13.8.05

Vitória e desafio

Cantarei ao Senhor porque Ele conquistou uma vitória maravilhosa.
Êxodo 15. 1

Esta noite uma doce e preciosa amiga vai estar, junto com sua turma de formandos em fonoaudiologia, prestando culto em ação de graças a Deus pela vitória da conclusão do curso. De ontem para hoje fiquei pensando no significado que isso costuma ter em nossas vidas e nas coisas que passam pelas nossas cabeças em termos de vitória e de desafio. Coisas que são aplicáveis a qualquer de nós, em qualquer circunstância.
Fiquei pensando, acerca disso, em dois momentos da história de Israel separados um do outro por alguns meses. O primeiro deles é a celebração à margem do Mar Vermelho, manifestada no texto bíblico pelos Cânticos de Moisés e de Miriam. Cantarei ao Senhor porque Ele conquistou uma vitória maravilhosa. Após quatrocentos anos de escravidão no Egito, Deus ouviu o clamor do Seu povo, viu o Seu sofrimento e desceu a fim de livrá-lo (Ex. 3. 7 – 8). Mas essa ação de libertação não foi fácil. A dureza do coração de Faraó, e um tanto de dureza também no coração do povo, dificultaram em muito as coisas.
A luta foi terrível. Os momentos foram difíceis em extremo. O povo se desanimou várias vezes porque não via solução para sair daquela situação tão complicada. Mas a luta não estava nas mãos dos escravos hebreus. Era um luta do Senhor Deus. Foi Ele quem veio intervir na história humana para, com Sua mão de poder, libertar o Seu povo. E fez isso, passando por cima das dificuldades e arrancando Israel de lá à força.
Primeiro, Ele enviou dez pragas, a última delas a morte dos primogênitos. Agiu poderosamente contra a terra do Egito. Em seguida, nos primeiros momentos da caminhada até Canaã, Faraó se arrependeu de ter deixado o povo judeu ir embora e decidiu perseguí-lo. Na travessia do mar que se abriu para o povo passar, os exércitos de Faraó foram engolidos pelas águas. Naquele dia o Senhor salvou o povo de Israel dos egípcios, e os israelitas os viram mortos na praia (Ex. 14. 30).
Muitas horas em nossa vida, e isso é especialmente verdade quando enfrentamos a luta diária de um curso de graduação, as circunstâncias são tão terríveis quanto aquelas que enfrentou Israel no Egito e nos seus momentos de libertação. A luta é intensa, pensamos em desistir, sabemos que não temos força. Mas podemos lembrar que essa luta não é nossa, mas é do Deus a quem pertencemos. É só se entregar a Ele e ter certeza de que Ele age poderosamente e maravilhosamente para nos dar vitória.
Por isso, no fim de um processo como uma graduação, ou em qualquer momento em que ficamos cientes de que sem Deus não poderíamos ter alcançado vitória, podemos repetir, com intensidade, o Cântico de Moisés: Cantarei ao Senhor porque Ele conquistou uma vitória maravilhosa. Foi Ele, e não nós, que conquistou a vitória que celebramos. Esse é o motivo de rendermos graças a Ele.
Mas o momento em que terminamos uma graduação, eu me lembro, também conduz outro sentimento. Temos medo do futuro e dos desafios que não conhecemos. Com um diploma na mão, que garantia temos de emprego? O que se reserva a nós? Isso se aplica, mais uma vez, a qualquer circunstância na vida. Quantas vezes, diante da vitória que o Senhor nos deu, tememos por não termos idéia do que vem à frente? É por isso que lembro de um outro momento, meses depois da travessia do mar, sobre o qual já falei em outro momento.
Números 13 conta a história dos espiões que o povo enviou, sob ordem de Deus, para conhecer a terra prometida. Após quarenta dias, eles voltaram, relatando a riqueza do lugar, ao mesmo tempo que constataram a sua fragilidade diante do povo da terra. Eles se virão como se fossem gafanhotos diante daquele povo forte e das cidades muradas. Temeram enfrentar aquele futuro incerto. Esqueceram que ia sob a Palavra do Senhor para conquistar a terra, o mesmo Deus que meses antes tinha agido de maneira maravilhosa para livrá-los do Egito.
Temer o futuro é próprio da nossa incapacidade de prevê-lo e entendê-lo. É natural. Mas esse medo não deve nos atrasar ou paralisar. Somos convidados, diante do inusitado que está a nossa frente, a confiar em Deus e tomar a vitória que Ele já conquistou em nosso futuro. Nossa resposta diante dos gigantes diante de nós, da sensação de nossa fragilidade, deve ser a de Josué e Calebe, que se entenderam frágeis, mas confiaram na promessa do Senhor: Vamos atacar agora e conquistar a terra deles; nós somos fortes e vamos conseguir isso! (Nm. 13. 30). Eles se sabiam fortes, não em si mesmos, mas por causa do poder de Deus que já havia se manifestado antes em seu favor.
Em um momento em que se celebra a vitória conquistada pelo Senhor, como um culto de formatura, somos desafiados também pelo futuro. E podemos temê-lo por não contemplá-lo ou entendê-lo ainda. Nossa atitude, mesmo com temor e tremor, não pode nos atrasar. O povo de Israel, no episódio de Números 13, não deu ouvidos a Josué e Calebe. Preferiu ouvir o lamento dos outros dez espiões. Por isso, o povo foi conduzido por Deus a passar ainda quarenta anos no deserto, antes de tomar posse da terra.
Se o medo do futuro nos paralisar, se não formos capazes de depender e confiar nessa hora no poder maravilhoso do Senhor Deus que já conquistou outras vitórias maravilhosas por nós, estamos condenados a andarmos em círculos no deserto de nossas vidas por até quarenta anos. Cantamos a vitória do momento, conquistada pelo Deus dos Exércitos. Tememos o futuro que não vemos, mas o Senhor está vindo a nós lembrando que Ele continua o mesmo. Aquele que guiou a nossa a vida e a nossa vitória até aqui, continuará nos conduzindo às Suas vitórias e ao futuro e esperança que Ele tem para nós (Jr. 29. 11).

12.8.05

Sem religião

Vocês estão vendo tudo isso? Pois eu afirmo a vocês que isto é verdade: aqui não ficará uma pedra em cima da outra; tudo será destruído.
Mateus 24. 2.

É fato reconhecido que o ser humano tem uma sede religiosa quase inesgotável. E é certo que são muitas as propostas que sempre apareceram ao longo de nossa história para saciar essa sede. Todas elas, no entanto, se resumem em duas principais.
De um lado, temos as propostas construídas pelas mãos humanas. Todas as propostas religiosas se encaixam nesse ambiente. O homem tem um talento ímpar para construção de propostas religiosas a fim de chegar mais próximo a Deus, saciar sua sede. Seja cristianismo, seja outra religião qualquer, cada uma dessas idéias se assemelha ao projeto descrito em Gênesis 11. A construção de uma torre que alcance até o céu chega a ser proposta risível. Mas é a nossa proposta constante na presença do Senhor. Sabemos que há um Deus com quem precisamos nos relacionar. Buscamos, por isso, de todo o jeito, uma forma de nos achegarmos a Ele, de construirmos uma ponte. Mas o caminho não pode ser aberto por nossas mãos, sob nenhuma forma religiosa.
Jesus já tinha enunciado essa verdade quando, no diálogo com a samaritana, explicita que nem era o templo de Jerusalém, nem o templo em Samaria que garantia acesso a Deus. Não era uma questão de que alguma religião fosse superior à outra, mas ambas eram irrelevantes no contexto do relacionamento com Deus. Não se tratava de escolher uma ou outra verdade religiosa, mas Jesus afirmava que não era nenhuma verdade religiosa que o Pai procurava. Mas virá o tempo, e, de fato, já chegou, em que os verdadeiros adoradores vão adorar o Pai em espírito e em verdade. Pois são esses que o Pai quer que o adorem (Jo. 4. 23). A verdade não era qualquer ideologia ou religião, por isso o Pai não se importa com verdades religiosas. A Verdade é uma Pessoa que quer se relacionar intimamente conosco (Jo. 14. 6).
Essa é a outra proposta para saciar a nossa sede. Não se fundamenta em qualquer verdade religiosa, mas no fato de que o próprio Deus já abriu o caminho entre nós e Ele por meio da vida, ministério, morte e ressurreição de Cristo. É disso que fala Paulo aos Romanos: Nós éramos inimigos de Deus, mas Ele nos tornou Seus amigos por meio da morte do Seu Filho (Rm. 5. 10). É unicamente uma ação de Deus, independente de nós mesmos, que abre o caminho de comunhão com Deus e nos possibilita trilhar esse caminho. Esse é o tempo em que não podemos mais nos fiar em qualquer verdade para alcançarmos isso, a não ser confiar nAquele que é, Ele mesmo, a Verdade.
É esse um dos contextos da fala de Jesus. A religião é transitória e passageira. Será destruída porque jamais serviu ao propósito que os homens imaginaram para ela: aproximá-los de Deus. O tempo de templos feitos por mãos de homens na nossa relação com Deus acabou. A hora é de aceitar o projeto de Deus para o nosso relacionamento com Ele. Projeto que é arquitetado e construído pelas próprias mãos do Senhor. É iniciativa dEle. É obra totalmente dEle, para a qual somos convidados a participar.
É hora de abrirmos mãos de todas as verdades religiosas, de toda religião, todo templo erguido por mãos humanas. As verdades religiosas tendem a oprimir o fiel. É hora de sabermos que esses templos serão destruídos. É hora de se entregar à Verdade que está acima dos templos feitos por mãos de homens, que nos convida a uma comunhão maior que qualquer religião. Essa Verdade, descoberta em nosso coração, nos liberta, gerando vida real e intimidade saciadora com o Pai (Jo. 8. 32). Destrói os templos e nos põe na dimensão e no projeto certo de vida com Deus: vida que se constrói em Jesus.

11.8.05

Furacão

Estás em volta de mim, por todos os lados, e me proteges com o Teu poder.
Salmo 139. 5.

Esta noite eu tive um sonho tumultuado. Nele, eu estava, com um grupo de pessoas, enfrentando um furacão. Buscávamos todos abrigo em uma espécie de celeiro construído com madeira. Quando estávamos lá dentro, todos corriam de um lado a outro em busca do melhor lugar para escapar daquela tão terrível tempestade. Quando um grupo se dirigia para um espaço protegido sob uma marquise, eu comecei a dizer que o melhor lugar a estar era em um salão desprotegido onde me encontrava. Claro, ninguém me deu ouvidos. Mas naquele instante o furacão começou a destelhar o celeiro, a arrancar fora todas as madeiras e levou embora para a morte os meus companheiros. Eu fiquei onde estava, aparentemente desprotegido com mais alguns, ciente de que ali havia uma espécie de redoma protetora da parte do Senhor. O Senhor era a nossa proteção ali e, por isso, o celeiro foi devastado, mas nós permanecemos guardados, seguros e protegidos.
Este sonho me ensinou lições óbvias. Os abrigos em que vocês confiam não são seguros; eles serão destruídos por chuvas de pedra, serão arrasados por trombas-d´água (Is. 28. 17). O sonho me fez pensar nesses dois textos bíblicos que eu destaquei. Os dois textos refletem duas ações distintas, opostas, diante do mesmo furacão, mas que representam vida ou morte. Isaías fala contra um povo que está vendo a ameaça do Senhor contra si, mas, em vez de se voltar a Ele, arrependido, se mantém orgulhosos. Ele profetiza contra a liderança de Jerusalém que, segundo o texto, em vez de buscar a Rocha para escapar, tem se valido de acordos com a “morte”. A sua confiança está depositada em abrigos tão incertos que, certamente, serão levados como palha seca ao vento. Os abrigos para a tempestade de Deus que foram erguidos por essas pessoas não resistirão de maneira alguma à intempérie. São abrigos construídos pelas mãos humanas, sejam físicos ou não: foram os homens que tentaram erguer esses caminhos de escape. Tal qual aquele homem que Jesus diz que construiu uma casa sobre a areia: Caiu a chuva, vieram as enchentes, e o vento soprou com força contra aquela casa. Ela caiu e ficou totalmente destruída (Mt. 7. 27). Essa péssima construção se ergue quando não obedecemos aos mandamentos de Deus (Mt. 7. 26)!
Essa imagem estava no meu sonho. O maior grupo quis se abrigar do furacão no lugar mais óbvio e aparentemente mais seguro: sob a marquise. E não deram ouvidos aos alertas de que não era ali que o Senhor guardaria o Seu povo. Por isso, quando os ventos da tempestade levaram o celeiro embora, levaram junto aquele grupo teimoso, que não queria ouvir a Palavra de Deus.
Estás em volta de mim, por todos os lados, e me proteges com o Teu poder. Contra as tempestades da vida não precisamos de qualquer abrigo construído por mãos humanas. O próprio Deus pode ser o nosso Refúgio. Ainda que pareça loucura se lançar ao cuidado unicamente do Senhor Jesus, é sempre melhor. Ele nos protege pessoalmente. Ele se levanta em nosso favor. Ele, em pessoa, é nosso escudo. Ele, em pessoa, é nossa fortaleza. Sendo assim, por que temer ainda? O Senhor Deus é a minha luz e a minha salvação; de quem terei medo? O Senhor me livra de todo perigo; não ficarei com medo de ninguém. (...) Em tempos difíceis, Ele me esconderá no Seu abrigo. Ele me guardará no Seu Templo e me colocará em segurança no alto de uma rocha (Sl. 27. 1 e 5). O escape, no meio do furacão, é se entregar à confiança no Senhor.
Lembro que minha sensação no sonho era de que era loucura ficar ali, tão exposto, no meio do vão, enquanto o vento levava tudo. Até que me tocava de que o Senhor estava em volta de nós, nos guardando. Ele nos protegia de uma maneira muito melhor do que qualquer celeiro de madeira. O vento levou tudo, mas o Senhor nos susteve naquele lugar, guardados e protegidos. No fim, tudo estava destruído, mas o escudo do Senhor havia nos preservado.
Todos nós enfrentamos furacões em nossa vida. A diferença que pode nos preservar a vida é a opção pelo abrigo erigido por mãos humanas ou pelo abrigo, mesmo cheio de loucura, do Senhor em nossas vidas. E essa escolha se fundamenta no nível de relacionamento que nós vamos optar ter com Jesus. Se optarmos por uma vida de superficialidade religiosa significa que estamos querendo o abrigo do celeiro de madeira, feitos por homens. Mas se optarmos pela comunhão íntima com Deus por meio da oração e da leitura da Palavra, estamos escolhendo depender e confiar, unicamente, no Escudo do Senhor, no Seu Cuidado e na Sua Proteção.

10.8.05

O sim de Deus

Pois Jesus Cristo, o Filho de Deus, [...] é o “sim” de Deus porque é o “sim” de todas as promessas de Deus.
2 Coríntios 1. 19 – 20

Alguns anos atrás, ouvi no seminário uma pregação inesquecível. Era um professor norte-americano que veio nos falar, em uma semana teológica, acerca de pregação. Na última noite, ele concluiu aquele seminário com uma pregação, obviamente. Ele falava, com base no texto de Mateus 14. 22 – 13, sobre problemas. Dizia que naquele texto aparecem três tipos de problemas que costumam nos acometer. O primeiro tipo são os problemas reais. O barco dos discípulos estava sofrendo com as ondas e o vento. Era um problema real que assustava aqueles homens.
Além dos problemas reais, o texto nos fala acerca de problemas imaginários. Quando os discípulos vêem Jesus andando sobre as águas pensam ver uma coisa que não existe: É um fantasma! (Mt. 14. 26). Do mesmo modo que os discípulos temeram fantasmas, quando era Jesus que vinha andando pelas águas, muitas vezes gritamos de medo por problemas que não são reais. Problemas que só existem em nossa cabeça.
O terceiro tipo de problema que foi destacado do texto foram os problemas causados pela incredulidade. Porque Pedro duvidou, começou a afundar. Esse é um tipo sério de problemas que nos acometem: problemas gerados pela nossa falta de fé, que terminam superdimensionando muitas coisas em nossas vidas.
Como sei que essa é não é uma lista fechada, estive pensando em um outro tipo de problema, profundamente relacionado a este último. São os problemas que geramos a nós mesmos por acreditarmos em falsas promessas, especialmente quando elas são promessas feitas em nome de Deus. Ainda que Deus não tenha nada a ver com elas. Não são problemas com incredulidade, mas com credulidade excessiva.
Você já deve ter conhecido uma história assim: uma jovem amiga que estava acometida por um câncer esteve uma vez em um culto em minha igreja. Deus realmente fez maravilhas naqueles dias por meio de um pastor profundamente ungido. Mas se tem uma coisa que precisamos entender é que os vasos são de barro. Quer dizer, eles também cometem erros, ainda que Deus não erre. Esse homem profetizou a cura daquela jovem. O mais interessante é que poucos sabíamos que ela estava com câncer naquela ocasião. Há dois anos, o câncer a levou.
O que isso deve nos ensinar, a fim de evitarmos problemas? Pois Jesus Cristo, o Filho de Deus, [...] é o “sim” de Deus porque é o “sim” de todas as promessas de Deus. Jesus não promete cumprir qualquer promessa que for feita em Seu nome. É muito fácil pôr o nome de Jesus em nossas promessas sem que Ele esteja, de fato, relacionado a elas. Jesus é o “sim” de Deus a todas as promessas de Deus. Jesus não promete realizar qualquer coisa porque usamos o Seu nome. Ele promete realizar a vontade do Pai. É ao Pai que Ele diz “sim”.
Podemos construir um grave problema para as nossas vidas se passarmos a acreditar em qualquer coisa que se diga em nome de Deus. Porque muitas coisas ditas nesse nome não se realizarão e nos porão em maus lençóis. É preciso ter critério. É preciso checar por nós mesmos. Esse é um exercício de fé e confiança em Deus e na Palavra. Muitas vezes nos deixamos enganar porque não nos dispomos a ouvir e descobrir aquilo a que, realmente, Jesus está dando o Seu “sim”.
Há uma solução interessante para esse tipo de problema. É o desenvolvimento de uma profunda relação de fé e intimidade com o nosso Senhor. Se nos dispormos a nos lançarmos a essa empreitada, de coração e de alma, vamos descobrir as maravilhas que Deus tem preparado para nós em Seu coração. Vamos descobrir as riquezas das verdadeiras promessas às quais Jesus está nos dando Seu “sim”. Mais que isso, vamos descobrir que a maior dessas promessas é nunca nos abandonar, independente de qual seja o tipo e a dimensão de nossos problemas. Jesus foi até o barco que estava sendo assolado pelo vento e pelas ondas, e o vento se acalmou. Falou repreendendo o medo irracional dos discípulos: Coragem! Sou eu! Não tenham medo! (Mt. 14. 27). E sustentou Pedro pelas mãos quando sua incredulidade o fez afundar. A essa promessa, podemos ter certeza, Jesus sempre e em qualquer circunstância, estará dando Seu “sim”. E no fundo, somente ela importa de verdade, vamos descobrir andando com Ele: Eu estou com vocês todos os dias, até o fim dos tempos (Mt. 28. 20).

9.8.05

Não mais dor

Ele enxugará dos olhos deles todas as lágrimas. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor.
Apocalipse 21. 4.

Ontem estava lendo o livro de Isaías e me deparei com um texto que causou profundo impacto e inquietação em meu coração. É uma fala curta e dura demais, da parte do Senhor contra o Seu povo. Faz parte do texto sobre o qual refleti ontem, mas não me saiu da mente: ainda assim não haverá colheitas nos campos quando chegar o dia de sofrimento e de dor sem cura (Is. 17. 11).
Não sei se consigo imaginar a terrível dimensão de que se trata esse texto, esse dia sobre o qual o profeta fala. Sofrimento e dor sem cura! É algo extremamente terrível de se imaginar, de se alcançar de uma perspectiva puramente teórica. Apenas quem já viveu situação que nos leva a sentir isso pode entender a dimensão do que seja um sofrimento e dor sem cura.
Três anos atrás a dor que eu sentia parecia isso. Meu choro era desesperado diante de tudo que estava acontecendo na minha vida. Era desespero puro mesmo. Porque por mais que eu tentasse contemplar alguma saída, por mais que eu tentasse resgatar algum ânimo, eu não via nenhuma possibilidade de escape àquele sofrimento. Era profundamente doloroso e desesperador. Eu havia ido ao seminário cheio de sonhos de construir minha vida e meu ministério. Como resultado de meu pecado, meu mundo estava sendo destruído pela poderosa mão de Deus. Era como se eu estivesse na plataforma da minha vida, ela estivesse afundando no mar da tristeza e eu não pudesse contemplar nenhuma chance de sobrevivência. Só quem já viveu situação semelhante pode ter idéia do que estou falando.
Semana passada me despedi de um grande amigo que foi embora. Sua vida, como ele a concebia e como ele a sonhou, também foi destruída, também foi destronada. No culto de sua despedida ele disse que via sua vida agora como se fosse um enorme quebra-cabeça de numerosas peças, praticamente montado, no qual alguém bateu por baixo espalhando todas as peças no chão. E ele não tem idéia de como começar a juntar tudo. Posso imaginar a infinitude da dor e do sofrimento que estão no seu coração.
Nessas horas, podemos ter uma certeza mesmo que não consigamos acreditar. Não é o fim da história. O fim da história com Jesus é bem diferente. Por maior que seja a dor e o sofrimento, não durarão para sempre: Ele enxugará dos olhos deles todas as lágrimas. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor. Vivi na pele a experiência de nem conseguir acreditar nisso, mas vivi também a experiência de ver o Senhor restaurando tudo, enxugando as lágrimas, sanando toda a dor e sofrimento, por pior que fossem.
Ele enxugará dos olhos deles todas as lágrimas. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor. Há momentos de extrema dor e sofrimento que Deus nos permite passar para fazer em nossas vidas a Sua vontade. Momentos que nos provocam profundo desespero. Mesmo que percamos nessas horas todas as certezas, mesmo que soframos com intensidade todas as dores, neste dia o Senhor lhe diz que com Ele esse não é o fim da história. Ele vem para nos consolar. Ele vem para nos remir. Ele vem para nos livrar. Ele desce dos céus para nos socorrer. Ele enxugará nossas lágrimas, ele sanará nossas dores, sarará nossas dores e feridas. Mesmo que o desespero não nos deixe acreditar nisso. Basta confiar em Jesus, entregar-se a Ele e confiar no Seu amor, que não se acaba nunca.

8.8.05

Olhando para o Criador

Naquele dia, as pessoas olharão para o seu Criador a fim de pedir ajuda; todos se voltarão para o Santo Deus de Israel. Não confiarão mais nos altares que eles construíram, nem nas imagens que eles mesmos fizeram, nem nos postes-ídolos, nem nos altares de queimar incenso.
Isaías 17. 7 – 8

A.W. Tozer, um pastor canadense do século passado, disse certa vez que acreditava que a Igreja de Cristo precisava passar por uma experiência de despojamento total como foi a de Jó. A Igreja por inteiro precisava, para ele, ser despojada de seus bens e de todas as suas fontes de falsa segurança. Ele dizia que a Igreja precisava ser devastada, perdendo seus bens, tudo o que lhe fosse mais caro, para que sobrassem apenas os que realmente fossem fiéis a Jesus. Porque Deus, assim, possibilitaria que a Igreja perdesse tudo o que lhe fosse muito precioso para que aprendesse, à força, a se voltar para a única coisa realmente preciosa: o Senhor Jesus.
Quando olhamos de perto o que os profetas diziam contra o povo de Deus no Antigo Testamento constatamos que, na maioria das vezes, Deus explicitava justamente essa relação entre a punição, a devastação, e a volta ao Senhor a partir do instante que não sobrasse nada para o povo. Esse é o caso desta profecia de Isaías contra o povo de Israel. O povo erigiu diversas coisas distintas como fonte de sua confiança e sua fé. O Senhor, por isso, está lhe dizendo que o dia está chegando: Está chegando o dia em que Israel perderá todo o seu poder, e todas as suas riquezas acabarão (Is. 17. 4). Está chegando o dia em que o Senhor enviará profunda devastação contra o Seu Povo. Ao ponto que o resultado será um ambiente incrivelmente destruído, semelhante a um campo de trigo após a colheita (Is. 17. 5), ou a aparência de oliveira após a retirada de todas as oliveiras (Is. 17. 6).
Nenhuma dessas coisas acontece sem um propósito expresso do Senhor. Ele fala que vai devastar a terra, vai fazer restar vivos pouca gente, mas com uma intenção de restauração: Naquele dia, as pessoas olharão para o seu Criador a fim de pedir ajuda; todos se voltarão para o Santo Deus de Israel. Não confiarão mais nos altares que eles construíram, nem nas imagens que eles mesmos fizeram, nem nos postes-ídolos, nem nos altares de queimar incenso.
Chama-me a atenção a afirmação presente de que é o Senhor que está falando: Eu, o Senhor, o Deus de Israel, estou falando (Is. 17. 3 e 6). Soa aos meus ouvidos como se o Senhor estivesse querendo lembrar ao povo de com quem eles estão lidando. Deus não é qualquer um. Ele é o Senhor de Israel, o Deus da Aliança que eles têm quebrado constantemente. E como o povo poderia imaginar que o Senhor iria permanecer calado e impassível? Se a Aliança está sendo quebrado, Deus vai falar e agir. Não se pode brincar impunemente com Ele ou com o Seu nome. Ele devasta a terra para mostrar-nos quem é Deus. Pois quem é Deus, senão o Senhor? E quem é o rochedo, senão o nosso Deus? (2 Sm. 22. 32).
Deus envia a devastação contra o Seu povo, volto a repetir, com o expresso propósito de que os restantes se voltem com inteireza ao Senhor. Apenas a Ele. Busquem-no, verdadeiramente e em intensidade. Com tudo devastado, como anuncia Isaías, não restará mais nada em que se apoiar, coisa alguma senão o Senhor.
A gente passa por instantes em que contemplamos uma grande devastação produzida pelo Senhor em nossas vidas. As nossas famílias podem ser devastadas inesperadamente. Os nossos sonhos são destroçados de repente. A nossa vida se põe em situação de xeque, parece que tudo tem chegado ao fim. Muitas coisas podem nos fazer sentir como se vivêssemos no meio de um campo devastado. E sabemos que foi o Senhor quem agiu. Nessas horas, creia e espere, porque Deus não age sem propósito. E o Seu propósito expresso, quando age assim conosco é nos fazer volta a Ele com mais amor e intensidade. É que nos lancemos no mais íntimo relacionamento com Ele. Naquele dia, as pessoas olharão para o seu Criador a fim de pedir ajuda; todos se voltarão para o Santo Deus de Israel. Não confiarão mais nos altares que eles construíram, nem nas imagens que eles mesmos fizeram, nem nos postes-ídolos, nem nos altares de queimar incenso.

7.8.05

Dias contados

Está chegando a hora da Babilônia; os seus dias já estão contados.
Isaías 13. 22.

Fico imaginando como deve ser terrível ouvir de alguém que os nossos dias estão contados, que nos encontramos na iminência do fim das coisas. Não penso apenas – mas também – naquelas pessoas que, de alguma maneira, são sentenciados à morte, seja por doença ou outra coisa qualquer. Porque acredito que o mais duro e inimaginável é ouvir que uma civilização e uma cultura estão com os dias contados.
Não sei se consigo contemplar o impacto que isso causaria na minha vida, mas imagino que meu coração se esfarelaria, em temor e tremor profundos. É terrível imaginar que toda a sociedade e cultura que conheço têm os dias contados para o seu fim.
Essa é mensagem de Isaías para a Babilônia: os seus dias já estão contados. Imagino o desespero que deve tomar a alma de alguém que ouve uma palavra como essa e a toma a sério. Desespero de saber que não haverá possibilidade de fuga, que o mundo em que se encontra se acabará por inteiro, nada será depois como se conhecia até ali. Suspeito que seja sensação assemelhada aquela que têm os passageiros de um avião em queda: o desespero é saber que o fim é certo e não se pode fazer nada contra isso, nem se pode fugir para lado algum.
Jeremias falou algo semelhante contra Jerusalém e tantas vezes que o povo, incomodado pelo desespero de saber que o fim da cidade e do templo estavam próximos, o ameaça de morte e depois o lança no fundo de um poço para que se cale e morra de fome (Jr. 38). A cidade e o templo tinham os dias contados mas o povo preferiu não tomar a sério as palavras do profeta para não ter de encarar a realidade. Preferiu tentar silenciá-lo das mais diversas formas.
Nos dias de Jesus, a partir do ministério de João Batista, a mensagem era essa, dita tanto pelo profeta quanto por Jesus: Arrependam-se dos seus pecados porque o Reino do Céu está perto! (Mt. 3. 2 e 4. 17). Uma das dimensões que estava clara na mente de todos da proximidade do Reino era o juízo de Deus contra o povo. Naqueles dias, as pessoas começavam a tomar consciência que a cultura judaica, tal como era conhecida estabelecida na Palestina, estava com os dias contados. Isso está nitidamente na mente de João quando ele prega: Ninhada de cobras venenosas! Quem disse que vocês escaparão do terrível castigo que Deus vai mandar? (Mt. 3. 7). E está também na mente e no cerne de todo o ministério de Jesus. Nos Seus últimos dias, Jesus anuncia isso com clareza aos discípulos: Jerusalém será tomada, o templo será destruído e aquela civilização vai encerrar seus dias (Mt. 24, Mc. 13, Lc. 21).
Essas são palavras terríveis. Quando penso que meu mundo pode estar a ponto de se acabar temo e tremo profundamente. Às vezes tenho medo de que seja isso que se esteja desenhando contra a civilização cristã de nossos dias, ou mesmo o mundo de nossas igrejas. Porque essas palavras, as de Jeremias, as de Jesus e as de João foram dirigidas contra ninguém menos que o povo escolhido de Deus. Ser povo de Deus, portanto, não nos poupa de juízo.
Por outro lado, Isaías fala contra a Babilônia. É certo que o juízo de Deus começa em Sua casa, em nós, mas para remover de nós todo resquício e embaixada de Babilônia. É por isso que podemos ter esperança. Deus não lança palavras de juízo sem providenciar escape de misericórdia ao mesmo tempo. E a misericórdia do Senhor, nesses casos, se manifesta na possibilidade que temos de nos lançar ao cuidado amoroso do Pai que será capaz de cuidar de todos nós nas situações de pior desajuste possível. Por isso, Jesus nos clama: Arrependam-se dos seus pecados e creiam no evangelho (Mc. 1. 15).
O nosso mundo pode estar condenado. Pode estar se acabando. Podemos temer. Podemos tremer. Podemos nos angustiar. Mas para nós ainda haverá saída. Uma única. Lançar-se aos cuidados do Deus amoroso que se revela no evangelho, convertendo-se e crendo nele. Deus permite que nosso mundo se acabe, vez por outra, ou mesmo o faz acabar pelo Seu juízo, para que aprendamos a depender única e exclusivamente dEle.