26.3.05

Sobre a Páscoa (parte 4)

Por isso, desci para (...) levá-los do Egito para uma terra grande e boa.

Êxodo 3. 8

Deus nos conduz sempre para os melhores lugares. A sua libertação, completa, não nos tira apenas do aperto em que nos encontramos, mas nos leva a uma melhor situação. A um lugar de gozo e prazer. A um lugar de vida e paz. Do mesmo modo que o Israel libertado seria conduzido pelo Deus vivo para uma terra prometida, rica de leite e mel, nós também somos libertados pelo Senhor e conduzidos ao melhor lugar do mundo: o centro de Sua Vontade.

Paulo disse algo assim aos colossenses: Ele nos libertou do poder da escuridão e nos trouxe em segurança para o Reino do Seu Filho Amado. É Ele quem nos liberta, e é por meio dEle que os nossos pecados são perdoados (Cl. 1. 13 – 14). Deus nos liberta do império do mal e nos conduz ao Reino do Seu Amor Aprazível. Ele nos tira de caminhos de morte no deserto e nos leva aonde flui a Água da Vida. Ele nos livra do pecado por meio de Sua Graça nos ensinando o sentido de uma nova vida.

O que essas coisas significam na prática? O que essa ação positiva de Deus de nos conduzir a um melhor lugar ocasionam em nós? Deus escreve uma nova história para nós, história centrada em Seu propósito e vontade, história fixada pela Sua Graça e Verdade. Libertados da opressão e do mal, somos levados à vida e à paz. A pastos verdejantes, a águas de descanso.

A Páscoa de Jesus, com a Cruz no Centro da Vida e da Morte, marca-nos com uma nova vida, cujo sentido se extrai da libertação, da vida e do amor. Não somos mais escravos do pecado e da morte, porque Jesus foi àquela Cruz. Somos livres, homens e mulheres capazes de se amarem e amarem a Deus. A vida verdadeira flui com abundância em nosso ser. Nosso coração, alcançado pelo Deus que desce para nos livrar, é levado a viver o Amor plenamente.

Todas essas coisas são absolutamente inefáveis. Por isso se transformam em ritos, em símbolos na nossa vida. Por serem inefáveis, são lembradas quando partilhamos pão e vinho na Mesa do Senhor. Por serem inefáveis, são marcadas por festas de liberdade e do Poder de Deus. Festas como a da Páscoa, que também nos inspiram a lembrar que jamais seremos capazes de antecipar as riquezas maravilhosas da nova vida para a qual o Senhor nos libertou. Elas estão a nós reservadas, como uma terra prometida, onde correm leite e mel, onde há Água e Vida Plena, mas cuja experiência palavra alguma é capaz de alcançar. Terra e promessa. Vida e luz. Liberdade e Páscoa. Inenarráveis. Inexplicáveis. Inefáveis. Porque o que ninguém nunca viu nem ouviu, e o que jamais alguém pensou que podia acontecer, foi isso o que Deus preparou para aqueles que o amam (1 Co. 2. 8). É algo assim que brilha em nosso futuro, para onde caminhamos em nossa jornada. É para esse destino que vamos, peregrinos libertados pela Graça do Senhor.

25.3.05

Sobre a Páscoa (parte 3)

Por isso, desci para libertá-los
Êxodo 3. 8

Não costumamos ter idéia do que Deus é capaz de fazer a fim de libertar o Seu povo. Não temos noção da infinidade de poder que Ele pode mobilizar com o único propósito de retirar Seu povo da opressão.
No Egito, temos a primeira amostra disso. A água vira sangue, rãs, piolhos e moscas invadem a terra, os animais dos egípcios morrem, tumores se formam na pele de gente e bichos, uma chuva de granizo como nunca vista antes, uma imensa praga de gafanhoto, trevas que dominam o país e, por fim, a morte de todos os primogênitos. E nenhuma dessas pragas alcançando, se quer de longe, alguém dentre o povo de Deus. Tudo isso com o expresso propósito de libertar o povo da opressão da escravidão no Egito. Povo que não precisou fazer nada, a não ser clamar.
Mas, certamente, nada disso é maior que Jesus. Diz o anjo a José: você porá nele o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo dos pecados deles (Mt. 1. 21). Ele veio para libertar. Ele veio para salvar. Ele veio para manifestar o grande poder do Senhor de uma maneira que nunca havia ocorrido na história. Porque nele está toda a plenitude do próprio Deus.
O primeiro ato público do ministério de Jesus é dizer, a quem quisesse ouvir, O Senhor me deu o Seu Espírito. Ele me escolheu para levar boas notícias aos pobres e me enviou para anunciar a liberdade aos presos, dar vista aos cegos, libertar os que estão sendo oprimidos e anunciar que chegou o tempo em que o Senhor salvará o Seu povo (Lc. 4. 18 – 19).
A vinda de Jesus responde ao clamor e necessidade do povo. Deus ainda está de olho no Seu povo. Ainda ouve o seu clamor. Ainda se importa e vai sempre se importar. Por isso, envia Seu Filho, com uma missão nítida, definitiva e clara: Ele veio para libertar. Ele veio mudar a nossa história. Ele é o poder de Deus que diz: desci para libertá-los.
O Benedictus, canto de Zacarias, pai de João Batista, nos instrui a respeito dessa realidade. Antes mesmo que Jesus nascesse, quando Zacarias olha para aquele que seria a voz que clama no deserto preparando o caminho do Senhor, convida-nos a louvar a Deus pela libertação que tem preparado ao longo dos séculos até aquele momento, a plenitude de todo tempo: Louvemos o Senhor, o Deus de Israel, pois Ele veio ajudar o Seu povo e lhe dar liberdade. Enviou para nós um poderoso Salvador, aquele que é descendente do Seu servo Davi (Lc. 1. 68 – 69).
Agora, com muito mais verdade, podemos crer na libertação que o Senhor promove. Ele já nos libertou, por meio de Jesus, da escravidão do pecado e da Lei. Já nos libertou da opressão do Império das Trevas, derrotando o diabo. Do mesmo modo que o nosso Deus agiu na primeira Páscoa para libertar Seu povo, com o mesmo poder, Ele deseja agir para nos alcançar libertação hoje em dia. O mesmo poder que atingiu o Egito, o mesmo poder que agiu no ministério de Cristo, o mesmo poder que ressuscita mortos e O ressuscitou, está aqui, entre nós, para atuar em nossa libertação, na transformação da nossa história, no fazer com que vivamos uma vida nova. Libertar-nos.
O Deus que ouve e vê não fica sem ação, mas sempre desce a fim de nos livrar. Nas horas de luta mais difícil, nas horas de opressão e angústia, nas horas de dor, podemos lembrar que Deus ouve a nossa oração, conhece a nossa súplica, vê a nossa situação e quer descer a fim de nos libertar verdadeiramente. A Cruz de Cristo prova isso.
Sobre a Páscoa (parte 2)

Tenho ouvido o seu pedido de socorro por causa dos seus feitores... tenho ouvido o pedido de socorro do meu povo...

Êxodo 3. 7 e 9.

O Deus que vê é o Deus que ouve. Ele ouve a voz do clamor do Seu povo a todo instante. Os seus ouvidos estão atentos para o que falamos, para o que clamamos, como estavam atentos à voz de Israel, oprimido pelos egípcios.
A idéia do Deus que ouve me faz pensar em dois textos distintos, cheios de significados e de riqueza para as nossas vidas. O primeiro é o Salmo 40. 1: Ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro. Sempre foi impressionante para mim a riqueza dessa imagem. É a figura do Rei de todo universo, sentado no Seu Altíssimo Trono de Glória, ouvindo a súplica de Seus súditos. Esse trono está um tanto distante dos que suplicam, então, para que possa ouvir, esse Rei se inclina e se aproxima da pessoa que pede. Ele se inclina para ouvir. Ele se preocupa ao ponto de demonstrar para nós que não está indiferente. Ele realmente quer ouvir a nossa voz. Ele se esforça para isso. Ele se inclina para ouvir o nosso grito de socorro. Nós não falamos ao leu. Nós temos um Deus, o Rei do Universo, que nos ouve de verdade. Que quer nos ouvir. Que está aqui, curvando-se no Seu Trono para isso.
É claro que a idéia de um Deus que ouve a nossa voz diz respeito a um povo que ora. Que intercede. Que clama. Que pede pelo socorro, pelo auxílio, pela ação de Deus. Um povo, que mesmo nos piores momentos, é ainda capaz de acreditar que há um Deus no céu que ouve a súplica e não a deixa sem resposta.
É disso que fala o outro texto a que eu sou remetido. Outro anjo veio com um vaso de ouro no qual se queima incenso e ficou de pé ao lado do altar. Ele recebeu muito incenso para juntar com as orações de todo o povo de Deus e oferecê-lo no altar de ouro que está diante do trono. E das mãos do anjo que estava diante de Deus subiu a fumaça do incenso queimado, junto com as orações do povo de Deus. Então o anjo pegou o vaso de incenso, o encheu com fogo do altar e jogou sobre a terra. Houve trovões, estrondos, relâmpagos e um terremoto (Ap. 8. 3 – 5). Se clamamos a um Deus que ouve, esse Deus responde. A nossa oração não fica sem resposta, por mais que as vezes sejamos incapazes de compreendê-la.
O maravilhoso é que o Deus que pode responder com silêncio, pode responder de uma maneira que não nos agrada, é o mesmo Deus que pode provocar trovões, estrondos, relâmpagos e um terremoto apenas para atender a nossa súplica. O maior poder do Universo é disponibilizado a nós pela nossa oração. Quando pedimos segundo o que é vontade de Deus podemos esperar o mover maravilhoso, sobrenatural e tremendo do Senhor em resposta à nossa oração. Deus é um Deus que ouve a súplica e o clamor de Seu povo.
Deus ouviu a súplica de Israel no Egito. Sua resposta foi uma ação de poder que subverteu todas as leis físicas e naturais. Ouviu a súplica do mesmo povo sob à opressão do Império Romano e, em resposta, na plenitude do tempo, enviou o Salvador do Mundo. O próprio Deus, o Maior Poder do Universo, na Pessoa do Filho, se fez um de nós para libertar e salva a humanidade.
Quando passamos por situações difíceis, a história da Páscoa nos revela um Deus que nos ouve, que inclina os Seus ouvidos para ouvir a nossa oração, e pode nos responder dispondo do grande poder do Universo para fazer cumprir a Sua vontade.
Sobre a Páscoa (parte 1)

Eu tenho visto como o meu povo está sendo maltratado no Egito... Sei o que estão sofrendo.
Êxodo 3. 7.

Já tenho falado acerca do Deus que não anda distante no céu, mas intervém em favor do Seu povo que sofre na terra. Essa é a história da Páscoa, apontada de um modo direto no livro do Êxodo e trazida à plena realização espiritual na vida e ministério de Cristo. Tenho falado bastante sobre isso, mas nunca é demais relembrar. Nunca é demais tentar reviver tudo isso.
Moisés, salvo pela astúcia de sua mãe da condenação de Faraó, ainda recém-nascido, é adotado pela princesa e criado no palácio. Quando chega aproximadamente aos 40 anos, percebe a situação terrível em que se encontra o povo judeu. Após matar um egípcio que feria um judeu, se vê forçado a fugir. Quarenta anos depois, uma sarça que queimava e não se consumia revela o Deus vivo ao ex-príncipe. E Deus o vocaciona a ser o libertador dos judeus. Esse é o nosso texto.
A primeira coisa que o texto mostra é que o Senhor é um Deus que vê e sabe. O povo pode se sentir abandonado por Deus. O Senhor pode parecer ausente ou mesmo superado como uma estória de Carochinha. Mas Deus vem até Moisés e se mostra como Alguém que vê e sabe. Não está ausente, não está distante. Participa da história de Israel, mesmo quando parece difícil acreditar nisso.
É assim mesmo. Muitas vezes a sensação de uma morte de todas as coisas nos consome a tal ponto que parece que nada daquilo em que cremos e que vivemos parece real. A dor é imensa, o sofrimento é terrível, e, para piorar, nos sentimos sós. A sensação de ter sido abandonado por Deus amplifica a dor. Amplifica o desespero. Gritamos e não há quem escute. Ninguém parece está nem aí para a nossa dor. Ninguém surge disposto a nos ajudar. Nessas horas, podemos pensar que, se há um Deus, Ele está muito longe para nos ver e agir em nossas vidas, em nosso socorro. Mas é mais fácil deixar essa fé tola de lado. Afinal, não sentimos Deus presente. Não temos o Seu toque. A única coisa que temos é a dor, o sofrimento e a solidão. Se prosseguirmos assim, não restará fé alguma.
O povo de Israel estava sofrendo com a exploração dos egípcios. Era escravo, não tinha direitos e estava se acostumado àquela situação tão dura. Mas tudo doía demais. E eles buscavam uma saída.
Deus chega nessa história. E se mostra como Alguém que jamais esteve tão ausente quanto eles imaginavam. E que jamais abandonou o Seu Povo. Que jamais permitiu e nem permitirá que o sofrimento intenso destrua a Sua gente eleita definitivamente. Eu tenho visto como o meu povo está sendo maltratado no Egito... Sei o que estão sofrendo.
A Páscoa revela este Deus que vê e sabe. O Deus que se revela, de maneira plena, em Jesus Cristo. Na sua Cruz. Na sua morte. Na sua vitória. Ele, o nosso Sumo Sacerdote: O nosso Grande Sacerdote não é como aqueles que não são capazes de compreender as nossas fraquezas. (Hb. 4. 15). No seu trono de graça recebemos misericórdia e socorro sempre que, de fato, necessitarmos (Hb. 4. 16).
Jesus é o Deus que vê e que sabe. Que jamais nos deixa desamparados. Que não está longe, sem se importar com a dor do Seu povo. Mas que vê e sabe. Iclusive, a melhor hora de intervir na nossa história.
Sendo libertado pelo perdão

Porque, se vocês perdoarem as pessoas que ofenderem vocês, o Pai de vocês, que está no céu, também perdoará vocês. Mas, se não perdoarem essas pessoas, o Pai de vocês também não perdoará as ofensas de vocês.
Mateus 6. 14 – 15

A Era do Gelo é um filme de animação ímpar. Doce e engraçado, tem uma mensagem difícil de ser compreendida e assumida nos dias atuais. Acredito uma de suas principais mensagens é o perdão. Manfred, o Mamute, é um ser solitário e rabugento. Carregado de mágoas, implica com todos e se vê forçado ao convívio com a preguiça mais chata do mundo, Sid.
Em determinada altura do filme descobrimos o porquê de ele ser assim. Sua família foi morta por caçadores humanos. E, desde então, ele vaga só e triste, brigado com mundo.
Diego é um tigre que tem tudo para ser o maior traíra da estória. Parte de um bando que foi massacrado pelos humanos, sua tarefa é levar um bebê humano até o seu líder, Soto. Esse bando, o mais estranho do mundo, se une por acidente em torno daquela criança. Um filho de um homem.
O bando de tigres dentes-de-sabre está em busca de sua vingança contra os homens. Ataca seu acampamento querendo levar o bebê como presa. Manfred também não tem muitos motivos para ajudar os homens, que mataram sua família. É aqui que entra a história do perdão. Primeiro, o Mamute, que se torna capaz de ajudar a criança apesar do que lhe foi feito. Depois, Diego que protege a quem deveria entregar por causa do amor e da amizade que surge nesse grupo. Essas coisas somente são possíveis quando um e outro são capazes de perdoarem os humanos pela dor que lhes infringiram.
O texto bíblico não poupa dureza quando fala acerca do perdão. Ele nunca é gratuito por mais que seja de graça. Não se pode fazer coisa alguma para se alcançar o perdão de Deus, ele vem pela graça, mas não é simplesmente incondicional. A gente quer fugir disso, mas a Bíblia nos diz que o perdão de Deus tem uma condição: Porque, se vocês perdoarem as pessoas que ofenderem vocês, o Pai de vocês, que está no céu, também perdoará vocês. Mas, se não perdoarem essas pessoas, o Pai de vocês também não perdoará as ofensas de vocês.
Essa idéia fica nítida na parábola do credor incompassivo (Mt. 18. 22 – 35). É a história do sujeito que suplica ao rei o perdão de uma dívida de milhões de moedas de prata. O rei lhe perdoa, mas ao sair de diante do rei, se encontra com alguém que lhe devia infinitamente menos, cem moedas de prata. Em vez de lhe perdoar a dívida, o entrega à prisão até que ele pagasse a dívida. Revoltados, os outros servos foram levar o assunto ao rei, que lhe passa em rosto: Empregado miserável! Você me pediu, e por isso eu perdoei tudo o que você me devia. Portanto, você deveria ter pena do seu companheiro, como eu tive pena de você (vv. 32 – 33). Com raiva, o rei o lança na prisão e o manda torturar até que pague toda a dívida.
Essa é a imagem perfeita do que acontece com quem sonega o perdão ao próximo. O Senhor nos perdoa uma dívida impagável, a dívida do pecado, paga na Cruz por Jesus. Por isso, não nos dá o direito de reter o perdão a quem quer seja. O resultado dessa retenção será, sempre, sofrimento, tortura, escravidão e dor. O pior disso é que aquele que nos ofendeu pode passar por essa situação sem nem imaginar qualquer coisa. Pode não sofrer por nada. Mas, certamente, aquele que retém o perdão, sofrerá sempre as maiores dores. Seu coração será carregado pela mágoa, pela tristeza, pela raiva e pelos desejos de vingança. E se não perdoamos a quem nos ofende, como esperar que Deus nos perdoe as nossas ofensas?
Manfred e Diego se livram da vingança, do ódio, da tristeza e da solidão quando perdoam e amam aquela criança. A falta de perdoar faz mal primeiro a mim. Faz mal ao ofendido mas que ao ofensor.
Antes que seja tarde

O Senhor Deus me disse: Desça até a casa onde fazem potes de barro, e lá eu lhe darei a minha mensagem. Então eu fui e encontrei o oleiro trabalhando com o barro sobre a roda de madeira.
Jr. 18. 1 – 3

Os capítulos 18 e 19 de Jeremias apresentam uma unidade que muitas vezes passa despercebida por nós. No capítulo 18, Deus manda Jeremias até a casa do oleiro. Enquanto o profeta presta atenção na ação do oleiro, que desfaz e refaz o pote de barro quantas vezes julga necessário, mantendo a roda de madeira funcionando, o Senhor lhe explica de maneira bem pedagógica: Será que eu não posso fazer com o povo de Israel o mesmo que o oleiro faz com o barro? Vocês estão nas minhas mãos assim como o barro está nas mãos do oleiro (Jr. 18. 6).
A relação que o Senhor mantém com o Seu povo e com outras nações é a mesma que o oleiro mantém com a argila. Como o oleiro pode fazer o que quiser enquanto mantém a roda funcionando e a argila maleável, assim Deus pode fazer o que quiser com aqueles que se relacionam com Ele, a depender de eles atenderem, ou não, a Sua voz. No texto de Jeremias o povo dá as costas ao Senhor: Não adianta; nós vamos seguir os nossos planos. Todos nós vamos agir de acordo com a teimosia e a maldade de nosso coração (Jr. 18. 12). Como conseqüência, é a vez de Deus lhe virar as costas (Jr. 18. 17).
No capítulo seguinte, a história passa para outro estágio. A roda parou de funcionar, a argila secou, o pote está pronto. Mas, e se ele desgostar o Oleiro? O que mais pode ser feito, a não ser quebrá-lo e jogá-lo fora.
O povo abandonou o Senhor e o Senhor não o deixará sem punição. Jeremias anuncia uma desgraça sem igual caindo sobre o povo (Jr. 19. 3). Então o Senhor me mandou quebrar o pote na frente dos homens que haviam ido comigo. E mandou dizer-lhes que o Senhor Todo-Poderoso tinha dito o seguinte: Como se quebra um pote, e ele não pode mais ser consertado, assim eu quebrarei este povo e esta cidade (Jr. 19. 10 – 11).
Dois momentos distintos. Enquanto em um, Deus ainda está nos desafiando à conversão, no seguinte, já é tarde demais. Enquanto Deus ainda nos chama, ainda há tempo. Ainda não é tarde demais. Enquanto o Senhor ainda está falando conosco, ainda há tempo. Estamos sendo rebeldes, obstinados em desobedecer a Palavra de Deus, dia a dia nos afastando ainda mais dEle. Endurecemos a nossa relação com o Pai, mas enquanto a roda ainda estiver rodando, enquanto Ele ainda estiver falando, ainda uma chance. Ainda estamos em Suas mãos, Ele ainda pode começar a nos moldar de novo, ainda luta por nos atrair com laços de amor (Os. 11), ainda pode nos refazer se algo sair errado.
Mas quanto mais resistimos à atração amorosa do Senhor, mais secos vamos nos tornando, mais nos afastamos, mais duros ficamos. Aí, já não tem mais jeito. Acabou!
Mas enquanto Deus ainda nos chama por Seu amor, ainda tem jeito. Mas dê ouvidos, antes que seja tarde e você não possa mais ser refeito. Antes que seja tarde. O que eles vão fazer quando essa situação chegar ao fim? (Jr. 5. 31).