9.4.05

Jesus e a adúltera

Mulher, onde estão eles? Não ficou ninguém para condenar você?

João 8. 10 (1 – 11)

Dessa vez, eu convido você a ser essa mulher adúltera do texto de João 8.

Você foi descoberta em flagrante. A vergonha e o vazio que invadem você são inomináveis. Enormes. Gigantes. Como o escárnio e a ira que a população levanta contra você.

Seus vizinhos, que você considerava amigos, agora a querem morta. Você sente medo. Porque sabe que vai morrer. É assim que diz a Lei. E você vai morrer pelas mãos de muitos dos homens que já estiveram na sua cama. Muitos a quem você já havia dado a sua dignidade na tentativa de suprir o vazio e a angústia que sempre possuem seu coração.

Seus pais, em nenhum momento da sua vida, lhe deram valor. Ao ponto de lhe terem vendido àquele que é seu marido, a fim de pagar dívidas.

Para o seu marido, você não era alguém, não era uma pessoa. Era um objeto. Um bem, que tem preço. Você era sua propriedade exclusiva. Agora, quando você reflete sobre isso, conclui que é provável que tudo isso a tenha conduzido à vida que viveu, a se entregar para tantos homens, até ser flagrada. Você viveu assim para se vingar de um homem que jamais a respeitou. Você pensa agora “na vida que viveu” porque está certa que morrerá. A Lei diz isso.

Só que a sua vingança não funcionava muito bem. Cada vez em que você traía seu marido, a vergonha, o medo e a dor do vazio enchiam a sua alma. E você buscava mais uma vez as camas dos amantes para que, talvez, o prazer pudesse abafar a sua dor.

Vergonha, medo, dor enorme no coração. E agora? Estão levando você para o Maior dos Mestres. Certamente, até Ele condenará sua atitude abjeta. Sua condenação e morte são certas. E Jesus será o primeiro a lhe atirar pedra.

Coração sobressaltado, você percebe que se encontra diante do Mestre. É agora. Respiração em suspenso, pulsação acelerada. Dificuldade em puxar o ar por causa da aflição que lhe aperta o peito. Você não ergue os olhos e não vê os olhos de Jesus. A vergonha é grande.

Acusam: Mestre, esta mulher foi apanhada no ato de adultério. De acordo com a Lei que Moisés nos deu, as mulheres adúlteras devem ser mortas. Mas o Senhor, o que diz sobre isso? (vv. 4 – 5). A resposta de Jesus desarma o circo. Nem você, nem qualquer dos seus acusadores tinham qualquer idéia de com quem estavam lidando. Vocês não tinham idéia de quem Jesus é.

Você ouve a voz, repleta de sabedoria, do Senhor. Ele surpreendeu todos e cada um. Especialmente você. Uma doce paz começou a invadir seu coração e pôr para fora todo medo quando você ouviu, atentamente, Suas palavras. Abaixado, tranqüilamente, enquanto desenhava na areia, Jesus disse a todos: Quem de vocês estiver sem pecado, que seja o primeiro a atirar uma pedra nesta mulher! (v. 7).

As palavras de Jesus expuseram a hipocrisia de todos. Igualaram a todos sob a mesma dimensão de pecado. E era impossível a qualquer continuar de onde estavam. Eles foram embora, um a um, deixando você, por fim, sozinha com Jesus. As lágrimas vieram à sua face. Quem é este? Você se perguntava no íntimo. Quem é este?

Mulher, onde estão eles? Não ficou ninguém para condenar você? Você vai dizer o quê? Ninguém ficou. Nem mesmo aquela mulher cheia de medo, vergonha e tristeza que foi trazida por eles. Nem ela está mais ali. O doce amor trazido pelas palavras de Jesus penetraram o seu coração e transformaram quem você é. A amargura, a dor, a tristeza, a vergonha, a mágoa foram embora. A sede de sua alma, que por tanto tempo você tentava saciar, foi embora. Só restou o amor de Deus. Só restou a atitude de Jesus. Só restaram as Suas Palavras, ressoando no seu interior.

Mulher, onde estão eles? Não ficou ninguém para condenar você? Você vai dizer o quê? Ninguém, Senhor! Jesus disse: Pois eu também não condeno você. Vá e não peque mais! (v. 11).

Agora tudo mudou. Você foi levada àquele lugar certa de que morreria. Certa de que seria o fim de sua vida. E foi. E você morreu. E aquela vida ficou para trás. A vida que você vivia, as coisas que você fazia. Essa vida morreu e não deixa saudades. Você não precisa dela. Agora tudo mudou. Você acaba de nascer para uma nova vida. Seu encontro com Jesus marcou um novo nascimento. Saciou a sua sede. Trouxe seu perdão. Agora, não precisa de nada, a não ser o Senhor, para ser quem deveria ser. Uma mulher de verdade. Em Cristo.

Jesus e Pedro

Simão, filho de João, você me ama mais do que estes outros?

João 21. 15 (15 – 18)

Continuo com minha proposta de leitura interativa, um convite para entrada na história bíblica de uma maneira profundamente comprometida com a graça de Deus que ali se revela.

Hoje, você é Pedro. Um pescador ignorante das bandas da Galiléia. Para a sociedade da época, a terceira pessoa depois de ninguém. E era assim mesmo que você se sentia: não tinha prestígio ou recurso algum, vivendo da pesca. Seu jeito de falar era discriminado pelo sotaque, por falar “errado”.

Além disso, as pessoas diziam que da sua terra, de onde vinha, nada podia prestar. Logo, você também não presta para nada, a não ser para ser motivo de piada. Por isso, você mergulha na sua impetuosidade e grosseria para se defender do mundo que ataca você sem piedade. Você mergulha no trabalho ao lado de seu irmão, André. Você mergulha no mar da Galiléia.

Até que o Profeta, que você reconhece como o Maior de Todos, o próprio Cristo, o Filho do Deus Vivo, vem a você e lhe chama para um relacionamento íntimo com Ele. Ele, o Homem mais importante da terra, valoriza você pelo que você e do jeito que você é!

Pouco a pouco, o relacionamento com Jesus vai transformando você. Vai fazendo você ficar calmo. Vai fazendo você sair da posição defensiva contra o mundo.

Até que Judas trai o Mestre e Ele é levado para julgamento. E você O trai também, negando três vezes que O conhecesse. Seu mundo cai amargamente. Você é tomado por profunda tristeza e remorso. Você negou Aquele que nunca lhe negou nada. Negou Aquele que pegou sua vida sem sentido e deu sentido a ela. Você negou Aquele que deu a vida por você, que morreu em seu lugar. Você negou Aquele que fez de você alguém de verdade.

Agora, finalmente, e depois de ser muito tarde, você está entendendo Quem Ele é. Ele é mais que o Homem mais importante da terra. Ele é mais que o Maior Profeta de todos. Ele é o Cristo, mas não é como outros ungidos, reis, profetas e sacerdotes. No fundo, agora você sabe que Ele é o próprio Deus que esteve ao seu lado, com Quem você andou e que lhe amou de uma maneira que você não julgava ser possível. Ele é o Deus que amou você tanto que morreu por você. E ressuscitou.

Agora, o que é mais fantástico, Ele vem, ressuscitado, até você e quer restaurar mais uma vez seu coração. Você O traiu três vezes, mas nada acabou ainda. Ele foi morto, mas acabou ainda. Ele foi posto naquela sepultura, mas não tinha acabado. Quando as mulheres viram o túmulo vazio e contaram de uma visão de anjos, você correu com João e constatou que era verdade: Ele não estava lá.

Agora, Ele está diante de você. E você sabe o que Ele está fazendo. Pergunta três vezes se você O ama, como se fosse para tornar sem efeito sua negação anterior e suas lágrimas amargas. Ele vem até você para restaurar você. E como a obra não é incompleta, ainda define o seu papel no Reino de Deus. Confirma seu ministério, sua liderança: Tome conta das minhas ovelhas! Você pode ser falho e pecador, mas Ele define o que quer de você: Tome conta das minhas ovelhas! Você vai falhar com Ele de novo, não tenha dúvidas, mas Ele está lhe dizendo que quer usar você no Seu Reino. E isso não é escolha sua, nem se baseia em suas qualidades pessoais, sua santidade especial, que nem existe. É totalmente escolha daquele que chamou você, perdoou você e, agora, restaurou você: Tome conta das minhas ovelhas!

Jesus e Zaqueu

Morava ali um homem rico, chamado Zaqueu, que era chefe dos cobradores de impostos.

Lucas 19. 2 (1 – 10)

Hoje eu proponho fazermos um exercício de leitura, digamos, interativa. Para tornar o texto bíblico mais vivo para nós, proponho que você se imagine ser o próprio Zaqueu experienciando esse encontro com Jesus, relatado no evangelho de Lucas.

Você é Zaqueu. Um judeu de Jericó. Já a partir daí começam seus problemas. Você nasceu em uma cidade considerada maldita. Quem nasce em Jericó é, só por isso, discriminado pelo resto do povo. Além disso, você conseguiu um jeito fácil de ganhar dinheiro, mas que, por outro lado, garante um jeito fácil de conquistar inimizades: você é cobrador de impostos. Pior que isso: você é o chefe deles. Você tira recursos dos miseráveis da sua terra e os repassa aos dominadores romanos. E ainda por cima lucra com isso.

O trabalho do cobrador de impostos é simples. No início de cada ano, tendo por base a população da cidade, o cobrador paga a Roma todo imposto que aquela localidade deve. Então, durante todo ano ele passa a cobrar dos moradores o dinheiro que tirou do próprio bolso para dar aos romanos. Para piorar, evidentemente ele faz isso auferindo altos lucros sobre a taxa. Além de colaborar com o Império, os cobradores de impostos eram vistos como ladrões, por causa disso, pelos seus patrícios judeus. Traidores e ladrões. Você é Zaqueu. Nasceu em uma cidade amaldiçoada e é visto como traidor e ladrão pelos seus compatriotas.

Você é rico. Tinha tudo para ser feliz, mas não é. Não tem amigos porque o povo não quer contato com você. Para os romanos, você é apenas uma engrenagem no sistema de exploração da Palestina, com utilidade reduzida.

Além disso, sua consciência grita cada vez que você vê os miseráveis sem teto aumentando nas ruas, enquanto você vive na opulência, com o dinheiro que extorque desses mesmos pobres.

Para aliviar, você promove festas e bebedeiras. Procura, assim, aplacar suas crises depressivas, sua solidão. Sua casa cheia de amigos comprados pela sua riqueza satisfaz um pouco de sua carência.

Até que você ouve falar que Jesus entrou na cidade. Um profeta na terra amaldiçoada de Jericó! Você precisa vê-Lo. Corre, busca, termina subindo em uma árvore. Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para cima e disse a Zaqueu: Zaqueu, desça depressa, pois hoje preciso ficar na sua casa (Lc. 19. 5). Jesus escolheu a sua casa para ficar. Mais que isso, Ele disse que precisa ficar hoje por lá.

As coisas começam a mudar. Não é por causa do seu dinheiro que Jesus decide ficar com você. É por você. O Mestre não liga para que tipo de vida você tem vivido, como tem ganhado dinheiro. Não liga para nada disso. Ele apenas quer estar na sua casa. Amor assim você nunca tinha sequer imaginado que pudesse haver. Jamais você se sentiu tão valorizado, mesmo com todo dinheiro que você tem.

Alguma coisa mudou profundamente dentro de você. Você não precisa de dinheiro, de poder, de riqueza para viver uma vida plena. Você precisa de amor. E o Messias chegou à sua casa levando o amor que você precisa para dentro do seu coração.

Toda a sua vida até aquele momento se quebrou pela presença do amor de Deus, personificado em Jesus na sua sala. Ele precisava estar com você, mesmo que isso representasse uma afronta à reputação dEle: Todos os que viram isso começaram a resmungar: Este homem foi se hospedar na casa de um pecador! (Lc. 19. 7).

Tudo o que você precisava você acabou de encontrar. E foi de graça. E percebeu que sua fortuna, sua riqueza, seu dinheiro amealhado de maneira desonesta e imoral, não poderiam comprar a paz sem fim, a companhia e o amor que você buscava. Eles entraram na sua casa e no seu coração, de graça, trazidos por Jesus.

Agora, tudo mudou. Seu coração mudou. Suas prioridades mudaram. O modo como você se vê mudou. Sua vida mudou. Seus traumas estão sendo curados, sua vida está se encaminhando para um novo alvo apontado por Cristo. Escute, Senhor, eu vou dar a metade dos meus bens aos pobres. E, se roubei alguém, vou devolver quatro vezes mais (Lc. 19. 8). Mudança radical. Devolver quatro vezes o roubado é mais que o quarto a mais previsto pela Lei. Entregar metade dos bens aos pobres, junto a isso, é se tornar um deles. Você percebeu que não precisa de dinheiro depois de ter esse encontro transformador com Jesus. O impacto de Jesus na sua vida fez de sua vida uma nova vida. Suas ações revelam a mudança de seu coração: Então Jesus disse: Hoje a salvação entrou nesta casa, pois este homem também é descendente de Abraão. Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar quem está perdido (Lc. 19. 9 – 10).

6.4.05

A volta

Se você voltar, eu o receberei de volta, e você será meu servo de novo.

Jeremias 15. 19

Às vezes, como um filho em busca de independência, a gente sai da casa do Pai e anda por aí, sem muito destino, tentando se encontrar. Talvez a melhor descrição desse fato, do ponto vista de nossa relação com Deus, seja dada pela parábola conhecida como do filho pródigo.

Mas, também às vezes, a gente se distancia por motivos exatamente opostos. Não se distancia de Deus simplesmente porque busca a independência dEle. A gente pode se afastar exatamente porque chegou a ser tão íntimo dEle, passou a ser um instrumento na mão dEle e perceber o quão distante muitos dos demais vivem do Deus vivo que conhecemos. Nós passamos a ver o quanto as pessoas à nossa volta estão perdendo por não buscarem a presença do Senhor. Começamos a ver o fim que lhes espera. Começamos a ver as coisas que Deus vê. E isso, por algum motivo, nos desanima e esfria o nosso coração. A gente se afasta de Deus porque se cansa de sermos os únicos e se entristece por causa daquilo que descobrimos sobre os que não O buscam e não O querem. Isso desanima. Isso entristece.

Conheço pessoas que passaram a se desanimar com a Igreja quando começaram a ver o nível de vida que ela vivia, começaram a ver com os olhos que Deus vê. Começaram a ver que ela andava longe do centro da vontade de Deus. Essas pessoas começaram, assim, elas também, um caminho de afastamento do Senhor.

Isso aconteceu, por surpreendente que seja, com Jeremias. O texto que destacamos é prova disso. Deus está falando com o profeta. O profeta acabara de pronunciar uma condenação contra Judá e ainda estava sofrendo com a perseguição dos líderes do povo por causa daquilo que ele estava vivendo com Deus, completamente o oposto da vida do povo. Jeremias começou a se ressentir de seu ministério e de sua vida: Como é dura a minha vida! Por que a minha mãe me pôs no mundo? (Jr. 15. 10). Jeremias começou a se afastar, ao ponto que o Senhor precisa lhe chamar: Se você voltar, eu o receberei de volta, e você será meu servo de novo... você será de novo meu profeta.

Para mim, isso significa que ninguém está isento do risco de se afastar do centro da vontade do Senhor. Um homem de Deus, como Jeremias, no meio do ministério, por causa da tristeza, da mágoa e do ressentimento que cultivou no coração, se afastou. Mas Deus não desiste. E estende a mão para que voltemos.

Ainda há caminho de volta, como houve do Egito e da Babilônia para o povo de Israel. Ainda há caminho de volta, por mais distante que tenhamos ido. Mas o caminho de volta precisa ser para o Senhor. Se voltarmos, precisamos voltar para o Senhor. Não para qualquer sentimento religioso. Não para qualquer tipo de religião. Mas se voltarmos, voltemos para a Cruz. Voltemos para o Deus que deu a Sua vida por nós na Pessoa do Filho. Voltemos para Aquele que nos libertou do império das trevas para o Reino do Seu Filho Amado. Voltemos para Aquele que é a fonte da água da vida, que jorra para a eternidade. Voltemos para o que nos ama com Amor Infinito e Eterno.

Se é para voltarmos, que voltemos para intimidade e comunhão com Deus. Voltemos para a sala do Seu Trono de Graça e Glória. Voltemos para o Centro da Sua Vontade. Voltemos para o Seu Conhecimento. Voltemos através de Jesus e da Palavra, única volta possível.

Voltemos para o ministério, para a vida, para aquilo para o quê Ele nos chamou. Para o quê Ele nos envia. Voltemos, para O servirmos em espírito e em verdade, com tudo o que temos e com tudo o que somos. Com nossos dons e talentos. No ministério, na vocação e na tarefa que Ele nos confiou: você será de novo meu profeta.

Se é para voltarmos para Ele, voltemos enquanto Seus braços ainda estão estendidos para nos receber de volta.

Cantor de canções de amor

O Senhor disse: Homem mortal, quando os seus irmãos israelitas conversam perto das muralhas da cidade ou na porta das suas casas, eles falam de vocês. Eles dizem: “Vamos saber o que o Senhor tem para nos dizer agora”. Assim o meu povo se ajunta em grande número para ouvir o que você tem para dizer, mas eles não querem pôr em prática o que vocês diz. “Ele fala bonito” - eles dizem, mas o que eles querem é ganhar dinheiro. Para eles você não passa de um cantor de canções de amor ou tocador de harpa. Eles ouvem o que você diz, porém não fazem nada daquilo que você manda. Porém, quando acontecer tudo o que você diz – e vai acontecer mesmo -, aí eles ficarão sabendo que um profeta esteve no meio deles.

Ezequiel 33. 30 – 33.

Em uma manhã recente, estava no púlpito da igreja enquanto o pastor pregava. Ele estava falando sobre o texto de Atos 2, o relato de Pentecostes. Falava sobre a importância de esperar, orando. Mas me incomodou muito ver, no fundo do templo, no lugar de controle do som, três jovens conversando animadamente, de costas para o pregador.

Em uma outra ocasião, três dias após eu haver pregado na mesma igreja, perguntei a um amigo o que ele tinha achado da mensagem. Durante o culto, os olhos daquele rapaz estavam sobre mim. Porém, quando eu quis saber se ele lembrava algo daquela pregação ele não sabia. Não é que ele não lembrava. Ele nunca soube porque não estava prestando atenção.

Deus tem levantado homens e mulheres para anunciarem a Sua Palavra no nosso meio. Profetas e profetisas têm sido postos para nos instruir e desafiar acerca da vontade de Deus para as nossas vidas. Mas temos sido indiferentes a cada um deles. Encaramos cada um como alguém que canta bonito, alguém que toca bem, alguém que fala grandiosamente, mas não estamos atentos ao que estão dizendo. Somos até capazes de, nos dirigindo a eles no fim de nossos cultos, dizer-lhes que eles pregaram uma bela mensagem. Uns para os outros dizemos: Ele fala bonito.

Mas nós não pomos essa bela Palavra em prática. Quando a ouvimos, fazemos ouvidos de mercador, e ela atravessa nossa mente sem encontrar terra para frutificar. A semente que Deus lança em nossos corações por meio de Seus servos não pode germinar em nós e, em conseqüência, vivemos vidas sem frutos, secas, como uma videira que só serve para ser queimada.

Acredito que a explicação de nossa atitude de desprezo à Palavra pregada se deve à incoerência de nossa fé proclamada. Dizemos que amamos a Jesus, que Ele é o que de mais importante temos na vida, mas não queremos abrir mão do controle de nossos passos, como exige o discipulado do Senhor.

Então agimos como aquela criança que sabe que vai ser repreendida pelo Pai, então tapa os ouvidos e grita alto para não ouvir o que Ele diz. Desse modo, infantilmente, rejeitamos a intimidade e a Palavra do Senhor para permanecermos na nossa mediocridade.

Nessa hora, é interessante reparar na profecia que Ezequiel tem acabado de proclamar, antes que Deus lhe dirija as palavras que destacamos: Diga a essa gente que eu, o Senhor Deus, estou avisando: Juro que os moradores das cidades arrasadas serão mortos. Os que vivem no campo comidos por animais selvagens. Os que estão escondidos nas montanhas e cavernas e ficarão doentes e morrerão. Farei com que o país vire um deserto abandonado. O poder de que se orgulhavam acabará. As montanhas de Israel ficarão tão desertas, que ninguém passará por elas. Quando eu castigar o povo pelos seus pecados e fizer com que o país vire um deserto, aí eles ficarão sabendo que eu sou o Senhor (Ez. 33. 27 – 29). Preste atenção, agora, no que o Senhor diz a Ezequiel sobre isso: Porém, quando acontecer tudo o que você diz – e vai acontecer mesmo -, aí eles ficarão sabendo que um profeta esteve no meio deles (Ez. 33. 33).

Ouça a voz do Senhor antes que Ele cumpra a Sua ameaça.

4.4.05

O rio

Debaixo da entrada, saía água que corria na direção do leste, pois o Templo dava para frente para esse lado.

Ezequiel 47. 1

Quantas vezes a gente já se espantou vendo, em tevê ou pessoalmente, a nascente de rios? De vez em quando, especialmente agora que se discute com mais freqüência o projeto para transposição do São Francisco, a televisão mostra como ele nasce lá na Serra da Canastra, em Minas Gerais. Não sei quantos já não duvidaram de que aquele filetezinho de água se transforma, serra abaixo, no principal rio do Nordeste Brasileiro. É impressionante imaginar que um rio extenso e caudaloso surge como uma pequena e frágil nascente, que suas águas correntes se assemelham mais ao jorrar de uma torneira do que à fonte de vida e de energia para tantos milhões de brasileiros.

A visão que Ezequiel tem também vai nesse sentido. O rio nasce como uma fonte pequena que sai de detrás do templo e corre para o leste. O anjo leva o profeta até a margem do rio mais a frente. E o profeta vai constando o crescimento deste rio em força, extensão e volume. Onde se passava com águas nos joelhos, agora só se passa a nado. O rio vai crescendo.

Olhar para a nascente de um rio é perceber um pequeno e desprezível filete de água, que corre montanha abaixo e, crescendo e ganhando força, vira um gigantesco e caudaloso rio, como é o São Francisco, ou como é o Amazonas.

Pense, então, no que representa a imagem do rio e da água do ponto vista da revelação de Deus nas Escrituras. A partir disso, podemos pensar que, do mesmo modo que ocorre com um rio, um grupo pequeno e desprezível, mesmo uma só pessoa, pode dar início a um movimento revolucionário, orando e dando espaço para que flua no seu meio o rio do Senhor.

O rio do Senhor é o rio da presença do Senhor, o rio da Sua Água Viva, o rio de Seu Amor. A intercessão de um, a oração de poucos, a fome e sede de Deus que alguns possam manifestar e possuir, o seu mergulhar na presença de Deus, nos Seus rios, nas Suas águas de amor, têm potencial para se multiplicar, passando de um filete desprezível junto à nascente a um rio gigantesco, caudaloso.

O rio do Senhor, que pode nascer a partir de um minúsculo riacho, leva vida onde chega, faz brotar vida e renovo em toda parte, leva refrigério ao deserto. Transforma tudo por onde passa, fazendo a terra seca se tornar manancial de águas da vida.

Este rio é a presença amorosa do Senhor que jamais terá limites em Sua ação em nossas vidas. Por isso, lembre que a maior das revoluções, aquela que é promovida pelo próprio Deus, por Suas águas de vida e por sua presença de amor, pode começar a partir de um coração comprometido em buscá-lo, em dar lugar à Sua ação. Pode começar por um pequeno grupo. Pode começar por um, por alguns ou por muitos; pode começar por mim e por você. Não despreze os dias dos humildes começos, pois você não sabe que grande rio transformador por surgir daí (Zacarias 4. 10).

3.4.05

O melhor lugar do mundo

Como eu amo o teu Templo, ó Senhor Todo-Poderoso!
Salmo 84. 1

Sei que é uma frase feita, mas, com certeza, o melhor lugar para se estar é o centro da vontade de Deus. O salmista trabalha de maneira muito bonita a idéia. Impressiona a força dos versos paralelos reforçando a mensagem do salmo: não há outro lugar que eu queira estar, não há ninguém mais feliz que aquele que está na presença do Altíssimo em Seu templo.
As saudades pelos átrios do Senhor, que se transformam em sede da alma, são uma outra maneira de manifestar o desejo de se estar e de andar na presença e na comunhão com Deus. O caminho para que isso estivesse disponível para nós foi comprado pela Cruz de Jesus. Através dela, podemos mergulhar diante de Deus para saciarmos a fome e sede que temos da Sua presença.
Não se comparam mil dias fora do centro da vontade de Deus com um dia que seja diante dEle. Andar com Ele, poucos instantes que sejam, é uma experiência tão marcante que nos transforma por completo, fazendo mudar, principalmente, as prioridades de nossa vida. Se eu vi Deus...se eu andei com Ele... se estou em Sua Presença... como poderei ser o mesmo? Como poderei querer as mesmas coisas? Como me agradarão as tantas coisas que me empolgavam e que, hoje reconheço, são a mais pura tolice? Como seria possível isso?
Quando nos deparamos com a presença transformadora do Deus vivo ficamos como aquele sujeito da parábola que encontrou um pérola de enorme valor, enterrou-a em uma área e vendeu tudo que tinha para adquirir aquele terreno. Aos olhos incautos, ele estava fazendo uma grande loucura. Mas ele sabia que lucro lhe estava reservado naquele negócio. Valia a pena trocar tudo na vida por aquela pérola.
Do mesmo modo, é o conhecimento do Senhor no Seu Reino, a presença dEle na nossa vida. Mas vale um dia na Sua presença... quando descobrimos a riqueza disso, nada pode nos segurar: abrimos mão de qualquer coisa que seja, qualquer riqueza, qualquer sonho, qualquer segurança, em troca da melhor coisa possível, da única realmente boa, a experiência de andar com o Senhor, de estar na Sua presença, de vivenciar a Sua Graça. Não existe nada melhor que a plena comunhão com Deus, coisa que alcançamos por meio unicamente de Jesus. Por isso, minha alma anseia pelas saudades de estar nos átrios do Senhor.
Quando o salmista se vê em perigo, ele sabe que não deve temer nada porque o Senhor é a sua luz e a sua salvação, livrando-o de todo perigo. Então, ele ora: A Deus, o Senhor, pedi uma coisa, e o que quero é só isto: que ele me deixe viver na sua casa todos os dias da minha vida, para sentir, maravilhado, a sua bondade e pedir a sua orientação. Em tempos difíceis, ele me esconderá no seu abrigo. Ele me guardará no seu templo e me colocará em segurança no alto de uma rocha (Salmo 27. 4 – 5).
O meu desejo é que esse sentimento possa sempre o nosso sentimento, que essa oração possa ser sempre a nossa oração: o desejo pela presença constante e ininterrupta do Senhor Jesus em nossas vidas e a nossa vivência para sempre na presença dEle.