17.9.06

Contra a esperança

Finalmente perdemos toda a esperança de nos salvarmos.
Atos 27. 20
Abraão teve fé e esperança, mesmo quando não havia motivo para ter esperança...
Romanos 4. 18


Lembro do testemunho de um pastor, missionário em país latino-americano em Guerra Civil, anos atrás. Capturados por guerrilheiros, ele e o grupo missionário, após alguns dias, estavam prontos para serem executados. Os guerrilheiros se prepararam para matá-los, enquanto os missionários oravam. De repente, do nada, a explosão de uma bomba em local próximo assustou o grupo. Imediatamente, os homens armados abandonaram o local, sem tocar nos reféns, deixando-os para trás. O incrível e miraculoso é que não houve outras explosões, fora aquela. Não houve bombardeios. Na hora limite, Deus providenciara o livramento ao grupo.
Lucas narra a viagem de Paulo, prisioneiro, até Roma. O navio, açoitado pelos ventos e pelo mar, com mais de duzentas pessoas a bordo, vai à deriva. Depois de vários dias de sofrimento e luta, a morte é certa, segundo Lucas: Finalmente perdemos toda a esperança de nos salvarmos. Mas, miraculosamente, por amor a Paulo, Deus preserva e salva a todos naquele navio: Paulo, não tenha medo! Você precisa ir até a presença do Imperador. E Deus, na sua bondade, já lhe deu a vida de todos os que estão viajando com você (At. 27. 24).
Nunca tinha me apercebido claramente do valor da fala do narrador Lucas nessa passagem. A situação era limite e toda a esperança tinha se esvaído. O que estava acontecendo era grave demais e não havia qualquer possibilidade de salvação. Fé e esperança não existiam mais.
Nem preciso lembrar que, não só nessas duas histórias, mas em muitos momentos limites de nossas vidas, vemos a esperança se acabar. Olhamos em volta e percebemos que nos encontramos sem qualquer possibilidade de saída. Seja uma arma apontada contra nós, seja um navio indo a pique, seja um diagnóstico médico que nos condena, seja uma situação que, complicada, fecha as possibilidades de caminho à nossa frente. Vez por outra enfrentamos situações limites que nos colocam diante da perda da esperança.
Ter fé nessas horas é uma loucura maior ainda. Porque a fé na salvação em uma situação assim é esperar contra todas as circunstâncias e possibilidades. O desenho de todo o quadro e as circunstâncias que nos envolvem só nos fazem ter certeza do desfecho contrário. Mas a fé é capaz de esperar contra toda a esperança.
Paulo é o esperançoso naquele barco. Ele é o homem de fé e é por causa da sua fé que todos são salvos por Deus. Ele é o mesmo que, anos antes, escrevendo para a igreja em Roma sobre Abraão, define o porquê de ele ter sido o pai de muitas nações: Abraão teve fé e esperança, mesmo quando não havia motivo para ter esperança... Naquele navio, como em outros momentos de sua vida, Paulo teve a chance de provar sua coerência. Se ele era capaz de falar sobre a fé de Abraão como aquela que faz o homem esperar, mesmo quando não nenhum motivo para se ter esperança, era preciso ser coerente e honesto para vivenciar isso na prática.
Muitas vezes nos encontramos em uma situação limite que nos desespera. Como era a situação naquele navio no Mediterrâneo que levava Paulo ou como era a situação daquele grupo missionário em mãos guerrilheiras. Situação que nos deixa sem qualquer perspectiva de esperança. Essa é a hora da fé. Contra o fim certo, contra a condenação do diagnóstico, contra a fatalidade das circunstâncias, é hora da fé que nos coloca a esperar contra toda a esperança e aguardar o socorro e o livramento do Senhor.

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