16.4.05

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Humilhando-se sob a mão de Deus

Portanto, sejam humildes debaixo da poderosa mão de Deus para que Ele os honre no tempo certo.
1 Pedro 5. 6

Eu olho para esse texto e penso em uma situação de injustiça que o povo de Deus tem enfrentado no tempo em que Pedro está escrevendo. No capítulo anterior, o apóstolo ensina que os cristãos não deveriam se admirar da prova de aflição que estão enfrentando, mas sim se alegrar por estarem tendo a oportunidade de sofrerem por amor de Cristo. Vocês serão felizes se forem insultados por serem seguidores de Cristo, porque isso quer dizer que o glorioso Espírito de Deus veio sobre vocês. Se algum de vocês tiver de sofrer, que não seja por ser assassino, ladrão, criminoso ou por se meter na vida dos outros. Mas, se alguém sofrer por ser cristão, não fique envergonhado, mas agradeça a Deus o fato de ser chamado por esse nome (4. 14 – 16).
O contexto em que Pedro escreve é, portanto, o contexto de perseguição injusta. E, quando somos injustiçados e sofremos por causa disso, nossa reação natural, instintiva até, é de auto-proteção, de defesa. Queremos reagir ao mal sofrido da maneira que for preciso. Mas não é isso que devemos fazer. Portanto, sejam humildes debaixo da poderosa mão de Deus para que Ele os honre no tempo certo. Se somos injustiçados, precisamos entregar o controle nas mãos de Deus, nos humilharmos sob Suas mãos.
Mas é aí que está o problema. Nós gostamos de ter o controle de nossas vidas. Gostamos de controlar os nossos passos, de entender o que está acontecendo conosco, de definir os lugares em que queremos chegar e controlar o nosso caminho até lá. Humilhar-se, no entanto, neste caso, é aceitar ceder o controle de tudo em nossa vida. É entregar a direção de tudo ao Senhor, esperando que, no momento apropriado, Deus corrigirá todas as distorções e nos honrará.
Enquanto isso não acontece, a ansiedade é algo praticamente inescapável. Não gostamos, como seres humanos, de sermos dependentes. Quando somos forçados a depender (ao entregar o controle das coisas nas mãos de Quem sabe) e quando a solução que esperamos demora, nasce em nossos corações a ansiedade. Ansiedade que é quase uma aflição degeneradora. Ansiedade que nasce porque não temos o controle de nossos passos.
Ano passado, nós fizemos uma viagem à Recife. Um dia só, todo o pessoal da igreja. Lá, fomos ao Veneza Water Park. Tinha um tobogã aquático chamado Anaconda. Obviamente, o seu formato era o de uma enorme cobra. Você entrava pelas escadas e quando escorregava pelos poucos segundos que levava a aventura, você não via nada. O Anaconda não tem nenhuma iluminação. Você não faz idéia de onde está, nem do que vem a seguir, nem quando chegará na piscina lá embaixo. Para alguns, passar por essa situação é profundamente aflitivo. Você não tem nenhuma possibilidade de controlar seus passos, seus caminhos. Você está rendido à Lei da Gravidade. E é essa impossibilidade de controle da vida que pode gerar ansiedade.
Do mesmo modo, pode acontecer quando você cede a direção de sua vida ao Pai Celeste, mesmo ciente de que Ele sabe o que é melhor, conhece todo o caminho e levará você à melhor situação possível. Ainda assim pode restar a ansiedade. Não sabemos ser dependentes. Quando você desce no Anaconda pode relaxar ao lembrar que sabe onde acaba a aventura, mesmo que não veja onde está no momento. Você pode se projetar para o futuro e pode experimentar certa tranqüilidade. Na vida, você tem uma saída: Entreguem todas as suas preocupações a Deus, pois Ele cuida de vocês (v.7). Nele, você sabe como acaba a aventura.

15.4.05

O melhor presente

Vocês, mesmo sendo maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos. Quanto mais o Pai, que está no céu, dará o Espírito Santo aos que lhe pedirem!

Lucas 11. 13.

Como qualquer criança, adorava receber presentes de minha mãe. Como qualquer criança, também, detestava quando estes eram roupas. Pensem em uma frustração cada vez que desembrulhava um pacote e me deparava, não com aquele carrinho cujo comercial vira na televisão, mas com um conjunto para passear nos domingos.

Nem todas as coisas que eu gostaria de ter podiam ser compradas por minha mãe. Cedo me conscientizei disso. Então, nem criava expectativas, nem pedia por determinadas coisas. Sabia que algumas delas eram um tanto inalcançáveis. Com isso, nunca tive aquela bola de futebol que sempre sonhei. Mas ganhei grandes e bons presentes, porque minha mãe, acima de tudo, me amava. E amava muito. Ela sabia como me dar bons presentes, nos seus limites. E ela sabia que presentes eu não deveria ganhar por não serem adequados.

É disso que fala o nosso texto. Minha mãe, humana, podia saber de tudo isso. E não me negaria qualquer coisa, desde que não fosse arriscado para minha segurança, que eu lhe pedisse como presente de aniversário ou do dia das crianças. Se minha mãe sabia isso, imagine o que não sabe o meu Pai celeste. Com uma vantagem: o orçamento não é empecilho ou limite. Deus dá o que for o melhor para nós, e dá abundantemente, e dá gratuitamente.

No texto paralelo de Mateus, no lugar de Espírito Santo surge a expressão “boas coisas”. Isso implica, claramente, que a melhor coisa que o ser humano pode querer, que pode pedir a Deus e pode receber dEle é o Espírito Santo. E esse não nos é dado por medida, com limitações. Basta pedir. Basta clamar com um coração sedento. Basta suplicar ao Pai celestial. Se minha mãe, sendo humana, não podia me negar, por causa de seu amor, qualquer coisa que eu pedisse, quanto mais Deus não me dará o melhor presente, o Espírito, se eu Lhe pedir.

Se não vivemos uma vida plena, na plenitude do Espírito, tomados plenamente por Deus, é porque não aprendemos a pedir isso ao Pai.

Pedimos tudo, mas não nos lembramos de pedir o melhor, a melhor coisa: o Espírito Santo.

Pedimos tudo, mas pedimos mal. Pedimos bênçãos egoísticas para gastar em nossos próprios e particulares prazeres. Pedimos assim e não recebemos, porque deixamos de pedir a melhor coisa, aquela que mais nos abençoará e mais nos fará ser bênção para os outros.

Não pedimos para nos embriagarmos pelo Espírito Santo. Não pedimos que Ele nos encha. Que nos tome plenamente. E não sabemos, assim, o que temos perdido. Porque todos aqueles que pedem recebem; aqueles que procuram acham; e a porta será aberta para quem bate... Vocês, mesmo sendo maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos. Quanto mais o Pai, que está no céu, dará o Espírito Santo aos que lhe pedirem! (Lc. 11. 10 e 13). Peça pelo Espírito, o melhor presente que o Melhor Pai quer lhe dar.


14.4.05

A graça na vida


Porque a Tua graça é melhor do que a vida; os meus lábios Te louvam.

(Salmo 63. 3)

Eu serei totalmente redundante ao afirmar que o pior mal que aflige as pessoas na sociedade contemporânea é a depressão. Doença terrível, tem como conseqüência lógica, se não for tratada, a morte por suicídio. A depressão faz com que o individuo acredite que a vida perdeu a graça. A depressão é a doença da vida sem graça, sem sentido. E de uma vida sem graça se abre mão sem pestanejar.

Muita gente está vivendo vidas sem graça. Mergulham em seus traumas, em suas dores. São afogados por suas mágoas. E, gradativamente, vão se destruindo e vão destruindo toda a alegria de viver e toda graça da vida. Vão descendo cada vez mais até o fundo de um poço de perdição. De morte. Vida sem graça é morte certa.

O primeiro passo para sair dessa situação é reconhecer o problema e buscar formas de se livrar de tudo aquilo que só contribui para o próprio naufrágio no mar de dores. Cada mágoa, cada trauma, cada dor, se não for tratado, pesará como âncoras a nos empurrar para o fundo de morte das águas de nossas piores emoções. Vida sem graça.

Mas uma vida sem depressão também pode ser sem graça. A promessa de Jesus é de vida abundante. De vida plena. Essa mensagem tem sido deturpada de diversas maneiras, e temos perdido a chance desse nível diferenciado de vida. A vida, que não precisa ser levada pela depressão, também não precisa ser ordinária.

A maior descoberta que alguém pode fazer na vida é que a Graça do Senhor é maior que a vida. O maior impacto que nossas vidas podem sofrer é o impacto de descobrir que a Graça do Senhor é maior que a vida.

Quando mergulhamos no oceano de amor do Senhor, percebemos, pouco a pouco, que as coisas mais importantes para nós, e mesmo a nossa própria vida, se tornam secundárias diante do prazer de se estar na presença do Senhor. A vida de graça plena é aquela que descobre que nada é melhor que estar na presença graciosa de Deus, por meio de Jesus. Nada é melhor que experimentar a graça na vida, nem mesmo a própria vida.

A descoberta da graça na vida nos empurra para uma nova dimensão. Nosso maior prazer é a comunhão com o Senhor. Não nos importa o relógio, não nos importa as regras sociais, não nos importa o que os outros pensem. Nada que seja relevante na vida importa mais para aquele que descobre o prazer e o gozo da presença do Senhor. Quem descobre que a graça na vida é maior e mais plena e importante que o próprio viver, descobre que nem a morte pode destruir isso. Descobre que todos os pesos que possam, porventura, tentar rouba-lhe a vida, são sempre esmigalhados pela graça.

A graça na vida inverte nossos juízos de prioridade. Se há coisas importantes que merecem nossa atenção na vida, elas se deslocam imediatamente para o segundo plano. Se eu tenho aulas para preparar, se eu tenho pesquisa para realizar, se eu tenho contas para pagar, telefonemas para fazer, nada disso se interpõe entre mim e a minha maior prioridade da vida; nenhuma dessas coisas jamais será mais importante para mim do que experimentar a graça na vida por meio da comunhão com o Pai.

A descoberta da graça na vida faz ter sentido renovado, para nossos corações, as palavras da oração do salmista. A gente agora entende exatamente o que quer dizer: Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu Te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de Ti; o meu corpo Te almeja, como terra árida, exausta, sem água. Assim, eu Te contemplo no santuário, para ver a Tua força e a Tua Glória (Sl. 63. 1 – 2). A graça na vida faz as palavras perderem a capacidade de comunicar. Estes sentimentos e as nossas novas dimensões de vida plena não se traduzem em palavras humanas. Porque a Tua graça é melhor do que a vida; os meus lábios Te louvam (v.3).

13.4.05

Paz sem voz é medo
Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou. Não vo-la dou como o mundo a dá.
(João 14. 27)
O conceito bíblico de paz é totalmente abrangente. O shalom envolve todas as dimensões da vida humana, no campo pessoal e social. Logo, quando Jesus nos promete deixar e dar a Sua paz, Sua promessa engloba toda uma série infinita de motivos, de ações, de vidas, de campos. Ele nos promete a paz plena. Paz com Deus. Paz com os homens.
Dessa maneira, Jesus nos oferece uma real paz social. Uma paz que todos nós queremos e precisamos. A paz que pode gerar o fim de todas as formas de opressão e violência. Uma paz que Marcelo Yuka provavelmente quereria, se pudesse contemplá-la e compreendê-la.
A minha alma (A paz que eu não quero)
A minha alma está armada
e apontada para a cara
do sossego
pois paz sem voz
não é paz é medo
às vezes eu falo com a vida
às vezes é ela quem diz
qual a paz que eu não quero
conservar
para tentar ser feliz
as grades do condomínio
são para trazer proteção
mas também trazem a dúvida
se não é você que está nessa prisão
me abrace e me dê um beijo
faça um filho comigo
mas não me deixe sentar
na poltrona no dia de domingo
procurando novas drogas
de aluguel nesse vídeo
coagido pela paz
que eu não quero
seguir admitindo
O Rappa afirma o grito de uma sociedade amedrontada pela violência. Uma sociedade que clama por paz. Mas uma paz que é diferente de grades que trazem proteção e a dúvida sobre quem é prisioneiro. Diferente de uma paz que executa crianças (e trabalhadores) da Baixada Fluminense apenas com a desculpa de que se precisa manter a ordem social. Uma paz indisfarçavelmente conivente e comprometida que nos conduz a ver o mundo pela tela de uma tevê, cada domingo consumindo os novos produtos entorpecentes oferecidos por Gugus e Faustões da nossa indústria cultural. Que nos põe distante das pessoas, por muros, grades e câmeras, de tevê e de segurança. Paz essa que é falsa paz, paz sem voz, não é paz, é medo.
Essa denúncia se assemelha àquela do profeta Jeremias, quando diz, sobre os profetas e sacerdotes do povo de Deus: Curam superficialmente a ferida de meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz (Jr. 6. 14).
O clamor de Marcelo Yuka é, e ele não sabe, por experimentar o shalom de Deus que Jesus veio nos dar. Uma paz ampla que possa perceber toda a dimensão do problema e trazer soluções que construam um novo futuro. E que não o mate pelas mãos do poder paralelo das drogas, pelo poder executor da polícia (e a conivência da sociedade) ou pelo poder subliminar midiático. Uma paz real, que promova a aproximação e reconciliação entre os homens e por toda a sociedade.
Isso aplica a todas dimensões de relacionamentos humanos, relacionamentos que precisam dessa paz, sejam em sociedade, sejam com o próximo, sejam, o mais importante, com Deus. A paz que essa música busca, e que está disponível em Jesus, é quem nos dá força para nos aproximar tanto do nosso próximo como de todo sujeito dessa sociedade em busca de reconciliação. Porque somente essa paz nos faz ter força para encarar a dor que esse processo de reconciliação traz.
Mas somos, como cristãos, embaixadores da reconciliação. Anunciamos a possibilidade de reconciliação com Deus, com o próximo e entre a sociedade. Anunciamos a possibilidade de vivermos uma paz real, com voz e sem medo. A paz do amor de Deus, que lança fora todo medo. Anunciamos a possibilidade de construirmos, todos juntos, por vínculos reais e concretos, um novo futuro, uma nova sociedade. A partir de novas espécies de relacionamento, onde reine o amor e a paz de Deus em Jesus Cristo.
Quem quer manter a ordem?
Quando eles estavam saindo da água, o Espírito do Senhor levou Filipe embora. O funcionário não viu mais Filipe, porém continuou sua viagem, cheio de alegria. De repente, Filipe se encontrou na cidade de Azoto e seguiu viagem, anunciando o evangelho por todas as cidades até chegar a Cesaréia.
(Atos 8. 39 - 40)

Manter a ordem é uma idéia tipicamente positivista, estando impregnada na mentalidade da igreja muitas vezes. Firmada na nossa, correta, de que a rebeldia é pecado, e numa interpretação estrita e perigosa de textos como Romanos 13. 1 – 7. Os defensores da manutenção da ordem vão sempre me dizer que Deus é o Deus da ordem. Que criar desordem é coisa do diabo. Será?
Penso que o Deus que se revela na Bíblia não é bem assim. Deus criou muitas desordens na história. Quando nasce a Igreja (relato de Atos 2), o evento pentecostal é puramente desordenado. Chegam a pensar que os discípulos estão bêbados!
Quando nasce a Reforma, outro momento de desordem. Lutero chega a ser proscrito do império. Ele é um subversivo.
Agora, não existe criação de desordem cósmica maior do que na história de uma jovem, noiva de um homem que, sem manter relações com homem algum, aparece grávida do Espírito Santo (quer dizer, do próprio Deus). Três desordens: engravidar-se sem relações; engravidar-se do próprio Deus; gerar no ventre o mesmo Deus.
A Encarnação de Cristo é a maior desordem cósmica e eterna jamais havida. Promovida pelo Deus da revolução em favor da humanidade a quem Ele ama; Ele mesmo se tornou um de nós.
Mas hoje eu estava pensando em um personagem do livro de Atos que adorava uma desordem. Filipe aparece, em primeiro lugar, no capítulo 6. De antemão, ele já é definido como alguém cheio do Espírito Santo e de sabedoria, pré-requisito para a escolha dos diáconos.
Em que ele vem a quebrar a ordem? A escolha dos diáconos atendia a um objetivo específico. Eles estavam sendo escolhidos para servir à comunidade, liberando os apóstolos para que eles sim se dedicassem à pregação. Não era o papel dos diáconos, não era o de Filipe, pregar. Eles não eram os missionários da igreja. Só que Filipe, como Estevão, não deu a mínima atenção para essa ordenação. Já no capítulo 8, vemos Filipe anunciando o evangelho em Samaria e multidões se convertiam e milagres aos montes iam acontecendo.
Depois que Pedro e João confirmam, segundo uma manutenção de ordem já caduca, o ministério de Filipe em Samaria – existe confirmação maior do que os milagres e as conversões? - , é hora de ele subverter a ordem lógica. Ministério de sucesso, Deus o tira de lá e o manda ir para o meio de uma estrada deserta. Ali, encontra um homem, funcionário da rainha da Etiópia, e prega apenas a ele. Das multidões a um homem. E depois de batizá-lo, é hora de subverter a ordem cósmica. Tempo e espaço são desordenados para esse desordenado homem cheio do Espírito: Quando eles estavam saindo da água, o Espírito do Senhor levou Filipe embora. O funcionário não viu mais Filipe, porém continuou sua viagem, cheio de alegria. De repente, Filipe se encontrou na cidade de Azoto e seguiu viagem, anunciando o evangelho por todas as cidades até chegar a Cesaréia. (At. 8. 39 - 40).
Ser cheio do Espírito Santo é se dispor, como Filipe, a viver uma vida de pura desordem. A ordem, para aquele que é guiado pelo vento que sopra onde quer, está caduca. Procurar a sua manutenção, sob qualquer desculpa, é atentar contra a ação poderosa de Deus na execução de Sua vontade.
Deus não se revelou segundo a ordem do templo na pessoa de Jesus. Desde o seu predecessor, João Batista, que pregava no deserto, fora do circuito religioso oficial, fora da ordem social estabelecida. Em Jesus, Deus promoveu a desordem cósmica por excelência. E a partir do Pentecostes, o Espírito enche a vida da Igreja e dos cristãos, não para que lutemos para manter a ordem, mas sim para que, ousadamente, vivamos uma vida de desordem que manifeste o impacto do poder utópico (isto é, crítico) do Reino de Deus entre nós.
E então: quem quer criar desordem?

11.4.05

Vigilância

Vigiem e orem...
Mateus 26. 41

Sou fã de Clint Eastwood como diretor. Fiquei profundamente impressionado com Sobre meninos e lobos. O filme mostrou alguém que deseja mostrar o ser humano como ele realmente é, ou seja, contraditório, cindido pelo pecado, alguém que, mesmo desejando fazer o que é certo, acaba agindo mal e de forma destrutiva. O filme aponta uma situação sem redenção, como sem redenção é a vida sem Deus.
Os filmes de Eastwood não apresentam redenção possível. Ainda assim, para mim são bons retratos do ser humano. E quando começaram a badalar Menina de ouro, não pude deixar de querer assistir. Assisti duas vezes. Uma antes e uma depois do filme se tornar o grande vencedor do Oscar. E não vou contar o filme aqui, mas tem uma frase que Frank, o personagem de Eastwood, repete à exaustão aos seus pupilos, e que se torna central no filme: proteja-se sempre. Quem assistiu sabe como esse alerta ganha dimensões dramáticas na história de Maggie.
A Bíblia nos alerta também, sempre, a que nos protejamos ininterruptamente. Estamos no meio de uma luta, mais violenta que um combate de boxe, e, por isso, precisamos nos proteger sempre. E sem parar. Em um determinado momento do filme, Maggie insiste com Frank que quer lutar, mas ele diz que ela não estará pronta até aprender a se proteger. Então, a lutadora passa a treinar amarrando a luva esquerda contra o próprio rosto, para aprender a manter a guarda levantada, protegendo o queixo em todo tempo. Aquela atitude precisa se tornar natural para Maggie. Ela tem de fazer sem precisa pensar. A auto-proteção, a guarda levantada, precisa ser algo praticamente instintivo na sua vida.
De modo semelhante, encaro os alertas da Bíblia acerca da vigilância e da proteção. Encontramo-nos em luta, mesmo que não tenhamos essa consciência a maior parte do tempo. Não podemos, de modo algum, baixarmos a guarda, em instante algum, sob pena de um resultado fatal. Se não formos capazes de tornarmos a auto-proteção espiritual algo praticamente instintivo em nossa vida, corremos o risco de sermos derrotados nessa batalha contra inimigos invisíveis.
Nossa luta não é contra adversários que se movimentam à nossa frente em ringues de boxe. Nossa luta é contra seres celestiais, poderosos, que têm único objetivo na vida, e, com esse objetivo, se voltam contra nós: O ladrão só vem para roubar, matar e destruir (João 10. 10). Pode ser, portanto, que pareça que nada está acontecendo, mas em momento algum os nossos adversários desistem de seus objetivos. Em momento algum eles param de lutar contra mim e contra você. Por isso, mesmo que pareça que o sino bateu marcando o fim de um assalto e, por isso, você não será atacado, não esqueça de se proteger sempre. Contra esses inimigos, não há intervalo. É preciso sempre de resistir ao diabo, sujeitando-se a Deus, então ele fugirá.
Nos momentos finais de sua vida na terra, angustiado, Jesus vai orar no Getsemani, levando alguns discípulos com Ele. E eles adormecem. No momento de luta mais renhida, eles estão dormindo. Por isso, Ele lhes diz, palavras que se dirigem a nós hoje: Será que vocês não podem vigiar comigo nem uma hora? Vigiem e orem para que não sejam tentados. É fácil querer resistir à tentação; o difícil mesmo é conseguir (Mt. 26. 40 – 41).
Esse é o grande problema. Estamos no meio da luta, mas não conseguimos nos manter acordados e vigilantes. Assim, não demorará muito para o nocaute. Mas o Senhor não pode permitir que isso aconteça, de modo que clama para que nos mantenhamos vigilantes e acordados, orando o tempo todo para não cairmos em tentação. Ele clama, como Frank no filme, que nos protejamos sempre, que mantenhamos a guarda levantada em todos os momentos. Ele clama para não darmos as costas à luta. O nosso inimigo não desiste e a nossa única chance de vitória é sermos vigilantes e precavidos todo o tempo, sujeitando-nos a Deus, resistindo aos ataques do diabo, mantendo a guarda levantada. Protegendo-nos sempre. Não esquecendo disso.
Estamos em luta. Luta que não tem intervalos. Luta mortal, que se perdermos perdemos mais que um cinturão de campeão. Estamos em luta. É hora de acordar, vigiar, orar e se proteger sempre.

10.4.05

O carcereiro

Senhores, o que devo fazer para ser salvo?

At. 16. 30

Imagine essa figura do livro de Atos, inteirado a respeito de todos os eventos desse dia especial na cidade de Filipos. Pela manhã, percebeu a confusão gerada por um judeu de Tarso. Esse homem, com uma autoridade ímpar e usando o nome de um tal de Jesus, virou-se para uma conhecida pitonisa da cidade e repreendeu o deus que lhe falava.

O pobre homem despertou a ira dos maiorais da cidade, que conseguiam faturar muito dinheiro explorando o dom que a jovem possuía. Mas agora, por causa desse ousado Paulo e do nome que ele usou, o dom cessara. A fonte de dinheiro daqueles homens se esgotara. Impressionante o testemunho de Paulo e de seus companheiros.

Mas o carcereiro não tinha idéia do que ainda ocorreria. Mandaram prender Paulo. Mandaram surrar Paulo. O carcereiro já tinha visto esta cena dezenas de vezes, mas agora havia algo diferente. Os homens costumam chorar, gritar enquanto apanham. Paulo e seu companheiro, não. Eles cantavam. O carcereiro estava se emocionando. Que fé é essa que possibilita ao homem sofrer cantando? Quem é esse Jesus?

Aqueles cânticos foram entrando no seu coração e transformando as coisas. Porém, mas do que os cânticos, a própria postura e a própria de Paulo estavam tocando o carcereiro. Não havia rancor na sua voz, não havia ódio em seu olhar. Não havia sentimentos de vingança. Suas palavras pareciam inundadas pelo amor que ele cantava. E o carcereiro foi ficando triste porque era claro que Paulo e Silas sofriam injustamente.

Curiosidade e dúvidas começaram a pulsar em sua mente e em seu coração. Enquanto via aquela cena terrível, enquanto ouvia aquele canto bonito no meio da noite, vindo de homens moídos pela tortura, o coração do carcereiro enchia-se com a pergunta: Que fé é essa? Quem é esse Jesus? Ele sentia que havia uma doce presença ali. Mas adormeceu.

No meio da noite, um terremoto e o carcereiro acordou sobressaltado. Correu para a área das celas e as viu abertas. Estava condenado. Ia ser justiçado e morto por ter permitido que todos aqueles presos, alguns deles perigosos, fugissem. Ele não pensava ainda com clareza, semi-acordado, mas se prepara para dar cabo da própria vida.

Até que Paulo fala: Não faça isso! Todos nós estamos aqui! (At. 16. 28). Ninguém fugiu. Foi a gota d´água no amor de Deus. Na última hora, o Deus de Paulo preservou a vida do carcereiro. Nenhum fugiu, tocado pela presença de Deus. O coração do carcereiro se encheu de temor. Ele quer conhecer e viver a mesma fé de Paulo. Ele quer saber quem é esse Jesus, em quem ele crê. Senhores, o que devo fazer para ser salvo? E o carcereiro faz a pergunta mais importante que alguém pode fazer na vida. Essa é uma pergunta fundamental para todo ser humano: como se é salvo?

O impacto do testemunho e da palavra na vida de Paulo, que culminou com a preservação da vida do carcereiro, provocaram no seu coração o desejo de busca por uma vida como a dele. Vida de abandono do pecado. Vida para Deus. O que devo fazer para ser salvo? Promessas? Sacrifícios? Penitências? Passes? Não, nada disso. Creia no Senhor Jesus e você será salvo (At. 16. 31).

Todos nós, eu e você, precisamos passar por uma experiência como essa que nos leve a questionar como podemos ser salvos. E precisamos experimentar a resposta: para ser salvo basta crer em Jesus. Que o seu coração se pergunte e que o Senhor lhe traga a resposta: Creia no Senhor Jesus e você será salvo.