15.10.05

Pareço incomodar

Fora daqui, seu profeta! Volte para a sua terra de Judá e ganhe a vida por lá com as suas profecias. Pare de profetizar aqui em Betel, pois este é o santuário onde o rei adora, este é o templo principal do país.
Amós 7. 12 – 13

O rapper cearense Amaury Fontenele tem uma canção em que se diz consciente do incômodo que provoca: Tem gente que não gosta do que eu falo, parece que eu pareço incomodar, parece que o que eu falo faz um calo na tua consciência, parece que pareço incomodar. Se por um lado o cristão deve ser uma bênção onde estiver, por ser abençoado, a presença de Deus em Sua vida o faz respirar o espírito profético. E o espírito profético, denunciador das situações de morte e de pecado à sua volta, incomoda.
Do mesmo modo que tenho como desejo na vida ser canal da bênção do Senhor na vida daqueles que me cercam, desejo ardentemente ser incômodo, se assim estiver cumprindo a vocação de Deus em minha vida. Não posso abrir mão de obedecer ao Senhor por razão alguma, muito menos por querer ser simpático ou não querer incomodar.
Olho ao meu lado e vejo muita gente vivendo uma superficialidade de vida terrível. É óbvio que para essas pessoas, eu e você, no instante em que nos dispusermos a buscar cada vez mais a intimidade do Senhor e a comunhão com Ele, vamos incomodar. Enquanto o coração de muitos se afasta de Deus, se nós colocarmos nosso coração em buscar a Sua face, sendo transformados dia a dia pela Sua presença, sendo impactados pelo Deus que faz morada em nós, a nossa vida vai ser incômodo para muitos. Nosso ministério e nossa palavra, uma vez que serão a tradução da vida que o Senhor nos quer vivendo e uma denúncia da vida que muitos estão vivendo, serão incômodos tremendos para muita gente. Se nos dispusermos a fazermos a vontade do Senhor, e somente ela, incomodaremos muita gente.
Já falei várias vezes sobre Amós e é a ele que temos de voltar ainda mais uma vez. Ele é exemplo do que estamos dizendo. Um dia, estando no meio de sua fazendo, cuidando de suas ovelhas e das suas figueiras em Judá, Deus ruge como um leão e o convoca a profetizar. Bem que Amós podia não ter dado ouvidos ao rugido do leão e ficado em sua terra, mas quando o leão ruge, quem não fica com medo? Quando o Senhor Deus fala, quem não anuncia a Sua mensagem? (Am. 3. 8)
E lá foi o profeta para o país vizinho de Israel pregar a Palavra que o Senhor havia lhe dado. Mas quem disse que vida de profeta é tranqüila? No instante que o homem e a mulher de Deus se dispõe a falar a Palavra do Senhor, eles incomodam aqueles que não querem o desafio e a mudança que o Senhor convoca. E do incômodo à perseguição é apenas um passo. Incomodados, o rei e o sacerdote de Israel se voltam contra Amós: Fora daqui, seu profeta! Volte para a sua terra de Judá e ganhe a vida por lá com as suas profecias. Pare de profetizar aqui em Betel, pois este é o santuário onde o rei adora, este é o templo principal do país.
A resposta de Amós é simples como simples parece ser o profeta. Aliás, sua simplicidade deve aumentar ainda mais o incômodo que provoca: Deus não está usando o sacerdote, mas antes o simples camponês. Não sou profeta por profissão; não ganho a vida profetizando. Sou pastor de ovelhas e também cuido de figueiras. Mas o Senhor Deus mandou que eu deixasse os meus rebanhos e viesse anunciar a sua mensagem ao povo de Israel (Am. 7. 14 – 15).
Algo assim já aconteceu comigo, como já relatei um pouco anteriormente. Uma liderança da minha igreja local chegou a dizer que não se incomodaria se eu fosse para outra igreja, que eu me tornasse algo como co-pastor dela. Não importava para esse líder o que acontecesse, apenas eu não pregaria ou ensinaria mais na igreja. Quer dizer, da mesma forma como Amazias a Amós, ele me pedia que deixasse a igreja e parasse meu ministério. Parece que pareço incomodar. Eu me senti convidado a deixar a igreja, mas não o fiz porque é o Senhor quem me quer ali.
Você está incomodando por estar fazendo a vontade de Deus? Está incomodando no meio do Povo de Deus? Parabéns, você faz parte do clube privado dos profetas perseguidos, que não são honrados em sua própria pátria. Como estou consciente, cada vez mais, que as palavras de juízo de Deus são prioritariamente contra o Seu próprio povo, ser incômodo dentro da Igreja por fazer a vontade de Deus só pode significar duas coisas: a fidelidade do profeta cheio do Espírito e o juízo iminente do povo. Portanto, não desanime, não volte a trás. O Senhor é o Seu escudo e fortaleza. Ele é o Seu socorro.

14.10.05

Deus de encontro

Voltem para mim, e eu, o Senhor Todo-Poderoso, voltarei para vocês. (...)
Moradores de Jerusalém, cantem de alegria, pois eu virei morar com vocês!

Zacarias 1. 2 e 2. 10

O Deus a quem servimos se revela como Alguém que mora distante de nós, por natureza. É o Deus que está sentado no altíssimo trono de glória. É o Deus que, como gosta de dizer o meu pastor, mesmo que nós estejamos na porta do céu, ainda existe um mar imenso de cristal a nos separar dEle (Ap. 4). Um Deus de quem estamos distante por natureza – Ele é o Criador Infinito e nós, criaturas finitas – e como resultado de nosso próprio pecado – Ele é o Deus santo e nós, os pecadores. Por isso, a imagem bíblica se refere a um Deus do céu, infinitamente distante, e a um homem da terra. Assim como é impossível ao ser humano tocar o limite do céu, é impossível chegar-se a Deus. O Deus distante.
Voltem para mim, e eu, o Senhor Todo-Poderoso, voltarei para vocês. Mas o Deus distante é o Deus de encontro. Na Sua graça e misericórdia tão infinitas quanto Ele mesmo – Ele que é amor e misericórdia em essência – Deus toma a iniciativa e vem até nós para nos encontrar. Ele espera corações ardorosamente desejosos por esse encontro transformador, mas a iniciativa sempre foi dEle.
Esse Deus de encontro e iniciativas deu o passo mais decisivo quando um dia, na plenitude dos tempos, se encarnou como um bebezinho no meio da Palestina tumultada pela dominação romana e o reinado de Herodes. O Deus de encontro veio se encontrar, pessoalmente, com a humanidade através de Cristo. Aliás, veio se encontrar conosco na própria pessoa de Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. No Seu Ser, o Deus de encontro promoveu o encontro do Deus infinito com a humanidade passageira.
Por isso, em toda a Escritura, é constante o convite do Senhor para se encontrar conosco. O Seu coração anseia por esses encontros na mesma forma que os nossos deveriam ansiar. Mas para nós esses encontros são ainda mais fundamentais, porque nossa vida depende disso. Então vocês vão me chamar e orar a mim, e eu responderei. Vocês vão me procurar e me achar, pois vão me procurar com todo o coração (Jr. 29. 12 – 13). O tempo todo, na caminhada com Cristo, somos convidados a desenvolver uma relação íntima e pessoal com o Deus do Universo. Você tem noção do que significa isso? O Deus Todo-Poderoso, Senhor de todas as coisas, se importa tanto comigo e com você que deseja entrar em comunhão conosco. Ele vem ao nosso encontro e nos convida a nos encontrarmos com Ele. Todo dia, de toda forma, intimamente.
Moradores de Jerusalém, cantem de alegria, pois eu virei morar com vocês! A vida com o Deus de encontro é festa e alegria na alma e no íntimo do coração. Ainda que hajam dores e lágrimas, onde o Senhor está há transbordante alegria da parte dEle. E essa alegria se converte em nossa força para suportar tudo e qualquer coisa. Se houver momentos tristes e dolorosos, o Deus que mora conosco – Ele vem morar conosco! – enche de alegria na Sua presença. Ele enxuga as lágrimas e conforta as dores.
Fico imaginando que não há alegria maior para o coração humano, não há alegria maior para o meu coração, do que a certeza de que o Deus de encontro mora comigo! Eu não sou merecedor disso, não é por nada que haja em mim, mas o Deus de amor e de encontro quer ter uma relação mais íntima e profunda comigo. E Ele mora comigo e a Sua alegria transborda em meio peito, domina a minha mente e impulsiona a minha vida. Consciente disso, nessa alegria extática – o Deus de encontro mora comigo! – só me resta celebrar: gritar, dançar, pular, perder o controle porque posso ter comunhão pessoal com o Deus vivo, Deus do universo, que quer se encontrar comigo. E com você. Faz você dançar, faz você cantar, faz você gritar bem alto, grite bem alto que Jesus Cristo é Rei.

P.S.: Faltei ontem. Foi o dia em que entregaria, finalmente, a primeira versão da minha dissertação de mestrado, mas várias coisas não deram certo. Além disso, à noite fui fazer uma palestra em uma escola na zona norte de Natal. Sinto muito a ausência não informada.

12.10.05

O fim das lágrimas

Ele enxugará dos olhos deles todas as lágrimas. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor.
Apocalipse 21. 4

Nos últimos dias, durante a Campanha pelo SIM no Referendo de 23 de outubro, tenho sido tocado pelos testemunhos e lágrimas de diversas vítimas e parentes de vítimas de armas de fogo, que transformaram sua dor em luta. Esta semana, em uma audiência na Assembléia Legislativa do RN, o depoimento, em lágrimas, das deputadas Sandra e Larissa Rosado, mãe e filha, emocionou a todos. No mesmo evento, a fala embargada de um advogado, Daniel Pessoa, que perdeu pai e irmão para as armas, me levou às lágrimas. Muitas lágrimas foram vertidas pelos que sofreram com a tragédia de armas.
Ao mesmo tempo, tem me deixado indignado o desrespeito que tem sido demonstrado com a dor desses pais, filhos, irmãos que têm feito de suas lágrimas combustível para conduzir a sua luta. Aliás, como sabedor que sou que boa parte desses lutadores não conhecem o Senhor Jesus, sei que fazem de sua batalha uma busca para aliviar o sofrimento. Eles têm buscado ombros e mãos que lhes enxuguem as lágrimas da dor sofrida que carregam no peito. E têm percebido que não vão encontrar conforto junto àqueles que os desrespeitam todos os dias na tevê. Muito menos vão conseguir alívio para a dor junto a nós, companheiros de luta. Podemos lhes dar o ombro e chorar com eles, como tenho feito, mas não seremos capazes de lhes dar alívio.
Ele enxugará dos olhos deles todas as lágrimas. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor. Apenas Jesus, somente Ele, pode curar essa dor. Só Ele pode restaurar uma vida estraçalhada pelo sofrimento. Somente a presença dEle e um encontro pessoal com Ele pode enxugar as lágrimas e trazer a alegria ao coração do sofredor. Jesus é o único que é capaz de mudar um quadro assim, acabando com o que é velho – dor, morte e sofrimento -, trazendo vida nova aos corações.
Venham a Mim, todos vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso (Mt. 11. 28). O mundo está repleto de pessoas cheias de sofrimento e dor. Suas lágrimas têm sido pesadas nos corações. Constituem-se em verdadeiros e profundos fardos, cargas que roubam as energias da vida, que matam, pouco a pouco, a alma. O muito sofrer tem deixado muitas pessoas profundamente cansadas, extenuadas. Elas têm caminhado, rapidamente, para o mais fundo, para o mais baixo, para o mais terrível poço e abismo. Sua dor e tristeza roubam-lhe a luz de vida que poderia restar. Elas querem descanso mas, a maioria, não têm sido capaz de conhecer a fonte do descanso, do gozo e da paz. Elas não têm sabido onde aliviar a sua dor. Elas desconhecem o Jesus que as chama para que, indo a Ele, encontrem o repouso e a paz finalmente. Elas não ouviram a voz do Senhor que lhes convida a uma troca maravilhosa: Sejam meus seguidores e aprendam comigo porque sou bondoso e tenho um coração humilde; e vocês encontrarão descanso. Os deveres que eu exijo de vocês são fáceis,e a carga que ponho sobre vocês é leve (Mt. 11. 29 – 30). Ao que está cansado de dor e sofrimento, pesado com as feridas e as lágrimas, Jesus oferece a possibilidade de trocar essa pesada carga por Sua presença e Seu discipulado, nos quais Ele vai conosco e enxuga toda lágrima.
A dor dos outros é terrível demais para ser desrespeitada por quem quer que seja, pelos motivos que forem. Quem sofre, busca alívio. Quem chora, quer conforto. Quem carrega a dor e em quem as lágrimas pesam, não merece descaso, nem merece desrespeito. Muitos têm transformado sua dor em luta, acreditando que, ainda que sejam incapazes de calar o sofrimento, aliviam-no lutando. Essa atitude merece respeito.
Mas, mais que isso, quem sofre precisa de um encontro pessoal com o Deus que livra de toda dor e sofrimento. A pesada dor que muitos carregam no coração, as terríveis lágrimas que muitos têm vertido, só podem ser tocadas pela graça de um Deus vivo e pessoal, que conhece a dor e o sofrimento, que conhece a perda e a morte, que sabe o que é desrespeito e humilhação. Jesus, o Deus que se fez um de nós, sabe o quanto as lágrimas pesam. Por isso, em relação pessoal com Ele, é a única chance que temos de alívio e de descanso em nossa dor e sofrimento. Ele conhece suas lágrimas. Ele sabe o quão duro é o seu sofrimento. Ele convida você a conhecê-Lo ainda mais intimamente para que você permita que o Seu Espírito, no coração dolorido, encontre morada e promova a cura. Enxugue as lágrimas. Restaure da dor. Ele enxugará dos olhos deles todas as lágrimas. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor.

Grandeza

Que é um simples ser humano para que penses nele? Que é um ser mortal para que te preocupes com Ele?
Salmo 8. 4

A imaginação é uma ferramenta muito importante que podemos usar para nos achegarmos mais a Deus, para compreendermos muitas coisas na nossa relação com Ele. Nessa tarde, por exemplo, enquanto orava e meditava na Palavra de Deus, fiz uma viagem na minha imaginação. Em pensamento, fui para bem além de nosso sistema solar, de nossa galáxia. Imaginei-me indo a um ponto em que a terra fosse absolutamente impossível de ser visualizada. Longe no universo, distante de onde estou, pude perceber o quão pequeno eu sou.
Que é um simples ser humano para que penses nele? Que é um ser mortal para que te preocupes com Ele? Não só constatei minha pequenez quando reparei que um mísero ser humano, vagando na epiderme deste terceiro planeta do sistema solar, é algo infinitamente pequeno. Percebi minha pequenez também quando pensei que, por mais enorme e gigantesco que seja o universo, por mais duradouro que ele seja, ele é curto em tempo, e minúsculo diante do Deus que tudo criou apenas pela força da Sua Palavra.
Quando olho para o céu, que Tu criaste, para a lua e as estrelas, que puseste nos seus lugares - que é um simples ser humano para que penses nele? Que é um ser mortal para que te preocupes com Ele? (Sl. 8. 3 – 4). O universo criado tem cerca de 15 bilhões de anos. Seu enorme tamanho, virtualmente infinito, é equivalente à distância que a luz pôde percorrer nessa extensão de tempo. Algo em torno de 473.364 x 109 km -ou seja, 473.364 seguido por mais nove zeros! O que sou eu, com meu metro e oitenta, diante desse universo infinito? Mais que isso: e se você pensar que, para Deus, essa imensidão tamanha não passa de uma gota!
Como pode o ser humano se achar mais do que é? Como pode o coração do homem ser tão repleto de orgulho e vaidade? Como eu posso ser tão vaidoso e prepotente se os fatos me mostram que eu não sou nada? Como posso me sentir especial por qualquer coisa? Que é um simples ser humano para que penses nele? Que é um ser mortal para que te preocupes com Ele?
Não somos nada, mas aí entra em cena a maravilha do Deus que é tudo. Apesar do que somos e de quem Ele é, o Deus que tudo faz e tudo pode, e que criou todas as coisas, se importa com os miseráveis que somos nós. E não de uma forma qualquer, mas ao ponto de ter assumido a nossa natureza, ter se feito um de nós, e ter assumido a nossa morte, a nossa culpa e levado sobre Si o nosso castigo. Como ainda assim posso me sentir no direito de ser arrogante e soberbo? Não há nada em mim que justifique qualquer coisa que o Senhor me faça. Aliás, não há nada em mim que possa, por si, atrair o olhar do Deus do universo. A única coisa que promove isso, e que permite a Deus agir em nosso favor, é o Seu infinito amor. Amor sem fim, amor verdadeiro, amor sem palavras.
Ó Senhor, nosso Deus, a Tua grandeza é vista no mundo inteiro (Sl. 8. 1). Esse Deus enorme é o único dono do louvor, da gratidão, da exaltação e da glória que a criação pode dar. O orgulhoso quer tomar para si o direito de ser louvado. Quer dizer que pode fazer as coisas. Quer dizer que é independente do Senhor. Quer dizer que é poderoso e merecedor das bênçãos do céu.
O que realmente conhece o enorme Deus que se revela, amorosamente, em Cristo, sabe que só pode ter um coração contrito e quebrantado. Reconhece-se pecador e miserável. O que Tu queres é um coração sincero (Sl. 51. 6). Sabe que é pequeno e que não merece nada e não recebe coisa alguma por mérito próprio. Sua única chance é a graça infinda do Senhor do Universo. Por ser humilde e dependente da graça recebe do Senhor o privilégio de Sua intimidade, comunhão e de toda uma vida na dimensão de Sua graça e amor. Vida que não acaba aqui, que não se restringe a ser partícula de poeira do cosmos.

10.10.05

Não consigo

Quando Deus julgar, não terá misericórdia das pessoas que não tiveram misericórdia dos outros.
Tiago 2. 13

Não consigo me compreender servindo ao mesmo Deus de tantas pessoas que, mais ou menos disfarçadamente, são capazes de comemorar milhares de mortes no sul da Ásia, porque encaram a tragédia como um sinal dos tempos ou por apenas verem ali uma ação do juízo de Deus.
Não consigo me compreender servindo ao mesmo Deus de tantas pessoas que somente são capazes de olhar para si mesmas e seu futuro no céu, lançando sua mente e coração ao “celeste porvir”, sem se comprometerem com a transformação do mundo e a manifestação do Reino de Deus no nosso dia a dia. Pessoas que, diante da crise no mundo envolvendo as pessoas à nossa volta, optam por fugir para um mundo místico, trancado em si mesmo. Pessoas assim defendem que não adianta agir porque a vontade de Deus é que todas as coisas piorem mais todos os dias. Para eles é assim que o Deus da Bíblia se revela. Não são apenas pessimistas, são cruéis.
Não consigo me compreender servindo ao mesmo Deus de pessoas que defendem e acreditam na doutrina do quanto pior, melhor. Provavelmente foram pessoas assim que fundaram as igrejas do bairro natalense de Felipe Camarão, o mais violento da cidade e, paradoxalmente, um dos que tem o maior número de igrejas. Igrejas que, possivelmente, por muito tempo se fechavam em si mesmos e se fecharam às comunidades.
Não consigo me compreender servindo ao mesmo Deus de pessoas que comemoram, mesmo que disfarçadamente, o juízo sem misericórdia. Quando Deus julgar, não terá misericórdia das pessoas que não tiveram misericórdia dos outros.
O Deus a quem sirvo chorou diante de uma Jerusalém condenada. Quando Jesus chegou perto de Jerusalém e viu a cidade, chorou com pena dela e disse: - Ah! Jerusalém! Se hoje mesmo você soubesse o que é preciso para conseguir a paz! Mas agora você não pode ver isso. Pois chegarão os dias em que os inimigos vão cercá-la com rampas de ataque, e vão rodeá-la, e apertá-la de todos os lados. Eles destruirão completamente você e todos os seus moradores. Não ficará uma pedra em cima da outra, porque você não reconheceu o tempo em que Deus veio para salvá-la (Lc. 19. 41 – 44). Jesus, o Deus que me salvou, é um Deus que anuncia o juízo em lágrimas: não tem prazer em destruir o pecador.
O Deus a quem sirvo e quero conhecer mais é o Amor que sempre nos traz novas chances. Então Jesus contou esta parábola: - Certo homem tinha uma figueira na sua plantação de uvas. E, quando foi procurar figos, não encontrou nenhum. Aí disse ao homem que tomava conta da plantação: “Olhe! Já faz três anos seguidos que venho buscar figos nesta figueira e não encontro nenhum. Corte esta figueira! Por que deixá-la continuar tirando a força da terra sem produzir nada? Mas o empregado respondeu: “Patrão, deixe a figueira ficar mais este ano. Eu vou afofar a terra em volta dela e pôr bastante adubo. Se no ano que vem ela der figos, muito bem. Se não der, então mande cortá-la” (Lc. 13. 6 – 9). O Deus que nos salva em Cristo é Aquele que está sempre disposto a nos dar mais este ano antes de desistir de nós. Ele não desiste, mesmo quando julga.
E o Deus a quem eu amo é Aquele que começa o julgamento a partir de mim. Que me conduz a pensar primeiro na minha própria situação de pecado antes de imaginar qualquer ação de juízo sobre outras pessoas. É nisso que somos instigados a pensar quando Jesus nos desafia a deixar de ser hipócritas: Por que é que você vê o cisco que está no olho do seu irmão e não repara na trave de madeira que está no seu próprio olho? (Mt. 7. 3). É por isso que Ele nos faz pensar na Lei de Talião primeiro contra nós mesmos, nos convocando a sermos muito mais intransigentes conosco mesmos: Se uma das suas mãos ou um dos seus pés faz com que você peque, corte-o e jogue fora! Pois é melhor você entrar na vida eterna sem uma das mãos ou sem um dos pés do que ter as duas mãos e os dois pés e ser jogado no fogo eterno. Se um dos seus olhos faz com que você peque, arranque-o e jogue fora! Pois é melhor você entrar na vida eterna com um olho só do que ter os dois e ser jogado no fogo do inferno (Mt. 18. 8 – 9).
O Deus a quem amo me exige intransigência contra o pecado, não no juízo dos outros, mas principalmente contra o pecado em mim mesmo. Para que eu entenda que o Deus a quem sirvo é o Senhor pleno de misericórdia: Dêem graças a Deus, o Senhor, porque Ele é bom; o Seu amor dura para sempre (Sl. 136. 1). E é por isso que Ele me diz que quando julgar, não terá misericórdia das pessoas que não tiveram misericórdia dos outros.

9.10.05

O valor de uma decisão correta

A sabedoria vale mais do que armas de guerra, mas uma decisão errada pode estragar os melhores planos.
Eclesiastes 9. 18

Todos nós já passamos por situações em que nos víamos diante de uma decisão que julgávamos de vida ou morte. Lembro que na adolescência comecei a pensar no vestibular como uma decisão final para a minha vida. A escolha que fizesse ali teria conseqüências extremas para o resto dos meus dias, eu imaginava. Todo o meu futuro dependia da decisão correta. Uma decisão errada estragaria tudo.
Optei por jornalismo. Não era crente ainda. Entrei na faculdade apaixonado por aquela que era a profissão de meu pai. E continuo apaixonado por essa profissão quase dez anos depois, se bem que outras paixões, talvez mais importantes, foram somadas à minha vida.
No primeiro ano de faculdade me converti e comecei a me ver desafiado para mais uma decisão fundamental. Tinha a ver com vocação de Deus na minha vida. Dia a dia, percebi minha paixão pelo estudo da teologia e por transmitir a Palavra de Deus. Comecei a ser desafiado para estudar Bíblia e teologia. Era momento de tomar uma decisão fundamental: continuar a faculdade? Ir para o seminário? Por fim, fui para o seminário apenas depois de terminar o curso de jornalismo.
O que eu quis dizer com essa história? Quero explicitar que todos temos decisões importantes a tomar todos os dias. Talvez nem todas sejam escolhas entre a vida e a morte, mas algumas delas são escolhas particularmente decisivas. Muitas vezes eu e você nos vemos em uma verdadeira encruzilhada na vida. Sabemos que devemos tomar uma decisão importante, mas parece que o grau de importância sempre é diretamente proporcional à dificuldade de escolha. Nesse hora, todo o cuidado e toda cautela são essenciais, porque uma decisão errada pode estragar os melhores planos.
Já tive ocasião de aconselhar um amigo sobre o fim de seu noivado. Ele vive uma relação complicada e um tanto doentia com sua noiva. Brigam muito e por besteiras. Desentendimentos constantes e profunda falta de harmonia. A maior parte do tempo os vejo chorando pelos atritos. É momento de ele tomar uma decisão radical. Perguntei a ele: É esse tipo de relacionamento que você quer para o resto de seus dias? Decisão difícil a ser tomada. Decisões como essa nos são exigidas todos os dias. E como viver assim, se na vida somos condenados a escolhas, muitas delas difíceis, todos os dias? Uma decisão errada pode estragar os melhores planos.
A Bíblia nos traz uma resposta à nossa necessidade de escolher: As pessoas podem fazer seus planos, porém é o Senhor Deus quem dá a última palavra (Pv. 16. 1). A melhor saída para não errarmos em nossas decisões é dependermos inteiramente do Senhor. Só pode ter garantia das escolhas e decisões certas aquele que abre os ouvidos para ouvir a voz orientadora do Senhor. Só temos certeza de que as decisões são corretas se as deixamos nas mãos do Senhor. Quando, então, tivermos uma decisão das mais importantes para tomar, entreguemo-la às mãos do Senhor. Ele tem acesso às melhores informações e Ele conhece os planos que têm a nosso respeito. O melhor caminho para a melhor escolha é deixá-la nas mãos de Deus.
Por isso, a melhor escolha que temos a fazer é escolher o caminho da comunhão e intimidade com o Senhor Jesus. É desejar conhecê-lo em profundidade, por meio de Sua Palavra, em devoção, intimidade. É conhecê-Lo o mais a fundo possível para termos o coração aberto, rasgado, contrito diante dEle e, assim, ouvirmos a Sua voz, o Seu desafio, a Sua orientação, a Sua Palavra e a escolha que Ele tem para nós.
Todos os dias temos escolhas difíceis a fazer. A vida é composta disso. Precisamos escolher o melhor caminho porque cada um de nós bem conhece o valor de uma decisão correta porque já experimentou os resultados de uma decisão errada. E o melhor caminho para diminuirmos os riscos de erros fatais nas escolhas que fazemos é buscar à face do Senhor e deixar em Suas mãos a escolha que há de ser feita. Aqueles que temem o Senhor aprenderão com Ele o caminho que devem seguir (Sl. 25. 12). O Senhor, o nosso Deus, a quem buscamos em intimidade, nos revelará as melhores escolhas se deixarmos em Suas mãos as decisões. Porque é dEle que vem a resposta certa. É Ele quem mostra o caminho a seguir. E é impossível que Ele tome a pior decisão ou escolha a pior saída.