Avivamento ou Fingimento?
Em que seu tempo se assemelha a nossos dias? Parte do ministério do profeta acontece em um tempo de Avivamento. O culto ao Deus de Israel está se fortalecendo diante dos cultos idólatras, especialmente o culto a Baal.
São os dias do Rei Josias. 2 Crônicas 34 nos conta a história de Josias:
1) Tornou-se rei aos oito anos de idade, após a morte de seu pai Amom;
2) Com dezesseis anos, começa a buscar a Deus e tentar acabar com todas as falsas religiões na terra de Israel;
3) Com vinte anos, Josias viaja pela terra e purifica Judá e Jerusalém, acabando com os cultos aos falsos deuses;
4) Aos vinte e seis anos ordena a Reforma do Templo de Jerusalém, de onde são retirados todos os elementos que faziam parte dos cultos idólatras;
5) Enquanto o Templo era Reformado, foi encontrado, pelo sacerdote Hilquias (provavelmente, o pai de Jeremias) o Livro da Lei, que é lido diante do Rei. “Quando ouviu o que o Livro da Lei dizia, o rei rasgou as suas roupas em sinal de tristeza”, diz o texto.
6) O resto do capítulo e o capítulo seguinte nos contam como Josias desenvolveu o seu projeto de Reforma Religiosa, como o rei levou o povo a renovar a Aliança com Deus, pondo fim a todo culto a falsos deuses, e como o rei realizou a maior Páscoa da história de Israel.
7) A Palavra de Deus se espalhou, sendo pregada em toda parte, tanto em Judá, quanto em Israel.
Certamente, o templo andava cheio. As pessoas estavam buscando refrigério para suas almas. A religião estava avivada. Como hoje, as multidões sedentas por respostas, por vida com Deus, corriam para o templo para ouvir o ensino e a pregação. Como hoje, a religião do Deus vivo se tornou religião da moda. As pessoas estavam abandonando o culto a Baal e toda idolatria. Os líderes diziam, com razão, que se vivia um Avivamento.
Mas qual a sua profundidade?
Nesse ponto, olhar o livro de Jeremias é inquietante.
Jr. 3. 6 e 9: “Durante o reinado do rei Josias (!), o Senhor me disse: ‘Você viu o que fez Israel, a infiel? Subiu todo monte elevado e foi para debaixo de toda árvore verdejante para prostituir-se. (...) Judá, a traidora, não voltou para mim de todo o coração, mas sim com fingimento’, declara o Senhor”.
A ilusão do crescimento da religião se desfaz em poucas palavras. Fingimento, não Avivamento. É assim que Deus vê as coisas.
O oráculo de Deus continua descrevendo a forma como o Senhor insistiu com a conversão do povo: “Voltem, filhos rebeldes! Pois eu sou o Senhor de vocês”, declara o Senhor” (14)
Talvez passasse pela cabeça do povo que conversão era ter o templo cheio, uma festa de Páscoa concorrida, mas a conversão real não é uma questão de culto. Por isso o Senhor diz que se o povo se converter “não dirão mais ‘A arca da Aliança do Senhor’. Não pensarão mais nisso nem se lembrarão dela; não sentirão sua falta nem se fará outra arca” (16), porque o próprio Senhor habitará no meio do povo.
A conversão real não se resolve com palavras bonitas, ou palavras religiosas impressionantes, mas vazias de poder e conteúdo concreto. A conversão real se resolve com a presença do Deus vivo e um Avivamento Genuíno que não é encenação religiosa.
Deus continua falando: “Voltem, filhos rebeldes! Eu os curarei da sua rebeldia” (22). O povo responde com um belo discurso de arrependimento: “Sim! Nós viremos a ti, pois tu és o Senhor, o nosso Deus. De fato, a agitação idólatra nas colinas e o murmúrio dos montes é um engano. No Senhor, no nosso Deus, está a salvação de Israel.” (22-24).
Quase ouvimos Deus lamentando em sua resposta: “Se você voltar, ó Israel, volte para mim!” (4. 1).
E a partir daí Jeremias profere uma das condenações mais veementes contra o povo de Deus e seus líderes. No capítulo 5, o profeta denuncia toda a falsidade e superficialidade de sua religião, de seus sentimentos, de sua vida espiritual. Seu Avivamento, anteriormente chamado de Fingimento, não tem melhorado a vida ou o testemunho do povo. Mas nada ficará sem castigo. “Não devo eu castigá-los? Não devo eu vingar-me de uma nação como essa?” (5. 29), refrão repetido inúmeras vezes.
Ele diz que o “povo tem coração obstinado e rebelde; eles se afastaram e foram embora” (5. 23). Eles não têm ousadia para viverem na presença do Deus vivo de maneira coerente. “O meu povo é tolo, eles não me conhecem. São crianças insensatas que nada compreendem. São hábeis para praticar o mal, mas não sabem fazer o bem” (4. 22).
Jeremias diz que procurou alertar a liderança sobre a fragilidade da vida que fingem viver. Mas eles quebraram o jugo de Deus, diz o profeta. O castigo os alcançará por isso.
“Irei aos nobres e falarei com eles, pois, sem dúvida, eles conhecem o caminho do Senhor, as exigências do seu Deus. Mas todos eles também quebraram o jugo e romperam as amarras. Por isso, um leão da floresta os atacará, um lobo da estepe os arrasará, um leopardo ficará à espreita, nos arredores das suas cidades, para despedaçar qualquer pessoa que delas sair. Porque a rebeldia deles é grande e muitos são os seus desvios” (5. 5 -6)
O Fingimento, a que chamamos de Avivamento tantas vezes, se propaga através de profetas que estão mais preocupados em manter a sensação de satisfação espiritual dos fiéis do que em anunciar-lhes a vontade e a Palavra do Deus vivo. Eles constroem uma estrutura de entretenimento religioso, de festa cúltica, que não desafia qualquer um a uma vida de santidade na presença do Deus vivo. E no nível superficial, a Igreja impressiona com seus números e sua pirotecnia. Se olharmos como Deus olha, não vemos mais que puro fingimento.
Levantar-se, profeticamente, para denunciar situação assim é correr sérios riscos. Jeremias foi preso, perseguido, jogado em uma cisterna seca. Tudo por ter sido fiel ao chamado que Deus lhe fez e não ter se deixado levar pela impressão bonita que a Reforma de Josias deixou. Não podemos apenas aplaudir o crescimento da Igreja sem refletirmos, de outra parte, sobre os seus significados, implicâncias e profundidade.
“Porque a comunidade de Israel e a comunidade de Judá têm me traído”, declara o Senhor. Mentiram acerca do Senhor, dizendo: “Ele não vai fazer nada! Nenhum mal nos acontecerá; jamais veremos espada ou fome. Os profetas não passam de vento, e a palavra não está neles; por isso aconteça com eles o que dizem”.(...) “Uma coisa espantosa e horrível acontece nesta terra: Os profetas profetizam mentiras, os sacerdotes governam por sua própria autoridade, e o meu povo gosta dessas coisas. Mas o que vocês farão quando tudo isso chegar ao fim?” (5. 11 – 13 e 30 – 31).
Mas vocês acham que falar assim agrada ao Senhor? Você acha que Ele tem prazer nessas coisas?
Jr. 13. 15 -17:
“Escutem e dêem atenção, não sejam arrogantes, pois o Senhor falou. Dêem glória ao Senhor, ao seu Deus, antes que Ele traga trevas, antes que os pés de vocês tropecem nas colinas ao escurecer. Vocês esperam a luz, mas Ele fará dela uma escuridão profunda; sim, Ele a transformará em densas trevas. Mas, se vocês não ouvirem, eu chorarei em segredo por causa do orgulho de vocês. Chorarei amargamente, e de lágrimas os meus olhos transbordarão, pois o rebanho do Senhor foi levado para o cativeiro”.
Há ainda um caminho para sairmos do fingimento e experimentarmos o amor de Deus, o Avivamento Genuíno. Nos dias de Jeremias, depois que o castigo veio e o povo foi levado para o exílio na Babilônia, o profeta escreve uma carta aos exilados, em nome do Senhor. E na carta Deus diz:
“Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês, diz o Senhor, planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes esperança e um futuro. Então vocês clamarão a mim, e eu os ouvirei. Vocês me procuraram e me acharão quando me procurarem de todo o coração. Eu me deixarei ser encontrado por vocês, declara o Senhor, e restaurarei a sorte de vocês” (Jr. 29. 11 -14)
Um comentário:
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