12.2.05

O preço do discipulado (parte 2)

E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu discípulo.

Lc. 14. 27

No fim do evangelho de João, Jesus tem um diálogo interessante após a restauração de Pedro. Jesus diz a Pedro que haverá um momento na sua vida, mais precisamente sua morte, em que ele será levado contra a vontade: “quando, porém, fores velho, estenderás as mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres” (Jo. 21. 18). João, que escreve após a morte de Pedro, pode nos explicar o sentido das palavras de Jesus: “Disse isto para significar com que gênero de morte Pedro havia de glorificar a Deus” (Jo. 21. 19). Jesus diz a Pedro, em outras palavras, que ele deve abrir mão do “direito” de escolher seu próprio caminho na vida.

Para ser discípulo de Jesus é necessário abrir mão de seus “direitos” de escolha, especialmente quando a escolha diz respeito aos seus caminhos na vida. O discípulo deve estar disposto a seguir o mesmo caminho que Jesus trilhou. É um caminho de cruz e de morte. Um caminho de total consagração aos propósitos de Deus.

O caminho de Jesus, para o qual ele convida aqueles que querem ser seus discípulos, terminou na Cruz do Calvário. Jesus nos convida a irmos com Ele até o Calvário. O radical chamado de Jesus para nós deve nos levar a uma disposição até a morte por Ele. Paulo falava disso quando disse que o viver é Cristo e o morrer é lucro (Fp. 1. 21).

Os apóstolos de Jesus entenderam isso perfeitamente. O primeiro a ser martirizado por causa da fé em Jesus foi Tiago, a quem Herodes cortou a cabeça. Ainda podemos lembrar de Estevão, Paulo e tantos mais. Pedro, que seria crucificado em Roma, pediu para que o crucificassem de cabeça para baixo porque, diz a tradição, não se achava digno de morrer do mesmo modo que o seu Senhor. O século XX foi o período da história da Igreja em que mais cristãos foram mortos por causa de sua fé. Essa é ainda a realidade de nossos dias. E ainda deve ser a radicalidade do discipulado de Cristo. Cristo nos chama a uma vida de compromisso tal que precisamos estar dispostos à morte, se preciso for.

Alguns anos atrás, a Bandeirantes fez uma série de reportagens em acampamentos das Farc´s colombianas. As reportagens mostravam especialmente jovens fazendo treinamento de guerrilha na selva e manifestando a entrega total à ideologia que move aquela luta. Todos, sem exceção, expressavam a disposição ao martírio. Sua fé na luta era tamanha que eles entendiam que suas vidas não poderiam ser tomadas em maior conta. Ao ver aquilo, fiquei me questionando se nós, cristãos, que temos a mais perfeita mensagem, a melhor idéia pela qual poderíamos morrer – Jesus - teríamos disposição semelhante. O chamado ao discipulado de Cristo é um chamado para seguí-Lo até a Cruz. Até a morte, se preciso for. Quem dirá sim?

11.2.05

O preço do discipulado (parte 1)

Grandes multidões o acompanhavam....

Lc. 14. 25

Durante todo o ministério de Jesus, multidões o acompanhavam, diz o texto bíblico, ainda que poucos fossem seus discípulos verdadeiramente. Hoje em dia, isso ainda é real. Atualmente, grandes multidões ainda acompanham Jesus. Mas, muitas vezes, a qualidade da fé e, muito mais, do compromisso dessas pessoas é bastante superficial. Como nos dias de Jesus.

Vemos hoje multidões em nossas igrejas que não aprenderam o valor do discipulado de Jesus, multidões que são incapazes de assumir esse discipulado completamente. Muita gente está acompanhando Jesus, mas sem mudança de vida, sem compromisso e sem discipulado. Estão na igreja, têm comportamento religioso, oram, conhecem a Bíblia, estão ativos na obra, mas não têm Jesus como sua maior prioridade.

São essas pessoas, que desconhecem o preço do discipulado de Cristo, que causam vergonha ao Evangelho pela qualidade de vida espiritual que levam. Refiro-me aos “famosos” que se convertem, mas nós mesmos podemos ser essas pessoas que se declaram cristãos, freqüentam nossas igrejas, mas não conhecem a intimidade do Senhor e não buscam a Sua face e santidade.

Grandes multidões acompanhavam Jesus. Ele as conhecia mais que pudessem imaginar. Naqueles dias, na Palestina, muitos seguiam Jesus sem entender que o discipulado de Jesus é radical e custoso. Muitos seguiam Jesus sem compromisso real.

É diante dessa multidão que o seguia que Jesus faz um radical chamado ao discipulado. Um chamado que deveria ressoar profundamente ainda hoje, em nossos dias. Urgentemente precisamos prestar atenção ao desafio de Jesus.

A primeira e mais essencial coisa que Jesus fala é que quem não o tiver como prioridade na vida não pode ser seu discípulo (v. 26). A família não pode ser mais amada que Jesus. Os amigos não o podem, nem os bens, nem os afazares. Coisa alguma pode ser mais importante ou mais amada por nós do que Jesus.

Nem ainda a própria vida. Anos atrás, em uma época de intensos conflitos religiosos na Indonésia (a maior nação muçulmana do mundo), uma história emocionou cristãos de todo mundo. Muçulmanos atacaram a minoria cristã em toda parte do país. Um desses lugares foi um acampamento de “King´s Kids” da Jocum (Jovens com uma Missão). Vários jovens, adolescentes e missionários foram martirizados. Alguns sobreviveram, trepados em coqueiros, escondidos, para poderem contar o testemunho. Um dos garotos que foi martirizado era desafiado a cada instante a negar a Cristo para sobreviver. Cada vez que ele reafirmava sua fé em Jesus, seus atacantes decepavam uma parte de seu corpo: pernas, braços; até que, por fim, tiram-lhe a vida. Mas aquele jovem foi fiel até a morte, amou Jesus até o fim, sem o negar. Porque ele entendeu que nada pode ser mais prioritário que Jesus, nem mesmo a nossa vida.

Jesus não amou a própria vida, antes a entregou por nós. Não podemos por a nossa vida em maior grau de importância e interesse que Jesus e a Sua vontade. Não podemos por nossos próprios interesses em proeminência frente àquilo que é a vontade de Deus.

Aqui está Jesus instigando a multidão que O segue a tê-lo como prioridade absoluta na vida. Jesus é mais importante que tudo, até nós mesmos. Quem não entender e viver isso não pode ser Seu discípulo.

Daniel Dantas

Missionário da 1ª IPI do Natal

10.2.05

A sombra do amor

De longe se me deixou ver o Senhor, dizendo: Com amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade te atraí.

Jr. 31. 3

Toni Garrido e Da Gama disseram em uma música de sucesso alguns anos atrás que a sombra do amor era “a sombra da maldade”. Mas isso me leva a uma inquietação: por que a sombra do amor seria a sombra da maldade? Não dá para concordar. A sombra do amor não é a sombra da maldade. E um amor verdadeiramente grande e tão maior e inescapável pode de verdade ser encontrado. Está na Cruz. É o amor de Deus.

Jeremias fala em termos poéticos extremamente tocantes quando diz que de longe o Senhor se deixa ver e seu amor eterno se manifesta em nossas vidas. Ver a Deus é ver o amor porque Deus é Amor. Por esse motivo, a sombra do amor não é a sombra da maldade, mas sim a própria sombra protetora e confortadora do nosso Deus. Do Deus que é amor e que por amor deu-nos a vida de Seu Filho.

Eu gosto de imaginar o amor de Deus como aquele rio que corre do trono e desce pelo Oriente da cidade da visão de Ezequiel. O amor, eu imagino, é como um rio caudaloso no qual nos afogamos, do qual nos embebedamos. O amor de Deus é um rio que traz de volta a vida a terras ressequidas e esturricadas, mortas e secas. Ao mergulharmos nesse rio, na presença do Deus de Amor que se deixa ver nos amando de tal distância, damos lugar para que a vida volte à terra seca e queimada de nosso coração. O amor de Deus supre ricamente todas as nossas reais necessidades e urgências. Especialmente a urgência e necessidade de vida real na Sua Presença. O rio de amor nos envolve por completo como se fosse uma atmosfera a nos trazer vida trazendo à nossa alma a plena alegria da inédita e concreta comunhão plena entre amado e Amante.

Vivemos em um mundo de dor e desespero. Muitas vezes essa dor e esse desespero batem à nossa porta e tomam espaço em nossa vida. O convite do Deus de amor a que nos deixemos sermos amados por Ele não é garantia de que dor e tribulações vão nos deixar em paz nesta vida. Mas são a preciosa garantia de que não as enfrentamos sozinhos, mas o próprio Jesus se compadece e se comove intimamente conosco. A dor vai estar presente, mas parece que ela dói mais agudamente quando nos colocamos distantes do verdadeiro amor. O convite do Amante é que nos deixemos sermos amados por Ele. A dor é mais facilmente enfrentada se estamos sob a Sua sombra, a sombra do Seu amor, que é sombra de bondade e cuidado.