Há um refrão no texto, uma mensagem constante e repetitiva, marcante para mim: "Viveu [...] anos e morreu".
E morreu.
Em Camus aprendo sobre a ideia da absurdidade: a vida não tem nenhum sentido diante da morte, que é a nossa única certeza. É preciso um projeto, a construção de um sentido, de um objetivo, de uma razão.
Uma das razões para a vida pode ser o legado. Lembro de Jeorão, rei citado em 2 Crônicas 21, de quem se diz que morreu "sem que ninguém o lamentasse" (v. 20). Jeorão foi alguém que morreu sem deixar um legado. Sua morte não fez falta porque sua vida não fez diferença. A tentativa de fazer a vida se prolongar após a morte com base em um legado é um dos nossos mais intensos projetos. Porque todo mundo morre.
Gênesis 5 nos diz que todo mundo morre. Menos um. Enoque resiste à morte e vive. Não apenas no legado ou na lembrança.
Vimos esta tarde o doce "Festa no céu": os mortos, na lenda mexicana, vivem na terra dos lembrados ou morrem na terra dos esquecidos. E o amor, bem, ele é capaz de fazer viver a vida.
Essa é a ideia. Sempre gostei de pensar em que Enoque é diferente para que sua vida sobreviva à morte. Ele já não era encontrado porque Deus o tomou para Si.
Se há projeto para enfrentar a absurdidade da morte, se há um legado possível, ele se dá quando nós não somos mais encontrados porque Deus nos tomou. Olham para nós e O veem. Ainda que morramos, viveremos. No legado. No projeto. Na memória. Na terra dos lembrados. A nossa vida faz a diferença e, portanto, se prolonga.
Viveu ao todo 905 anos e morreu
Gênesis 5:11
Gênesis 5:11
Viveu ao todo 905 anos e morreu
Gênesis 5:11
Gênesis 5:11
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