25.2.06

Dor e graça

Porque, se tomamos parte nos sofrimentos de Cristo, também tomaremos parte na Sua glória. Eu penso que o que sofremos durante a nossa vida não pode ser comparado, de modo nenhum, com a glória que nos será revelada no futuro.
Romanos 8. 17 – 18

No CD mais recente do U2, a última faixa se chama Yahweh. Os irlandeses questionam a Deus por que sempre antes de uma grande alegria – como o nascimento de uma criança – a dor aparece como elemento anterior inevitável. Antes de qualquer festa ou alegria sempre vem a dor do sofrimento e da luta.
Ouvindo Yahweh nesta tarde comecei a pensar em como isso nos abate; como, tantas vezes, lutamos para nos livrar desse sofrimento. Como aquela lagarta que, certamente, tudo o que queria era sair com facilidade do casulo em que se encontra. Mas se a crisálida não enfrentar aquela dor e sofrimento – aquele aperto – o resto de sua vida será uma nulidade em nada comparada com a beleza e a maravilha que poderia ser. Vai morrer feia e rápido.
Nenhum ser humano gosta de sofrer. Mas desde cedo aprendemos que a dor é elemento inevitável na vida. Se podemos ter uma certeza na vida é a de que vamos sofrer. Vamos sentir dor. Em certos momentos, as coisas vão ser difíceis. O caminho da graça e o caminho da glória é o caminho da dor.
É disso que Paulo fala nesse trecho da carta aos Romanos. Primeiro, se nos consideramos cristãos, precisamos saber que a comunhão com Jesus não significa só salvação ou coisas boas. Não virão só bênçãos. Mas teremos comunhão plena com Cristo. O que inclui tomar parte dos Seus sofrimentos. Mesmo que nossa expectativa seja a glória. Mas não tomaremos parte de Sua glória se, antes, não tomarmos parte de Seu sofrimento.
Ainda assim, e é esse é um mistério da graça, o que para nós está reservado – coisas que nem olhos viram, nem ninguém ouviu, nem jamais pode ser humanamente pensado no coração – não se pode comparar com o sofrimento. Se sofremos muito, a alegria da glória, a festa da libertação, a celebração da vitória são inalcançáveis para nossa imaginação. Se a dor é grande, infinitamente maior será a vitória, porque infinitamente maior é o amor e a graça de Deus. A graça é o conforto que podemos sentir aqui, enquanto dói, e a certeza do que podemos esperar de bênção e festa no nosso futuro. Não estamos abandonados, mas a graça de Deus nos guia e nos conduz à festa da glória. À celebração da vitória. Podemos esperar no Amor.
Uma canção mais antiga do U2 celebra esta graça: A graça assume a culpa/ Ela cobre a vergonha/ Remove a mancha. Mais adiante, diz que a graça acha beleza em tudo e também faz tudo belo. A presença da graça a nos conduzir é a certeza de que a dor é passageira, a vitória já foi conquistada, a festa está reservada. E, mais que isso, não nos perderemos no caminho. A graça é que transforma a desgraça do sofrimento e da dor em bênção e alegria. É a graça que nos faz esperar. É a graça que reserva para nós a alegria e a celebração que virão quando a dor passar e o que para nós está reservado se manifestar. É a graça que nos faz crer e louvar a Deus. Porque, se tomamos parte nos sofrimentos de Cristo, também tomaremos parte na Sua glória. Eu penso que o que sofremos durante a nossa vida não pode ser comparado, de modo nenhum, com a glória que nos será revelada no futuro.