17.11.08

Planalto de graça

Passando pelo serrado do planalto central do país, foi inevitável pensar no significado, ou significados, da graça de Deus. Nessa minha viagem algumas coisas foram bem marcantes.
Primeiro, a beleza da natureza composta pelo Senhor e tocante. Confesso que a natureza dessa região me pareceu de uma simplicidade comovente. Se penso na imponência da Cordilheira dos Andes, na riqueza poética do Rio de Janeiro, nas maravilhosas praias do nordeste, o Serrado parece simples. Simplicidade bela e cativante. Com a vida brotando, viva, das torres dos cupinzeiros. Manifestando a viva, bela e comovente graça de Deus.
Outra coisa nessa viagem me trouxe viva a mente a graça. Vim a um casamento. Entre outras coisas, o casamento me fala da renovação da vida e do amor, trazendo Deus, forte, ao coração das famílias e dos casais apaixonados. E me fala sobre a construção e a realização de sonhos. Os sonhos dos noivos, das famílias de Deus. Sonhos revelando o sonho da graça de Deus em nossas vidas.
Porém, certamente, a manifestação mais doce da graça de Deus foi conhecer uma pessoa que ainda gasta suas forças para reconhecer, sem muito sucesso, a beleza da graça. Deparar-me com uma Marta hiperativa assim me fez pensar que a felicidade e a graça de Deus se encontram nas coisas mais simples, belas e amorosas do mundo. Não e preciso uma busca desenfreada pela presença de Deus. Basta um simples e comovente silencio.
Foi tocante encontrar essa Marta por perceber que não podemos encontrar a beleza da graça sem o simples silencio. Sem a simplicidade de um calmo amor. De uma potente e tranqüila manifestação da vida. Como o serrado do Planalto Central.

23.8.08

Exílio

Manda a tua luz e a tua verdade para que elas me ensinem o caminho e me levem de volta a Sião, o teu monte santo, e ao teu Templo, onde vives. Então eu irei até o teu altar, ó Deus, pois tu és a fonte da minha felicidade. Tocarei a minha lira e cantarei louvores a ti, ó Deus, meu Deus!
Salmo 42. 3 – 4

A gente lê muitos salmos e percebe, de imediato, o sofrimento do salmista que, afastado de Jerusalém pelo exílio, anseia pela chance de poder voltar a ir ao Templo de seu Deus e encontrá-Lo para culto, louvor e adoração. Os salmos 42 e 43, com refrão semelhante, falam do homem exilado. Homem que clama que o Senhor o possa levar de volta ao Templo, à Jerusalém.
Eu sou um homem exilado dentro de mim mesmo há bastante tempo. Não fui exilado para terra estranha, ainda que more fora de minha cidade Natal há dois anos. Mas me exilei dentro de mim mesmo. Os muros que me separam do encontro com o Deus da Criação, para louvor, culto, adoração e para ouvir a Sua voz, estão construídos dentro de meu coração.
Tenho minhas suspeitas de sobre como cheguei a me tornar assim. Sei onde as feridas não foram tratadas, supuraram e me afastaram da minha real fonte de felicidade. Sei porque minha alma anda cansada, sei porque sou aflito e triste, sem a presença e o culto ao Senhor. Não posso ter certeza e nem sei em que me ajuda toda essa consciência, uma vez que me parece sempre que pensar nisso me lança mais fundo em meu próprio exílio.
Talvez não haja uma certeza para as causas, mas muitas vezes nós nos encontramos assim, por períodos maiores ou menores de tempo. Sabemos o tamanho de nossa dor e sofrimento. Sabemos como Deus parece ausente de nós, a fonte de nossa felicidade. A gente se vê triste e aflito. Toca e dói o coração.
Eu estou passando por isso nos últimos anos. É uma ferida, uma marca constante em meu coração, em minha alma. Uma ausência do Senhor que incomoda, marca, altera meu modo de ser, de ter fé, de amar, de me relacionar. Transforma. A dor do sofrimento do exílio machuca o ser humano de uma forma inimaginável.
Há uma certeza no salmista, que me consola. Manda a tua luz e a tua verdade para que elas me ensinem o caminho e me levem de volta a Sião, o teu monte santo, e ao teu Templo, onde vives. Deus é quem nos trará de volta a Sião. É Deus quem nos converterá de volta aos Seus Caminhos. Ele nos trará de novo ao recanto de Seu Tabernáculo, onde possamos vivenciar novamente a experiência de um relacionamento íntimo com Ele, com o Seu culto, Sua adoração, Sua Palavra. O salmista diz que irá celebrar de novo em Sião, mas sabe que somente o Senhor é poderoso para lhe tirar do exílio.
Refletindo nesse texto hoje, lembrei-me de outro. Na Transfiguração, após o choque inicial dos discípulos, que propõem fazerem tenda para Jesus, Elias e Moisés, desce uma nuvem gloriosa que os envolve. Da nuvem, Deus Pai exclama: Este é meu Filho querido. Escutem o que Ele diz! (Mc. 9. 7). O Pai enviou Sua Palavra, Jesus. É cheio de graça ler o Pai mandando-nos escutar o que o Filho, Sua Palavra, diz! Ele é a Palavra. Ele é a Luz. Ele é a Verdade. Ele é a Fonte de nossa felicidade. É nEle, no Filho, através dEle, que Deus vem a nós para nos tirar do exílio em nossas almas. É nEle que nos tornamos mais humanos, mais reais, mais livres, mais felizes. É nEle que reencontramos a alegria do louvor, do cântico, da música a Deus. É em Jesus que a felicidade de estar na presença de Deus se concretiza, modifica nossa vida, nosso amor e nossa fé. Livrando-nos do exílio em nós mesmos.
Eu ainda sou um exilado em mim. Mas hoje eu sei mais que ontem que Deus é quem pode me livrar dessa sequidão e sofrimento longe dEle. Manda a tua luz e a tua verdade para que elas me ensinem o caminho e me levem de volta a Sião, o teu monte santo, e ao teu Templo, onde vives. Então eu irei até o teu altar, ó Deus, pois tu és a fonte da minha felicidade. Tocarei a minha lira e cantarei louvores a ti, ó Deus, meu Deus!