Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa do seu pai e vá a uma terra que eu lhe mostrarei.
Gênesis 12. 1
Por uma série de fatores, a maior parte de nós concorda com a fala da Dorothy do Mágico de Oz de que não existe lugar como o nosso lar. O nosso lar é um ninho de abrigo e proteção com o qual nos acostumamos ao longo de toda uma vida. Ali, temos o calor do amor, a proteção contra os perigos. Desde a mais tenra infância, sob as asas dos pais e dos parentes que nos amam, somos protegidos quando nos arriscamos em desafios. Mesmo quando os enfrentamos, sabemos que voltaremos ao lar no fim do dia.
Por fatores assim, é muito difícil para a maioria de nós abrir mão do cuidado e da proteção do lar. Deve ter passado isso na cabeça de Abrão, quando Deus lhe fez esse desafio. Era hora de largar tudo e enfrentar nova vida e novos desafios. O desconhecido estava à sua frente. Deus o chamava para abrir mão da segurança de toda uma vida e aceitar o imponderável à sua frente.
Por isso Abrão é o pai da fé. A atitude de largar tudo, deixar uma vida para trás e aceitar o desafio divino é a manifestação mais perfeita da fé naquele que falava. Somente a crença em algo muito poderoso pode nos impulsionar a largar tudo em busca de uma visão que, afinal de contas, nem está tão definida assim. O desafio de Abrão era complexo: deixar a vida segura que levava, abandonar aqueles a quem amava, o lugar de sua infância que afetivamente ainda o impressionava e ir para um lugar desconhecido – cujo caminho até lá era uma incógnita. Somente um jogo de fé profunda em Deus poderia suportar essa sua decisão. Somente lançando-se em um relacionamento profundo e real com o Criador Abrão poderia decidir-se e se realizar em sua decisão.
Às vezes nós estamos na mesma encruzilhada que Abrão – que afinal mudou de nome para Abraão. Somos desafiados a mudar de vida, a deixar para trás uma velha vida. Os nossos adolescentes, em torno dos 18 anos, passam por isso quando se vêem obrigados a deixar a velha escola e ingressar numa faculdade que, imaginam, decidirá o futuro de sua vida. Ao saírem, experiências semelhantes. Coisas assim acontecem em diversos momentos da vida da gente.
Tive um professor quando estudava missões que costumava dizer que precisamos ser desinstalados. Esse, para mim, é o segredo da realização da vida de fé com Deus. Isso significa fazer do coração o lar, local de encontro com o Deus vivo e pessoal por meio de Jesus Cristo. Assim, isso é estar disposto a deixar tudo e seguir a vocação de Deus, como Abrão.
Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa do seu pai e vá a uma terra que eu lhe mostrarei. Esta semana estive visitando minha terra, minha família. A partida é dolorosa. Somente a fé e o relacionamento com o Pai podem nos suportar nisso. Literalmente, Deus me fez o desafio de Abrão: deixar a terra, os parentes, a casa da família e ir para uma terra que eu não conhecia. Essa primeira etapa já tem dois meses, mas esse fim de semana percebi fortemente a grandeza da decisão de não mais voltar ao antigo lar.
Algumas coisas devem estar firmes no coração para nos motivar em horas assim. Primeiro, a certeza de que é o Senhor quem faz essas coisas. Se sou servo dEle, devo obedecer a Sua vontade – mesmo que isso signifique abandonar tudo o que mais amo na vida. Isso é fé.
Depois, movido por essa fé, devo estar certo de que vou para uma terra que Ele me mostrará. Ou seja, estou indo para o lugar e a situação que Ele planejou para mim. Ir, nesse caso, é permanecer no melhor lugar do mundo: o centro da vontade de Deus. Mesmo que o futuro seja invisível a olhos humanos e humanamente incerto, Deus estando à frente de tudo e guiando nossos passos nessa caminhada – pela fé – é motivo de segurança e realização.
O texto da vocação de Abrão continua dizendo algumas coisas, das quais quero destacar duas idéias: Os seus descendentes vão formar uma grande nação. Eu o abençoarei, o seu nome será famoso, e você será uma bênção para os outros (Gn. 12. 2). Ficar quieto no nosso cantinho, o lar que amamos e ao qual estamos acostumados, implica não receber as bênçãos que Deus tem reservado para nós, caso saíamos com fé de onde estamos. Ficar no nosso canto, acomodados, é abrir mão da novidade de vida que Jesus tem para nós.
Ficar é perder a bênção de receber da graça de Jesus o que Ele tem reservado. Mas ficar é, especialmente, perder a bênção de ser bênção para pessoas que ainda nem conhecemos. Não atender à vocação do Senhor de deixar tudo significa não permitir que muitos recebam bênçãos do Senhor que viriam por nosso intermédio.
Estou desinstalado e em trânsito. Por enquanto no Rio, em novembro em Salvador. Estou me sentindo realizado por saber que o caminho está sendo mostrado pelo Senhor. Estou feliz por estar atendendo à vocação dEle, por saber que Ele tem uma vida nova para mim – para a Sua glória – onde eu vá ou esteja. E estou plenamente satisfeito com isso porque sei que Deus me tirou do meu ninho não só para me abençoar ricamente, como tem feito, mas para me fazer ser bênção na vida de pessoas que nem imagino que existam, de maneiras que nunca passaram pela minha cabeça.
Na hora de decidir por deixar o ninho, atendendo uma vocação divina, lembre que Ele guiará você para o melhor lugar: o centro da Sua vontade. E você será plenamente realizado com as Suas bênçãos e por ser bênção também para pessoas que você ainda vai encontrar, sob as asas do Pai.