26.11.05

Integridade

Os homens de Israel e de Judá estão longe, na frente de batalha, e a arca da aliança está com eles. O meu comandante Joabe e seus oficiais estão acampados ao ar livre. Como poderia eu ir para casa, comer e dormir com a minha mulher? Juro por tudo o que é sagrado, que nunca poderia fazer isso!
2 Samuel 11. 11

Se você quer aprender algo sobre integridade, sugiro que observe com atenção o relato de 2 Samuel 11. Ao contrário do que seria de se esperar em uma história do rei Davi, neste caso não poderemos aprender coisa alguma sobre integridade olhando para ele. Pelo contrário, Davi é um grande exemplo de canalhice e pecado no capítulo 11 de Samuel. Impressiona-me o exemplo de homem íntegro e fiel que é Urias. Se você quer aprender a ser íntegro, olhe para Urias e esqueça as posturas de Davi nesta história.
A primeira coisa que se destaca na vida de Urias é o fato de que ele não é judeu. Ele não pertence ao povo de Deus, mas manifesta mais fé, integridade e ética do que o rei dos judeus. Sua fé se traduz em ações práticas que esperaríamos encontrar especialmente no rei escolhido por Deus para o Seu povo. Mas é um estrangeiro, não o rei, que se comporta de maneira santa nesse texto.
A presença de Deus guiando Urias é clara. Quando Davi propõe que o seu soldado vá dormir em casa, o heteu se recusa e dá uma explicação que dimensiona o seu entendimento da própria religiosidade do povo a quem é fiel e em que se converteu membro: Os homens de Israel e de Judá estão longe, na frente de batalha, e a arca da aliança está com eles. O meu comandante Joabe e seus oficiais estão acampados ao ar livre. Como poderia eu ir para casa, comer e dormir com a minha mulher? Juro por tudo o que é sagrado, que nunca poderia fazer isso! A fidelidade de Urias a Deus e ao povo frustra os planos que Davi traçou para disfarçar o seu pecado.
É de surpreender, volto a repetir, que encontramos tal postura ética e santa, não no rei dos judeus, mas em um estrangeiro. A fidelidade a Deus e ao povo que deveríamos esperar no rei é encontrada em um de seus soldados que, por ser estrangeiro, nem deveria ter acesso à vida de fé dos judeus.
No dia seguinte, mesmo bêbado, Urias não se desviou da sua integridade e respeito a Deus e os companheiros que estavam no campo de batalha. Essa atitude provoca a reação mais cruel de Davi. O rei infiel decide matar o estrangeiro fiel. E para isso, se vale da própria integridade do soldado heteu: Na manhã seguinte, Davi escreveu uma carta a Joabe e a mandou por Urias. Davi escreveu o seguinte: “Ponha Urias na linha de frente, onde a luta é mais pesada. Depois se retire e deixe que ele seja morto” (2 Sm. 11. 14 – 15). A crueldade do rei seja ao ápice. Ao mesmo tempo, a manifestação da integridade de Urias. É impressionante imaginar que Urias voltou à batalha, sem saber, carregando a sua própria sentença de morte. E Davi havia compreendido tão bem a honestidade do heteu que podia estar certo de que ele não abriria uma carta destinada ao general Joabe.
Davi, o rei, começou todo esse processo adulterando com a belíssima mulher de Urias. Depois, desenha um plano para ocultar seu pecado, já que Bate-Seba ficou grávida. Diante do insucesso do projeto inicial, a sua crueldade aumenta contra o pobre marido que o tempo todo deixou clara sua fidelidade a Deus, ao povo e ao rei. Urias acaba morto e o rei infiel respira aliviado.
Urias é um exemplo de santidade e integridade a ser seguido. E mostra que nem sempre esse exemplo vem daqueles de quem devemos esperar. Não era para esperar que um estrangeiro viesse a mostrar o que é ser santo e comprometido com o Deus de Israel. Não era para esperar que um simples soldado nos desse essa lição. Esperaríamos essa lição do rei dos judeus, escolhido por Deus e homem segundo o Seu coração. Mas isso mostra que, como no início da história de Davi, Deus nunca olha para a aparência ou atende as expectativas, mas busca corações que O adorem, com integridade, em espírito e em verdade. E transformem suas experiências de fé em práticas de vida santa. Se queremos aprender a sermos santos com algum exemplo, não devemos olhar para o poderoso rei Davi, mas para o humilde soldado estrangeiro Urias.

25.11.05

Feridos

A língua é um fogo. Ela é um mundo de maldade (...). Ela é má, cheia de veneno mortal, e ninguém pode controlar. (...) Da mesma boca saem palavras tanto de agradecimento como de maldição. Meus irmãos, isso não deve ser assim.
Tiago 3. 6; 8 – 10

Palavras quando acessas, não queimam em vão/ Deixam a ferida posta em seu carvão... Todos nós somos mais ou menos experientes do poder da Palavra. Palavras podem construir e abençoar, mas também conhecemos o poder mortífero e destruidor da palavra. A palavra não voa à toa, mas provoca e estimula reações. A palavra mal-dita penetra fundo na alma, ferindo em profundidade alma e mente. Palavras não queimam em vão, mas queimam fundo.
Todos nós já passamos pela situação de sermos destruídos por dentro pelo poder de palavras mortais. Como se milhares de espadas retalhassem a nossa alma, somos partidos em pedacinhos, somos quebrados em cacos, pelas palavras impensadas de alguém, ou palavras vingativas, ou palavras simplesmente maldosas. Seu caminho, desde que atinge o nosso ouvido, tal qual o míssil teleguiado, ruma direto ao coração, que se estilhaça como se vidro fosse. Alguns disfarçam melhor o efeito dessas palavras mal postas, fingem que não são atingidos e talvez não sejam mesmo pela maior parte das palavras que visam atingi-los. No entanto, vez ou outra, nossa muralha de proteção é vencida e a palavra, às vezes a mais simples, penetra destrutiva em nosso ser. Explode. Desfaz em pedaços a inteireza de nosso ser e caráter. Como o soldado ferido e cansado das batalhas de uma guerra, resta-nos rastejar em busca de abrigo, descanso, alívio e paz. Porque a palavra maldita é destruidora de nossa paz. Ferido por dentro, sangrando em demasia, morremos pouco a pouco em busca de socorro. Resta-nos deitar, e gemer por auxílio e socorro. Só quem já experimentou o poder destruidor da palavra pode compreender o quão destroçados ficamos ante ele.
A língua é um fogo. Ela é um mundo de maldade (...). Ela é má, cheia de veneno mortal, e ninguém pode controlar. (...) Da mesma boca saem palavras tanto de agradecimento como de maldição. Meus irmãos, isso não deve ser assim. Palavras têm me destroçado por dentro nos últimos meses. Palavras têm me deixado cair ferido nos cantos do campo de batalha. Palavras penetraram fundo e retalharam o coração e a alma. Ferido e agonizante, caímos no meio do caminho.
Agonizantes, esperamos por uma saída. Esperamos por um socorro. O socorro que vem do Senhor. Socorro que é uma palavra. A Palavra do Senhor. Como água limpa para o sedento que caminha no deserto – à beira da morte. Como alimento para o faminto que não come há dias – nos limites de suas forças. Como abrigo para o doente, cansado e sobrecarregado. Como vida que se renova para aquele que se acha mais morto que qualquer coisa. Assim é a Palavra de Deus, alimento da alma. Assim é a voz do Senhor, que traz o Seu amor ao nosso coração e nos faz lembrar que o amor do Pai pelo filho sempre é e sempre foi incondicional. Palavra do Senhor que é capaz de calar as vozes dissonantes que vieram aos nossos ouvidos para nos ferir. Palavra do Senhor que faz novas todas as coisas e traz à existências coisas que não existiam. Palavra que alimenta, acalma, protege, sustenta, alivia e cura a dor de qualquer palavra maldita, dirigida a nos destruir.
Feridos, caídos no meio do caminho, desesperados por mais do Senhor, podemos estar certos que receberemos alimento, resposta, amor e restauração da parte da Palavra do Senhor. Caídos, somos postos nos braços do Senhor. Bebemos a Água da Vida, que nos traz alento e nos faz novos. Palavra de Deus, Jesus, a Fonte de nossa vida, vê o nosso sofrimento, vem em nosso socorro, restaura as nossas forças e cura o nosso interior. Por meio de uma viva Palavra, que penetra mais que qualquer espada de dois gumes. Que é mais poderosa que qualquer maldita palavra. Feridos, somos resgatados pela viva Palavra do Senhor. Somos trazidos de volta à vida. Creia nisso.

23.11.05

Se Jesus nascesse hoje

Os que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes. Eu vim para chamar os pecadores, não os bons.
Marcos 2. 17

Se Jesus nascesse hoje em Natal, minha cidade, tento imaginar com quem e onde Ele andaria. Uma certeza muito clara que tenho tido é que Ele não andaria com muita gente daqueles que hoje enchem nossos templos religiosos e participam de festas e celebrações em Seu nome. Tenho a impressão que Ele não seria alguém muito “igrejeiro”. Estaria lá, para ensinar, mas vejo em Jesus a experiência da vida de fé vivida no meio do povo. E, mais especialmente, vivida no meio do povo que mais precisava se sentir valorizado.
Se Jesus nascesse hoje em Natal, imagino que vez por outra poderíamos encontrá-lo em igrejas. Em algumas, denunciaria seus pecados de omissão ou de ação contrária à Sua Palavra. Em outras, elogiaria sua capacidade de experimentar uma espiritualidade mais plena. Em umas poucas, manifestaria o entusiasmo de encontrar um povo que segue Seu nome da maneira como Ele sempre desejou. De vez em quando, encontraria crentes de todas as igrejas para lhes encorajar à perseverança, mesmo que sejam desprestigiados em suas comunidades.
Se Jesus nascesse hoje em Natal, imagino que seria bem mais fácil encontrá-lo ao lado dos povos da rua, dormindo sob as marquises do centro da cidade, pedindo nos ônibus com as crianças de fala decorada. Acho que uma hora dessas Ele poderia ser encontrado tomando um cafezinho em uma das muitas desprivilegiadas casas do Paço da Pátria, conversando animadamente com uma senhora, de rosto sofrido, com pouco mais de cinqüenta anos que pesam como se fossem oitenta. Após o café, certamente Jesus iria até a boca de fumo mais próxima – Jesus no meio de uma venda de drogas – conversar com aqueles jovens que nunca tiveram ninguém que os valorizassem, a não ser drogas e traficantes. Em todos esses lugares e momentos, Jesus manifestaria o amor que valoriza as pessoas como elas jamais se sentiram valorizados.
Se Jesus nascesse hoje em Natal, passaria despercebido pela maior parte dos religiosos cristãos de nossos templos e igrejas. Preocupados com normas, ritos e autoridades, não perceberiam que Jesus estava onde sempre andou enquanto esteve nas ruas da Palestina. Jesus não veio para dizer aos que sentiam valorizados que eles tinham valor e faziam tudo certo. Confrontou os fariseus, chamando-os de cegos, possivelmente porque foram incapazes de ver que o Messias veio para os que estão presos, para os que estão famintos, para os que não têm valor. Os que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes. Eu vim para chamar os pecadores, não os bons. Jesus não andaria com os crentes de nossas igrejas. Pelo contrário, nós O encontraríamos lado a lado, em papos animados, com os piores pecadores que podemos imaginar.
Quem me dera ser achado entre aqueles que andariam lado a lado com Jesus. Arrependido, transformado, renovado. Capaz de ouvir Sua santa voz, Seu ensino. Experimentando, em profundidade, o Seu amor renovador, restaurador, amor que nos faz ter novo valor. O Messias esperado não correspondeu às expectativas humanas. Surpreendeu, também ao escolher as coisas que não são do mundo para envergonhar tudo o que tem valor. Quem dera você fosse achado entre aqueles que andariam lado a lado com Jesus nas ruas de Natal. Entre aqueles que reconheceriam a Sua presença entre nós.
O problema é esse. Não reconhecemos a Sua presença entre nós. Não precisamos esperar que Jesus nascesse de novo, em Natal, para estarmos certos de que Ele anda, realmente, nas ruas do Paço da Pátria ou dorme nas marquises do centro da cidade com os moradores de ruas. Se somos incapazes de perceber isso e de viver isso; se nossa vida cristã se resume a uma religiosidade formal e domingueira; se não percebemos que viver Cristo é ir e fazer-se instrumento de Sua paz; se tudo isso, estamos andando longe dEle. Ele anda entre nós. Seu amor está entre nós. Ele fez uma opção pelos pecadores. E deixou uma tarefa para que eu e você a cumpramos. Estar no centro da vontade de Deus não é uma experiência mística qualquer, mas é se colocar como instrumento do Reino de Deus onde o Reino de Deus precisa ser vivido. É levar o valor que Deus dá à humanidade pecadora onde essa mensagem precisa ser ouvida. A começar de nossos corações.

22.11.05

Direito de julgar?

Ó Deus, eu te agradeço porque não sou avarento, nem desonesto, nem imoral como as outras pessoas. Agradeço-te também porque não sou como esse cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana e te dou a décima parte de tudo o que ganho.
Lucas 18. 11 – 12

Em 2002, participei da Escola Dominical em uma igreja em Fortaleza. Naquela manhã, o professor propôs um exercício bem interessante. No meio da sala ele havia separado algumas cadeiras como sendo reservadas. Na verdade, reservadas para personalidades da nossa sociedade, notoriamente conhecidas como pecadores resolutos: Fernandinho Beira-Mar, ACM, Paulo Maluf, etc. A questão contra a qual fomos postos era qual seria a nossa reação se essas pessoas estivessem lá.
Obvio que as respostas giravam em torno das mais cristãs possíveis. Demonstrar amor por eles. Falar-lhes de Jesus. Tentar convencer-lhes a entregarem suas vidas ao conhecimento do Deus Vivo. Mas, confesso, aquilo me incomodou. É muito fácil para nós falarmos “em tese”. Especialmente se a situação se refere a algo que é, verdadeiramente, impossível de vermos. Aquelas pessoas jamais estariam naquela sala. Por isso, era muito distante de qualquer um, discutir aquele assunto. Ou seja, todos nós poderíamos dar, ali, as respostas mais esperadas, mais conformes o que se pensa que o cristão deva fazer. Isso não significava que seriam respostas verdadeiras. Pelo contrário.
Incomodado, propus aos meus irmãos uma outra questão. Disse que era muito fácil falar de algo tão distante. Mas, e quando o pecado acontece no nosso meio? Como reagimos quando uma liderança importante de nossa igreja peca? Ou um irmão próximo a nós? Lembro de ter usado o exemplo daquele que era o pastor do Brasil até sua queda. Disse que havia lido que os livros dele não eram mais comprados, como se o seu pecado posterior tivesse inutilizado a Palavra de Deus em sua vida anteriormente. Para o meu espanto, aqueles jovens endossaram o coro dos que o rejeitavam. Nunca mais ele seria pastor para aqueles meninos e meninas. Seu ministério estava para sempre acabado. Era o fim. No lugar do Deus perdoador e restaurador, eles diziam que era o fim dele.
Eu os respondi. Na época estava no seminário. Disse que se não acreditasse no poder restaurador de Deus e da Palavra de Deus, eu rasgaria a minha Bíblia e voltaria para Natal. Se eu estava ali, me preparando para o ministério para o qual Deus havia me chamado, era porque acreditava que há restauração plena e total na Palavra de Deus e em Sua presença. E se estava no seminário, era porque sabia que o que havia acontecido com aquele pastor poderia acontecer comigo. Eu não era um super-homem. Não era melhor que ele, nem ele era diferente de mim. Se não cresse em tudo isso, não havia razão para ser pastor e estar no ministério. Se duvidasse dessa verdade na minha vida ou na vida de qualquer um, era melhor tentar outra coisa. Comprovei a veracidade de minha fala em alguns meses. Eu mesmo caí de maneira semelhante à do pastor.
Hoje me lembrei dessa história de novo. Reencontrei uma jovem que foi banida de alguns círculos sociais que freqüento. Por causa de um pecado. Conversei com ela um bom tempo. Não porque fosse melhor que os outros, mas por me entender tão pecador quanto os outros, tive por ela o mesmo carinho e atenção de antes. Talvez um pouco mais ampliado por entender que ela precisa de apoio para se levantar. Sei que, possivelmente, envolvido na mesma circunstância que ela estava, agiria da mesma maneira que ela. E entendi que os que a baniram se entendem melhores que ela, lamentavelmente. Não percebem que, no meio da vida, eu, você, ela e qualquer ser humano, somos uns tão pecadores quanto outros. Somos todos igualmente carentes do mesmo perdão e graça de Deus. Sentimentos orgulhosos não convêm a criminosos.
Perdoar é se saber no mesmo patamar do pecador. É se reconhecer pecador. Quem se recusa a dar perdão e a crer na restauração, na verdade, quer acreditar que é melhor que os outros. Não é tão pecador quanto os outros. É mais santo e mais puro. É capaz de perdoar alguém que tem a atitude, concreta e de coração, do cobrador de impostos da parábola. Apenas os fariseus não perdoam, porque não precisam de perdão: Ó Deus, eu te agradeço porque não sou avarento, nem desonesto, nem imoral como as outras pessoas. Agradeço-te também porque não sou como esse cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana e te dou a décima parte de tudo o que ganho.

20.11.05

Sozinho

Olho para os lados e não vejo ninguém que me ajude. Não há ninguém para me proteger, não há ninguém que cuide de mim.
Salmo 142. 4

Eu devia ter uns cinco anos de idade. Havia uma loja do Pão de Açúcar praticamente na esquina da rua onde morava aqui em Natal. Lembro que tinha um certo receio de ir a esse supermercado porque uma casa vizinha a ele tinha um doberman que de vez em quando era visto andando solto na calçada. Eu morria de medo de cachorros, muito mais de raças como doberman. Fui, certo dia, com minha mãe ao supermercado. Naquele eu estava especialmente teimoso. Desobedeci diversas vezes minha mãe que me pedia que não corresse na loja, não saísse de perto dela. Até que... não a vi mais. Lembro de começar a entrar em desespero. Imagine o que significava para uma criança de cinco anos de idade estar perdida dentro de um supermercado. Olhava para os lados e não via ninguém que me ajudasse. Não havia ninguém para me proteger, não havia ninguém que cuidasse de mim. Após uns poucos instantes de desespero – para mim pareceu uma eternidade – senti a mão de minha mãe segurando firme a minha. E aprendi a lição de nunca mais sair de perto da pessoa que me fazia sentir seguro, que me protegia, cuidava de mim e me ajudava.
Nos últimos dias tenho estado com uma canção no coração – canção que escuto agora enquanto escrevo:
Tenho saudades
Saudades de Ti
Minha vontade é
Voltar atrás, onde cai
E recomeçar tudo de novo
E nunca mais deixar
Meu coração se esfriar
Te quero
Preciso do Teu calor

(Quero me apaixonar, Diante do Trono)
Às vezes sinto como se tivesse largado a mão do Senhor, como fiz no passado com a mão da minha mãe. Como se eu tivesse me afastado daquele que me guarda, me protege, que é a minha segurança. Tenho saudades dele. Tenho saudades de andar agarrado à Sua mão como andava com minha mãe. Sinto-me um pouco como quando tinha cinco anos e me perdi no meio do supermercado. Tenho saudades. Aspiro ser reencontrado pelo Senhor. Ser achado por Ele. Recomeçar tudo de novo e não deixar meu coração se esfriar. Porque quero desesperadamente o Senhor, preciso do Seu calor.
Olho para os lados e não vejo ninguém que me ajude. Não há ninguém para me proteger, não há ninguém que cuide de mim. Muitos de nós temos andado e vivido assim. Coisa que não é, em absoluto, necessária. Deus está próximo e disposto a se deixar ser encontrado. Ele quer nos encontrar e mudar a vida da gente. Basta a atitude correta: Eu clamo a Deus, o Senhor, pedindo socorro [só Ele pode nos socorrer – lembre disso e creia nisso!]; eu suplico que me ajude. Levo a Ele todas as minhas queixas e lhe conto todos os meus problemas. Quando estou desistindo, Ele sabe o que devo fazer. (...) Ó Senhor, eu grito pedindo a Tua ajuda. Ó Deus, tu és o meu protetor, és tudo o que desejo nesta vida (Sl. 142. 1 -3 e 5).
O Senhor está bem aqui ao nosso lado. Ao meu lado e ao seu lado. Ele é a nossa força e segurança. Aquele que pode nos segurar pela mão e nos fazer sentir seguros e firmes, como jamais a minha mãe poderia me fazer sentir. Ele está aí ao seu lado. Volte-se a Ele. Clame a Ele. Fale com Ele. Anseie por Ele. E você será achado – seguro pela mão dele – assim como eu fui por minha mãe aos cinco anos, no meio daquele enorme supermercado.

Sem justificativas

Pai, pequei contra Deus e contra o senhor e não mereço mais ser chamado de seu filho!
Lucas 15. 21

Certa manhã acordei assustado com a porta do banheiro de meu apartamento batendo fortemente. Três vezes. Acordei chateado, obviamente. Vocês sabem como é terrível acordar com o som de uma porta batendo. Imagine três vezes. Chateado, sai de meu quarto dizendo a uma das pessoas de casa, ironicamente: Obrigado por me acordar assim. A pessoa respondeu a minha fala justificando que havia esquecido a porta aberta por estar lavando o banheiro. Fiz ver a essa pessoa que não era essa a questão. Não esperava uma explicação. Desejava apenas que me pedissem desculpas. Apenas isso. Não ia ficar chateado pelo resto do dia. Esperava apenas uma fala assim: Desculpa ter feito você acordar dessa forma.
Isso me fez pensar que muitas vezes tudo o que Deus espera de nós é um pedido de perdão, mas tudo o que damos a Ele é uma justificativa. Às vezes, não recebemos o perdão porque, em vez de pedi-lo, preferimos explicar os fatos que nos levaram a pecar – como se Deus precisasse de explicações de nossa parte. O problema é que pedir perdão significa assumir a culpa, o erro – e seria redundante se dissesse o quanto é difícil para o ser humano assumir a culpa. O perdão tem como pré-requisito a culpa assumida e confessada. Mas essa talvez seja a atitude mais difícil de ser tomada pelo homem pecador.
Essa atitude estava presente no Éden. O capítulo 3 conta a história do pecado original, mas também relata o primeiro momento de empurra da humanidade. Ninguém teve condições de assumir a sua própria culpa, sem se justificar. Deus pergunta ao homem: Por acaso você comeu a fruta da árvore que eu o proibi de comer? (Gn. 3. 11). A resposta do homem é evasiva: A mulher que tu me deste para ser a minha companheira me deu a fruta, e eu comi (Gn. 3. 12). O homem se explica, jogando a culpa na mulher. Não assumi sua responsabilidade. A mulher não age de maneira melhor – para ela, a culpa foi da cobra: A cobra me enganou, e eu comi (Gn. 3. 13).
O primeiro passo para a restauração e o perdão da culpa e do pecado é assumi-la. Sem subterfúgios, sem explicações, sem elaborações. É simplesmente assumir-se o pecador que se é. Confessar a Deus a falta. E crer que Ele é fiel e justo para nos perdoar. É simples assim. Sem complicações, sem maiores elocubrações. Pai, pequei contra Deus e contra o senhor e não mereço mais ser chamado de seu filho!