O véu de Moisés foi tirado quando ele se voltou para o Senhor.
2 Coríntios 3. 16
Muitos de nós sofremos de miopia espiritual. Temos uma visão parcial e distorcida da vida. Olhamos para o pecado e não o consideramos tão pecado assim. Olhamos outras coisas que são bênçãos dadas por Deus, e chamamos de pecado. Vivemos como se um véu estivesse posto nos nossos olhos.
Meses atrás já escrevi sobre esse texto. Queria pensar hoje sobre a falta de perspectiva que temos em algumas coisas no mundo atual. Falta-nos entendimento acerca do pecado, do homem, de Deus, da vida.
Fizemos o nosso Deus segundo o nosso coração. Ou seja, Deus para nós é uma criatura feita à nossa imagem e semelhança. E nos serve como queremos. Não investimos nossa vida em conhecê-lo, então, é mais simples nos perdermos em visões pessoais de quem Deus seja. Criamos, assim, um ídolo em nosso coração, um véu em nossos olhos.
Uma visão assim de Deus – um Deus segundo o nosso coração – nos faz distorcer tudo o mais. O que é o mal, então? O que é pecado? Para muitos, pecado se resume a uma lista de coisas proibidas e de ações reprováveis. Pecado não é uma questão vital, é um problema de lista.
Quem é o homem? Para muitos, o homem passou a ser o centro, o rei do universo. Todas as coisas passaram a orbitar a nossa volta e definimos como prioridade máxima a nossa vontade. Vemos distorcidamente quem somos e que papel deve ser o nosso no mundo.
Estamos cegos por um véu que nos foi posto nos olhos. Preferimos acreditar nas “verdades” construídas em nosso coração a nos comprometer a uma vida de decisão, rompimento e transformação no conhecimento e intimidade do Senhor. Gostamos de ser cegos, como cegos que eram os fariseus de antigamente. Afinal, uma vida em que estou no centro, em que Deus me serve e é exatamente o que eu imaginei, em que pecado é uma lista que eu controlo, é uma vida fácil.
Mas o verdadeiro discipulado cristão não é fácil. Mas não é possível falar em discipulado para pessoas com o véu nos olhos e coração. Não é possível falar em discipulado comigo mesmo enquanto não me dispuser a tratar a minha miopia, o meu problema de visão espiritual. É preciso colocar cada coisa em seu devido lugar.
É preciso dimensionar corretamente Deus, vida, homem e pecado nos nossos olhos espirituais. E Paulo nos diz que só há um jeito de fazer isso: O véu de Moisés foi tirado quando ele se voltou para o Senhor. Mas aí é que está o mais complicado, porque olhar para o Senhor é se condenar à morte. Moisés, mesmo, recebeu essa resposta quando pediu a Deus para vê-lo: Não vou deixar que você veja o meu rosto, pois ninguém pode ver o meu rosto e continuar vivo (Ex. 33. 20). Isaías, na sua visão do capítulo 6, também se vê morto ao olhar o Senhor: Ai de mim! Estou perdido! Pois os meus lábios são impuros, e moro no meio de um povo que também tem lábios impuros. E com os meus próprios olhos vi o Rei, o Senhor Todo-Poderoso! (Is. 6. 5). Pedro, após a pesca maravilhosa, se angustia: Senhor, afaste-se de mim, pois sou um pecador! (Lc. 5. 8). E fica atônito no monte da transfiguração, diante da glória do Senhor.
Nós temos medo dessa visão. Temos medo de olharmos para o Senhor mesmo para sermos libertos. Sabemos que é uma experiência que não nos permitirá viver mais as mentiras e fantasias que vivemos até então. Uma vida nossa, que temos muito apreço, sem dúvida se acabará diante da visão do Senhor. Por isso, é mais fácil para nós olharmos o ídolo que construímos no coração e que chamamos pelo nome de Deus (cf. Ex. 32). Ele não nos exige mudança. Não nos manda abandonar velhas ilusões. Não nos põe em nosso lugar devido. Não nos faz ver a realidade de nosso pecado. Não nos desafia a abandoná-lo. Não nos exige o serviço concreto a Si.
É mais fácil, então, permanecer iludido com o véu sobre os olhos. Acreditando nas ilusões que nossa miopia trouxe e construiu em nosso coração. Mas o grande desafio para quem quer começar um discipulado verdadeiro com o Jesus que esteve entre nós é se permitir morrer essa vida ilusória, olhando para o Senhor e deixando-O tirar o véu que nos fez míopes por tanto tempo. E permitindo que Ele nos leve a uma nova e verdadeira dimensão da vida.
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