7.1.17

No coração quebrantado

O coração quebrantado, disposto a amar,
não escapa, nem por um minuto, da percepção de Deus.
Salmo 51.17



Dizem que conhecer a opulência de Roma em seu tempo teve profundo impacto em Francisco de Assis. Havia um contraste imenso entre o que ele e sua ordem entendia do evangelho (como a necessidade de imitar a pobreza de Cristo) e a riqueza da corte do Vaticano.

Aquela riqueza era sinal de poder, mas manifestava também uma certa concepção de relacionamento com Deus. Basicamente, uma visão que atribui aos templos um lugar especial para nos encontremos com o Senhor, que lida com os bens como manifestação de sua graça e com a riqueza como demonstração de sua majestade.

Em suma, a meu ver, esse contraste atualiza a conversa entre Jesus e a mulher samaritana (Jo. 4). O debate é sobre onde e de que forma deve ser o culto e o relacionamento com Deus: na simplicidade ou na opulência? Na basílica ou na caverna? Com ouro ou com madeira?


O que conta para Deus é quem você é e como vive. Seu culto deve envolver o seu espírito na busca da verdade. Este é o tipo de gente que o Pai está procurando: aquele que é simples e honesto na presença dele, em seu culto. Deus é Espírito, e quem o adora deve fazê-lo de maneira genuína, algo que venha do espírito, do mais íntimo do ser.

João 4. 22-23



Jesus esclarece definitivamente: a relação com Deus é espírito, não depende nem se relaciona a nenhuma forma exterior, nenhum templo, nenhuma regra - se relaciona unicamente ao coração. É no coração que nos encontramos com o Deus de Jesus.

E o caminho começa com aquilo que diz o Salmista:


O coração quebrantado, disposto a amar,
não escapa, nem por um minuto, da percepção de Deus.



O caminho começa com um coração que se quebranta, que não é orgulhoso, que conhece a si mesmo, que sabe suas próprias falhas, que reconhece sua fragilidade e sua ignorância. Um coração que chora porque dói, mas se alegra porque é grato. Um coração que reconhece e confessa os pecados, que aceita o perdão. Um coração, em suma, que abraça a humanidade sem discutir muitas coisas.

Esse é um coração disposto a amar porque é um coração que se sabe nenhum pouco melhor do que ninguém. Um coração que reconhece seu lugar, sua pessoa, que sabe de si e, sabendo de si, pode mergulhar em uma relação amorosa com Deus e com o próximo.

É esse coração que não pode se esconder do olhar amoroso de Deus, que não escapa de sua graça, de seu cuidado. É esse coração que Deus encontra. É nesse coração que a graça e a verdade se beijam. É aí que há culto, que há celebração, que há gozo, que há paz.

É no coração quebrantado e alcançado por Deus que Senhor mergulhar para se relacionar conosco, nos amar, nos tocar, promover a festa de um culto que seja verdadeira adoração e que nos impulsione, a cada instante, para a vida verdadeira - a vida que foi tocada e movida pela eternidade.

6.1.17

O sofrimento que acompanhará a tarefa

Mas o Senhor disse: “Não discuta! Eu o escolhi como meu representante pessoal entre judeus, outros povos e reis e agora estou prestes a mostrar a ele o que o aguarda — o sofrimento que acompanhará a tarefa”.

Atos 9.15-16



Ainda que queiramos negar, o sofrimento faz parte da vida. Claro que isso não é bom nem é agradável, mas nenhum de nós pode passar incólume. As coisas quase nunca estão sob controle e fatalidades são parte de nosso dia a dia.

Lembro que em março de 2015 eu estava numa reunião de orientação com um aluno em uma livraria de Fortaleza quando o telefone tocou para me informar que minha filha sofrera uma queda na escola e tivera uma grave fratura no braço direito. Eu praticamente tive que largar tudo para voar para Natal a fim de acompanhá-la.

Fatalidades ocorrem em todos os níveis. Podemos procurar nos preparar para o sofrimento e a dor mas cada um de nós já aprendeu que seremos sempre surpreendidos, como o foi, por exemplo, o justo Jó.

O problema, no entanto, não é a dor e o sofrimento. O problema é toda uma sorte de receitas que estão disponíveis no mercado para convencer-nos que é possível fugir da dor e do sofrimento.

Essas receitas se encontram, especialmente, no mundo religioso e, infelizmente, também no ambiente cristão.

Há muito evangelho sendo pregado por aí que oferece a cura de toda dor e sofrimento, a fuga do que disfuncional, Há muita igreja na qual se chega e a promessa é de uma vida plenamente feliz o tempo todo, sem que nada possa dar errado. E se algo não funciona, a culpa é do fiel que pecou ou a quem foi faltou fé - ampliando o próprio sofrimento.

Dia desses um amigo me chamou atenção para esse trecho de Atos, no qual o Senhor conversa sobre Paulo récem-convertido com Ananias:


agora estou prestes a mostrar a ele o que o aguarda — o sofrimento que acompanhará a tarefa.


A primeira promessa a Paulo não é aquela de uma vida tranquila. A primeira promessa a Paulo é que ele sofrerá. Experimentando a salvação, servindo a Deus com o seu ministério, anunciando o evangelho de Jesus: a tudo isso lhe acompanhará sofrimento.

Viktor Frankl diz que no sofrimento é nosso papel dar sentido a ele. Só assim poderemos sobreviver a ele. Isso não significa que vamos buscar o sofrimento de iniciativa própria ou que, podendo evitá-lo, não o faremos.

Ter certeza de que na vida sofreremos não pode significar nenhuma postura masoquista de busca desenfreada do sofrer, nem pode significar a negligência com o evitar a dor desnecessária.

Só precisamos saber: sofrer é parte da vida, mas não é o fim da vida.

Que não nos surpreendamos quando a vida doer e que saibamos que é justamente nessas horas que Jesus vai nos carregar no colo.

5.1.17

Pés no chão

Por que estão parados, olhando para o céu?
Atos 1. 11


Por que seguir Jesus? Qual a razão de termos um compromisso com Deus a partir da compreensão cristã de que Jesus de Nazaré é o Filho de Deus? Quais as nossas motivações para sermos cristãos?

O livro de Atos, segunda parte do relato de Lucas - que começou no evangelho, começa com a despedida de Jesus Ressurrecto de seus discípulos. Jesus informa sobre a vinda do Espírito Santo sobre sua comunidade e o seu papel na missão que esta comunidade tem a desempenhar - “Vocês vão receber o Espírito Santo e, quando ele vier, vocês serão minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até mesmo os confins da terra” (At. 1. 8).

Após isso, os discípulos virão Jesus subir aos céus e desaparecer nas nuvens - ao mesmo tempo dois homens, que identificamos como anjos, se postam ao seu lado e os questionam:


Por que estão parados, olhando para o céu?


Qual a razão de seguir Jesus?

Não tenho dúvidas que se fizesse uma enquete e contasse com a honestidade de cristãos, em geral, as respostas circulariam em torno da salvação da alma do inferno e o benefício nesta vida em forma de bens, saúde, felicidade. Em quaisquer casos, me parece, a tendência dos cristãos é alienar-se do mundo, da vida presente, empurrando toda e qualquer consequência ou objetivo de sua ação religiosa ou para bênçãos ou, mais frequentemente, para o pós-morte.

Quando pensam em Espírito Santo, falam de dons, de revelações, curas.

Em outras palavras, como seguidores de Jesus vivemos olhando para o céu. Lembro de uma canção antiga em que a cantora enfatizava que queria ir para lá e lamentava não poder ainda estar lá - lá, no caso, era o céu.

Essas ideias não combinam com o que o Novo Testamento nos fala sobre ser seguidor de Jesus, em particular no texto que eu destaquei.

Em primeiro lugar, seguir a Jesus tem a ver com entender que o Espírito Santo está conosco como o Poder de Deus para nos impulsionar à missão a que o Mestre nos chamou. O Espírito está conosco para nos estimular de que vale a pena viver por essa causa - é uma causa pela qual vale a pena viver e, eventualmente, valeria a pena morrer. Ele é a energia dentro de nós para dizer: o evangelho de Jesus é o melhor projeto de vida, não encontraria nada melhor que seguí-Lo e preciso contar isso a outras pessoas, seja em Jerusalém, Judéia, Samaria ou nos confins do mundo conhecido. É o Espírito que nos diz: vale a pena.

Além disso, as palavras dos anjos devem servir para que compreendamos: olhar para o céu é perda de tempo. Seguir Jesus é ser chamado à vida e a vida acontece aqui e agora. Tire os olhos dos céus e coloque os dois pés firmes na terra.

Não somos chamados para seguir Jesus nem recebemos o Espírito Santo para esquecermos de viver neste mundo, manifestando o evangelho neste lugar, dizendo a todos que vale a pena seguir Jesus, vale a pena viver por Ele e para Ele - que a vida, não a morte ou o céu, é melhor andando com Jesus e com o seu Espírito a encher nosso coração.

Por que valeria a pena decidir-se pelo seguimento a Jesus? Porque a vida é mais rica e mais vida ao lado dele, na dimensão do Espírito Santo e o impulsionado por Ele todos os dias.

4.1.17

Salvação

Hoje é dia salvação nesta casa!
Lucas 19. 9


Ao ser anunciado, o Filho de Deus recebe dois nomes. Obviamente, o nome de Jesus, dado pelo anjo Gabriel (Lc. 1. 31). Mateus 1. 23 refere a profecia de Isaías e oferece o nome Emanuel. Emanuel significa “Deus conosco”. Jesus, “Deus salva”.

Em resumo, a vinda e a vida de Jesus significavam a presença de Deus no meio de nós, tornando-se um de nós, um Deus que no nosso meio nos salva.

Onde Jesus esteve, trouxe salvação.

Salvação, nos evangelhos, tem a ver com uma saída para a dor, para o sofrimento, para a doença e para a desesperança. Salvação é um convite e mobilização para uma vida mais intensa e verdadeira. Ser salvo é ser chamado a viver e viver com intensidade. Ser salvo é ser libertado da morte.

O relato sobre Zaqueu testemunha do Deus que salva, do Deus que está conosco e que promove vida e salvação só por estar presente.

O chefe dos cobradores de impostos queria tanto ver Jesus que subiu em uma árvore. Jesus também queria ver Zaqueu - mais que isso, Jesus queria partilhar o pão com Zaqueu.

A salvação começa com o acolhimento, com os braços apertos, com a disposição de compartilhar o pão, com o compromisso de estar junto, com a ausência de olhos que julguem, mas com a presença de mãos que ajudam.

A salvação entrou na casa de Zaqueu. A salvação pode sempre entrar em nossas casas.

Quando a abrimos ao Messias e, mais que isso, quando a abrimos ao perdão, à comunhão, ao acolhimento, ao partir do pão.

Na minha experiência pessoal, já vi Jesus nas casas de pessoas que me socorreram, já deixei de ver na casa de cristãos que viraram as costas.

Recentemente, no meio de uma severa depressão, publiquei um bilhete suicida no Facebook e fui me matar. Uma de incontáveis tentativas - a única, no entanto, que tornei pública. Poucos dias depois, desativei temporariamente minhas redes sociais. Precisava me cuidar e vi Jesus em muitos que me estenderam a mão, me ofereceram o ombro e têm me ajudado a salvar-me.

No entanto, de imediato e por dias seguidos, tive conversas, recebi mensagens e comentários tenebrosos, feitos em nome de Jesus. Dolorosos.

A maior parte, pessoas me dando lições e me passando carões. Outra parte, pessoas duvidando de mim e de minha doença. Uma terceira, pessoas me ensinando como encontrar Jesus.

Todos os três tipos de comentário me fizeram muito mal. Faziam-me pensar que as pessoas nunca leram em suas Bíblias sobre não pisar a cana quebrada nem apagar o pavio que fumega (Mt. 12.20). Mais que isso: tais pessoas me faziam pensar onde estava Jesus, o Deus conosco? Onde estava a graça da salvação a ser trazida pelos cristãos a alguém em tão terrível situação?

Quando Jesus entra numa casa, Ele traz salvação porque Ele é a salvação. Ele nos salva da dor, da morte, da escuridão. Mas só há um jeito de Ele entrar nas casas, como fez na de Zaqueu, nos dias atuais: através de mim e de você. Só tem um jeito de Jesus ser conhecido: através dos seus discípulos.

A minha pergunta é: que Jesus nós temos levado à casa das pessoas? O que é Deus conosco e nos salva ou um que pisa a cana quebrada e apaga o pavio que fumega?

Jesus está aqui: Hoje é dia salvação nesta casa!


3.1.17

Próximo a Deus

Então, vocês se verão do lado de fora, ao relento, estranhos em relação à graça. Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas passarão na frente de vocês em direção ao Reino de Deus. Vocês verão estrangeiros, vindos de todas as partes do mundo, sentados à mesa do Reino de Deus, enquanto vocês vão estar do lado de fora, espiando pela janela — tentando descobrir o que aconteceu.

Lucas 13. 28-29



O que nos aproxima de Deus?

As respostas humanas são variadas e historicamente diversas, mas resumem-se, em geral, no mesmo sentimento de religiosidade e espiritualidade - dos tempos primitivos até aqui.

No Gênesis, a religião se inicia com Enos: “Foi nessa época que as pessoas começaram a orar e a prestar culto ao Eterno” (Gn.4. 26).

A religião é um movimento humano na tentativa de encontrar relação com a Realidade Última da Existência, o Eterno, a Divindade. Desde que se deparou com o seus limites, o principal deles a morte, o ser humano estabeleceu tentativas de rituais e cerimônias para apaziguar Deus ou para que houvesse com Ele algum tipo de relacionamento.

Com o tempo, os modos religiosos politeístas foram sendo suplantados por formas monoteístas de relacionamento religioso.

Até que surge uma nova modalidade de crença em Deus, talvez inédita. Os hebreus passaram a acreditar que, mais do que um movimento humano na direção do Eterno, a religião era um movimento do Eterno na direção do humano.

Faz tempo que venho observando a aflição do meu povo no Egito. Ouvi o povo clamar por livramento das mãos dos seus senhores e conheço muito bem o sofrimento dos israelitas. Agora desci para ajudá-los, para livrá-los do domínio do Egito, tirá-los daquele país e levá-los para uma terra boa, ampla, cheia de leite e mel, hoje habitada por cananeus, hitititas, amores, ferezeus, heveus e jebuseus (Ex. 3. 7-8)

Como esse povo não iria se achar especial? Como não pensaria que nascer hebreu era suficiente para ter relacionamento íntimo com Deus? Como não estabelecer a regra de que seus rituais e seus cultos eram os únicos possíveis para que o ser humano pudesse conhecer o Eterno?

Tal processo de institucionalização da fé e da religião é uma realidade até os dias atuais - agora, talvez, outras religiões se arvoram também como as únicas possíveis e corretas.

Era assim nos dias de Jesus e a sua parábola denuncia tal questão.

Então, vocês se verão do lado de fora, ao relento, estranhos em relação à graça. Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas passarão na frente de vocês em direção ao Reino de Deus. Vocês verão estrangeiros, vindos de todas as partes do mundo, sentados à mesa do Reino de Deus, enquanto vocês vão estar do lado de fora, espiando pela janela — tentando descobrir o que aconteceu.

Os religiosos de Israel acreditavam que o que lhes garantiria um lugar no Reino de Deus era o pertencimento étnico ao povo judeu e o seguimento de suas regras e condutas religiosas.

Jesus alerta, no entanto, que o acesso ao Reino de Deus é a graça e é de graça - não existe garantia étnica ou religiosa: "vocês se verão do lado de fora, ao relento, estranhos em relação à graça”.

Pelo contrário: até os mais inesperados convidados estarão à mesa do Reino de Deus. Os que se fiam na religião tentarão descobrir o que aconteceu, enquanto aqueles que a religião desprezaria sentarão ao lado de Jesus.

A relação íntima com Deus por meio de Jesus está aberta a quem deseja, para além das circunstâncias e regras religiosas.

Este é o tipo de gente que o Pai está procurando: aquele que é simples e honesto na presença dele, em seu culto. Deus é Espírito, e quem o adora deve fazê-lo de maneira genuína, algo que venha do espírito, do mais íntimo do ser (Jo. 4. 23-24).
Religião alguma supera o coração como instrumento adequado para que estabeleçamos uma relação íntima com o Eterno.

2.1.17

Maturidade

Diferentemente da cultura dominante, que sempre os arrasta para baixo, ao nível da imaturidade, Deus extrai o melhor de vocês e desenvolve em vocês uma verdadeira maturidade.
Romanos 12. 2



Sou professor e, como professor, tenho um objetivo principal em sala de aula, independente de qual seja a disciplina que esteja ministrando - e esse objetivo nada tem a ver com o conteúdo ou desempenho acadêmico da turma, com notas, com aprovação ao fim do semestre.

Meu objetivo, aliás, também não tem nada a ver com a receptividade e aprovação dos estudantes ou dos colegas ao meu trabalho.

Como professor meu propósito principal é que, ao fim do semestre, cada estudante possa sair como um ser humano melhor, mais maduro e mais pronto para a vida.

Logo, cada conteúdo que eu tenho de ministrar por causa da estrutura curricular e ementa das disciplinas é abordado na perspectiva de saber como aquilo pode impactar - e de que forma - na nossa vida.

Antes de formar jornalistas, meu objetivo é ajudar pessoas a alcançarem sua maturidade.

Sei que nem sempre é possível e sei que, como professor, sou falho inclusive na maturidade, humildade e nas minhas condições em sala de aula.

Exemplo disso foi-me relatado por um amigo na universidade que, falando sobre um determinado aluno meu, me disse que insatisfeito com minhas brincadeiras tal estudante pensou em me processar. Eu que sempre procuro respeitar os limites que os estudantes me põem, aprendi da necessidade de cuidar disso mais atentamente.

Sou consciente, portanto, que por mais que tente arrastar os meus estudantes a um nível mais alto e maduro, provavelmente algumas vezes estarei arrastando-os para baixo e, na maior parte do tempo, não serei capaz de levá-los tão alto assim. Porque esse é o papel de Deus.


Deus extrai o melhor de vocês e desenvolve em vocês uma verdadeira maturidade.


O mundo à nossa volta, às vezes até os nossos amigos, sempre nos arrastará para baixo. E experimentaremos aquela frustrante sensação de nos esforçarmos muito para sermos alguém melhor, para sairmos do lugar em que estamos, do nosso passo empacado, e, de repente, sermos abatidos em pleno voo pelo petardo de alguém que, conscientemente ou não, quer nos ver no chão.

De um lado, isso devia nos fazer preocupar com aqueles amigos, parentes ou profissionais que elevamos à categoria de conselheiros, e afastar do papel todos aqueles que não ajudam a vida a fluir mais alto, mais perto de Deus.

De outro, podemos nos render diante de Deus. Não há ninguém melhor que Ele para cuidar de nós. Ele extrairá de nós o melhor que nós somos. Ele nos fará maduros. Essa é sua vontade perfeita, boa e agradável.

Se o perfeito Deus tem uma vontade boa e agradável e ela inclui extrair o melhor de vocês e desenvolver em você uma verdadeira maturidade, não há ninguém mais a quem você deveria confiar a vida.

Não se deixe arrastar-se ao nível da imaturidade, mas abra seu coração ao perfeito cuidado do Senhor.

1.1.17

Aflição

Se esses dias de aflição seguissem o curso normal, ninguém suportaria.
Marcos 13. 20


Talvez porque 2016 tenha sido, provavelmente, o pior ano de minha vida, chamou minha atenção a quantidade de pessoas nas redes sociais e em outros espaços falando de quão ruim o ano que passou foi.

Não apenas por causa das crises (econômica, política, social) que enfrentamos em nosso cotidiano - e que, infelizmente, não foram magicamente resolvidas quando o relógio bateu a primeira meia-noite de 2017. Parece que todos nós passamos por crises pessoais intensas, por sofrimentos, por dores. Doenças graves, rupturas, brigas, inconstâncias, tragédias, mortes: ninguém, com raras exceções, pareceu feliz com 2016 nos últimos instantes do ano.

Foi um ano aflitivo até o fim.

Mas a palavra de Jesus nos ajuda a perceber o cuidado de Deus:


Se esses dias de aflição seguissem o curso normal, ninguém suportaria.



Quando passamos por uma forte aflição é possível considerar que não dá mais para suportar. No enfrentamento de uma doença grave em 2016 vários amigos e parentes me ouviram vaticinar que eu não tinha mais como suportar. E era a mais pura verdade: eu não teria suportado se dependesse unicamente de mim.

Como destaca Rob Bell, Deus é o nosso Pai que sabe o caminho seguro e nos protege em seus braços - como Ele, no rumo de casa, estamos seguros. Vai chover, vão cair tempestades, vamos ter frio, medo, aflição, podemos até nos machucar, mas a certeza que podemos ter é o cuidado e a proteção do Senhor em todo tempo.

Se 2016 foi um ano difícil, podemos estar certos que, se não sucumbimos, foi devido à ação amorosa de Deus.


Se o Eterno não tivesse nos socorrido
— todos juntos agora, Israel, cantem! —;
Se o Eterno não tivesse nos socorrido
quando todos foram contra nós,
Teríamos sido engolidos vivos
por uma onda de violência,
Afogados pela enchente da ira,
arrastados pela correnteza.
Teríamos perdido a vida
naquelas águas agitadas e violentas.

Salmo 124. 1-5



Em suma: 2016 foi um péssimo ano, mas poderia ter sido pior não fosse o cuidado do Senhor conosco - cuja constância podemos contar em 2017.

Se esses dias de aflição seguissem o curso normal, ninguém suportaria.