4.2.17

A carta

Senhor Jesus,

Hoje eu senti vontade de escrever uma carta para o Senhor. Não sei bem porque nem sei direito o que direi.
Tu me chamaste, há duas décadas, para uma vida vivida na Tua presença e oferecendo, não somente a Ti, mas ao próximo os dons e os talentos que, sei, Tu me deste.
Há duas décadas eu tenho prazer em ler, meditar e refletir nas Tuas Escrituras - e, é claro, que em 20 anos muitas de minhas crenças fundadas em interpretação da Bíblia se modificaram porque eu mudei, minhas concepções de leitura mudaram, as interpretações mudaram.
Conheci gente - muita gente - que me ajudou a ser quem sou hoje. Não apenas pessoas que cruzaram meu caminho e tocaram a minha vida presencialmente - em salas de aula, em espaços religiosos ou na pura amizade. Houve pessoas que cruzaram a minha vida apenas virtualmente - na forma de um texto, de uma proposta, de um livro.
Todos esses são capazes de nos mudar, Senhor. E eu sei que cada um deles fez o Teu trabalho de transformar um garoto de 17 anos em um servo de 37.
Houve amigos e familiares que chegaram e que se foram. Houve mortes reais e simbólicas que mexeram comigo. Houve lutos e perdas, celebrações e alegrias. Houve aprendizado na dor e na festa. Em todo o tempo, mesmo quando eu não sabia, Tu estavas comigo.
Hoje eu penso no Senhor não como aquele que vai operar um milagre extraordinário para nos livrar da dor e do sofrimento. Para mim, o Senhor é o amigo que segura a minha mão quando dói e quando eu estou com medo, é o companheiro que me beija e abraça quando tudo deu certo e eu festejo.
Por isso, Senhor Jesus, hoje eu quero agradecer pelo Teu cuidado constante comigo. Especialmente nos últimos meses, somente ao Senhor posso tributar o estar vivo. Foi o Senhor que esteve comigo nos piores momentos e me empurrou de volta à vida. Afinal, eu sei que o Senhor é a vida.
É a experiência que temos com o Senhor Ressuscitado que é capaz de mudar para sempre o nosso viver. É saber que o Senhor está vivo que pode nos ajudar a não desistir da vida. É saber que no terceiro dia o Senhor se pôs de pé que nos ajuda a festejar a vida e saber que a dor do momento não é eterna: no terceiro dia ela vai ser substituída pela festa de viver.
Tem sido essa a minha experiência, Senhor. A experiência com o Senhor que está vivendo - um eterno e constante convite à vida.
Lembro que quando estudei o “Celebração da Disciplina” de Richard Foster passei a usar a imaginação na minha relação contigo. Lembro de uma manhã em que estava no púlpito da igreja e o louvor tocava um reggae. Lembro que imaginei o Senhor entrando no templo pela porta da frente e vindo até o púlpito dançando, em festa.
Essa é a imagem que eu quero do Senhor hoje.
Obrigado por tudo. Sempre.

Daniel Dantas Lemos

3.2.17

Sejam santos

Sejam santos porque eu sou santo.
Levítico 11. 45


Quando lemos o livro de Levítico encontramos um tipo de religiosidade e de fé peculiarmente relacionada ao rituais sagrados e as formas de tecnologias religiosas: o texto está repleto de orientações sobre como realizar o culto, que roupas os sacerdotes devem vestir, em que momentos devem se banhar, que animais podem ser sacrificados, quais não podem ser comidos, e segue.
Para os sacerdotes que escreveram o Levítico, ser santo é seguir o manual de vida espiritual, religiosa e os cultos conforme prescritos. Ser santo é viver de acordo com as leis e os ritos.
É nesse contexto que surge o chamado:

Sejam santos porque eu sou santo.

Quando os sacerdotes, os judeus religiosos liam esse chamado só podiam entender de uma forma: sigamos a lei, cada um de seus preceitos, obedeçamos a ordem do culto, ofereçamos cada sacrifício prescritos, então estaremos agradando a Deus e sendo santos.
Era assim nos dias de Jesus, mesmo que fariseus e saduceus tivessem interpretações teológicas distintas, ambos ainda vivenciavam um formato legalista de servir a Deus.
Jesus não nega a necessidade de sermos santos. Ele nega a forma como achavam que seríamos. Ele nega o rito estrito, a lei que estava acima das pessoas, o peso da letra sobre a vida.
Enquanto no mesmo livro de Levítico (15. 25 - 30) se afirma que uma mulher que tenha fluxo contínuo de sangue estaria impura enquanto sangrasse, tornando impuros todos e tudo que a tocasse, Jesus não se preocupa com isso quando cura uma mulher assim (Mt. 9, Mc. 5, Lc. 8).
Enquanto o Levítico 13-14 discorre sobre a lepra e sua impureza, inclusive delimitando quando e como o doente seria considerado curado e puro, Jesus não ligava para tais rituais quando curava os tantos leprosos que curou em seu ministério.
O ser santo, em Jesus, ia muito além da normatização do rituais e leis e do respeito a eles. Ser santo é muito mais que isso - a começar pela compreensão de que o ser humano não é definido pela lei, mas sim a lei se relativiza em favor do homem.
Foi assim com o sábado e com a mulher adúltera (Jo. 8).
Lembro, então, da parábola do samaritano (Lc. 10:30-37), na qual Jesus denuncia a religiosidade dos judeus (um levita e um sacerdote poderiam ter ajudado o homem ferido, mas passaram ao largo para não se contaminar com o sangue derramado) em favor daquilo que vale e que foi feito por um herege apóstata, o samaritano.
Sempre me chamou atenção uma coisa nesse texto: a pergunta que Jesus faz, no final da parábola, ao mestre da lei com quem conversa, me incomoda porque não era a que eu esperaria. Ela mudo enfoque - há um homem ferido e três passaram por perto, mas só um ajudou. Para mim, a pergunta deveria ser: “qual dos três considerou o homem ferido como seu próximo?” Mas a pergunta de Jesus inverte a ordem:

“O que você acha? Qual dos três é o próximo do homem atacado pelos ladrões?”
Lucas 10. 36


Em vez de olhar para os três homens, olha para o ferido. Qual dos três é o seu próximo?
Você lembra o que motiva Jesus a contar a parábola? Um mestre da lei se aproxima e pergunta o que era preciso fazer para herdar a vida eterna (Lc. 10. 25). Jesus responde questionando-o sobre o que ele pensa que diz a lei:

“Ame o Senhor seu Deus com toda a paixão, toda a fé, toda a inteligência e todas as forças; e ame o próximo como a você mesmo”.
Lucas 10. 27


Jesus elogia a resposta e diz que ele tem de fazer aquilo mesmo para ser salvo. O mestre fica desconcertado e pergunta:

“Como saber quem é o próximo?”
Lucas 10. 29


É para responder essa pergunta que Jesus conta a parábola.
O próximo, no contexto, é alguém que devemos amar como a nós mesmos. Por isso, se eu olho a estória do ponto de vista do homem ferido (Qual dos três é o próximo do homem atacado pelos ladrões?), ela não me diz apenas que o samaritano é o seu próximo que deve ser amado como si mesmo.
Ela diz também que os religiosos não são - e logo, não dever amados. Em outras palavras, Jesus diz que não devemos amar uma religião ou religiosos que passam ao largo de nós sem nos socorrer.
No fundo, também, toda essa história leva mais longe a questão do Levítico e da relativização da lei por Jesus.

Sejam santos porque eu sou santo.


Não é o ritual, a prática religiosa, as vestes, o culto, a norma, o seguimento estrito da letra que nos faz santos como o Senhor é santo.
Em Jesus, o Santo, o Senhor, ser santo é, simplesmente, amar. O seguimento estrito e legalista de ritos e leis nos afasta do próximo e da santida e nos torna indignos do amor.
O que importa, o que nos faz santos, o que nos aproxima de Deus, é aquilo que resume toda a lei e os profetas:

“Ame o Senhor seu Deus com toda a paixão, toda a fé, toda a inteligência e todas as forças; e ame o próximo como a você mesmo”.








2.2.17

Holocausto

Portanto, meus irmãos, por causa da grande misericórdia divina, peço que vocês se ofereçam completamente a Deus como um sacrifício vivo, dedicado ao seu serviço e agradável a Ele. Esta é a verdadeira adoração que vocês devem oferecer a Deus.
Romanos 12. 1 (NTLH)


A palavra pela qual conhecemos essa espécie de sacrifico que consome completamente a oferta é holocausto. Ainda que no mundo contemporâneo a referência imediata possa ser os campos de concentração nazistas na segunda guerra, o holocausto é um termo que vem dos rituais, do culto: era o sacrifício que era totalmente (holos) queimado (kaustos).
Por trás de Romanos 12. 1, como capta a Nova Tradução na Linguagem de Hoje, há a ideia do holocausto.
Entre várias possibilidades, o holocausto pode representar a entrega total e absoluta do adorador, o ofertante, ao Deus a quem oferta. A oferta será totalmente consumida pelo fogo - de igual modo, o ofertante afirma estar sendo completamente entregue e consumido por Deus.
Paulo pede aos Romanos - e a nós, por tabela - que nos ofereçamos “completamente a Deus como um sacrifício vivo, dedicado ao seu serviço e agradável a Ele”. Este seria, para o apóstolo, nosso culto lógico, racional, espiritual: a verdadeira forma de adoração, um entrega total e absoluta a Deus.
Sempre que leio sobre holocausto nas Escrituras penso nesse significado: oferecer um holocausto é fazer uma entrega total. E penso: e eu? Já fiz?
Será que nós dizemos que fizemos uma entrega total de nossas vidas a Deus, mas lutamos com unhas e dentes para mantermos o nosso controle sobre algumas esferas dessa vida?
Será que nós dizemos que ofertamos nossa vida como holocausto a Deus, mas esquecemos que ser consumido por Alguém deveria significar mergulhar em sua intimidade - e aí nem lembramos qual foi a última vez que meditamos nas Escrituras, que louvamos a Deus, que conversamos com Ele?
Será que nos oferecemos a nós mesmos "completamente a Deus como um sacrifício vivo, dedicado ao seu serviço e agradável a Ele” mas somente como um assentimento emocional ou intelectual sem repercussões reais em nossa vida?
Será que dizemos e fazemos tudo isso porque o hábito cultural de nossa sociedade implica a religião, mas consideramos a religião tão secundária que descartamos a importância de nossa espiritualidade, de nosso culto racional, de nossa relação com Deus?
O que precisamos mudar em nós para experimentarmos de verdade os impactos e as implicações de uma real oferta pessoal como holocausto?
Talvez a própria sequência do texto possa nos ajudar a encontrar a resposta:

Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês. Assim vocês conhecerão a vontade de Deus, isto é, aquilo que é bom, perfeito e agradável a ele.
Romanos 12. 2 (NTLH)


Alguém que se oferece como oferta total, como entrega completa, como um holocausto a Deus, só poderá ver as implicações disso quando experimentar uma completa, total mudança de mente.
E essa parte não depende de Deus - depende de mim e de você, apenas.
O chamado de Paulo é claro:

Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês.
Não é Deus quem vai tomar tal atitude por você. A atitude é só sua.
Aí sim, conhecendo a vontade de Deus, experimentando-a, a entrega de si mesmo como holocausto num culto lógico, racional, espiritual, fará diferença em sua vida e, de sua vida, na vida dos outros.
Consumido por Deus você será, acima de tudo, instrumento de Deus.

1.2.17

Ídolos

Ele derreteu todo aquele ouro e modelou, com uma ferramenta de escultor, a forma de um bezerro.
A reação do povo foi de entusiasmo: “São esses os seus deuses, ó Israel, que tiraram vocês do Egito!”.
Êxodo 32. 4


O capítulo 32 do livro de Êxodo tem uma mensagem muito clara para mim: mesmo diante da mais poderosa manifestação de Deus podemos construir uma religião, com nossas próprias mãos, que, mesmo se referindo a Ele, se afasta dEle. Uma religião que chama pelo nome de Deus um ídolo feito por mãos humanas.
O episódio me diz que não adianta estar diante de Deus: vamos sempre querer construir nosso próprio caminho religioso. A religião é, normalmente, um mecanismo humano que tenta ligar homens com homens para se aproximarem do Eterno, da Realidade Última da Existência.
Como em Babel (Gn. 11), construímos um edifício, uma torre, com tijolos que nós mesmos queimamos. Queremos chegar no céu, queremos alcançar Deus, queremos tornar nossos nomes conhecidos.
Mais que isso.
Se eu não sei o que aconteceu a Moisés, a tantos dias oculto na montanha enquanto conversa com Deus, se eu me sinto perdido, eu quero uma religião na qual eu controle as regras, os ritos, os processos e, se possível, o próprio Deus.
O bezerro é feito pelas ofertas dadas pelo povo. Feito pelo sacerdote. Nomeado pelo sacerdote:

“São esses os seus deuses, ó Israel, que tiraram vocês do Egito!”

É o sacerdote que anuncia que no dia seguinte haverá uma festa em honra ao Deus que os tirou do Egito - Yahweh. O sacerdote nomeia o Deus que ele mesmo fabricou: não é qualquer Deus, qualquer bezerro, mas é Yahweh, o Deus que os tirou do Egito.
Sinto que muito de nossa vida religiosa segue assim: mesmo diante do Deus vivo, somos incapazes de vê-lo e, assim, construímos ídolos que chamamos pelo nome desse Deus, mesmo que tenha pouco a ver com Ele.
Muito da nossa espiritualidade depende de uma imagem acerca de Deus que muitas vezes não corresponde àquela revelada nas Escrituras e em Jesus.
Muito da nossa espiritualidade depende de uma religiosidade que construímos com nossas próprias mãos, a partir daquilo que oferece o povo que crê, manipulado no fogo pelos sacerdotes.
Muito da nossa espiritualidade, diante do Deus vivo, caminha a passos largos para longe dEle.
Jesus tratou disso em outra região montanhosa, no meio do território dos samaritanos, ao lidar com um povo que, ele mesmo, se organizou em torno de uma proposta religiosa derivada do culto a Deus na forma de um bezerro (1 Rs 12. 29):

Mulher, acredite, está chegando a hora em que vocês, samaritanos, irão adorar o Pai, mas não neste monte nem em Jerusalém. Vocês adoram como que tateando no escuro. Nós, judeus, adoramos na clara luz do dia. O caminho de Deus para a salvação veio por meio dos judeus. Mas chegará o momento — na verdade, já chegou — em que não importará como vocês são chamados ou onde irão adorar.
O que conta para Deus é quem você é e como vive. Seu culto deve envolver o seu espírito na busca da verdade. Este é o tipo de gente que o Pai está procurando: aquele que é simples e honesto na presença dele, em seu culto. Deus é Espírito, e quem o adora deve fazê-lo de maneira genuína, algo que venha do espírito, do mais íntimo do ser”.
João 4. 21-24


Que nossa adoração prescinda de qualquer ídolo ou imagem de Deus que construamos por nossa própria força. Que nossa adoração venha do espírito, do mais íntimo de nosso ser, sempre.

31.1.17

Onde está Deus?

Diz o insensato no seu coração: Não há Deus
Salmo 14. 1


Não são raras as ocasiões em que as pessoas se questionam, ou nos questionam, perguntando: Onde está Deus? Nas grandes tragédias, como na Tsunami do ano passado [2004]; nos momentos de dor e morte, como em chacinas em que se mata, de graça, 30 pessoas no Rio de Janeiro. Momentos de mal e dor, pratos cheios para o desafios dos incrédulos.
O mundo, boa parte das vezes, parece provar que a fé em um Deus bondoso e de amor não é outra coisa senão uma grande mentira. Qualquer piedade, quando sentimento religioso, é visto como tolice. O problema do mal, o problema da dor, o dilema da morte, parecem atentar contra a realidade da presença do Deus vivo no nosso meio. Um Deus que é Senhor do universo e tem todas as coisas nas Suas mãos.
Dizem os que duvidam de Deus, diante grandes dores e tragédias, que se há um Deus, ou Ele não é Todo-Poderoso, e, por isso, não pode evitá-las, ou não é Bondoso e Amoroso, por isso, as deixa acontecer.
Se o nosso olhar for um olhar puramente humano, será impossível não darmos certa razão a essas críticas. Mas a nossa visão não parte de qualquer ponto humano. Devemos olhar a vida sob o prisma da Palavra de Deus. Sob esse prisma, não é tolo o que crê em um Deus Poderoso e Bom no universo. Antes, ao contrário, o tolo, o insensato, é aquele que diz no coração que não há Deus. Mas afirmar isso é reafirmar o aparente contra-senso: Deus é bom e poderoso e o mal continua reinando no mundo.
Isso me faz pensar em dois relatos que se contam sobre os dias no Campo de Concentração de Auschwitz, onde os nazistas mais mataram gente. Conta-se que um grupo de judeus assistia enquanto um oficial alemão espancava uma criança judia no campo de concentração. Após certo tempo, ele a matou com um tiro. Nesse momento, ouviu-se alguém perguntar: "Onde está Deus?" Ao que foi respondido: "Estava ali, com aquela criança".
Um outro relato é de um fato ocorrido alguns anos depois da Segunda Guerra. Em um debate entre alguns teólogos e filósofos famosos, um dos teólogos debatedores parafraseou uma fala de um poeta e disse que era possível orar depoisde Auschwitz porque se orava em Auschwitz.
Não acredito em respostas para a questão do mal. Não acredito que qualquer um tenha uma resposta, nem que precisamos tê-las. Não acho que a fé em Cristo nos dá todas as respostas. Não consigo entender nem jamais poderei entender isso. Mas sei de uma coisa: o Cristo a quem amo está sempre comigo, sempre conosco, mesmo no meio das maiores tragédias. Essa é a grande coisa do que Deus faz por nós. E é a grande certeza que podemos ter de que, ao contrário do que pensa o tolo, há um Deus.
O evangelho de João está repleto de promessas a esse respeito: Não vou deixá-los abandonados, mas voltarei para ficar com vocês ... A pessoa que me ama obedecerá à minha mensagem, e o meu Pai a amará. E o meu Pai e eu viremos viver com ela... Continuem unidos comigo, e eu continuarei unido com vocês (Jo. 14. 18; 23 e 15: 4). E, estando com Cristo, poderemos entender que mesmo que não saibamos o porquê do mal, podemos passar por ele, porque Ele está conosco: Eu digo isso para que, por estarem unidos comigo, vocês tenham paz. No mundo vocês vão sofrer; mas tenham coragem.Eu venci o mundo (Jo. 16. 33). Enfim, tolo é o que não se lembra que, quando subiu ao céu, Jesus não prometeu o fim do mal no mundo, mas que estaria conosco por todos os dias, até o fim dos tempos (Mt. 28. 20).
Jesus nunca nos prometeu que nos livraria da tragédia, do mal e da dor. Não. O cristianismo não é a mensagem de uma boa vida por todo o tempo. Mas a mensagem da Cruz de Cristo ensina que Ele sempre estará conosco. Ele pode não impedir que enfrentemos a dor, mas com certeza Ele estará conosco quando passarmos por ela, enxugando a nossa lágrima e fazendo com que a dor e o sofrimento sejam mais fáceis de suportar. Porque, sim, há um Deus. Houve um Deus em Auschwitz. Há um Deus na baixada fluminense. Há um Deus no meio das vítimas da Tsunami.

30.1.17

Sábado

Guardem o dia de sábado, para que sempre seja santo. Trabalhem seis dias e, nesse tempo, façam tudo que for necessário. Mas o sétimo dia é o sábado do Eterno, o Deus de vocês. Não realizem nenhuma espécie de trabalho, nem vocês, nem seu filho, nem sua filha, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seus animais, nem mesmo o estrangeiro em visita à sua cidade. Porque, em seis dias, o Eterno fez o céu, a terra, o mar e tudo que neles há e descansou no sétimo dia. Portanto, o Eterno abençoou o dia de sábado e o separou como dia santo.
Êxodo 20. 8-11


Jesus enfrenta o sábado em todo o seu ministério - não para negar sua importância, mas para relativizá-lo diante da forma estrita com que a ortodoxia religiosa lidava com o tema.
O refrão de Jesus era que o sábado foi feito por causa do homem, não o homem por causa do sábado.
O sábado é descanso e celebração. Não é necessariamente um dia da semana, mas aponta para essa dupla necessidade que o ser humano tem.
Quanto de nossa vida espiritual e emocional adoeceu porque não guardamos um sábado? Trabalhamos muito, levamos trabalho para casa e, quando deveríamos estar descansando, curtindo a família ou celebrando ao Senhor, seguimos trabalhando.
Quantos fins de semana perdidos em trabalhos?
Quantos cultos que não fomos por causa de trabalho?
Quantos momentos de devoção pessoal foram perdidos porque precisávamos trabalhar?
Quanto de nosso trabalho roubou nossa vida, nosso descanso, nossa celebração, nossa saúde?
O sábado nos lembra que precisamos ter um momento de, fechada porta do quarto, falarmos na intimidade com o Senhor, louvarmos, ouvirmos sua voz falada na Palavra de Deus.
O sábado nos lembra que precisamos ir à praia, ao parque, ao cinema, viajar, descansar, dormir sem ter hora para acordar.
O sábado nos lembra de olhar os olhos de nossa família, nossos cônjuges, nossos pais, nossos filhos, nossos amigos.
O sábado nos lembra que o tempo passa, mas haveremos de reservar um tempo para cuidar de nós e dos outros.
O sábado nos lembra que o mundo veloz, líquido, superficial, passageiro no qual nos inserimos não há de ser o definidor de nossa existência, de nossas relações, de nossa religião.
O sábado nos lembra que é necessário desacelerar.
O sábado é a marca que pontua e faz pulsar o relógio de nossa vida - minuto a minuto, hora a hora, a cada momento.
O sábado nos lembra de mergulhar nas profundezas de um rico relacionamento com Deus.

Portanto, o Eterno abençoou o dia de sábado e o separou como dia santo.

29.1.17

Impassível?

E o Eterno disse: “Faz tempo que venho observando a aflição do meu povo no Egito. Ouvi o povo clamar por livramento das mãos dos seus senhores e conheço muito bem o sofrimento dos israelitas. Agora desci para ajudá-los, para livrá-los do domínio do Egito"
Êxodo 3. 7-8


Para Aristóteles, Deus é o Motor Imóvel do universo. Essa ideia penetrou na teologia cristã ainda na Idade Média - muitos teólogos a partir de Tomás de Aquino se valeram da filosofia de Aristóteles para desenvolverem suas construções de fé.
O Motor Imóvel não pode mudar e, por isso, é Impassível - diante da dor e do sofrimento, diante da paz e da alegria, o Motor Imóvel segue igual.
Além disso, muita gente crê em Deus como um Todo-Poderoso e Soberano que já escreveu toda a história passada, presente e futura - portanto, uma história sob Seu controle mas completamente imutável.
Muita gente faz de Deus imutável - ser o mesmo ontem, hoje e sempre, para tais pessoas, faz de Deus alguém Impassível - alguém cuja misericórdia e a compaixão se existirem, são ficções, porque não representam nenhuma mudança no Seu Ser e nas Suas ações.
No entanto, o resumo do chamado de Moisés no Êxodo é que o Eterno não é Impassível. Ele vê, Ele ouve, Ele conhece e Ele, por isso, é tocado e desce para socorrer.
O Eterno não é Impassível.
Diante de um Deus que se compadece podemos saber que nunca estamos sozinhos.
Ele vê sua aflição. Ele sabe o que você está passando. Sabe quanto dói. Sabe que, por vezes, você sente que não aguenta mais. Sabe que você tem vontade de sumir e esgotou suas forças na tentativa de escapar da dor e da aflição. Sabe que você pode estar no limite. Ele vê sua dor e sua angústia.
Ele ouve a sua oração, o seu clamor. Você não chorou sozinho. A dor não doeu só em você. Você não jogou palavras ao vento, mas falou para um Deus que ouve. Se ninguém mais ouviu você, Ele ouviu. Ele ouviu e ainda ouve seu clamor.
Ele desceu para socorrer você. Ele não é impassível. Ele se importa com o que você está passando. Ele desceu, Ele veio até você.
A revelação do Deus da Bíblia tem a ver com um Deus que desce até nós para se revelar e nos libertar - ao invés de uma religião em que os humanos constroem ritos e regras para que alcancemos, tal qual numa Torre de Babel, a Divindade.
A revelação que Deus faz a Moisés aponta para aquela que se manifestou plenamente em Jesus. Em Jesus, o Eterno se fez um de nós. Se Deus fosse um Motor Imóvel, um Deus imutável, nunca poderia ter sido um de nós em Jesus. Nunca haveria esvaziamento, nunca haveria Emanuel, Deus conosco. Nunca haveria vida verdadeira tocada pelo Eterno, cruz, ressurreição e Espírito Santo.
Deus desce para nos livrar finalmente se tornando um de nós.
Deus desce para nos livrar e morar em nós pelo Seu Espírito.
Não é fácil passar por sofrimentos como os hebreus passavam no Egito. Não deve ser fácil enfrentar a dor e as circunstâncias que você está enfrentando. Pode ser que no meio do sofrimento você ainda se sinta sozinho e abandonado por amigos e parentes.
Há um momento no relato de Êxodo 5 que as coisas pioram logo depois de Moisés e Arão falarem com o Faraó. Agora os escravos precisam fazer a mesma cota de tijolos diária, mas sem que os egípcios forneçam a palha necessária. Os castigos aumentaram, a dor aumentou, o sofrimento aumentou.

Moisés orou ao Eterno e perguntou: “Por que tratas tão mal este povo? E por que me enviaste? Desde o momento em que fui falar ao faraó em teu nome, as coisas só pioraram para o povo. Libertação? É essa a ‘libertação’ que pretendias?”
Êxodo 5. 22-23


Nessa hora, por mais que seja difícil, acredite que Deus não é impassível - Ele desceu a fim de livrar você. Se mais ninguém está ao seu lado, Ele está não apenas ao seu lado, mas o Emanuel habita em você por meio do Espirito Santo.
Ele nunca o deixará e nunca o abandonará. Ainda que você não saiba quanto tempo ainda haverá até a libertação, Ele está com você e será sua força para que você passar por tudo.
Ele levará você à terra prometida.

“Faz tempo que venho observando a aflição do meu povo no Egito. Ouvi o povo clamar por livramento das mãos dos seus senhores e conheço muito bem o sofrimento dos israelitas. Agora desci para ajudá-los, para livrá-los do domínio do Egito"