24.6.07

Uma carta

Ao Conselho da Primeira Igreja Presbiteriana Independente do Natal,

Espero que tudo vá bem com vocês. Que o ministério de todos se desenvolva bem. Que possam deitar suas cabeças nas suas camas e dormir o sono dos justos todos os dias. Que continuem tendo controle, respeito e fé no que vocês fazem. Que continuem desenvolvendo interessantes projetos que abençoam e atrapalham muitas vidas.
Nem sei se vocês lerão o que preciso escrever. Só sei que preciso escrever, mesmo consciente de que a maior parte da culpa pelo que sou hoje é minha. Hoje eu sei que tenho uma ótima vida, com um trabalho gratificante, com uma família que, ainda maior, me ama, com uma noiva apaixonada. Tenho amigos fascinantes e tenho conseguido viver uma boa vida em que todos com quem me relaciono gostam de mim. Tenho ouvido pessoas falando agradecidas do testemunho de Deus que lhes dou na vida.
Tenho muitos elementos de felicidade. Mas será que vocês conseguem me responder por que não consigo me sentir feliz? Será que vocês conseguem me devolver, trazer de voltar e reconstruir minha felicidade?
Eu dei minha vida a Jesus nessa igreja e dei minha vida em serviço a vocês. Foram anos em que eu vivi o melhor e o pior da minha vida. Vivi e realizei sonhos e os vi se frustrarem. Alguns podem achar que a prova de imaturidade foram as diversas guinadas de minha vida, de um sonho a outro. Mas isso me dói, porque nenhuma das guinadas foram conduzidas por mim. Como uma pena ao vento, foi Deus quem me levou do Seminário incompleto ao mestrado, do mestrado à Petrobras. Duas frustrações grandes nisso aí: a incompletude do seminário, que sei que um dia terminarei – apesar de ter me feito melhor teólogo fora do seminário –, e a paralisação do sonho do doutorado. Mas o doutorado hoje está mais próximo que o seminário por causa da Petrobras. Falei sobre isso, porque ao contrário do que alguns de vocês certamente devem achar, minhas mudanças de vida não resultam de imaturidade, mas foi algo que o Senhor fez comigo.
Gosto do que estou vivendo hoje, porque com paciência sei que as partes faltantes de minha vida ainda podem e vão ser completadas. Então, eu pergunto a vocês: por que não consigo ser feliz?
Sabe o que acontece? Eu perdoei vocês por tudo. Se não tivesse perdoado não conseguiria entrar na igreja – conheço alguns dos muitos que vocês tentaram matar espiritualmente que não conseguem pisar na calçada da igreja. Se não tivesse perdoado não sentiria falta do serviço a Deus por aí nem sentiria saudades dos muitos momentos em que estive aí para orar por vocês. Orei tanto para que Deus removesse o que impedia a Sua bênção sobre a igreja. Espero que a minha saída seja resposta da oração. Mas não acredito. Uma liderança que deixou tantos feridos pelo caminho, entre os quais me encontro, ao longo de sua história quase centenária...
Por que minha vida é ótima e eu não consigo ser feliz? Porque vocês mataram a graça de Deus na minha vida. Os que me lêem sabem da diferença das minhas experiências com Deus a partir daquela terrível experiência com toda a arrogância humana de dois anos atrás.
Eu choro me lembrando do que era meu ministério. Estou consciente que a culpa é minha pelo que faço com as coisas que me fazem. Mas os que as fizeram não são desculpáveis por esse motivo. Eu tinha uma vida, uma fé, um ministério e uma alegria de servir que morreram na decisão que vocês tomaram há dois anos. Enterrada no dia em que Amanda me disse ter ouvido a conversa dos pais em que foi dito que eu podia sair da igreja, mas não mais pregaria ou ensinaria ali. Aquelas palavras trucidaram a minha fé e sugaram a energia de meu ministério. Sinto-me meio morto hoje. Porque nem a Deus consigo ouvir. Vocês mataram minha percepção espiritual quando quiseram matar meu ministério.
Lamento tudo isso. Eu quero minha vida de volta. Tudo em minha vida está ótimo. Só não consigo sentir mais em meu coração o fogo do Espírito queimar. No passado, a liderança desta igreja já jogou no mundo, por suas decisões, outros irmãos. Eu não queria me render, mas minha falta de esperança é maior que meu sonho e minha fé.
Por que eu não consigo ser feliz? Porque vocês mataram meu ministério e minha fé em Deus. Eu os perdoou por isso, mas não consigo viver enquanto não puder restaurar essa ferida que teima em não cicatrizar.
No exílio,

Daniel Dantas