...porém, ele fugiu e foi morar na terra de Midiã.
Êxodo 2. 15 – 16.
Mesmo quando temos certeza de que agimos segundo o que era a vontade de Deus, corremos o risco de sermos oprimidos pela incerteza, dúvida, tristeza e falta de fé. Moisés havia compreendido que não podia ser vontade de Deus a opressão que o povo do Senhor vinha sofrendo no Egito. Resolveu intervir. Ele não errou exatamente a execução da ação. Ele errou em não procurar antes descobrir como Deus queria que a libertação fosse executada.
Embora estivesse certo de que era a vontade de Deus libertar Israel, Moisés foi tomado pelo receio, medo e incerteza. Ao matar o egípcio e perceber que nem mesmo os seus o apoiavam, Moisés temeu pela própria vida e fugiu. Foi para o deserto. Ele se escondeu ali de seus dons, seu passado, seu ministério e, como se fosse possível, de Deus. Foi ali, por quarenta anos, como se pudesse estar levando sua vidinha de sempre esquecendo qual era a vontade de Deus para o seu próprio povo.
Houve um erro de execução na atitude de Moisés. Ele percebeu a vontade de Deus, mas, impulsivamente, não foi buscar orientação do Senhor. Tomando os pés pelas mãos, se sentiu mal e culpado na conseqüência de seus atos. E fugiu, por isso, para se esconder no deserto. Esconder-se da própria presença de Deus.
Muitas vezes, eu me sinto assim. Sinto que estou querendo me esconder da presença de Deus. É por isso que faço de conta que não tenho ministério, dons, talentos nem sei qual a vontade de Deus para minha vida. Como se eu pudesse estar por aqui vivendo a minha vidinha e, escondido do próprio Deus, ficasse nesse deserto.
Isso explica meu silêncio de tanto tempo. Não aceitem minhas explicações lógicas. Eu não me calei por falta de tempo, nem por quaisquer outros motivos. Eu deixei de escrever porque tenho procurado me esconder de Deus e do ministério que Ele tem para mim. É muito mais cômodo, aparentemente, por mais desconfortável que seja, estar no deserto, como Moisés, por quarenta anos, fingindo não ser com ele o sofrimento do povo e a sua necessidade. Fingindo desconhecer a vontade de Deus para essa situação específica.
Fugi para o deserto porque me vi oprimido pela incerteza, dúvida, tristeza e falta de fé. Tenho tentado retomar o que tive antes. Tenho tentado me entregar novamente nos braços do Pai aos rios de Sua unção – a Sua presença santa. Tenho tentado voltar ao Centro de Sua vontade – recuperar a consciência de Sua vontade. Mas confesso ser mais fácil pastorear as ovelhas dos outros nesse sólido, quente e imenso deserto.
Meu coração se entristece por causa de meu silêncio. Muito mais por saber que estou tentando me esconder do Senhor. Mas é hora de mudar de atitude. É hora de deixar o esconderijo do deserto e se voltar para o Centro da vontade de Deus. Como aconteceu com Moisés, no meio do deserto, quarenta anos depois, sei que o Senhor me chama, no meio de uma maravilhosa sarça que queima e não se consome (Ex. 3. 1 – 6).
Sei que posso ter errado a execução de muitas atitudes que eram a vontade de Deus. Sei que não estava preparado para enfrentar as conseqüências de fazer a vontade de Deus. A conjunção desses dois fatores me desanimaram e me lançaram nessa tristeza e incerteza na qual hoje vivo.
Muitos de nós vivem situações semelhantes, sendo invadidos de uma tristeza sem medida pelo não-reconhecimento de seus esforços, por perseguição por fazer o que julga certo ou, simplesmente, por ser posto à prova no deserto pelo próprio Deus. Todos nós precisamos nos lembrar que existe uma sarça maravilhosa no meio do deserto, que atrai o nosso olhar para nos trazer de volta a Deus. O Deus que quer ser visto a partir do sinal da sarça vem nos lançar em rosto a vocação e o desafio de um ministério e vida consagrados a Ele. Agora, venha, e eu o enviarei ao rei do Egito para que voe tire de lá o meu povo, os israelitas (Ex. 3. 10).
Ele vem na sarça nos recuperar a visão, o amor, a fé e a esperança. Se ainda não vimos a sarça no deserto para nos restaurar a força, nos preparemos, tirando as sandálias dos pés. O encontro com o Santo não tarda.