20.8.05

Até o fim

Mas quem ficar firme até o fim será salvo.
Mateus 24. 13

A seqüência final de Coração Valente, com Mel Gibson, é bastante conhecida. O seu personagem, após haver sido traído, é entregue para os soberanos ingleses a fim de ser flagelado e morto. É terrível o martírio ao qual é submetido. Em determinado momento, oferecem a ele uma proposta de misericórdia: ele afirmaria a soberania dos ingleses em troca de uma morte mais rápida. Proposta recusada, a cena insinua a estripação do personagem. Uma morte brava, heróica e corajosa. Ele resistiu, não negou seus ideais até o fim.
Essa história pode servir de estímulo a cada um de nós em nossas lutas diárias. Afinal, uma das promessas condicionais mais repetidas em todo o Novo Testamento se dirige àqueles que conseguirem permanecer firmes em toda circunstância, até o fim de tudo. Mesmo que isso represente a própria morte. Mas quem ficar firme até o fim será salvo.
Jesus é o nosso maior exemplo desse processo. Ele foi alguém que resistiu a todas as circunstâncias que lhe foram contrárias. E resistiu bravamente, até o fim, até a morte. Isso não significa, é até óbvio, que é uma tarefa fácil. Na véspera de Sua morte, Jesus se angustia e se entristece ao ponto de desesperar da própria vida. Ele quer desistir: A tristeza que estou sentindo é tão grande, que é capaz de me matar. (...) Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice de sofrimento! (Mt. 26. 38 – 39). Mas, apesar de estar sendo pressionado ao ponto de querer desistir, Ele permaneceu firme, submisso à vontade do Pai: Porém não seja feito o que eu quero, mas o que tu queres (Mt. 26. 39). Por mais difícil que fosse resistir, Jesus resistiu porque se colocava submisso, em primeiro lugar, à vontade de Deus.
Se foi difícil para Jesus, você deve estar pensando, avalie a nossa dificuldade em resistir no nosso posto até o fim. Certamente as lutas são terríveis. Certamente a vontade de desistir é enorme. Certamente as tentações para que paremos são grandes. Mas fomos chamados a resistir, submissos à vontade de Deus. É Ele, Deus, quem conduz o processo: Mas, por causa do povo que Deus escolheu para salvar, esse tempo será diminuído (Mt. 24. 22). Devemos nos pôr na presença dEle, rendidos a Ele, firmes em nossos postos, cientes de que o Deus que conduz o processo, por fim vai trazer a vitória.
Lembre, por outro lado, que essa é uma promessa condicional. E que se repete nesta forma diversas vezes no texto bíblico. Cada vez que você pensar em ceder nas suas lutas, lembre que Deus está conduzindo o processo, que Ele tem uma promessa, mas condicional. Por isso não desista. Mas quem ficar firme até o fim será salvo.
Essa promessa reaparece de algumas maneiras no livro do Apocalipse, sempre na forma condicional. É preciso que ajamos para que ela se cumpra. É o que o Espírito diz às igrejas (Ap. 2. 7, 11, 17, 29; 3. 6, 13, 22). Quais as promessas reservadas aos que conseguirem resistir até o fim da luta? Aos que conseguirem a vitória eu darei o direito de comerem da fruta da árvore da vida, que cresce no jardim de Deus (Ap. 2. 7). Aqueles que conseguirem a vitória não sofrerão o castigo da segunda morte (Ap. 2. 11). Aos que conseguirem a vitória eu darei do maná escondido. E a cada um deles darei uma pedra branca, na qual está escrito um nome novo que ninguém conhece, a não ser quem o recebe (Ap. 2. 17). Aos que conseguirem a vitória e continuarem a fazer até o fim a minha vontade eu darei a mesma autoridade que recebi do meu Pai: autoridade sobre as nações para governá-las com uma barra de ferro e quebrá-las em pedaços como se fossem potes de barro. Eu lhes darei a Estrela da Manhã (Ap. 2. 26-28). Aqueles que conseguirem a vitória serão vestidos de branco, e eu não tirarei o nome dessas pessoas do Livro da Vida. Eu declararei abertamente, na presença do meu Pai e dos seus anjos, que elas pertencem a Mim (Ap. 3. 5). A pessoa que conseguir a vitória, eu farei com que ela seja uma coluna no templo do meu Deus, e essa pessoa nunca mais sairá dali. E escreverei nela o nome do meu Deus e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que virá do céu, da parte do meu Deus. E também escreverei nela o meu novo nome (Ap. 3. 12). Aos que conseguirem a vitória eu darei o direito de se sentarem ao lado do meu trono, assim como eu consegui a vitória e agora estou sentando ao lado do trono do meu Pai (Ap. 3. 21).
Pode ser que não consigamos constatar ou entender a dimensão de nossa luta atual. Pode ser que não entendamos o que será conseqüência do resultado dela. Mas podemos estar certos de que há vitória e bênção sem medidas para aqueles que se puserem em seus postos e resistirem até o fim. Podemos entender, também, que quanto maior a vitória, quanto maiores as bênçãos reservadas, quanto maior o livramento no futuro, mais intensa será a luta no presente. Mais forte a tentação para desistir. Por isso, mais devemos nos achegar ao Pai, solicitando Sua graça, Sua força, Seu poder e Seu Espírito para conseguirmos permanecer firmes até o fim. Mas quem ficar firme até o fim será salvo.

19.8.05

Tensão

Então Jesus olhou zangado e triste para eles porque não queriam entender.
Marcos 3. 5.

A Revelação bíblica caminha sobre uma tensão constante. Uma tensão, aliás, que vai estar sempre presente na caminhada dos que seguem a Deus. A tensão se estabelece entre, de um lado, a centralidade da instituição na relação com Deus, e, de outro, a manifestação livre e soberana do Senhor.
Em todos os momentos percebemos a tensão. Quando Deus permite que Israel estabeleça um templo, ao mesmo tempo Salomão relembra e destaca que é impossível que o Senhor viva em templos feitos por mãos humanas: Mas será que, de fato, ó Deus, tu podes morar no meio de nós, criaturas humanas, aqui na terra? Tu és tão grande, que não cabes nem mesmo no céu; como poderia este Templo que eu construí ser bastante grande para isso? (1 Rs. 8. 27). Ainda que a inauguração do Templo afirme a importância da instituição, ressalta, ao mesmo tempo, que nenhuma instituição é capaz ou pode pretender limitar o Senhor. Ele é maior que qualquer instituição. Age com liberdade e além dela.
Os profetas foram conscientes disso. Eles perceberam o pecado dos líderes de Israel ao acharem que detinham o monopólio de Deus. Ninguém é dono do Senhor Deus. Nenhum relacionamento verdadeiro com o Senhor se firma na base da instituição religiosa. O relacionamento com Deus acontece, antes de tudo, na intimidade do coração.
Mas os religiosos querem concentrar tudo na instituição. Eles não querem entender que Deus é livre e maior que qualquer religião. Tal centralização pretendida conduz à morte, ao enrijecimento, à impossibilidade de perceber qual é a riqueza e a grandeza do Senhor na nossa vida, no relacionamento conosco.
É essa crise, essa tensão, que se dá entre Jesus e Seus adversários judeus. Os judeus haviam se esquecido de manter viva a tensão entre a instituição e a liberdade de Deus. A liberdade do Deus do Deus livre é a única coisa que nos pode trazer vida. Mas os judeus faziam questão de manter a letra da Lei, capaz de matar, em vez de dar lugar ao Espírito de Vida. Por isso, não têm resposta ao questionamento de Jesus: O que é que nossa Lei diz sobre o sábado? O que é permitido fazer nesse dia: o bem ou o mal? Salvar alguém da morte ou deixar morrer? Ninguém respondeu nada (Mc. 3. 4).
Por causa da indisposição à compreensão dos judeus, Jesus se mostra ao mesmo tempo zangado e triste. Então Jesus olhou zangado e triste para eles porque não queriam entender. Dar importância à instituição religiosa não pode significar esquecer que Deus, o homem e a relação entre Deus e o homem são maiores que a própria religião.
Muitas vezes podemos centrar nossa vida espiritual sobre a religião, em detrimento de nossa relação com Deus, de nossa comunhão com Ele, única fonte real da vida que importa: se vocês não comerem a carne do Filho do Homem e não beberem o Seu sangue, vocês não terão vida (Jo. 6. 53). O que nos traz vida não é religião, mas o relacionamento com Deus por meio de Jesus Cristo. Por isso, viver numa instituição deve significar viver em uma tensão constante, porque a vida com Deus é maior que a instituição. A instituição religiosa não pode limitar nossa relação com o Pai.
Jesus finalizou essa questão no diálogo com a samaritana (Jo. 4). Quando a mulher lhe pergunta sobre em qual dos templos se deveria adorar, se em Jerusalém ou Samaria (Jo. 4. 19), ela quer, na verdade, que Jesus afirme qual de duas instituições religiosas é correta, qual religião pode salvar o homem. Jesus esclarece que religião não salva, que é essa não é a questão essencial. Seja aqui, ou seja lá, virá o tempo, e, de fato, já chegou, em que os verdadeiros adoradores vão adorar o Pai em espírito e em verdade. Pois são esses que o Pai quer que O adorem (Jo. 4. 23). O que importa, de verdade, para a vida, é ter Jesus como Centro da Vida.
Deus nos quer em uma relação viva com Ele, que acontece na intimidade do coração. A instituição é importante. Mas Deus, o homem e a nossa relação com Deus são mais importantes que ela. Não se esqueça disso.

18.8.05

No escuro

Escutem, vocês que temem o Senhor e obedecem às ordens do seu servo: se o caminho em que andam é escuro, sem nenhum raio de luz, confiem no Senhor, ponham a sua esperança no seu Deus.
Isaías 50. 10

No início de minha adolescência costumava passar os meses de férias de verão na casa que meu tio tinha na praia de Barra do Rio, ao lado da famosíssima Genipabu. Já falei sobre isso antes. Lembro que, vez por outra, eu inventava de ir caminhando pela areia até outras praias vizinhas. Cheguei a ir até Pitangui e Muriu algumas vezes.
Certa vez, sai de tarde para fazer essa caminhada até uma dessas praias. Resolvi voltar para Barra do Rio por volta das cinco horas. O resultado é que no meio do caminho, anoiteceu. E era impossível ver-se algo naquela escuridão que era praticamente palpável. Tive muito medo porque não tinha como saber exatamente por que caminhos eu estava seguindo nem se seria capaz de achar meu destino. Era muito escuro. O medo não me deixava seguir em paz.
As vezes a nossa vida é assim. Entramos nas caminhadas, seguimos por estradas, onde não possível contemplar coisa alguma por total ausência de luz. O normal, nessas circunstâncias, é se apavorar. Como saber se estamos agindo corretamente? Como saber se o caminho que seguimos não nos conduzirá a males ou destruição? Como estar certos de que estamos fazendo escolhas corretas em cada circunstância, uma vez que nosso julgamento é prejudicado pela ausência de luz? Incertezas perturbadoras.
O texto de Isaías não podia ser mais explícito: Escutem, vocês que temem o Senhor e obedecem às ordens do seu servo: se o caminho em que andam é escuro, sem nenhum raio de luz, confiem no Senhor, ponham a sua esperança no seu Deus. Seguir por um caminho em completa escuridão é assustador porque não temos segurança de que estamos indo na direção certa e que chegaremos ao destino desejado. Não temos a segurança de sermos guiados, pelos nossos olhos, ao destino certo.
Muitas vezes, nossa vida se parece com isso. Estamos em caminhadas rumo aos destinos postos por Deus, mas em nosso caminho não conseguimos ver nem um palmo à frente do nariz devido à completa escuridão. No caminho, não temos luzes. Não temos como ter certeza se a direção é correta, contemplar os perigos da estrada, observar os seus detalhes, descobrir – à tempo – as curvas e mudanças. Tememos, especialmente, porque nada parece garantir certeza aos nossos passos.
Essa é a hora de deixar de confiar nos próprios olhos. Afinal, nossos olhos – nossas certezas, convicções e conhecimentos – não nos servem quando não podem ser usados. Nos vales escuros da vida eles não podem ser usados. Não nos servem de nada. Há momentos em que não nos servem de nada nossos limitados recursos humanos para nos guiarem na difícil caminhada de vida que está proposta a cada um. Não servem porque não podem ser usados. Não valem para decidir as coisas devidas. No escuro da vida, é hora de confiar em Deus. Se o caminho em que andam é escuro, sem nenhum raio de luz, confiem no Senhor, ponham a sua esperança no seu Deus.
É hora de confiar nos olhos de Deus sobre nossa vida. É hora de se entregar às mãos cuidadosas dEle para nos guiar por esses momentos de escuridão. Não adianta tentar seguir pelas próprias forças, pelos próprios recursos, com os próprios olhos. Nessa situação, eles não servem de nada. Só nos resta entregar a vida confiantemente ao cuidado do Pai, o Construtor da Estrada, o Sustento de nossa alma. Os Olhos que podem nos guiar sempre pelo melhor caminho, nas melhores escolhas. Mesmo que não vejamos nada, Deus pode ver por nós.
Na minha volta para casa na praia, em determinado, comecei a contemplar luzes bem à frente e percebi que se tratava da iluminação dos bares próximos à casa de meu tio. Meu medo começou a passar. Agora eu tinha um guia. Uma espécie de farol. É isso que Deus quer fazer conosco nos momentos em que seguimos pelas estradas escuras da vida. Nós não podemos escolher os caminhos corretos. Não sabemos como chegar ao destino. Nem podemos olhar a estrada. Tudo está escuro e nossos olhos não servem para nada. É hora de confiar nas mãos de Deus nos guiando. É hora de esperar a Luz do Senhor como farol em nossa travessia.

17.8.05

Em busca do que dizer

O Senhor tem as palavras que dão vida eterna!
João 6. 68

Dia desses uma amiga me procurou pedindo ajuda. Ela queria que eu a ajudasse a escrever uma carta para uma terceira pessoa. Perguntei-lhe sobre o que ela queria falar. Ela não sabia. Não tinha nenhum assunto para falar com aquela pessoa, apenas queria dizer-lhe algo para não ficar sem dizer nada. Eu lhe disse, então, uma coisa que acredito de verdade: se você não tem o que dizer, não diga nada.
Muita gente quer falar por aí. Existem muitas palavras sendo ditas. Existem muitas coisas que são ditas apenas para que os sujeitos não se envergonhem de estarem calados. Essas pessoas, na verdade, não estão dizendo nada, mas apenas não gostariam de ter de ficar quietos. Como acham que se tornam importantes por dizerem algo, abrem a boca para falar ou se sentam a escrever. Não importa o que escrevem ou dizem, o que importa é escrever e dizer. Não importam as palavras, se preocupam apenas em pronunciá-las.
São discursos vazios. Mas pessoas se reúnem para ouvi-los. Sem audiência, ninguém fala nada. Por outro lado, como as pessoas sempre estão sedentas por respostas às aflições do dia, correm atrás de qualquer palavra que, mais elaborada, possa soar como uma palavra de vida. Ainda que os sujeitos que anunciam estas palavras não tenham nada a dizer de verdade. As aflições do dia a dia conduzem muitos a esta corrida. Não são poucos que carecem de ouvir palavras que lhe tragam alento, como também não são poucos aqueles que, mesmo não tendo nada a dizer, dizem o nada de tal maneira que parece que é alguma coisa que está sendo dita e que essa coisa satisfaz às necessidades diversas.
As pessoas procuram respostas para as suas angústias. E muitas, por vazias que sejam, estão disponíveis. Há muita gente falando palavras sem sentido em todo lugar. Mas, por mais sem sentido, encontram audiência nos carentes angustiados, que as ouvem como alento, as recebem como sendo de Deus. Pessoas vazias de respostas têm-se satisfeito com palavras vazias de sentido. Porque não encontram nada melhor em suas buscas. Ao final, no entanto, o mesmo vazio permanece nos corações.
Na verdade, mesmo sem perceber, muitos se encontram na situação relatada por Amós: Está chegando o dia em que mandarei fome pelo país inteiro. Todos ficarão com fome, mas não por falta de comida, e com sede, mas não por falta de água. Todos terão fome e sede de ouvir a mensagem de Deus, o Senhor. Correrão do mar Morto até o mar Mediterrâneo, irão pelas regiões do Norte e do Leste do país, procurando a mensagem de Deus, o Senhor, mas não a encontrarão. Naquele dia, até moços e moças fortes desmaiarão de sede (Am. 8. 11 – 13). As pessoas correm de um lado a outro, em uma busca frenética e semi-consciente por alívio para as suas dores, cura para o seu sofrimento, alento para a alma. Correm de um lado a outro, esperando achar, em palavras vazias, a única Palavra que pode trazer vida, a Palavra de Deus. A sua busca, mesmo que não saibam com clareza, é pela vida e o alívio que só a Palavra de Deus é capaz de dar.
O que todos procuram, mesmo sem perceber [e principalmente por isso], é a Palavra do Senhor. Procuram e precisam do alimento que vem do céu, que desce do Pai, que alimenta a alma, que sacia as nossas únicas necessidades reais. Precisam do alimento espiritual, da Palavra de Deus, mesmo que, em sua procura, não saibam onde encontrá-la. Pedro desconfiou e confessou onde podia achar suas respostas: Quem é que nós vamos seguir? O Senhor tem as palavras que dão vida eterna! Ele descobriu que Jesus tinha as Palavras que cada ser humano precisava ouvir, tinha o alento que cada um procura em suas lutas, porque Ele mesmo é a Palavra de Deus. Jesus é a Mensagem que Deus tem para nós ouvirmos, em toda e qualquer situação. Não perca tempo então. Se você procura de um lado a outro uma palavra que lhe devolva a vida, procure, então, por Jesus. Ele é a Palavra. Ele é a Mensagem que você procura. Quem é que nós vamos seguir? O Senhor tem as palavras que dão vida eterna!

16.8.05

O impacto

Quando o leão ruge, quem não fica com medo? Quando o Senhor Deus fala, quem não anuncia a Sua mensagem? (...)
Não sou profeta por profissão; não ganho a vida profetizando. Sou pastor de ovelhas e também cuido de figueiras.

Amós 3. 8 e 7. 14

Qual o impacto que uma Palavra de Deus causa no homem? Ela não nos deixa ser mais quem éramos até então. Os profetas foram homens chamados dessa maneira. A Palavra de Deus vinha a eles, mudava suas vidas, transformava todas as coisas. O impacto era profundo no seu interior. Era como se um Leão rugisse dentro do peito: quem permaneceria o mesmo?
Amós era um homem simples do campo. Um dia ele ouviu a voz do Leão. E sua vida foi transformada. Com urgência ele tomou o caminho das ruas e dos templos para entregar as mensagens que Deus enviava ao seu coração. Era impossível ficar calado. Quando a Palavra de Deus vem até nós, não há quem possa se calar. Não há quem possa ficar como estava, no seu lugar de origem. Não há quem fique quieto e não seja impulsionado, quase involuntariamente, às esquinas e ruas para transmitir tal mensagem que chega com urgência. Ao ouvir o rugido do Leão, não há quem não sinta a urgência de gritar a quem quer que possa ouvir que é preciso se proteger. Quando o leão ruge, quem não fica com medo? Quando o Senhor Deus fala, quem não anuncia a Sua mensagem?
A Palavra de Deus impacta e transforma a vida. Quando ela vem queimando em nosso interior não se pode se controlar. Amós nunca se viu como profeta, apesar de tanto profetizar. Ele se via como um homem simples do campo, que plantava figos e cuidava de ovelhas. Mesmo depois de ter desafiado, com seus oráculos, todas as estruturas de injustiça do mundo da época, ele tinha perfeita consciência que era diferente. Não falava em nome de Deus por causa de uma obrigação profissional. Sua profissão era outra. Ele falava porque era impossível ser impactado pela Palavra do Senhor e permanecer calado, permanecer impassível. Quando esse impacto tocava a alma, o homem tinha de subir aos telhados e gritar a quem pudesse ouvir: Assim diz o Senhor.
Mas o que quero dizer com tudo isso é que quando a Palavra de Deus chega até nós causa um impacto profundo e muda as nossas perspectivas. Mesmo que fiquemos conscientes de quem ainda somos, já não seremos os mesmos. A Palavra de Deus vem com urgência aos nossos corações e muda as nossas vidas.
Isso não significa que a Palavra de Deus impactando os nossos corações faça de todos nós profetas. Mas significa que a Palavra de Deus vinda aos nossos corações transforma as nossas vidas. Quando o Leão ruge, é impossível permanecer impassível.
Abra o coração para o rugido do Leão. Ele está aqui, quer falar e impactar a sua vida. Quer transformar o seu ser inteiramente. Ele quer rugir a Sua Palavra no interior do seu ser, no âmago do seu coração, transformar a sua vida inteiramente, transformar todas as coisas. O Senhor quer falar ao seu coração, provocando impacto que transforme sua vida inteiramente.
O rugido do Leão quebra barreiras, transforma estruturas, faz novas coisas dentro de nós. É impossível permanecer inalterado quando ouvimos o Leão rugir. Quando Ele fala, o coração derrete.
O Senhor quer chamar você com Sua voz de Leão para mudar a sua vida. Quer chamar você para permanecer mais próximo a Ele, andando na Sua intimidade, quebrando o coração e a vida diante do Deus Todo-Poderoso. Esse é o Seu chamado, a Sua vocação. Eis que o Leão ruge no meio da rua. Se você ouvir, como permanecer o mesmo?

15.8.05

Não apenas palavras

Lindas palavras enchem o meu coração enquanto escrevo esta canção em homenagem ao rei. A minha língua é como a pena de um bom escritor.
Salmo 45. 1

Não me sento na frente do meu computador, todos os dias, com o propósito de escrever minhas palavras, ou qualquer coisa que flua do meu intelecto. Não é meu intelecto que escreve aqui, mas é minha alma. Não são coisas que eu raciocínio, mas experiências pelas quais passo com Deus. Não são para ser minhas palavras, mas me ponho como sacrifício a Deus, aqui, para que sejam as Suas Palavras ditas a nós.
Creio em um Deus que se revela por meio do relacionamento. Ele fala, mas O faz apenas quando nos dispomos a nos relacionarmos com Ele. É nessa hora, é na relação, que Ele pode produzir o milagre de transformar as palavras e as reflexões do coração humano em Sua Palavra ao homem. E isso acontece porque o que surge do coração, nessa hora, é resultado da experiência que temos com Deus. Que as minhas palavras e os meus pensamentos sejam aceitáveis a Ti, ó Senhor Deus, minha Rocha e meu Defensor! (Sl. 19. 14)
O que quero dizer com tudo isso é que eu seria o mais miserável dos homens se me sentasse aqui para apenas escrever palavras. Aqui tenho um propósito claro no coração: tudo se trata da minha vida, e minha vida na dimensão da minha relação com o Pai. Não apenas palavras, mas vida e vida de Deus em mim. Se eu, por acaso, um dia duvidar de que é esse o processo e essa a bênção na minha vida, eu calo. Se em Deus eu não tiver o que dizer, porque não tenho mais vivido, eu silencio. Os meus textos não saem do meu intelecto e nem abençoam vidas por causa de meu talento com as palavras. Não teriam efeito se não fossem resultados de minha experiência de luta, de derrotas, de tristezas e de vitórias. Por isso, procuro depender exclusivamente de Deus quando me sento aqui. É nEle que me refugio. É a Palavra dEle que busco e quero repassar.
Por mais que pareça arrogância o que estou dizendo, encarem como desabafo. Mais uma das experiências com o Deus que ama se relacionar conosco. Algo como sentiu na pele o salmista: Lindas palavras enchem o meu coração enquanto escrevo esta canção em homenagem ao rei. A minha língua é como a pena de um bom escritor. Essas não são palavras que nascem ou brotam da mente, mas apenas de um coração que se apaixona todos os dias pelo seu Senhor.
Hoje uma amiga virtual me perguntou porque o que eu escrevo se identifica tanto com a vivência dela e porque eu não trago, tantas vezes, as soluções que ela, pragmática, espera. A minha resposta é nessa toada: eu não escrevo uma coisa que seja diferente do que eu vivo. E muitas vezes na vida a gente não vê as soluções, mas pode ver o Deus que caminha conosco. E nessas horas tudo o que eu posso dizer é que nós voltemos os olhos para o nosso Pai porque, por mais difícil que seja a situação, saberemos sempre que Ele vai conosco.
Para que me sente aqui todo dia, preciso acreditar que as palavras que falo não são minhas, mas vem do Pai. Para que acredite que Deus tem abençoado pessoas por esse ministério preciso ser responsável por saber que só posso falar sobre o que conheço. Então sou responsável por conhecer o Deus de que falo para poder torná-lo conhecido em cada situação em que O anuncio.
Lindas palavras enchem o meu coração enquanto escrevo esta canção em homenagem ao rei. A minha língua é como a pena de um bom escritor. A Palavra que Deus fala conosco não pode surgir do intelecto humano, mas brota nas emoções. Se isso não for assim, qualquer palavra é como o sino que soa indistinguível. É por isso que o meu pedido constante àqueles que são tocados por Deus por esse ministério é que permaneçam intercedendo em meu favor. Para que o falar de Deus não deixe o meu coração e não dê lugar ao orgulhoso falar de minha mente.

Uma oração por esperança

Por que estou tão triste? Por que estou tão aflito? Eu porei minha esperança em Deus e ainda O louvarei. Ele é o meu Salvador e o meu Deus.
Salmo 42. 5 e 11

O autor do Salmo 42 é um homem profundamente atribulado. Sua situação específica, o exílio e a impossibilidade de cultuar a Deus em Sião, pode ser transposta por nós de diferentes maneiras. A angústia do salmista é sentir-se isolado de Deus, ausente de Sua presença, impedido de cultuá-lo com liberdade. É um profundamente angustiado.
Mas ele tem uma esperança que não se firma nas circunstâncias aparentes. Não consigo perceber no texto um coração repleto de ânimo para continuar. Não consigo ver esperança aparente. Ele ora para que a esperança e o ânimo retornem, mas eles não estão lá. Na verdade, no momento em que o salmista declara pôr sua esperança em Deus é como se fosse uma atitude de luta para não desistir. Ele, na verdade, está esperando contra a sua própria esperança. É um homem sem ânimo, sem forças para continuar, mas que se recusa a desistir.
Intelectualmente, Ele sabe do que Deus é capaz de fazer e da vida que Ele pode ainda gerar nessas circunstâncias complicadas em que se encontra. Mas, emocional e espiritualmente, ele está vencido. Não consegue contemplar Deus presente ao seu lado, não consegue alimentar a alma nem prestar um culto a Deus que lhe impacte e vivifique. Por isso, ele diz: Eu tenho sede de Ti, o Deus Vivo! Quando poderei ir adorar na Tua presença? (Sl. 42. 2) Ele tem saudades de Deus, sente falta de poder estar, com liberdade, na presença do Senhor. Por que esqueceste de mim? (Sl. 42. 9).
É um homem profundamente entristecido por causa disso. O meu coração está profundamente abatido e por isso eu penso em Deus. Assim como o mar agitado ruge, e assim como as águas das cachoeiras descem dos montes Hermon e Mizar e correm com violência até o rio Jordão, assim são as ondas de tristeza que o Senhor Deus mandou sobre mim (Sl. 42. 6 – 7).
Alma abatida, coração entristecido e esperança vencida. Quem não se sente assim vez por outra? Você nem sabe mais se vale a pena recorrer a Deus. Você nem sabe mais se Ele “está aí’ para você. Você nem sabe se não é perder de tempo tudo isso. As águas da tristeza afogam seu coração de maneira terrível. Sua esperança se foi e... como recuperá-la?
O salmista transforma seus sentimentos em oração. Uma oração que enfrenta, inclusive, suas próprias resistências pessoais, sua própria falta de fé, sua tristeza e desânimo. Mas Ele ora, esperando contra a esperança, suplicando a Deus que venha até ele e o socorra. Porque o salmista sente falta de Deus, tem sede do Senhor, quer se afogar, não nas águas da tristeza, mas na profunda alegria do coração do Pai. Assim como o corço deseja as águas do ribeirão assim também eu quero estar na Tua presença, ó Deus! (...) Eu porei a minha esperança em Deus e ainda O louvarei. Ele é o meu Salvador e o meu Deus (Sl. 42. 1, 5 e 11).
Eu sei que nos sentimos assim. Desanimados, entristecidos, como se estivéssemos já vencidos. E sei que não há nada que possa ser dito nessa hora. É como se até as nossas mais íntimas esperanças já tivessem se esgotado. Essa é a hora em que só nos resta pedir ao Pai. Confessar a ele a nossa sede, fome e dependência dEle. Suplicar que, nos vencendo, ajude-nos a esperar contra a esperança. E, principalmente, clamar a Ele que nos dê a fé suficiente para nos livrar do mar de tristeza e nos conduzir a abundância de alegria de Sua presença. E assim, podermos caminhar, com forças renovadas, esperando a restauração de todas as coisas por parte do Senhor. E assim, podermos afirmar, em fé, que ainda O louvaremos com intensidade por todo o livramento que experimentaremos da parte dEle: Eu porei a minha esperança em Deus e ainda O louvarei. Ele é o meu Salvador e o meu Deus.

Aflitos

Não fiquem aflitos. Creiam em Deus e creiam também em mim.

João 14. 1



Acho que deve ser uma coisa muito geral, mas só posso falar por mim. Existem algumas situações que me deixam silente. As palavras fogem e não consigo estruturar nada que possa servir de alento ou que seja palavra de Deus para a vida de ninguém. Já testifiquei isso em outros momentos. Algumas vezes o silêncio vem causado pelo espanto da presença ou da ação santa do Deus soberano. Algumas vezes o silêncio é resultado do silêncio de Deus. E algumas vezes o silêncio é resultado da nossa perturbação, de nossa aflição. Nessas horas, parece, só conseguimos chorar. Nesses dias, tenho me sentido assim.

A minha aflição, tenho consciência, é resultado de uma ação direta, um levante direto de Satanás, não só contra a minha vida, mas contra muitos e muitas que têm se disposto no coração e na prática, a servir a Deus integralmente. A aflição, por vezes, é resultado da luta espiritual em que nos encontramos. E essa aflição nos cala, porque nos extenua, porque nos causa dor e sofrimento. Aflito assim me faltam palavras a serem ditas, porque olho para dentro de mim e só vejo dor e frustração. E não é dor e frustração que podem gerar vida e transformação. Não é dor e frustração, resultantes de tantas batalhas, que podem alimentar a vida de ninguém, nem desafiar quem quer que seja.

Sei que esse sentimento momentâneo não é exclusividade minha. Estou certo que muitos que vão ler essas palavras irão se identificar. Têm sido impedidos de ouvirem a voz de Deus ou verem a sua ação como resultado das lutas e aflições que lhes têm perturbado as almas. No fundo do seu coração, só vêem turbulências, dores, angústias. Faltam a paz e a tranqüilidade. A guerra em que se encontram extenua, massacra. É uma guerra espiritual que aflige a alma, que rouba as forças. Que pode conduzir ao desespero e à incerteza. O coração está em tempestade, a alma está em guerra. Qual a solução?

Não fiquem aflitos. Creiam em Deus e creiam também em mim. Eu creio que a Palavra de Deus é plenamente capaz de realizar coisas novas ainda hoje. Deus cria novas realidades por meio da Palavra que fala para comunicar-se conosco. A Sua Palavra cria em ação em nossas vidas. Preciso dizer isso para poder dizer porque creio que Deus pode nos tirar da aflição das lutas em que nos encontramos: porque Ele disse. Ele disse, o Deus todo-poderoso falou: Não fiquem aflitos. A Palavra do Senhor é plenamente capaz de gerar em nossos corações, do nada, o milagre do shalom, da paz plena e perfeita de Deus.

Deus olha para a perturbação de nosso coração, para a turbulência de nossa vida, para as lutas de nosso dia a dia. Ele olha isso, nos vê de perto, vem a nossos corações e nos tranqüiliza: Não fiquem aflitos. E é capaz de nos fazer sentir profunda paz, ainda que o mundo se desmorone à nossa volta.

O porquê disso se justifica pelo apelo de Jesus: Creiam em Deus e creiam também em mim. Por que podemos ter paz no meio da aflição? Porque cremos em Deus e em Jesus Cristo. E estamos cientes de que esse Deus é soberano, completamente o Senhor de todas as coisas, de todas as circunstâncias. Sendo Deus o Senhor de tudo, em um exercício de fé, podemos experimentar o shalom constante do Senhor, ainda que tudo se desfaça.

No meio da luta, no meio de situações angustiantes, momentos que nos silenciam, podemos crer e depender da profunda promessa do Senhor: Não fiquem aflitos. Não temos motivo para nos perturbarmos em aflição. Temos um Senhor soberano no céu que tem feito promessas e agirá em favor de cumpri-las. Ele intervém sempre em favor do que é o melhor para a vida de Seu povo. Basta a fé: Creiam em Deus e creiam também em mim. Jesus, o Deus soberano e a Palavra de Deus, cuida de nós, guarda-nos da luta, retira a aflição. Precisamos, apenas, crer e nos entregarmos a essa relação de fé com o Deus triúno.