2.4.05

Onde está Deus?

Diz o insensato no seu coração: Não há Deus

Salmo 14. 1

Não são raras as ocasiões em que as pessoas se questionam, ou nos questionam, perguntando: Onde está Deus? Nas grandes tragédias, como na Tsunami do ano passado; nos momentos de dor e morte, como em chacinas em que se mata, de graça, 30 pessoas no Rio de Janeiro. Momentos de mal e dor, pratos cheios para o desafios dos incrédulos.

O mundo, boa parte das vezes, parece provar que a fé em um Deus bondoso e de amor não é outra coisa senão uma grande mentira. Qualquer piedade, quando sentimento religioso, é visto como tolice. O problema do mal, o problema da dor, o dilema da morte, parecem atentar contra a realidade da presença do Deus vivo no nosso meio. Um Deus que é Senhor do universo e tem todas as coisas nas Suas mãos.

Dizem os que duvidam de Deus, diante grandes dores e tragédias, que se há um Deus, ou Ele não é Todo-Poderoso, e, por isso, não pode evitá-las, ou não é Bondoso e Amoroso, por isso, as deixa acontecer.

Se o nosso olhar for um olhar puramente humano, será impossível não darmos certa razão a essas críticas. Mas a nossa visão não parte de qualquer ponto humano. Devemos olhar a vida sob o prisma da Palavra de Deus. Sob esse prisma, não é tolo o que crê em um Deus Poderoso e Bom no universo. Antes, ao contrário, o tolo, o insensato, é aquele que diz no coração que não há Deus. Mas afirmar isso é reafirmar o aparente contra-senso: Deus é bom e poderoso e o mal continua reinando no mundo.

Isso me faz pensar em dois relatos que se contam sobre os dias no Campo de Concentração de Auschwitz, onde os nazistas mais mataram gente. Conta-se que um grupo de judeus assistia enquanto um oficial alemão espancava uma criança judia no campo de concentração. Após certo tempo, ele a matou com um tiro. Nesse momento, ouviu-se alguém perguntar: Onde está Deus? Ao que foi respondido: Estava ali, com aquela criança.

Um outro relato é de um fato ocorrido alguns anos depois da Segunda Guerra. Em um debate entre alguns teólogos e filósofos famosos, um dos teólogos debatedores parafraseou uma fala de um poeta e disse que era possível orar depois de Auschwitz porque se orava em Auschwitz.

Não acredito em respostas para a questão do mal. Não acredito que qualquer um tenha uma resposta, nem que precisamos tê-las. Não acho que a fé em Cristo nos dá todas as respostas. Não consigo entender nem jamais poderei entender isso. Mas sei de uma coisa: o Cristo a quem amo está sempre comigo, sempre conosco, mesmo no meio das maiores tragédias. Essa é a grande coisa do que Deus faz por nós. E é a grande certeza que podemos ter de que, ao contrário do que pensa o tolo, há um Deus.

O evangelho de João está repleto de promessas a esse respeito: Não vou deixá-los abandonados, mas voltarei para ficar com vocês ... A pessoa que me ama obedecerá à minha mensagem, e o meu Pai a amará. E o meu Pai e eu viremos viver com ela... Continuem unidos comigo, e eu continuarei unido com vocês (Jo. 14. 18; 23 e 15: 4). E, estando com Cristo, poderemos entender que mesmo que não saibamos o porquê do mal, podemos passar por ele, porque Ele está conosco: Eu digo isso para que, por estarem unidos comigo, vocês tenham paz. No mundo vocês vão sofrer; mas tenham coragem. Eu venci o mundo (Jo. 16. 33). Enfim, tolo é o que não se lembra que, quando subiu ao céu, Jesus não prometeu o fim do mal no mundo, mas que estaria conosco por todos os dias, até o fim dos tempos (Mt. 28. 20).

Jesus nunca nos prometeu que nos livraria da tragédia, do mal e da dor. Não. O cristianismo não é a mensagem de uma boa vida por todo o tempo. Mas a mensagem da Cruz de Cristo ensina que Ele sempre estará conosco. Ele pode não impedir que enfrentemos a dor, mas com certeza Ele estará conosco quando passarmos por ela, enxugando a nossa lágrima e fazendo com que a dor e o sofrimento sejam mais fáceis de suportar. Porque, sim, há um Deus. Houve um Deus em Auschwitz. Há um Deus na baixada fluminense. Há um Deus no meio das vítimas da Tsunami.

1.4.05

Sobre morrer e viver

Ele foi pai de outros filhos e filhas, e morreu...

Gênesis 5. 4 e 5; 10 e 11; 13 e 14; etc.

A iminência da morte do Papa João Paulo II me remeteu a este capítulo fascinante do livro de Gênesis. Contando a história de personagens como Adão, Sete, Enos, Matusalém, o autor pontua o fim de cada biografia com a frase simples e profunda: e morreu.

A repetição dessa constatação parece servir para que o leitor fixe, com muita clareza e com muita certeza, que há uma coisa na vida que é inescapável: cada um desses patriarcas, mesmo tendo vivido centenas de anos, um dia, morreu. Nós morreremos também porque a morte é certa.

Mas a morte certa aponta para nós a importância da vida. De vivermos uma vida que faça toda diferença.

Morremos sós, diz a sabedoria popular. Mesmo tendo tido filhos e filhas incontáveis, cada um dos personagens dessa capítulo se distingue por duas coisas: longa vida e morte certa. Certa e solitária.

Todas biografias são iguais, à exceção de uma. Enoque é, dentre estes, quem viveu menos anos na terra. E é o único que não experimenta a morte. Enquanto Cainã, por exemplo, morre com novecentos e dez anos de idade, Enoque fica na terra até os trezentos e sessenta e cinco anos. E, ainda assim, não experimenta a morte.

O que é diferente na vida de Enoque? Enoque viveu em comunhão com Deus durante trezentos anos... Ele viveu sempre em comunhão com Deus e um dia desapareceu, pois Deus o levou (Gn. 5. 22 e 24). Ele viveu sempre em comunhão com Deus. A vida de intimidade com Deus fez toda a diferença.

A certeza da morte deve nos empurrar a uma vida que valha a pena e faça diferença. E essa vida só pode ter lugar a partir do instante em que o ser humano se dispõe a andar em comunhão com Deus.

O caminho para essa comunhão foi traçado por Jesus. O preço foi pago por Ele. Viver uma vida que valha a pena, uma vida intensa, por menor que seja, é caminhar na comunhão com Deus por meio de Jesus. É pôr o Senhor como prioridade mais absoluta de cada passo e de cada coisa na vida. Para que a morte, mesmo que venha (e virá) não nos apanhe de surpresa e não se torne um momento difícil, mas seja o cume de uma caminhada com Deus em que Ele fez diferença em nós e através de nós. A morte certa deve nos inspirar a viver com intensidade cada momento e vivê-lo sempre na presença do Deus vivo.

Isso me conduz a duas passagens biográficas dos escritos de Paulo. Primeiro, ele diz aos filipenses algo radical e tremendo. Que deveria estar nos umbrais de nossas portas, nos instigando e desafiando a cada dia. Ele diz: Para mim viver é Cristo, e morrer é lucro (Fp. 1. 21). Viver uma vida de comunhão com Deus, na intimidade, implica não ter a própria vida como prioridade, como coisa mais preciosa, mas entender que tudo de importante existe apenas em Cristo. Por isso, uma vida de comunhão com Deus vale a pena e nos leva a experimentar a morte como lucro.

Uma outra passagem biográfica de Paulo que nos deveria empurrar para uma vida diferente da que estamos vivendo – empurrar a uma vida a tal ponto diferente que Deus teria o desejo de nos levar ao Seu colo como fez com Enoque – está em sua carta a Timóteo: Quanto a mim, a hora já chegou de eu ser sacrificado, e já é tempo de deixar esta vida. Fiz o melhor que pude na corrida, cheguei até o fim, conservei a fé. E agora está me esperando o prêmio da vitória, que é dado para quem vive uma vida correta, o prêmio que o Senhor, o justo Juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos os que esperam, com amor, a sua vinda (2 Tm. 4. 6 – 8).

A certeza da morte deve nos inspirar a uma vida de comunhão íntima com o Senhor, através de Jesus Cristo. Um dia, vamos morrer. Mas podemos fazer tudo valer a pena, como fez Enoque, priorizando as coisas mais importantes.

Um dia, vamos morrer. Mas se a nossa vida tiver feito diferença, se tivermos vivido com Deus, teremos a tranqüilidade e a paz daquele que chega ao fim da jornada com a alegria do dever cumprido: fiz o melhor que podia e sei que agora minha comunhão com Deus continua, porque o viver é Cristo e o morrer é lucro.

Daniel Dantas

Missionário da 1ª IPI do Natal

Saudades do não vivido

Como gostaríamos que Tu rasgasses os céus e descesses, fazendo as montanhas tremerem diante de Ti!

Is. 64. 1.

É estranho, mas apostaria que a maioria de nós já experimentou um sentimento de saudades por fatos ainda não vividos. Em geral, é saudade do futuro ou saudade de sonhos, das coisas que desejamos. Desejamos com tanta intensidade que elas se tornam reais e fazem falta quando não se concretizam. Tornam-se tão reais em nossos sonhos que quando não se fazem concretas em nosso mundo sentimos a sua falta como a pior das saudades.

Quando olho para esse texto, um de meus preferidos, sinto essa saudade das coisas que não vivi. É como se meu coração desejasse com tanta intensidade que essa manifestação de Deus se realizasse, mesmo que eu não tenha muita idéia de tudo que ela envolve, que a angústia do sonho não concretizado, o sonho de ver o Senhor descer dessa maneira maravilhosa, se transforma em uma espécie de nostalgia.

A gente pode ler na história momentos em que Deus fez isso por que clama o profeta. Esses momentos costumamos denominar avivamentos. Poucos de nós não gostariam de vivenciar essas experiências. Poucos de nós não gostariam de ver o Senhor rasgando os céus e descendo, fazendo montes tremerem e se derreterem na Sua Presença. Poucos de nós não gostariam de vivenciar aquela chuva maravilhosa da presença do Senhor que transformando tudo, revoluciona as coisas, fazendo sempre brotar a vida abundante. Vida abundante como resultado das águas de amor de Deus que vivificam cada coração alcançado pela manifestação de Deus.

Eu jamais vi a ação de Deus na dimensão pela qual clama o profeta. Mas tenho saudades dela em minha vida. Meu coração tem saudades dessa ação do Senhor. Meu coração tem saudades das coisas maravilhosas que Deus fez e eu não vi, coisas que não esperávamos, quando Ele desceu do céu e toda a terra tremeu ante o fulgor de Sua Glória e Sua Presença.

Quando leio histórias, biografias, minha saudade aumenta. Em 1730, um grupo de jovens alunos da Universidade de Oxford (na Inglaterra) começou a se reunir para orar, estudar a Bíblia e buscar a santidade, em uma época em que a Igreja estava profundamente corrompida. Eles, em tom de zombaria, foram chamados de “Clube Santo” pelos colegas. Em 1735, o grupo se dissolveu, mas três amigos continuaram a semear a santidade: os irmãos John e Charles Wesley e George Whitefield.

No dia do ano novo de 1739, os três e mais quatro membros do Clube Santo se reuniram em Londres. O próprio John Wesley conta o que aconteceu: “Cerca de três da manhã, enquanto estávamos orando, o poder de Deus caiu tremendamente sobre nós, a tal ponto que muitos gritaram de alegria e outros caíram ao chão (vencidos pelo poder de Deus). Tão logo nos recobramos um pouco dessa reverência e surpresa na presença de Sua Majestade, começamos a cantar a uma voz: ‘Nós te louvamos, ó Deus; Te reconhecemos como Senhor’”.

Eu tenho saudades disso que não vivi. Como gostaríamos que Tu rasgasses os céus e descesses, fazendo as montanhas tremerem diante de Ti!

Daniel Dantas

Missionário da 1ª IPI do Natal

Chuvas da salvação

Eu lhes disse: “Preparem os campos para a lavoura, semeiem a justiça e colham as bênçãos que o amor produzirá. Pois já é tempo de vocês se voltarem para mim, o Senhor, e eu farei chover sobre vocês a chuva da salvação”.

Oséias 10. 12

Oséias, profeta do Reino do Norte (Israel) e contemporâneo de Amós, prega no meio de um povo que anda trocando religiosidade por culto (cf. Os. 6. 6). Ele anuncia, por isso, a destruição final de Samaria, que finalmente acontece em 721 a.C.. A passagem em que se insere esse texto é profundamente inquietante como um todo, mas aqui quero pensar nessa ordem que Deus dá ao Seu povo de todos os tempos.

A primeira coisa que Deus nos instrui a fazer é preparar a terra para a lavoura. Não resta dúvida de que a imagem se refere a uma metáfora da vida espiritual de cada um. Assim, preparar os campos é preparar a si mesmo, o próprio coração. É nossa busca por Deus, por meio de Sua Palavra, que prepara nosso coração para que possamos fazer a semeadura da justiça, a fim de que venha a colheita esperada e desejada. É preciso atender ao chamado do Senhor, pois já é tempo de vocês se voltarem para mim.

Somos chamados, também, para semear a justiça. É nosso papel sermos santos e justos. É nosso papel viver, na prática, a realidade da justiça que se manifesta na Palavra de Deus. É nosso papel, com os corações transformados e preparados para a semeadura, buscarmos a vida de justiça. Semearmos a justiça.

Mas, o que acontece quando o homem do campo semeia a terra mas não vem a chuva? A semente se perde, o campo não verdeja, a morte reina e impera no meio de tudo. Não acontece colheita se não vier chuva sobre o campo semeado.

Do mesmo modo, sem que o Senhor venha como chuva de amor, nossa justiça se torna aridez, hipocrisia, farisaísmo. Deus nos quer semeando a justiça, a retidão, a santidade porque é hora de buscar o Senhor. Só quando nos voltamos para Ele, Ele envia a chuva de amor que traz vida à semente lançada.

É hora de buscar ao Senhor. Buscar sem limites. Não um pouco, alguns instantes por dia, mas buscarmos por Ele até que Ele venha. Até que sintamos a Sua chuva caindo sobre nós. Chuva de refrigério, vida, poder e avivamento. Eu e você precisamos da chuva do Senhor inundando a nossa vida. Precisamos buscar o Senhor até que Ele venha.

Quando Jesus se despede de Seus discípulos no livro de Lucas, lhes diz: Eu lhes envio a promessa de Meu Pai; mas fiquem na cidade até serem revestidos do poder do alto (24. 49). O que fizeram os discípulos? Esperaram dez dias, em oração, até que o Senhor viesse em Sua chuva no Pentecostes.

Busque o Senhor e aguarde que Ele se derrame como chuva de justiça, salvação, vida e poder. Continue buscando até que Ele venha para que você colha as bênçãos que o amor produzirá.

Daniel Dantas

Missionário da 1ª IPI do Natal

O que está escondido

Porque, se o evangelho que anunciamos está escondido, está escondido somente para os que estão se perdendo. Eles não podem crer, pois o deus deste mundo conservou a mente deles na escuridão. Ele não os deixa ver a luz que brilha sobre eles, a luz que vem da boa notícia a respeito da glória de Cristo, o qual nos mostra como Deus realmente é.

2 Coríntios 4. 3 – 4.

Quem conhece a profundidade e as riquezas da graça de Cristo revelada na Cruz pelo evangelho, as boas notícias da salvação, muitas vezes se questiona como muitos podem ser apresentados a essa mensagem e, simplesmente, rejeitá-la. Uma vez ouvi uma resposta simplista de uma irmã bem intencionada: Não aceitam Jesus por falta de vergonha na cara, dizia ela.

Será isso mesmo? Por que a luz do evangelho de Cristo não brilha nas suas faces?

Em primeiro lugar, porque o evangelho lhes está escondido. Há um véu posto sobre o coração deles, como Paulo diz um pouco antes (2 Co. 3. 15). Mesmo que lhes apresentemos a Palavra da salvação, ela será incompreensível para eles. Parecerá loucura. A luz de Cristo não vai encontrar lugar para se refletir porque um véu se interporá entre ela e a face e o coração dessas pessoas. São como quem olha e não vê. Como quem ouve mas não escuta.

Em segundo lugar, o diabo, o deus deste mundo, está agindo. Na verdade, por vezes é o próprio diabo quem vela os corações e encobre o evangelho. Ele quer matar, roubar e destruir. E seu trabalho mais eficaz nesse sentido é roubar a Palavra pregada dos corações. Nada é mais destrutivo do que a ação do diabo encobrindo dos corações o evangelho da glória de Cristo.

O deus deste mundo toca na mente dos incrédulos para que a Palavra de Deus lhe seja incompreensível e, assim, seja impossível à luz do evangelho brilhar nos corações. O diabo tem lançado nos corações as sementes de falsas doutrinas, filosofias e idéias que têm enredado a muitos. Tudo isso para que não brilhe sobre eles, a luz que vem da boa notícia a respeito da glória de Cristo, o qual nos mostra como Deus realmente é.

Na pregação do evangelho, somos responsáveis por cultivar uma vida de oração, intercedendo por aqueles cuja mente está obscurecida pela ação do diabo. Deus quer usar a nossa oração para quebrar cadeias e destroçar opressões demoníacas. Jesus nos deu Sua autoridade para reivindicar Sua vitória e libertar vidas das trevas.

Mas o versículo 3 nos diz que se o evangelho que anunciamos está escondido, está escondido somente para os que estão se perdendo. Então por que tantos que se consideram cristãos salvos se portam como pessoas em cujos rostos não brilha a luz do evangelho?

Por que temos desprezado muitas vezes as riquezas insondáveis da Palavra de Deus?

Por que desprezamos a vida de oração que Deus nos quer vivendo?

Por que não lemos, meditamos e conhecemos a Palavra de Deus?

Por que vivemos uma vida cristã da profundidade de alguns poucos centímetros?

E por que, sendo tão miseráveis, infelizes, pobres, cegos e nus, nos achamos tão ricos e abastados? Por que achamos que a Palavra nunca se aplica a nós?

Uma possível resposta a estas perguntas se constrói de maneira simples: não conseguimos ver a glória de Cristo porque não nos apossamos das riquezas da graça de Deus. Não temos a vida cristã efetiva porque damos lugar para que o deus deste mundo cegue o nosso entendimento para que não resplandeça em nós a luz do evangelho da glória de Cristo. O diabo tem roubado o melhor da nossa vida.

Mas há saída. Cultive uma vida de oração, comunhão e intimidade com Deus e Ele se revelará profundamente a você. Leia, medite e conheça a Palavra de Deus, e suas promessas serão efetivamente reais em sua vida. Jogue-se nos braços do Senhor como um holocausto vivo.

Cultive a vida com Deus e repreenda a ação do Maligno: Sujeitai-vos a Deus; resisti ao diabo e ele fugirá de vós (Tg. 4. 7).

Daniel Dantas

Missionário da 1ª IPI do Natal

28.3.05

As regras da Guerra

E foi na Cruz que Cristo se livrou do poder dos governos e das autoridades espirituais. Ele humilhou esses poderes publicamente, levando-os prisioneiros no seu desfile de vitória.
Colossenses 2. 15.

Quando eu vejo filmes ou documentários sobre guerras me impressiona o simples fato de que os conflitos têm regras. Recentemente ouvimos muito falar, por exemplo, sobre a Convenção de Genebra, que não é menos que um regulamento mundial sobre as Guerras.
Às vezes você encontra passagens na Bíblia e na história em que os homens falam e respeitam estranhas regras sobre guerras. Na famosa passagem de Davi e Golias, por exemplo, nós vemos o desafio filisteu de que se algum judeu fosse capaz de derrotar o seu campeão, os filisteus seriam escravos de Israel. No filme de Mel Gibson, O Patriota, que descreve a Guerra da Independência dos Estados Unidos, os ingleses ficam terrivelmente furiosos com o personagem de Gibson porque este matou, em um campo de batalha, os líderes da tropa. Isso era contra as regras da guerra. Regras sobre guerras para mim representam um contra-senso muito humano. Os homens são capazes de escreverem regulamentos para controlarem as ações de guerra, chegando a acordo acerca disto. Então, por que não são capazes de chegarem a acordos que impeçam as guerras?
Nós, cristãos, estamos em meio a uma batalha. Travamos uma Guerra. E essa guerra não tem regras muito nítidas. A maior parte das vezes, o que é pior, nossos inimigos ainda nos são invisíveis. Mas a realidade é que estamos em uma cruel guerra, na qual, cedo ou tarde, podemos ser mais ou menos feridos.
Muitas vezes, porém, não levamos a sério a realidade desta guerra. Provavelmente porque nossos inimigos não são a carne ou o sangue, mas principados e potestades espirituais. São adversários invisíveis aos olhos humanos. Nós nos deparamos com guerreiros cruéis, que não respeitam regras, que agem da maneira mais terrível a fim de conseguir seus objetivos. E, para nossa desgraça, a maior parte do tempo, estamos no meio do campo de batalha sem nos apercebermos que há uma guerra sendo travada em nosso redor. Estamos perdidos, como cegos em tiroteio. Sermos feridos, às vezes mortalmente, é inevitável.
Essa Guerra não tem regras. Pelo menos que nós possamos conhecer. Mas nós podemos nos precaver de sermos apanhados de surpresa pelas ações do campo de batalha. Mais que isso: podemos nos preparar para entrarmos na luta.
Apesar de ser uma luta sem regras, há um princípio absoluto que precisa nos conduzir na batalha. Os nossos inimigos são adversários derrotados. O resultado da Guerra já foi absolutamente definido na Cruz do Calvário: E foi na Cruz que Cristo se livrou do poder dos governos e das autoridades espirituais. Ele humilhou esses poderes publicamente, levando-os prisioneiros no seu desfile de vitória. Cristo já os venceu na Cruz. É a partir deste ponto que podemos entrar na Guerra. Essa é uma batalha do Senhor e ela já tem um resultado definitivo, apesar de todo poder mortal que os inimigos apresentam. É no nome de Jesus e por Seu Sangue que a vitória já foi alcançada.
Uma outra coisa, que se deriva desta, é que não podemos estar perdidos no meio do campo de batalha, sem saber o que fazer, como cegos em tiroteio. A partir do instante em que fomos arregimentados nas forças do Deus da Glória somos soldados dessa Guerra. E o soldado não vai à batalha de qualquer jeito. Vistam-se com toda a armadura que Deus dá a vocês, para ficarem firmes contra as armaduras do Diabo. Pois nós não estamos lutando contra seres humanos, mas contra as forças espirituais do mal que vivem nas alturas, isto é, os governos, as autoridades e os poderes que dominam completamente este mundo de escuridão. Por isso peguem agora a armadura que Deus lhe dá. Assim, quando chegar o dia de enfrentarem as forças do mal, vocês poderão resistir aos ataques do inimigo e, depois de lutarem até o fim, vocês continuarão firmes, sem recuar. Portanto, estejam preparados. Usem a verdade como cinturão. Vistam-se com a couraça da justiça e calcem, como sapatos, a prontidão para anunciar a boa notícia de paz. E levem a fé como escudo, para poderem se proteger de todos os dardos de fogo do Maligno. Recebam a salvação como capacete e a Palavra de Deus como a espada que o Espírito Santo lhes dá. Façam tudo isso orando a Deus e pedindo a ajuda dele. Orem sempre (Ef. 6. 10 – 18).
Precisamos estar atentos para sabermos quem somos, onde estamos e o que estamos fazendo. Mesmo que a vitória final já tenha sido garantida por Jesus na Cruz, a batalha pode nos ferir mortalmente. É preciso sabermos que somos guerreiros no meio da batalha. Sabermos que as forças do Senhor contam conosco. Logo, precisamos nos vestir das roupas de guerreiros do Senhor. E mais que isso. Não podemos desprezar nem a realidade dessas coisas, nem o poder que ainda tem o Maligno. Não podemos desprezar o poder de nosso adversário. Esses homens têm visões que os fazem pecar contra o próprio corpo deles. Desprezam a autoridade de Deus e insultam os gloriosos seres celestiais. Nem mesmo o arcanjo Miguel fez isso. Na discussão que teve com o Diabo, para decidir quem ia ficar com o corpo de Moisés, Miguel não se atreveu a condenar o Diabo com insultos, mas apenas disse: “Que o Senhor repreenda você!” (Jd. 8 – 9).
Estamos em guerra. A nossa vitória vem do Senhor. Mas, para isso, precisamos tomar em consideração toda seriedade da batalha em todos os seus aspectos. Sempre.
Sobre a Páscoa (parte final)

O último inimigo que será destruído será a morte.
1 Coríntios 15. 26.

Jesus, como diz o hino, é nossa Vera Páscoa. Nele toda a realidade da mensagem pascal, desde o início, tem o cumprimento. Jesus é o Deus que ouve a súplica do povo que andava em trevas. Ele é o Deus que vê o estado terrível, mergulhado na lama e no pecado, em que essa gente, nós mesmos, nos encontrávamos.
Jesus desce a fim de livrá-lo. Ele se encarnou e se fez de um de nós. E se fez carne semelhante ao pecado e foi obediente ao propósito de Deus até o fim. Encarnou-se para ir à Cruz e até a Cruz foi para nos salvar pela Sua grande graça. Ali venceu de maneira tremenda. Venceu o pecado, despojou principados e potestades, os expondo à vergonha e ao desprezo eterno. Toda dívida que era nossa, impagável, foi rasgada e cravada naquela Cruz. Foi pago um Alto Preço. Preço de sangue.
Esmagou a cabeça da serpente e destruiu as obras da Satanás. Libertou os cativos. Refez toda a história humana. Mas faltava uma coisa. Uma coisa que não estava envolvida no tão esperado “está consumado”. Havia um último inimigo a ser vencido. Jesus estava morto. Mas vinha chegando um domingo.
O último inimigo a ser vencido, a morte. Ela tentou eclipsar o Sol da justiça, mas na manhã do domingo a ordem do universo foi subvertida definitivamente. Raiou com um brilho eterno o Sol. Raiou com luz suficiente para iluminar corações por todos os séculos dos séculos. Raiou com o calor eterno do aconchego aos braços do Pai. Raiou, dizendo Amém a toda que fora consumada dois dias antes. O Sol raiou, mostrando a cada um que tudo aquilo valeu a pena. Que a vitória é real. Que não há motivo para lamento e dor, choro e tristeza, porque o Deus do universo transformou as nossas lágrimas em danças, a nossa angústia em festa. Nós, o povo que andávamos em trevas, vimos uma luz que nos mudou para sempre. O tempo de nossa tristeza e angústia está passando.
O último inimigo foi vencido. Não temos o que temer. Jesus ressuscitou como as primícias. Ele está vivo! Celebremos! Judeus e gentios, homens e mulheres, escravos e livres, agora todos são um com o Senhor. Ele está vivo! Ele está sentado no trono e Ele virá em tempo e hora que não nos compete saber.
Como João, só nos restar chorar. Porque se encontra ali Aquele que tem a história nas mãos. O Leão da Tribo de Judá, o famoso descendente do rei Davi, conseguiu a vitória e pode quebrar os sete selos e abrir o livro. Então vi um Cordeiro de pé no meio do trono... (Ap. 5. 5 – 6).
O Cordeiro ressuscitado virá até nós, nos buscará para vivermos em um novo mundo, novos céus e nova terra, onde toda lágrima é enxugada, onde não haverá dor, onde a morte não será mais que uma lembrança. Onde toda tristeza terá sido deixada para trás. O Sol da Justiça ressuscitado brilhará, por fim, no meio de nós. Nada necessitaremos porque seremos, finalmente, inteiramente dEle para sempre. Essa história terá chegado ao fim quando o Cordeiro quebrar os selos e abrir o livro.