E Deus viu que tudo o que havia feito era bom.
Gênesis 1. 10.
Estive pensando nesses dias sobre minha vida e minha relação com Deus. Aliás, sempre penso e escrevo sobre isso. Houve momentos de intensa comunhão e alegria. Houve momentos de entusiasmos e momentos de tristeza.
Nunca meus momentos de tristeza resultaram de ações de Deus. Pelo contrário, minhas ações ou reações me roubaram algum entusiasmo. Aliás, sempre é assim. O resumo disso, no entanto, é que olho meu interior e percebo, atualmente, que um furacão costuma estar me varrendo. O interior é um tumulto, mesmo que haja paz à minha volta e tudo esteja indo muito bem. Às vezes, vejo um caos em meu coração.
Nesses dias, pensando nesse caos, li o capítulo primeiro de Gênesis. E naquele relato de como o Senhor, pela Sua palavra, traz a existência todas as coisas que hoje são e que antes não eram, percebi algumas coisas importantes sobre o meu coração.
Em primeiro lugar, entendo que Deus se manifesta ali por meio de Sua Palavra. E, no texto, Sua Palavra é Sua própria ação. Deus age enquanto fala. Age por falar. Age ao falar. Seu falar é Sua ação criadora. Assim sendo, Deus está presente em Sua Palavra. Ele poderosamente fala porque poderosamente está presente. Ele está ali. E se eu preciso de algo na minha vida, eu preciso de Deus presente, falando poderosamente em minha vida, transformando meu coração e aprofundando minha comunhão íntima com Ele.
Ao falar, ao anunciar Sua Palavra poderosa, ao estar presente, Deus faz algumas coisas. Ele põe ordem no caos. Eu sei que o caos pode ser algo bom, mas falo aqui da desorganização, destruição e desordem que marcam a realidade da morte e da destruição da vida em nosso mundo. A Criação em Gênesis começa com a descrição do caos. A terra era um vazio, sem nenhum ser vivente, e estava coberta por um mar profundo (Gn. 1. 2). Antes de tudo, existia o caos. A terra era morta, vazia. A morte e a desorganização da vida reinava no mundo. Na Bíblia, o mar é imagem da morte e do inferno. A descrição vívida é de uma desorganização mortal, oposta ao Espírito da Vida que paira sobre as águas. Esse Espírito, o Senhor, por Sua palavra e presença, converte o Caos em vida e ordem. Todos os “reinos” do mundo são criados com os seus “reis”: terra, ar, mar, com seus animais, peixes e aves.
Quando olho meu coração confuso, mortalmente desorganizado, me lembro de clamar para que o Espírito da vida, que paira sobre o mar profundo do meu íntimo, possa começar a obra de organizar a vida e de ordenar o mundo para a glória do Deus que vê executar todas essas coisas boas. A presença de Deus em nossas vidas desorganizadas e mortalmente feridas gera ordem, organiza, coloca tudo sob a direção do Senhor. A ordem que é estabelecida na Criação se fundamenta na submissão de tudo ao Senhor do Universo.
A presença de Deus na vida confusa de nossas almas coloca beleza naquilo que julgamos feio. Deus viu que tudo o que fazia era bom. E Ele fez um belíssimo planeta, um fabuloso universo, animais e plantas de enebriante beleza. A Palavra de Deus, além de criar ordem, cria beleza em nossas vidas. É criativa, gera expectativas e faz coisas novas e lindas para encantar os nossos corações. Um coração triste, desorganizado e desestruturado precisa, no Senhor, da beleza da vida.
A Palavra de Deus também traz, é o que nos ensina o texto da Criação, vida. É por Sua Palavra que Deus gera vida. A ordem e a beleza são sinais de vida. A ordem é criada para que a beleza da vida brote em forma de florestas, de animais, de tudo o mais. Um coração triste e confuso, envolto em escuridão, morte e desorganização, precisa de vida. De um sopro de vida fantástico que corra do trono do Senhor, que seja um rio a alimentar a alma mais faminta, que seja poder para transformar as piores e mais tristes situações, que seja luz para iluminar de novo uma vida que perdeu a alegria da comunhão e da salvação com o Senhor e com os irmãos. É a presença de Deus, Sua palavra, que traz vitória, vida, beleza e ordem aos corações mais miseravelmente entristecidos e derrotados.
Por fim, a presença e a Palavra do Senhor traz santidade. O texto da Criação se conclui com um decreto de santidade: Ele abençoou o sétimo dia e o separou como um dia sagrado, pois nesse dia Ele acabou de fazer todas as coisas e descansou (Gn. 2. 3). A consciência de que o Deus vivo está presente e agindo em nossas vidas nos empurra, irrestivelmente, a percepção de nossa pequenez, miséria e pecado e, consequentemente, a experiência viva da santidade, da pureza e da insondável riqueza de poder e sabedoria do Senhor. A conseqüência do que Deus faz em nossas vidas, para restaurar, ordenar, embeleza e vivificar é a consciência da Sua santidade e a necessidade de abandonarmos o nosso pecado e vivenciarmos uma nova dimensão de culto, adoração, experiência e santidade.
Tenho sentido falta em minha vida dessa comunhão, desse culto, dessa certeza, dessa experiência, dessa santidade e dessa adoração. Tenho visto confusão, feiúra e desordem dentro de mim. Clamo que o Espírito de Deus, que paira sobre as águas profundas de meu coração, traga ordem, beleza, vida e santidade de volta ao meu ser.