24.12.16

Significado

Ele fez deles seu povo,
os filhos de Deus.
Filhos nascidos de Deus,
não nascidos do sangue,
não nascidos da carne,
não nascidos do sexo.

João 1. 12-13



Nos últimos dois anos tenho pensado muito sobre o sentido da vida. Em um primeiro momento, percebi de uma maneira inteiramente única na vida (mesmo nas duas décadas de vida como evangélico), como o evangelho de Jesus constitui-se no melhor projeto para vida, dando sentido a ela.

Lembro da riqueza das emoções que, ainda presentes, tomaram meu coração quando comecei a entender que para o evangelho ter sentido na vida, ele não podia ser necessário, mas uma escolha.

Algo que é necessário não enriquece ninguém nem ajuda a que as coisas tenham sentido. Se é necessário, não posso fazer nada e nada ganho em vivenciar aquela experiência.

A riqueza do evangelho passou a ser, para mim, a convicção de que ele não é necessário, um projeto de vida a que adiro. E esse projeto dava um sentido único à vida, não à morte. Diferente de uns tantos movimentos religiosos que pregam mensagens que falam daquilo que se dará conosco após morrermos, encontrar a riqueza do evangelho como projeto e sentido passou a significar um comprometimento único com a vida, independentemente da morte.

Era Natal para mim a todo momento: Jesus estava nascendo.

Mas pensar no sentido não me era suficiente. Sentido, mesmo sendo sinônimo de significado, tem em si implicada a ideia de movimento. Sentido é algo que me ajuda a entender em movimento, por causa de algo que faço. É como um vetor que aponta uma direção e me põe em movimento e em ação naquela direção. Ter sentido na vida é compreendê-la em ação, em movimento, por algo que eu preciso fazer.

Hoje é Natal: Jesus nasceu.

Então, percebi que precisava de algo mais que sentido. Precisava encontrar meu significado.

Entre tantos significados possíveis para mim e para minha vida, o Natal de Jesus nos traz o mais importante:

Ele fez deles seu povo,
os filhos de Deus.
Filhos nascidos de Deus,
não nascidos do sangue,
não nascidos da carne,
não nascidos do sexo.


Mais do que sentido, precisamos de significado. Nós significamos algo. O Natal de Jesus nos faz significar algo fundamental: somos povo de Deus e, mais importante ainda, somos seus filhos.

Independente do que fazemos, dos sentidos que damos à vida, das direções que seguimos, dos caminhos que trilhamos, temos significado: somos seus filhos, e não foi nada contingente ou humano que nos fez seus filhos.

Independente do pai e da mãe que você teve na vida concreta, somos filhos de Deus.

Independente de qualquer traição ou sofrimento sentido, somos filhos de Deus.

Independente de sua incapacidade de agir ou dar sentido à vida, somos filhos de Deus.

Nascemos dele. Nosso sentido está em Seu Evangelho, suas boas notícias. Nosso significado é sermos Seus filhos amados.

Ele é o Pai, Amor Todo-Poderoso.

Somos filhos amados.

É quem Ele é. É quem nós somos.

 

23.12.16

Primavera

Ele sopra sobre o inverno, e de repente é primavera!

Salmo 147. 18


Em geral, as avaliações sobre o ano que se encerra, 2016, não têm sido positivas. As redes sociais estão cheias de pessoas lamentando tudo o que se deu nesse ano e, desse modo, buscam renovar as esperanças sobre o ano que virá em breve.

Muitos de nós devem considerar que 2016 deve ter sido o pior ano de suas vidas, seja por crises pessoais, familiares, pela crise econômica, pela crise política, pelas guerras ou acidentes trágicos. Um ano infernal. Ou invernal.

O cenário descrito nesse trecho do Salmo 147 é de um rigoroso e sofrível inverno:


Ele espalha a neve como lã branca
e esparrama a geada como cinzas.
Ele espalha granizo como alpiste:
quem pode sobreviver ao seu inverno?
Então, ele dá uma ordem, e tudo derrete.

Salmo 147. 16-18



Faz lembrar, mais uma vez, os relatos de Viktor Frankl (“Em busca de sentido”). Frankl descreve o inverno no campo de Auschwitz. Os prisioneiros iam para os campos de trabalho pressionados por soldados,  com temperaturas de até 20 graus negativos, vestindo parcos agasalhos, com calçados velhos, amarrados com arames e que, na maior parte do tempo, não cambiam os pés inchados e feridos dos prisioneiros. Por vezes, a dor era insuportável, quando não forçava os internados a caminharem no gelo e na neve se pés descalços. Frankl descreve momentos de ver os pés feridos dos companheiros que chegavam, inclusive, a perderem dedos que simplesmente fragmentavam-se, congelados.

É esse o inferno. É esse o inverno.

Entre abril e maio de 1945, o sol brilhou: a frente de batalha chegou ao campo e os prisioneiros sobreviventes se viram livres.


Ele sopra sobre o inverno, e de repente é primavera!


Podemos estar vivendo debaixo do mais rigoroso inverno, com agasalhos insuficientes, pés feridos e descalços, poucas calorias para nos alimentar e ajudar a resistir. Podemos, no entanto, estar certos: Ele vai soprar, derreter a neve e o gelo e “de repente é primavera!”

O jardim florescerá novamente. As flores perfumarão mais uma vez. O sol brilhará de novo. Os animais correrão livres. Nós estaremos nas ruas experimentando toda a beleza, todo o aroma e toda a riqueza da primavera.

O céu não mais estará cinzento. Não mais estaremos presos. O inverno não dura para sempre, ainda que não consigamos enxergar, por vezes, nem a saída, nem o fim, nem cinco dedos a frente do nosso nariz.

Eu já experimentei isso: o inverno não é eterno, por mais tempo que pareça durar.

"O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa", uma das Crônicas de Nárnia, apresenta uma boa imagem desta situação. Nárnia está mergulhada em um inverno que as pessoas pensam ser eterno porque, aparentemente, Aslam deixou o Reino derrotado pela Feiticeira Branca.  

A estória é uma ilustração do evangelho de C.S. Lewis. 

Quando o Leão ruge, a neve derrete.


Ele sopra sobre o inverno, e de repente é primavera!

22.12.16

Diante da instabilidade

Levanto os olhos para os montes:
será que é de lá que vem a minha força?
Não, minha força vem do Eterno,
que fez o céu, a terra e as montanhas.

Salmo 121. 1-2


Apesar de nosso desejo de que a vida siga sem atropelos, uma das poucas coisas que podemos ter certeza é que a nossa caminhada nunca será tão estável quanto desejaríamos.

Erraremos e vacilaremos, as circunstâncias da vida nem sempre nos serão agradáveis e positivas, temeremos: vez por outra tudo isso ocorrerá. Teremos ciclos em que nos sentiremos virtuosos e teremos outros em que a dor nos visitará.

Cada um pode encontrar seu caminho para encarar tais momentos. Estou lendo a obra de Viktor Frankl, “Em busca de sentido”, e ele se preocupa em descrever como os prisioneiros dos campos de concentração nazistas eram capazes de resistir e encontrar sentido para as suas vidas. Apesar de representar um momento único e terrível na história humana, percebo que muitos dos processos assumidos pelos internados em Auschwitz podem nos ajudar em nossas pequenas e sensíveis dores diárias.

Quando tudo o mais é instável, qual o seu melhor caminho para encontrar estabilidade para enfrentar as circunstâncias e as dores?

O salmista assume uma postura única em busca da força e da estabilidade necessárias:

Levanto os olhos para os montes:
será que é de lá que vem a minha força?
Não, minha força vem do Eterno,
que fez o céu, a terra e as montanhas. 


Nada melhor que entregar a vida, as fraquezas, a instabilidade e toda dor nas mãos do Eterno. A eternidade é estável, firme, forte, constante.

Se há algo ou alguém em que podemos confiar para vivermos de maneira estável e segura esse alguém é o Eterno.

Se há algo em que podemos confiar é na segurança e força que nos vem do Eterno. Ele nos tomará em Suas mãos. Ele nos dirá Sua Palavra consoladora. Ele nos erguerá do ordinário e nos protegerá em Seu colo.

O salmista sente-se perdido. Olha em volta e não vê saída ou socorro. Está frágil, inseguro, sofrendo. De onde poderia vir o seu socorro?

O salmista entende a resposta: é o Eterno, vem do Eterno. Somente o Eterno poderia cuidar dele e protege-lo, nos melhores e nos piores momentos.

Você pode se ver no lugar do salmista - em seus melhores e em seus piores momentos. Perdido, saiba que o Eterno cuida de você. Achado, veja nEle a sua força para suportar a cada momento de sua vida.

Render-se a Ele é o melhor remédio para encarar a dor e a instabilidade da vida.

Canto, então, a canção:

“Senhor, temos tanta fome de ti, temos tanta sede de ti”
.


21.12.16

Pai Nosso

Nosso Pai do céu,
Revela-nos quem tu és.
Dá um jeito neste mundo.

Mateus 6. 9


Hoje eu acordei pela madrugada impressionado com um pesadelo que tivera. O pesadelo, de verdade, não me assustou porque eu tinha consciência de que estava dormindo, mas me impressionou a riqueza de detalhes da narrativa até o momento em que acordei.

O mal momento trazido por um sonho ruim mexe integralmente com o espírito com o qual a gente encara o dia que nasce. A vida é frágil, nem sempre temos controle e acesso a todos os aspectos que a envolvem e isso tem de nos ensinar a lidar com nossas ansiedades e nossas angústias.

O caminho de saída do fundo dos nossos poços pode refluir por uma ansiedade mal colocada ou mal resolvida, por uma situação angustiante sobre a qual não temos nenhum controle.

Também nos faz mal a percepção de que nos falte amor - porque o amor é o vínculo da perfeição e o melhor suporte possível para a nossa estabilidade na vida.

As vezes, é somente aquela dor que você sabe que ainda não curou que aparece de novo para lembrar sua fragilidade - seu espinho na carne.

Ou por vezes o que nos fragiliza é a consciência dos erros que cometemos, os pecados que fizemos e que ainda sofremos suas consequências.

Nem toda manhã é fácil.

Quando ela não é fácil, o que nos resta fazer?

Eu oro.

A oração pode nos ajudar com as nossas necessidades mais básicas - e nem estou falando sobre pedidos sendo respondidos, clamores alcançando a misericórdia divina.

Quando Jesus ensinou seus discípulos a orar, suas palavras foram simples. E aqui não quero nem destacar o Pai Nosso em sua inteireza:

Nosso Pai do céu,
Revela-nos quem tu és.
Dá um jeito neste mundo.


Amanheci o dia sofrendo por causa do amor? Deus é o nosso Pai! Podemos nos refrigerar no seu Amor Todo-Poderoso, Amor de Pai.

Não sei bem o que está acontecendo na vida porque há coisas que vão além do meu controle? “Revela-nos quem tu és”: podemos, em oração, conhecer em profundidade de intimidade quem é o Deus a quem servimos.

Um Pai que nos ama, um Deus que revela a Si a cada um de nós.

E como a ansiedade pode sobreviver diante de um Deus que pode dar “um jeito neste mundo”?

Quando o dia começa mal, quando a ansiedade dói, quando a incerteza corrói, quando o amor é uma ausência, derramar o coração diante de Deus em oração é o melhor caminho. Não porque Ele possa responder nossa oração e resolver as questões que nos afligem, mas por quem Ele é e porque podemos, em oração, conhecê-lo bem e melhor.

20.12.16

Solidariedade

Quando estava anoitecendo, os discípulos aproximaram-se dele e aconselharam: “Estamos no meio do nada, e está ficando tarde. Despede o povo, para que eles saiam e consigam o que comer nas cidades”.
Jesus, porém, respondeu: “Não há necessidade de despedi-los. Vocês é que vão dar comida a eles”.
“Mas tudo que temos são cinco pães e dois peixes!”, disseram.
Jesus ordenou: “Tragam-nos aqui”. Em seguida, mandou o povo assentar-se na grama. Ele tomou os cinco pães e os dois peixes, olhou para o céu, orou, abençoou o pão, partiu-o e entregou tudo aos discípulos. Eles repartiram com o povo, e todos comeram e ficaram satisfeitos. Os discípulos recolheram doze cestos de sobras. E os que participaram da refeição foram cerca de cinco mil, fora mulheres e crianças.

Mateus 14. 15-21


Suponho que você conheça os relatos dos evangelhos que narram os episódios das multiplicações de pães e peixes - em João, apenas um episódio, nos outros evangelhos, dois.

O texto de Mateus, por exemplo, coloca os discípulos em posição central diante da ordem de Jesus: Vocês é que vão dar comida a eles. É como se Jesus dissesse que só poderia haver milagre se os discípulos assumissem seu papel e sua responsabilidade. Ou, no dizer do poeta Sérgio Vaz, é como se Jesus afirmasse que “milagres acontecem quando a gente vai à luta”. É preciso se envolver, é preciso participar, é preciso lutar.

Mas é possível que você nunca tenha pensado esse texto sob outro prisma de solidariedade. Uma interpretação possível para o milagre é que ele, antes de ser o de uma geração espontânea de alimentos do nada a partir da ação de Jesus, foi um maravilhoso milagre de solidariedade.

Convido você a suspender suas crenças sobre o evento do milagre e imaginar a cena por uma outra ótica.

São mais de cinco mil pessoas no deserto. O Mestre, então, dá graças a Deus pelo pouco alimento que conseguiu: cinco pães e dois peixes. E o distribui. O altruísmo e a solidariedade de Jesus o fazem entregar toda comida que tinham e que era pouca diante daquela multidão.

Não seria possível que o ato solidário de Jesus tenha estimulado a solidariedade em todos aqueles que, no meio da multidão, tinham sua particular porção de pão, seus poucos peixinhos, para se alimentar quando chegasse o jantar? A partir daí, cada um e todos passaram a compartilhar com os vizinhos do lado, da fila de trás, com as mulheres e as crianças em volta, o pouco que tinham - mas quando cada um deu o pouco que tinha em solidariedade, "todos comeram e ficaram satisfeitos. Os discípulos recolheram doze cestos de sobras”.

O que acontece quando nos entregamos à solidariedade?

Outro dia uma comunidade religiosa de Natal se dispôs a fazer uma ação assistencial junto a sete entidades filantrópicas diversas da cidade e ao presídio feminino. A solidariedade foi tão intensa, que a quantidade de alimentos doados e entidades assistidas foi o dobro do previsto anteriormente. Multiplicação.

Espero que você já tenha sido alvo de solidariedade com eu já fui. Uma rede de amigos socorrendo, dando o ombro, estendendo a mão, apoiando nos maus momentos, incentivando nos bons.

E solidariedade se multiplica. Quando a solidariedade nos alcança somos impulsionados a sermos solidários com outros.

Para mim, imaginar a cena da multiplicação de pães e peixes sob a ótica da solidariedade amplifica a dimensão do milagre. É vivenciar a sugestão de Dietrich Bonhoeffer de que Deus se manifesta no mundo somente através de nossas ações.

É, por fim, reconhecer que Sérgio Vaz, afinal, tem razão: “milagres acontecem quando a gente vai à luta”.

19.12.16

Ressuscitem para a nova vida

Acordem!
Ressuscitem para a nova vida,
E Cristo mostrará a luz para vocês!
Portanto, olhem por onde andam. Usem a cabeça. Aproveitem ao máximo cada oportunidade. Vivemos tempos difíceis!

Efésios 5. 14-16


Não importa qual a sua compreensão sobre salvação, vida cristã ou vida com Deus. Independente do que você pensa acerca dessas noções fundamentais para a vida do que conhece e segue a Jesus, o texto da carta de Paulo aos Efésios é mais claro que qualquer de nossas diferenças de compreensão teológica.

Em primeiro lugar, conhecer a Deus por meio de Jesus equivale a um despertar, a um ressuscitar.

Acordem!
Ressuscitem para a nova vida,
E Cristo mostrará a luz para vocês!

Talvez seja necessário a cada um de nós passar várias vezes na vida por esse despertar, por essa ressurreição para uma vida nova. Talvez tenhamos que começar novas vidas muitas vezes ao longo de nossa existência. Talvez tenhamos que tomar consciência por mais de uma vez de que precisamos acordar para novas realidades ou verdades novas que até aqui não tínhamos percebido.

Seguir Jesus é estar disponível para acordar, disposto a várias ressurreições na vida.

A primeira vez que ouvi o chamado a acordar e ressuscitar para uma vida nova foi há pouco mais de 20 anos. Tinha 17 anos, passava por uma crise espiritual - sofria internamente porque, mesmo sendo kardecista, me questionava sobre a existência de um mundo espiritual, inclusive sobre a existência de Deus.

Além disso, no meio do ano de 1996 um colega de escola de minha idade faleceu em um acidente de carro. A morte de meu amigo serviu tão somente para reforçar a minha crise e minhas dúvidas.

Confesso que ao começar o segundo semestre letivo de 1996, a leitura de “O mundo de Sofia” começou a pavimentar meu caminho de retorno à crença na existência de Deus, mas não era suficiente.

Lembro de ter estado em um acampamento no início de setembro e lembro nitidamente como me sentia feliz naqueles dias - mas como se a felicidade não me pertencesse e ficasse tão-somente no meu exterior. Não havia felicidade ou alegria em meu coração - era um sentimento estranho do qual queria me livrar.

Ao tomar a decisão de me tornar seguidor de Jesus, no dia 8 de setembro de 1996, o fiz porque compreendi de uma maneira nova o que significava Jesus e sua morte na cruz.

Acho que nunca me senti tão feliz quanto naquele dia e nas semanas que se seguiram! Acordei, ressuscitei para uma nova vida!

Certamente essa foi a primeira vez que experimentei tão coisa, mas não a última. Ao longo desses 20 anos, ouvi o mesmo chamado do Senhor muitas outras vezes - a mais recente há não mais que algumas semanas.

Esteja pronto para que o Senhor o desperte, o chame a ressuscitar para uma nova vida, não importa há quanto tempo você seja seu discípulo, não importam suas crenças sobre Ele, não importa o que você conheça e esteja feliz sobre sua vida. "E Cristo mostrará a luz para vocês!”

A segunda coisa que se destaca nesse questão é que “vivemos tempos difíceis!”.

É verdade que Deus nos chama à renovação de nossa vida em Jesus e Ele, por isso, nos piores momentos, nos mostrará a luz, mas é verdade também que os tempos são difíceis.

Provavelmente somente você sabe quão difíceis estão sendo os seus dias. Só você e Deus sabem quando o coração aperta angustiado. Só você e Deus conhecem as lágrimas que você tem derramado. Só você e Deus sabem as suas dificuldades em honrar seus compromissos.

Só Deus sabe o quão difíceis são os dias. Vale muito para enfrentarmos tais momentos saber que fomos chamados a uma vida nova iluminada por Cristo. Essa é uma vida que nos energiza, nos capacita, nos habilita à nova vida.

Por isso, em terceiro lugar, devemos estar atentos por onde andamos, termos atenção e usarmos a cabeça, aproveitando ao máximo cada oportunidade.

Portanto, olhem por onde andam. Usem a cabeça. Aproveitem ao máximo cada oportunidade. 

Por que deixamos as oportunidades mais ricas de nossa vida passarem sem que sequer tomemos consciência delas?

Lembro da minha sensação nos estádios da Copa das Confederações, em 2013, e na Copa do Mundo, em 2014. Estava ali experimentando um sonho de criança (ver um jogo do Brasil em uma Copa do Mundo no estádio!), ao lado de gente do mundo todo em uma rica experiência cultural e esportiva, e, por vezes, eu sentia que não estava ali, que aquilo não era comigo. Era como se eu optasse em assistir o jogo pelo telão do estádio em vez de olhar para o campo e ver os dribles de Neymar.

Eu não estava ali, realmente aproveitando as oportunidades, e aquilo me incomodava profundamente.

Só há um jeito de que possamos pesar bem nossas decisões e aproveitar bem as oportunidades, por mais difíceis que sejam nossos dias: ouvindo e atendendo o chamado do Senhor.

Acordem!
Ressuscitem para a nova vida,
E Cristo mostrará a luz para vocês!

Que uma vez mais e sempre que seja necessário, você ouça seu chamado e ressuscite sempre de novo para uma nova vida, desperto e iluminado por Jesus.

18.12.16

Corro

Eu corro para ti, ó Eterno; corro por minha própria vida
Salmo 31.1


As cenas de guerra e seus respectivos refugiados sempre nos impressionam. Milhões de pessoas que fogem, fogem, por vezes, sem destino, caminhadas sem um sentido claro, orientam-se unicamente pelo desejo ardente de escapar, de sobreviver.

São os sírios cruzando o Mediterrâneo em barcos que também colocam em risco suas vidas. São corredores humanitários para remover civis devastados de cidades como Aleppo.

Foram judeus fugindo de áreas ocupadas pelas tropas alemãs na segunda guerra. São os palestinos, vítimas de Israel, cercados e subjugados em Gaza e na Cisjordânia.

Sempre desejamos fugir para salvar a nossa vida quando uma ameaça assim nos visita. É instinto.

O instinto só consegue ser subjugado quando nossa vitalidade ou nossa energia já não estão mais lá. Quando cansamos de fugir ou quando o sofrimento nos devastou tanto ou quando a dor nos fez desistir. Queremos só ficar para trás e morrer.

Estou lendo “Em busca de sentido”, de Viktor Frankl, que conta sua experiência nos campos de concentração nazista, especialmente Auschwitz. Em determinado momento ele explica o que são os cupons-prêmio que prisioneiros recebiam em função de realizarem algum trabalho mais perigoso, que lhes expunha a vida em risco. Cada um valia 50 centavos e podia ser trocado por seis cigarros. Certa vez, ele recebeu dois cupons - tinha, portanto, o equivalente a 12 cigarros. Só que 12 cigarros podiam ser trocados por 12 sopas. Ele explica:

(…) [os prisioneiros comuns] costumavam trocar por gêneros alimentícios aqueles cigarros que recebiam através de cupons-prêmios (…) a não ser que tivessem desistido de continuar vivendo, por terem perdido as esperanças, resolvendo ‘gozar’ os últimos dias de vida que ainda tinham pela frente. Quando um colega começava a fumar seus poucos cigarros, já sabíamos que havia perdido a esperança de poder continuar - e, de fato, então não aguentava mais.

Podemos desistir. É uma possibilidade que sempre está no nosso horizonte. Eu mesmo, você deve saber, desisti. Por mais de uma vez. Diante de uma situação impossível, de uma dor imensurável, de um vazio intransponível, eu desisti. Tentei fumar os meus cigarros, sem esperança.

Mas, ainda assim, não era o fim.

Por pior que a situação pareça, não é o fim.


Eu corro para ti, ó Eterno; corro por minha própria vida.


Voltar-me ao Eterno não foi uma opção por aumentar o prazer na vida, por ver as orações e súplicas (as mais difíceis) atendidas, por ver os desejos do coração, finalmente, realizados pela mão do Senhor.

Voltar-me ao Eterno foi tão-somente a única opção que eu tinha pela vida. Um dia, percebi que não aguentava mais tal sofrimento e me coloquei a correr para o Senhor.

Correr para o Senhor não é qualquer corrida. Para mim, era correr por minha própria vida.

Sua história pode não incluir os momentos duros e dolorosos que a minha incluiu. Pode não chegar nem perto do nível de desesperança de um prisioneiro de Auschwitz que decidiu fumar seus cigarros. Independente do que signifique e do que traduza, vale para mim, para você ou para qualquer outra pessoa em sofrimento: correr para o Eterno é correr por sua vida. Estar nas mãos dele, diante dele, é reestruturar a vida em um novo centro, é construir na vida uma saída, uma nova esperança. É estar vivo e viver verdadeiramente sua vida.


Eu corro para ti, ó Eterno; corro por minha própria vida