Fui convidado para refletir hoje em uma das sete palavras de Jesus pronunciadas na cruz. Lá na cruz, Ele teve sede. Agora Jesus sabia que todo estava completado. Então, para que se cumprisse o que dizem as Escrituras Sagradas, disse: - Estou com sede! (João 19.28).
Além da referência explícita ao texto do Salmo 69.21, esse versículo me trouxe duas lembranças de imediato.
A primeira foi o encontro de Jesus com a samaritana. Ele chegou a uma cidade de Samaria, chamada Sicar, que ficava perto das terrs que Jacó tinha dado ao seu filho José. Ali ficava o poço de Jacó. Era mais ou menos meio-dia quando Jesus, cansado da viagem, sentou-se perto do poço. Uma mulher samaritana veio tirar água, e Jesus lhe disse: - Por favor, me dê um pouco de água (João 4. 5 – 7).
Um convite a partilhar a humanidade com Jesus. Ele é Deus, é Vida – vai deixar isso claro à mulher. Mas convida um ser humano a participar de sua humanidade com Ele. Ele tem sede e ela pode ser saciada pela mulher. E também pode ser saciada pelos guardas aos pés da cruz.
Entendo que a mensagem a ser dita nos dois momentos fosse mais ou menos semelhante:
Você quer experimentar a minha vida, a vida que conquistei na cruz? Você quer experimentar o espírito divino? Você precisa me dar água para beber. Você precisa partilhar minha dor, minha fragilidade, meu sofrimento, minha sede, minha cruz. Você precisa me ajudar a superar minha necessidade: - Estou com sede!
Li em algum lugar que Madre Teresa de Calcutá entendeu sua experiência mística com Deus a partir de seu auxílio aos carentes, explorados e necessitados a partir dessa palavra de Jesus na cruz. Ela entendeu que Jesus na cruz, em dor e sofrimento, precisava ter pelo menos parte dele saciado por alguém que pudesse, de maneira humana, lhe dar água para beber. Ela entendeu que Jesus continuava lhe pedindo água para saciar sua sede na face e na pessoa de cada miserável de sua Índia e de seu mundo.
Ver Jesus no próximo e, assim, ser justo. E isso me leva à segunda lembrança que o texto me traz.
Felizes as pessoas que têm fome e sede de fazer a vontade de Deus, pois Ele as deixará completamente satisfeitas (Mateus 5. 6). Parece para mim que ter fome e sede de justiça, ser justo e saciado em sua fome, fazendo a vontade de Deus, tem a ver com nossa capacidade de participar da humanidade dos outros e ter espírito humano com os outros.
Para ter espírito divino – ser justo e ter fome e sede de justiça saciada – é preciso ter espírito humano.
O espírito religioso é desumano. Pôs Jesus na cruz e lhe deu bebida amarga em vez de água.
O espírito divino é humano. Mata a sede e a fome de Jesus, partilhando sua humanidade e suas fragilidades. Está com Jesus na cruz e com o Jesus da cruz.