Digam por aí que eu sou candidato.
Assumo minha candidatura para uma vida mais honesta - não uma que não transgrida, mas uma que reconheça humildemente cada transgressão.
Uma vida honesta com os outros que, talvez, não possam ver todas minhas limitações, mas que, certamente, conhecem algumas delas.
Assumo minha candidatura à vida honesta que afirma sua própria incapacidade de conter-se, seja no consumo, seja na virulência, seja na língua, seja no ânimo, seja na ira.
Assumo minha candidatura, reconhecendo-me ser humano que erra com os demais, que não ama tão intensamente quanto possível, que nem sempre oferece de si o melhor, que é mesquinho em relação aos seus próprios desejos, muitas vezes escondidos no mais secreto do coração.
Assumo a candidatura, mas desde já deixo claro: se a luz fosse acesa e o recôndito da alma fosse exposto, minha imperfeição desnuda faria com que você fugisse de quem sou. Você não iria me apoiar na minha intenção se você soubesse que no coração eu sou ainda mais outras intenções, quase sempre inconfessáveis.
Assumo minha candidatura, mas assumo também que há, por detrás do buraco na parede que deixa você ver parte e sentir parte do que sou, muito acúmulo de erro, de culpa, de dor, de sofrimento, de sentimento vão, de cobiça, de avareza, de descontrole, de uma dívida impagável. De alguém que tenta aprender o amor. Aprender a amar.
Assumo que sou candidato mas não acho que seria capaz de pedir a você que confie em mim, em minha candidatura. Porque eu não sou muito melhor ou muito diferente de você. E, se a gente fosse honesto, não gostaria de escolher alguém que esteja do outro lado de nosso espelho.