15.3.05

Rei dos Reis e Senhor dos Senhores

Na capa e na perna dele estava escrito este nome: Rei dos Reis e Senhor dos Senhores.

Apocalipse 19. 16.

O último nome que aparece nessa passagem de Apocalipse é o de Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. Havia um grande problema em ser cristão no Império Romano. Fazia parte da ideologia religiosa do Império tratar o imperador como Deus. Uma vez por ano, todos deviam tributar um culto de adoração a César. Diziam que ele era o Senhor. Aliás, a palavra César tem a mesma origem de Kyrios, Senhor. A confissão de fidelidade a Roma era a afirmação de que César era o Senhor. Mas que isso, os romanos eram obrigados a crer que o seu imperador era divino. Um dos seus títulos era de Augusto, o divino. O imperador romano, o grande opressor, exigia que todos o tratassem como Deus.

Aqui havia um sério problema para os cristãos. Para os cristãos, só há um Senhor: Jesus. A confissão básica da fé cristã é que Jesus é o Senhor. Nunca um cristão se curvaria para declarar César Rei e Senhor, porque o seu Rei e seu Senhor era Jesus Cristo. Por isso, os cristãos seriam facilmente vítimas de perseguição. Facilmente eles seriam acusados de rebelião e subversão. Eles colocavam em xeque a confissão básica de unidade do Império.

É aqui que ganha importância essa nome que Jesus traz na coxa e na capa. João está lembrando que do ponto de vista humano, César pode ser Rei e Senhor. Mas Jesus está acima dele e acima de qualquer poder humano. Ele, sim, é Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. João lembra à Igreja que os poderosos da terra podem ter poder, mas Jesus é maior que todos eles.

Lembra daquele momento em que Pilatos diz a Jesus que tem autoridade para livrá-lo ali mesmo, e Jesus lhe responde que nenhum poder ele teria se do alto não tivesse sido dado? Romanos 13. 1 também nos lembra que o poder humano, qualquer que seja ele, por ser constituído por Deus, é absolutamente submisso a Deus.

Os poderes do mundo podem tentar oprimir o povo de Deus. Podem perseguí-lo. Podem tentar destruí-lo. Podem mesmo matar homens e mulheres de Deus. Mas eles não são maiores do que Jesus, Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. Mesmo se espiritualizarmos as coisas, e pensarmos em principados e potestades espirituais que nos assediam a todo instante, devemos nos lembrar que o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores é maior que estes, está conosco, nos dá a vitória final e os subjuga. Aliás, os venceu, despojou e expôs à humilhação eterna na Cruz do Calvário (Cl. 2. 15).

Um dia, todo joelho se dobrará, toda língua confessará que Jesus é o Senhor. Por isso, os cristãos não podiam se prostrar, dizendo que César era o Senhor. Os próprios Césares confessarão que Jesus é o Senhor. Porque rei humano algum pode desejar se igualar em poder a Jesus. Todo poder humano se submete ao poder de Deus.

Se a Igreja estava sofrendo pela opressão do Império podia ter a esperança restaurada pela certeza de que só Jesus é o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. Aquele que desce do céu para livrar o Seu povo é o Senhor da história e de todas as coisas, e porá fim a todo sofrimento. Ele tem a História nas mãos e por fim livrará e abençoará o Seu povo. Ele tem todo poder.

14.3.05

A Palavra de Deus

Ele se chama a Palavra de Deus
Apocalipse 19. 13.

Um outro nome pelo qual Jesus é chamado nesta visão de João é Palavra de Deus. Este é uma das formas mais fundamentais pelas quais o Senhor é chamado no Novo Testamento. Já no evangelho de João, desde o seu primeiro versículo, Ele é conhecido como a Palavra de Deus, que existia antes do mundo, estava com o Pai desde o início, e por meio de Quem Deus criou todas as coisas (Jo. 1. 1 – 3).
Dizer que Jesus é a Palavra de Deus é afirmar que Ele é a revelação de Deus. Somente por meio dEle podemos ter conhecimento acerca do Senhor Deus. Ele veio ao mundo e foi até a cruz para revelar ao mundo o Deus vivo, que se importa a tal ponto com o homem, que desce a fim de livrá-lo da morte e do pecado. E, mais do que isso, escolhe o caminho da Cruz pela nossa libertação e vida. Ele é a Palavra de Deus, por meio de Quem podemos ter a vida de Deus. Por meio dEle, conhecemos o único Deus verdadeiro. Por meio dEle podemos conhecer a salvação. Por meio dEle podemos ter vida, ainda que tudo conduza à morte. E por meio dEle podemos nos achegar ao Deus que vem em nosso socorro.
E, em um contexto de sofrimento e perseguição, o texto traz o conforto de nos lembrar que Jesus, a Palavra de Deus, é capaz de gerar a vida, de trazer libertação, de fazer novas e boas todas as coisas. Por meio dEle, mesmo a pior perseguição e o pior sofrimento podem redundar em glória a Deus e em bênçãos para nós.
Em um contexto de sofrimento, saber que Jesus é a Palavra de Deus é tranqüilizador porque podemos estar certos de que Ele é o cumprimento de todas as promessas de Deus. Nele, a Palavra de Deus, o próprio Senhor nos dá o Amém para todas as coisas. Ele é a certeza do livramento final.
Mais ainda. Ele é a Palavra de Deus que traz à existência as coisas que não são. Deus cria todas as coisas por meio da Sua Palavra. Se estamos no deserto, sem solução e sem saída, pela Sua Palavra, Deus trará a solução, mostrará saída, fará brotar rios no deserto e caminhos no ermo. Para a Sua Glória, no Seu tempo, nos abençoará com a libertação e o livramento.
A Palavra de Deus, impressa em nosso coração, é Quem nos guia nas decisões de nossa vida. Orienta-nos na vida de santidade e de correção que somos vocacionados a viver. Sob a Palavra, que é lâmpada para os pés e luz para o caminho, não vivemos mais sob nenhum jugo, nenhuma escravidão. O nosso caminho é o caminho da verdade libertadora de Jesus. A Lei do Espírito da Vida, a Palavra reinando nos corações.
Jesus, a Palavra de Deus, faz todas as coisas novas, porque é isso que a Palavra de Deus, por meio de Quem Deus se revela, faz no universo. Há opressão? Há sofrimento? Há morte? Há dor? Não serão eternos, não durarão mais que o tempo determinado pelo Senhor em Sua Palavra. O fim será melhor que aquilo que imaginamos porque Aquele que monta o Cavalo Branco e vem intervir na nossa história é a Palavra de Deus que pode trazer à existência as coisas que não são, pode fazer novas todas as coisas, é a Palavra libertadora de Deus, que traz a vida abundante às nossas existências, que foi à Cruz por amor de nós, em nosso lugar. Ele morreu a nossa morte para que vivêssemos a Sua vida.
Um nome que ninguém conhece

Havia escrito nele um nome que ninguém conhece, a não ser Ele mesmo.
Apocalipse 19. 12.

A idéia de um nome misterioso para o Senhor é recorrente na Bíblia. E sempre que eu leio esse versículo do Apocalipse, é impossível não lembrar das demais passagens. No Antigo Testamento, em algumas ocasiões, o Senhor aparece como alguém que tem um nome que ninguém conhece.
Uma das passagens da qual eu me lembro é Gênesis 32. 22 – 32. Jacó luta com o Anjo do Senhor até o amanhecer de Peniel. Prevalece na luta até que o Anjo, como que se visse sem saída, toca-lhe a coxa, provoca-lhe a dor, submete-o. Após isso, muda-se o nome de Jacó para Israel. Jacó pergunta pelo Seu nome: Por que você quer saber o meu nome? (Gn. 32. 29).
Outra história aparece no capítulo 13 de Juízes. É a história de Sansão. Quando o Senhor aparece a Manoá e sua esposa, anunciando o nascimento daquele nazireu que viria a libertar o povo, Manoá também pergunta pelo Seu nome: Por que você quer saber o meu nome? – Perguntou o anjo – Meu nome é maravilhoso, é um mistério (Jz. 13. 18).
Paulo nos diz que Deus habita em Luz Inacessível. O nome que ninguém conhece, o nome que é um mistério, que é maravilhoso, nos serve para lembrar que, apesar de estar ao nosso lado, Deus está muito além daquilo que podemos compreender. Em Eclesiastes o autor lembra que Deus está no céu, e o homem na terra. Ou seja, aponta a enorme distância que há entre nós e Ele.
Ele tem um nome um nome que ninguém conhece. É essencialmente um Outro Ser diante de Quem eu me ponho, com Quem eu me deparo nos meus dias, mas a Quem eu não posso compreender. É Alguém que está acima e além de qualquer tentativa de limitação e de compreensão.
Deus está acima de qualquer enquadramento ou formatação que lhe queiramos dar. Tenho visto e me incomodado com uma tal superficialidade do conhecimento de Deus que impera entre os cristãos que limita a sua visão, estreita os seus passos. Os cristãos têm formatado um Deus de acordo com o seu querer. Deus é aquilo que eles pensam e nada mais. Eu conheço um Deus que desafia meu entendimento, que me questiona a todos os momentos, que não me deixa ter certeza de muita coisa, a não ser que Ele é maior e Sabe mais do que eu. Eu me deparo com um Deus que tem um nome que ninguém conhece e sei, por isso, que não me cabe limitar-lhe as ações nem o poder.
Mas eu tenho visto muitos que conhecem muito pouco do Senhor e de Sua Revelação. Dessa maneira, se satisfazem com explicações simplistas de como o mundo funciona, com teologias reducionistas para explicar a ação de Deus. Desenvolvem uma visão de mundo muito estreita e estreitam, assim, o Senhor. Seu Senhor, o Deus que pensam conhecer, é um Deus limitado. Dessa forma, sua vida tem sido procurar por chifres em cabeças de cavalos e não em se aprofundar no conhecimento do amor de Deus. Querem, por exemplo, marcar a data da volta de Cristo nos seus calendários um tanto fúteis, em vez de aprenderem da oração de Paulo: para que vocês possam compreender, junto com todo o povo de Deus, o amor de Cristo em toda a sua largura, comprimento, altura e profundidade. Sim, embora seja impossível conhecê-Lo perfeitamente, peço que vocês venham a conhecê-Lo, para que assim Deus encha completamente o ser de vocês com a Sua natureza (Ef. 3. 18-19). Não podemos limitá-Lo, não podemos conhecê-Lo perfeitamente, mas podemos conhecer o Seu Amor, mais e mais.
Ele tem um nome que ninguém conhece. Ele é o Soberano, Tremendo e Ilimitado, e nós somos homens pequenos e limitados tentando compreender-lhe as ações. Ele está lá, nós aqui. A iniciativa é sempre dEle. É impossível limitá-Lo. É Ele Quem desce para nos livrar, Ele vem até nós. Apesar de toda distância e de estar além de nossa compreensão, Deus vem a nós. Veio na Pessoa de Cristo. E vem sempre para livrar o Seu Povo. Mas não podemos limitá-lo, porque Ele tem um nome que ninguém conhece.