16.7.05

Figos bons

Eu, o Senhor, o Deus de Israel, digo que os israelitas que foram levados para a Babilônia são como esses figos bons, e eu os tratarei com bondade.
Jeremias 24. 5

Como qualquer animal, o ser humano foge de ameaças. Quando nos vemos ameaçados por circunstâncias ou pessoas, fugimos ou nos defendemos. A adrenalina é nossa aliada nessa hora, preparando nosso corpo para enfrentarmos a situação. Quando a ameaça é impossível de ser enfrentada, é de nossa natureza fugir. Por isso, o que Deus manda Jeremias dizer aos judeus de Jerusalém é profundamente anti-natural.
Jeremias viu dois cestos de figos. Um dos cestos tinha figos muito bons, enquanto o outro figos tão ruins que não podiam ser comidos. Deus vai lhe explicar a visão. Primeiro, fala sobre os figos bons: Eu, o Senhor, o Deus de Israel, digo que os israelitas que foram levados para a Babilônia são como esses figos bons, e eu os tratarei com bondade. Cuidarei deles e os trarei de volta para esta terra. Eu edificarei a nação e a destruirei; plantarei e não arrancarei. Porei no coração deles o desejo de reconhecerem que eu sou Deus, o Senhor. Então eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus porque com todo o coração vão voltar para mim (Jr. 24. 5 – 7). A bênção está sobre aqueles que foram levados ao cativeiro, se entregaram aos opressores, não o contrário: Eu, o Senhor, vou tratar como figos ruins, que não podem ser comidos, as seguintes pessoas: o rei Zedequias, de Judá, os políticos que estão com ele e o resto do povo de Jerusalém, tanto os que ficaram nesta terra como os que se mudaram para o Egito. Farei cair sobre eles uma desgraça tão grande, que todas as nações do mundo ficaram horrorizadas. As pessoas vão zombar deles, fazer piadas e caçoar. E, em todos os lugares onde eu os espalhar, o nome deles será usado para rogar pragas. Mandarei contra eles guerra, fome e doença, até que desapareçam da terra que dei a eles e aos seus antepassados (Jr. 24. 8 – 10).
O que Deus nos diz, nesse texto, sobre uma situação ameaçadora é justamente o contrário do que nossa natureza fala. O povo quer fugir até o Egito para preservar a vida ou resistir aos invasores. Deus lhes diz que a única chance de sobreviver é se entregar ao inimigo. Naturalmente, como seres humanos, queremos fugir da dor, da ameaça e do perigo para preservar a vida. Deus diz que para mantermos a vida, em alguns momentos, é preciso se entregar ao cativeiro e à dor da prisão!
Às vezes, o instinto de sobrevivência nos trai e nos faz fugir do lugar e da situação em que Deus quer que estejamos. Às vezes, é loucura para nós, mas o melhor lugar para estar, o único lugar em que estaremos com o Senhor, é no cativeiro. É no deserto. É onde, aparentemente, só nos espera dor e sofrimento. Mas é só lá que conseguiremos estar com o Senhor. Só lá usufruiremos a Sua Presença. É ali, por mais difícil que seja, o Centro da Sua Vontade para nossas vidas.
Por isso, meu desejo é experimentar a realidade de estar no cesto de figos bons, cuidados, abençoados e protegidos pelo Senhor: Cuidarei deles e os trarei de volta para esta terra. Eu edificarei a nação e a destruirei; plantarei e não arrancarei. Porei no coração deles o desejo de reconhecerem que eu sou Deus, o Senhor. Então eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus porque com todo o coração vão voltar para mim. Assim, também desejo internalizar a verdade que tem sido cantada pelo “Diante do Trono”: Não importa o lugar se comigo o Senhor está/ (...)/ Tua presença, Tua presença/ Transforma o meu deserto/ Em um jardim secreto/ Lugar de intimidade contigo/ Tu és tudo o que eu preciso// Eu prefiro estar num deserto/ E ter o Senhor bem por perto/ Se guiado por teu Espírito sou/ Não importa o lugar onde estou/ Eu não temerei. (“Tua Presença”).

15.7.05

Inconformado

Deus dá do Seu Espírito sem medida.
João 3. 34

Às vezes eu me acho um revoltado, mas tenho certeza de que sou um inconformado. Eu não consigo me conformar com o tão pouco que tenho vivido com Deus e com o tão mínimo que tenho experimentado da vida e da comunhão com Ele. Não consigo me conformar com as míseras gotas de Sua presença que tenho sentido se derramar no profundo do meu coração. Todos os dias, clamo a Deus por ter mais e ainda muito mais dEle em minha vida. Mais e muito mais dEle no meu ser, no meu interior, transformando meu caráter e conduzindo inteiramente a minha vida. Não me conformo com pouca coisa porque sei que Deus dá do Seu Espírito sem medida. E, assim, quando olho em mim e vejo que não sou um décimo do que sei que poderia ser na vida com Deus, se humilhado e rendido a Ele estivesse, não posso me conformar. Sou um inconformado crônico.
Na minha adolescência costumava passar as férias de verão em uma praia do litoral norte do meu estado. Ali, eu ficava reparando, várias vezes, como é engraçado tentar fazer uma “piscina” na areia. A gente cava um buraco e corre para trazer da água do mar em baldes a fim de encher aquela “piscina”. No entanto, todas as vezes que a gente volta com água, aquela quantidade que havemos deixado na viagem anterior já fora absorvida pela areia. Isso torna impossível que nosso intento termine bem. Não conseguimos fazer com que a areia pare de absorver a água, permitindo ao buraco que a acumule e se faça para nós aquela “piscininha” pretendida. A água sempre será absorvida sem limites. Mesmo que trouxéssemos uma quantidade desmedida, a água novamente seria absorvida pela areia.
Acho que essa é uma boa imagem que vem à mente quando penso que Deus não nos dá do Seu Espírito com limitações. O derramar do Espírito de Deus sobre nós é sem limite. No entanto, o máximo que nós já temos recebido até aqui deve sempre nos parecer insuficiente. Há sempre mais para buscarmos e recebermos do poder e da comunhão com Deus. Nunca podemos nos sentir satisfeitos. a inconformidade com o que já conseguimos deve ser nossa máxima. Paulo fala algo assim: É claro, irmãos, que eu não penso que já consegui isso. Porém uma coisa eu faço: esqueço aquilo que fica para trás e avanço para o que está na minha frente. Corro direto para a linha de chegada a fim de conseguir o prêmio da vitória. Esse prêmio é a nova vida para a qual Deus me chamou por meio de Cristo Jesus (Fp. 3. 13 – 14). Sempre há mais a avançar. Sempre podemos ir mais fundo no nosso conhecimento de Deus. Sempre podemos nos humilhar mais. Sempre podemos nos esvaziar mais. Sempre há mais Água para fluir em nosso ser.
O fluxo da água do Espírito para encher nossas vidas deve ser constante e ininterrupto porque nossa “areia” absorve muito rápido e secaremos logo se passarmos um instante sem beber dessa fonte sem limites. Nossa alma há de estar, sempre, sedenta por mais de Deus. Faminta pela Sua presença. Inconformada com o tão pouco que tem experimentado. E, assim, deve buscar ainda mais diligente e constantemente o fluir dessa presença santa, senão secará. Não podemos nos conformar em passar um instante sequer longe dessa fonte.
Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Como dizem as Escrituras Sagradas: “Rios de água viva vão jorrar do coração de quem crê em mim” (Jo. 7. 37 – 38). Essa fonte de água da vida flui de nós e flui em nós por toda a vida até a eternidade. Não corremos o risco de nos cansar de ir buscar a água, como acontecia comigo depois de alguns minutos tentando, em vão, encher minha “piscina” na beira do mar. Esse fluxo é eterno, constante e ininterrupto. Basta nos pormos a disposição, no lugar certo, abrindo os nossos corações inconformados com o tão pouco que temos vivido, sedentos por cada dia e cada vez mais de Deus. Famintos e sedentos por uma comunhão mais íntima, mais profunda. Vivendo para sempre nas margens do Rio que alegra a cidade de Deus, nadando para sempre nessas águas, mergulhando eternamente nesse amor e nessa vida. Não se conforme jamais com o que você já alcançou. Há sempre mais e há sempre algo melhor em Deus para nossas vidas.

14.7.05

Sobre nossa inconstância

Se observares, Senhor, iniquidades, quem, Senhor, subsistirá? Contigo, porém, está o perdão, para que Te temam.
Salmo 130. 3 – 4

Bem que gostaríamos de ser mais constantes, mas nem sempre conseguimos. Vez por outra, acordamos e nos vemos afundados no mais profundo abismo, presos no maior poço, tomados por muita lama em nossa volta. Como o descreve o salmista, clamamos a Deus, mas quase sem crer que Ele pode nos ouvir: Das profundezas clamo a Ti, Senhor (Sl. 130. 1). Choramos, porque nos vemos tal como somos: pecadores carentes de graça, amor e perdão. E nos prostramos, envergonhados, diante do Pai.
Há manhãs, e muitas mais do que gostaríamos, em que sofremos por sermos quem somos: pecadores e inconstantes. Há horas em que nos faz bem ouvir a voz do Senhor, presente em nossas vidas, nos falando Quem Ele é, o que é muito mais importante de saber do que quem somos nós. Esse é o sentimento do salmista: Se observares, Senhor, iniquidades, quem, Senhor, subsistirá? Contigo, porém, está o perdão, para que Te temam. Aguardo o Senhor, a minha alma O aguarda; eu espero na Sua Palavra. A minha alma anseia pelo Senhor, mais do que os guardas pelo romper da manhã. Mais do que os guardas pelo romper da manhã, espere Israel no Senhor, pois no Senhor há misericórdia; nele copiosa redenção. É Ele quem redime a Israel de todas as suas iniqüidades (Sl. 130. 3 – 8).
É no Senhor que se esconde a nossa vida e a nossa redenção. Aliás, nEle há misericórdia e copiosa redenção. Quando nos sentimos os piores, somos instados a nos lembrar que há uma salvação, amor e perdão sem limites da parte do Senhor, o nosso Deus. Ele nos redime de toda e qualquer iniqüidade, Ele nos restaura de toda e qualquer inconstância. Ele nos livra de todo e qualquer poço, nos tira de qualquer profundeza, nos socorre em qualquer luta ou tribulação. Por isso, podemos ansiar por Ele, por Sua companhia, mais do que aquele sentinela, que passou a noite acordado protegendo o quartel, espera pelo raiar do dia, a fim de que possa ir para casa dormir. Nosso desejo pelo Senhor, quando cientes da grandeza de Seu amor e perdão, é maior que qualquer desejo que nos sirva de parâmetro.
Sem Jesus e Seu perdão, estamos mortos como os ossos sequíssimos que inundavam o vale visto por Ezequiel (Ez. 37. 1 – 14). Sem Jesus e Seu amor, andamos como se estivéssemos em um deserto, sem água, sem comida, sem esperança.
A presença de Deus em nossas vidas traz nova esperança, faz vir o vento dos quatro cantos que gera a vida no meio do povo e, principalmente, em nós mesmos. A presença de Deus faz nascer água viva de uma rocha, faz descer o Pão do Céu, o Maná que nos dá vida, que nos preserva e prova a misericórdia e o amor de Deus em nossas vidas (Ex. 16 – 17).
Na vida existem diversas manhãs como foi a minha hoje. Acordamos nos sentido na maior profundeza. Só nos resta clamar ao Senhor. Chorar diante dEle e aguardar pelo Seu perdão: Das profundezas clamo a Ti, Senhor. (...)Se observares, Senhor, iniquidades, quem, Senhor, subsistirá? Contigo, porém, está o perdão, para que Te temam. Nessas horas, tudo o que precisamos é a presença do Senhor e ouvir a Sua voz nos dizer: Homem mortal, o povo de Israel é como esses ossos. Dizem que estão secos, sem esperança e sem futuro. Por isso, profetize para o meu povo de Israel e diga-lhes que eu, o Senhor Deus, abrirei as sepulturas deles, e os tirarei para fora, e os levarei de volta para a terra de Israel. Eu vou abrir as sepulturas onde o meu povo está enterrado e vou tirá-los para fora; aí ficarão sabendo que eu sou o Senhor. Porei a minha respiração neles, e os farei viver novamente, e os deixarei morar na sua própria terra. Aí ficarão sabendo que eu sou o Senhor. Prometi que faria isso e farei. Eu, o Senhor, falei (Ez. 37. 11 – 14).

13.7.05

Conselhos

Sem conselhos os planos fracassam, mas com muitos conselheiros há sucesso.
Provérbios 15. 22.

Segunda-feira vivi uma das experiências mais aterrorizantes de minha vida. Estava voltando de São Paulo. O primeiro trecho da viagem, até Fortaleza, foi perfeito. Vôo tranqüilo, pude até tirar uns cochilos. Quando subiram passageiros na capital cearense soube que havia chovido. Imaginei, então, que o trecho final, até Natal, seria mais instável. Na verdade, enfrentamos uma área de instabilidade, mas nada muito assustador.
O momento difícil estava reservado ao nosso pouso. Quando o comandante informou que o pouso em Natal havia sido autorizado, não víamos nada. Estávamos no meio de pesadas nuvens de chuva. O avião balançava e notávamos que não descíamos muito. Quando começamos a reduzir, na aproximação, fomos impactados pela retomada de aceleração das turbinas: o piloto havia arremetido. Continuamos voando por cerca de quinze minutos ainda dentro das nuvens. O avião balançava e havia um terrível silêncio do lado de dentro. Todo mundo amedrontado. Todo mundo terrificado.
Esse foi o momento em que temi muito. Porque não víamos nada e parecia que o comandante não conseguia tirar o aparelho de dentro das nuvens. Só me senti aliviado quando, olhando pela janela à minha esquerda, pude ver o céu.
Mas essa história podia ser contada de outro ponto de vista. O ponto de vista das pessoas que estavam no aeroporto em Natal, aguardando a chegada do vôo. Apenas ontem, um dia depois de minha chegada na tarde da segunda, fui saber o que minha família tinha visto. Enquanto imaginávamos que nos aproximávamos da pista do aeroporto Augusto Severo, as pessoas em terra viam o avião ainda alto e voando em direção do terminal de passageiros. Devido à falta de visibilidade e instabilidade, o piloto não conseguira colocar o avião no rumo da pista. Se descesse, nos chocaríamos contra o aeroporto.
É assim que às vezes acontece quando nos deparamos com os mais sérios problemas de nossa vida. Nessas horas, ficamos como eu estava dentro daquele Air Bus, quer dizer, temos medo por não vermos nada, mas não temos nenhuma idéia do que realmente está acontecendo. Até achamos que o problema tem uma dimensão distinta daquela que é real, para mais ou para menos. Ou o super-dimensionamos, ou o sub-dimensionamos, mas de qualquer jeito, temos um problema de dimensionamento. E não conseguiremos ver ou resolver nada sozinhos.
O ponto de vista de alguém de fora da aeronave é fundamental para que tenhamos uma real noção do que, de verdade, está acontecendo. Isso ficou claro para mim quando eu soube realmente o que acontecera com meu vôo, a partir do testemunho de minha família em terra. Esse é o papel fundamental dos verdadeiros conselheiros em nossa vida, quando enfrentamos as situações mais difíceis.
É claro que há maus conselheiros, mas uma pessoa com um ponto de vista divino e de fora das mais terríveis situações que enfrentamos, às vezes é tudo o que precisamos para achar a saída, para resolver os problemas, para consertar todas as coisas.
Sem conselhos os planos fracassam, mas com muitos conselheiros há sucesso. Termos cuidado na escolha de nossos conselheiros e amigos íntimos é fundamental para sairmos das piores situações, para o sucesso de nossa caminhada. Precisamos sempre de gente com o ponto de vista de Deus ao nosso lado.

12.7.05

Nas fontes erradas

O meu povo cometeu dois pecados: eles abandonaram a mim, a fonte de água fresca, e cavaram cisternas, cisternas rachadas que deixam vazar a água da chuva.
Jeremias 2. 13

Existem duas coisas sobre as quais Deus tem me falado muito. Primeiro, Deus tem me desafiado a buscar a Sua intimidade cada vez mais, cada instante mais. Ele me tem mostrado a importância e fundamental necessidade de entrar em uma relação de comunhão com Ele, ao ponto de comer a carne e beber o sangue de Jesus. Comunhão e intimidade profundas com Ele, uma relação nova e radical.
O outro grande desafio que Deus tem trazido à minha vida é a urgente necessidade de quebrar o coração. Deus tem me falado que ainda tenho a chance de arrebentar as paredes de meu coração, antes que Ele mesmo venha fazer isso. E sei que Deus vai fazê-lo em breve.
Os dois pontos estão relacionados intimamente. Ligam-se, necessariamente, pelo apelo ao arrependimento: Nenhuma outra nação trocou os seus deuses por outros que nem eram deuses de verdade. Mas o meu povo me trocou, trocou a mim, o seu Deus glorioso, por deuses que não podem ajudá-los. Por isso, eu, o Senhor, vou mandar que o céu trema de horror e que fique cheio de pavor e de espanto. O meu povo cometeu dois pecados: Eles abandonaram a mim, a fonte de água fresca, e cavaram cisternas, cisternas rachadas que deixam vazar a água da chuva (Jr. 2. 11 – 13). Muitas vezes tenho visto o povo de Deus sentado em seus bancos de igreja, vendadas, incapazes de perceber as vendas em seus olhos e incapazes de perceber o que acontece à Sua volta. Sedentos, não percebem a Água da vida disposta à Sua frente e aceitam tentar saciar a sua sede com qualquer água amarga oferecida. É um povo que abandonou a fonte de água fresca. É preciso nos arrependermos disso e quebrarmos o nosso coração.
Como podemos chegar a esse ponto? Como realizamos essa troca da água fresca pelos poços rachados? É o desconhecimento que nos mata. Temos nossa sede espiritual mas em vez de convertê-la em uma busca ardente e consciente pela intimidade de Jesus, terminamos nos rendendo a qualquer espírito religioso, qualquer prática passageira.
Sendo mais claro. Muitas vezes, como cristãos, queremos buscar a Deus para saciar nossa sede espiritual. Mas não O buscamos na fonte certa. Queremos buscar a Deus sem quebrar o coração, sem nos relacionarmos em intimidade com Ele por meio da Palavra. Isso faz de nós idolatras, porque termina não sendo ao Deus vivo o nosso culto, mas sim às imagens dEle que construímos em nossos corações. Construímos esses ídolos por não nos dispormos a conhecê-Lo de verdade. Mas o meu povo me trocou, trocou a mim, o seu Deus glorioso, por deuses que não podem ajudá-los.
Isso faz com que se multiplique no meio do povo uma multidão de ídolos. Isso nos faz um povo que abandona o Senhor. Desde os membros mais simples até a liderança mais graduada, adoramos a deuses que construímos segundo nosso coração, acreditando que é ao Deus vivo, que desconhecemos, que adoramos e servimos: Deus diz: “O meu povo não tem juízo e não me conhece. Eles são como crianças tolas que não compreendem as coisas. Para fazer o mal, são espertos, mas não sabem fazer o bem” (Jr. 4. 22).
É essa a conexão entre o desafio a buscarmos a intimidade do Senhor e o arrebentar as paredes do coração: o desafio ao arrependimento por termos abandonado o Senhor e adorado nossos ídolos, construídos porque não O conhecemos de verdade, porque não nos comprometemos com a Sua comunhão nem com Sua Palavra: Voltem, todos vocês que abandonaram o Senhor, pois Ele vai curar a sua infidelidade (Jr. 3. 22).

Convidado de honra

Tu me recebes como convidado de honra e enches meu copo até transbordar.
Salmo 23. 5.

Sei que já escrevi sobre este versículo recentemente, mas é ele que traduz da melhor maneira tudo o que me aconteceu em São Paulo nestes dias em que estive viajando. Impressiona-me, sobremaneira, como Deus age em favor daqueles que O amam, principalmente quando temos consciência de quão pecadores nós somos e de quão santo Ele é. Apesar desta distância fundamental entre nós, Deus nos trata como convidados de honra, filhos tremendamente amados. Foi assim que me senti em minha viagem.
Nunca devemos ou podemos nos esquecer dos princípios que norteiam nossa relação com Deus. O principal deles é o fato de que somos pecadores. E ainda é muito mais grave quando somos conscientes de que, libertos da lei do pecado pela morte de Jesus, pecamos agora e continuamos a pecar por livre vontade. É como se a cada momento em que cedêssemos à tentação, cuspíssemos a face de nosso Senhor. Afrontamos Sua morte, Seu sacrifício e Sua ressurreição. E não temos o direito de dizer que fazemos isso porque o pecado foi mais forte do que nós, porque não nos sobrevêm tentação irrestível. Pecamos porque queremos. Afrontamos a Deus porque somos atraídos pela nossa cobiça, pelo desejo de sermos independentes dEle, pela vontade de transgredir. Somos inteiramente responsáveis por isso, por entristecermos terrivelmente o nosso Pai amado. De O afrontarmos.
Mas quando penso nisso e nas coisas que ainda assim Deus nos faz, lembro de uma música popular antiga: Coração Materno, de Vicente Celestino. Uma das coisas impressionantes dessa letra é que o campônio, a fim de fazer a vontade de sua amada, mata sua mãe e leva o coração até a mulher. No caminho, tropeça, quebra a perna, o coração materno voa, mas ele ouve a voz de sua mãe: Magoou-se, pobre filho meu? Vem buscar-me filho, aqui estou, vem buscar-me que ainda sou teu!
É incrível esta estória. O coração da mãe, mesmo depois de ter sido morta por seu próprio filho, ainda o ama, ainda o chama, ainda lhe garante o socorro, o auxílio. Ainda diz: vem buscar-me que ainda sou teu!
É desse modo que o Senhor lida conosco. Mesmo quando O ferimos, quando O afrontamos, mesmo quando agimos como se cuspíssemos em Sua face, Ele ainda nos ama e ainda nos chama dizendo ser nosso Pai. Dizendo que ainda podemos experimentar esse amor. Ele ainda nos trata como filhos amados e convidados de honra.
Foi assim que me senti em minha viagem a São Paulo. Apesar de ser quem sou, de tudo que tenho feito contrário à vontade de Deus, apesar do miserável pecador que sou, Deus preparou momentos para mim e alguns irmãos que não conhecia antes, momentos em que fomos tratados e recebidos em Sua presença como convidados de honra. Movido pelo Seu amor por nós, Deus sempre esteve disposto a perdoar o coração arrependido, e a manifestar o Seu grande amor em nossas vidas.
O momento mais especial de minha viagem foi o banquete que o Senhor nos serviu no sábado à noite, na casa da Lavínia. Ali, partilhamos a mesa do Senhor. Comemos Seu corpo e bebemos Seu sangue, estivemos em Sua intimidade. Ali, o Senhor manifestou Seu grande amor por nós. Ali, Ele encheu os nossos copos, com Seu amor, Sua alegria, Sua paz, até que tudo transbordasse.
Ele me ensinou que apesar do que somos capazes de fazer para feri-Lo. Apesar de nossos pecados e de nossa maldade. Apesar de tantas vezes agirmos como aquele campônio da canção de Vicente Celestino. Apesar disso tudo, Ele sempre se volta para nós com Seu amor. Sempre nos chama. Sempre nos ama. Sempre nos traz para perto dEle. Sempre nos recebe como convidado de honra. E sempre nos dá de Sua presença até transbordar.