e falarei com eles, pois, sem dúvida, eles conhecem o caminho do Senhor, as exigências do seu Deus. Mas todos eles também quebraram o jugo e romperam as amarras. Por isso, um leão da floresta os atacará, um lobo da estepe os arrasará, um leopardo ficará à espreita, nos arredores das suas cidades, para despedaçar qualquer pessoa que delas sair. Porque a rebeldia deles é grande e muitos são os seus desvios” (5. 5 -6)

O Fingimento, a que chamamos de Avivamento tantas vezes, se propaga através de profetas que estão mais preocupados em manter a sensação de satisfação espiritual dos fiéis do que em anunciar-lhes a vontade e a Palavra do Deus vivo. Eles constroem uma estrutura de entretenimento religioso, de festa cúltica, que não desafia qualquer um a uma vida de santidade na presença do Deus vivo. E no nível superficial, a Igreja impressiona com seus números e sua pirotecnia. Se olharmos como Deus olha, não vemos mais que puro fingimento.

Levantar-se, profeticamente, para denunciar situação assim é correr sérios riscos. Jeremias foi preso, perseguido, jogado em uma cisterna seca. Tudo por ter sido fiel ao chamado que Deus lhe fez e não ter se deixado levar pela impressão bonita que a Reforma de Josias deixou. Não podemos apenas aplaudir o crescimento da Igreja sem refletirmos, de outra parte, sobre os seus significados, implicâncias e profundidade.

“Porque a comunidade de Israel e a comunidade de Judá têm me traído”, declara o Senhor. Mentiram acerca do Senhor, dizendo: “Ele não vai fazer nada! Nenhum mal nos acontecerá; jamais veremos espada ou fome. Os profetas não passam de vento, e a palavra não está neles; por isso aconteça com eles o que dizem”.(...) “Uma coisa espantosa e horrível acontece nesta terra: Os profetas profetizam mentiras, os sacerdotes governam por sua própria autoridade, e o meu povo gosta dessas coisas. Mas o que vocês farão quando tudo isso chegar ao fim?” (5. 11 – 13 e 30 – 31).

Mas vocês acham que falar assim agrada ao Senhor? Você acha que Ele tem prazer nessas coisas?

Jr. 13. 15 -17:

“Escutem e dêem atenção, não sejam arrogantes, pois o Senhor falou. Dêem glória ao Senhor, ao seu Deus, antes que Ele traga trevas, antes que os pés de vocês tropecem nas colinas ao escurecer. Vocês esperam a luz, mas Ele fará dela uma escuridão profunda; sim, Ele a transformará em densas trevas. Mas, se vocês não ouvirem, eu chorarei em segredo por causa do orgulho de vocês. Chorarei amargamente, e de lágrimas os meus olhos transbordarão, pois o rebanho do Senhor foi levado para o cativeiro”.

Há ainda um caminho para sairmos do fingimento e experimentarmos o amor de Deus, o Avivamento Genuíno. Nos dias de Jeremias, depois que o castigo veio e o povo foi levado para o exílio na Babilônia, o profeta escreve uma carta aos exilados, em nome do Senhor. E na carta Deus diz:

“Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês, diz o Senhor, planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes esperança e um futuro. Então vocês clamarão a mim, e eu os ouvirei. Vocês me procuraram e me acharão quando me procurarem de todo o coração. Eu me deixarei ser encontrado por vocês, declara o Senhor, e restaurarei a sorte de vocês” (Jr. 29. 11 -14)