Aquele que tem sede venha. E quem quiser receba de graça da água da vida.
Apocalipse 22. 17
Esta é uma das fotos mais famosas do mundo, apesar de eu ter certeza que muitos de nós jamais a viram. Talvez seja a representação mais vívida da miséria que o ser humano conseguiu registrar. E de uma miséria mais profunda que a fome e a sede.
Era o início dos anos 90. O país era o Sudão. O fotógrafo era o sul-africano Kevin Carter, de 33 anos. Com essa foto ele ganhou o prêmio Pulitzer em 1994. Por essa foto, ele se suicidou seis meses depois.
Aqui, está retratada a miséria humana. Um abutre aguarda, pacientemente, a morte desta pequena menininha, faminta e sedenta, abandonada, não à própria sorte, mas à própria morte. Obviamente, vamos nos perguntando sobre o que teria acontecido aos seus parentes, à sua família. Pela sua situação, não é difícil imaginar que não tenham escapado de destino semelhante ao dela. Em poucos minutos, ela estaria morta e seria banquete do abutre.
Dificilmente alguma imagem revelaria tão cruamente a miséria humana. A pobreza, a fome, a sede, a exploração, o mal, enfim, do coração humano se revelam quando imaginamos que nós, seres humanos, somos capazes de permitir que tragédias assim se repitam e aconteçam a todo tempo, em toda parte. Dificilmente alguma outra imagem seria tão cruel a ponto de revelar assim o terrível pecado que impregnou a nossa natureza.
Mas aqui há outra miséria revelada. A do fotógrafo. Ela se traduz de duas maneiras. Primeiro: como deve ter se sentido miserável este homem que faturou e foi premiado em cima da morte e da tragédia! Registrar essa cena é peso demais para qualquer coração humano, que só pode aumentar quando o produto desta cena é vendido e confere retorno e notoriedade ao autor.
Por outro lado, a pior miséria de Kevin Carter foi constatar a sua impotência para salvar aquela menininha do abutre que a assediava e da fome que a matava. Além de faturar sobre a tragédia, ele testemunhou a cruel morte que a miséria provoca. Sem poder fazer muita coisa para impedir. Seu coração se tornara, então, tão miserável quanto aquela cena que ele registrava.
O cúmulo do sofrimento e da depressão de Carter foi a premiação com o Pulitzer por causa daquela tragédia. Meses depois, ele deu cabo da própria vida. Vida que ficara muito pesada, carregada de toda a miséria que ele vivenciou e imprimiu no peito e na alma.
Aquele que tem sede venha. E quem quiser receba de graça da água da vida. Só uma coisa poderia transformar esta tragédia toda, tanto a de Carter, quanto a da menina sudanesa: só o amor de Jesus. E aqui não se trata de nenhuma proposta utópica ou espiritualista. É preciso que testemunhemos esse amor que julgamos ter por nossas palavras e por nossos atos.
Só o amor de Jesus pode nos conduzir à ação de mudança do quadro terrível de miséria em que muitos adultos e crianças como aquela menininha, se encontram. Não serve ao cristão a desculpa proposta pela evangelização “pé na cova”, que só se importa com o Reino Vindouro, com a Nova Jerusalém, acreditando que a solução de tudo e a mudança do mundo não podem ser, de forma nenhuma, experimentados e promovidos pelo ministério vivo dos cristãos, embaixadores de Cristo. Precisamos olhar para miséria e fixarmos os nossos olhos nela a fim de lutar para diminuí-la. E não mais olhar para ela, desviando nossos olhos para a glória, na ansiosa expectativa de ser recebido no céu, fugindo de nossos compromissos. Estamos aqui para transformar o mundo. O mundo miserável precisa conhecer o convite: Aquele que tem sede venha. E quem quiser receba de graça da água da vida.
Existe, também, muita gente vivendo no desespero de Kevin Carter. Precisamos mostrar a essas pessoas que ainda há esperança no amor de Deus, que desfaz todo desespero. Tais pessoas precisam e podem se deparar com a realidade do convite: Aquele que tem sede venha. E quem quiser receba de graça da água da vida. E, apesar de toda a miséria que encontra no mundo e que se encontra no coração, podem encontrar a vida, no meio da morte, que Jesus dá ao que crê.
A miséria, a fome e a sede, materiais ou espirituais, podem ser vencidas por Jesus. Por nós, seus embaixadores. É só lembrar do convite: Aquele que tem sede venha. E quem quiser receba de graça da água da vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário