Homem de Deus, o que o Senhor tem contra mim? Será que o senhor veio aqui para fazer com que Deus lembrasse dos meus pecados e assim provocar a morte de meu filho?
1 Reis 17. 18
O que as pessoas do mundo pensam acerca da igreja? Como elas vêem os cristãos? Que influência os crentes têm exercido na vida das pessoas? De vez em quando fica claro para mim que a principal impressão que os cristãos têm causado nas pessoas à sua volta é um sentimento que pode se resumir nas palavras da viúva de Sarepta ao profeta Elias: Homem de Deus, o que o Senhor tem contra mim? Será que o senhor veio aqui para fazer com que Deus lembrasse dos meus pecados e assim provocar a morte de meu filho?
Indo direto ao assunto, às vezes o povo de Deus me dá a impressão de que existe no mundo apenas para apontar o pecado dos que não conhece a Jesus. Parece que estamos no mundo no papel de juízes dos pecadores. Nossa presença ao seu lado só serve para amplificar, nas mentes e corações, o sentimento de culpa pelos pecados. Parece que a única palavra que conhecemos e partilhamos é a condenação. Apontamos os dedos contra os que falham – como se fossemos melhores – e os condenamos, sem apelação, ao inferno e condenação.
Muitas vezes percebo que os crentes sentem-se no mundo apenas com o papel de condenar, apontar aos pecadores o destino terrível que está reservado aos que não crêem. Somos arautos da pior das notícias. Somos instrumentos de dor, confusão e morte. Como se as pessoas – feridas, marcadas e doentes – viessem até nós e só pudessem encontrar mais dor. Elas precisam de alívio, mas lhes aumentamos o peso da dor. Eu já fiz e ainda faço isso. Parece que a melhor impressão que podemos causar nas pessoas é aquela que a viúva, em seu desespero, viu em Elias: o profeta estava ali para fazer lembrar o seu pecado e, por isso, matar o filho.
Causamos essa impressão quando, por exemplo, nos deparamos com alguém que se sabe pecador, está ferido pela sua culpa, e vem até nós esperando ouvir uma palavra de perdão. Ele espera o alívio de uma mão amiga, de um ombro companheiro, que pode dividir o impacto do sofrimento que tem no coração. Pecador, ouviu falar de um Jesus que disse: Venham a mim, todos vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso. Sejam meus seguidores e aprendam comigo porque sou bondoso e tenho um coração humilde; e vocês encontrarão descanso (Mt. 11. 28 – 29). Ouviu falar de um povo que se diz seguidor desse Jesus. Mas, ao se encontrar conosco, descobre que não somos muito diferentes dos fariseus dos dias de Jesus e, em vez de descanso, encontra em nós mais acusação, mais sofrimento.
Estou tentando dizer como vejo a fala da viúva de Sarepta. Entendo que essa é a forma como os crentes são vistos por boa parte da população. Somos entendidos como um grupo de pessoas arrogantes, que nos sentimos os mais “santos” e, por isso, apontamos os pecados, erros e dores dos demais. Em vez de alívio, encontram sofrimento e acusação ao nosso lado. A mesma impressão que teve a viúva quando viu seu filho morrer, enquanto hospedava o homem de Deus: Homem de Deus, o que o Senhor tem contra mim? Será que o senhor veio aqui para fazer com que Deus lembrasse dos meus pecados e assim provocar a morte de meu filho?
Mas é na mesma história que Elias ensina que papel devemos exercer diante do sofrimento humano. Mesmo que aquela mulher estivesse entendendo a presença do homem santo como a causa do sofrimento decorrente da morte do menino, Elias sabe que seu papel é transformar as situações de dor e sofrimento em momentos de paz e benção. Ele está ali para ser instrumento da paz de Deus na realização de milagres que aliviem o sofrimento das pessoas e tragam a esperança de volta. Por isso, ele pega o menino, leva-o ao seu quarto, ora a Deus e vê o milagre da ressurreição acontecer.
Se Deus nos põem presentes diante do sofrimento não é para que alimentemos a impressão que os outros têm de que só existimos para acusar e aumentar a dor. Se estamos no caminho de pessoas carregadas e marcadas por pecado e dor é para que sejamos instrumentos de transformação na vida das pessoas. É para que levemos os seus filhos mortos para os nossos lugares de oração e intercedamos a fim de ver-se realizarem milagres, tão ou mais tremendo que uma ressurreição. Estamos no mundo não para causar a impressão de que só sabemos acusar, mas para sermos instrumentos que tragam a alegria, o alívio, o descanso e a esperança de volta à vida das pessoas. Elias nos ensina isso.
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