14.6.05

Misticismo

Pois em Cristo, como ser humano, está presente toda a natureza de Deus, e, por estarem unidos com Cristo, vocês também têm essa natureza.
Colossenses 2. 9 – 10

Há uma idéia constante em toda a carta de Paulo aos Colossenses. Trata-se da noção de que toda a plenitude de Deus está em Cristo Jesus. Em outras palavras, Paulo afirma e reafirma à igreja em Colossos que Jesus é o próprio Deus, plenamente poderoso, agindo em favor deles e em seu meio.
O mais fantástico, no entanto, para mim, é que em toda carta também Paulo está chamando os cristãos a disporem seus corações para uma vida de real intimidade com Jesus. E a dimensão dessa comunhão é tão intensa que dificilmente não notaremos que, para Paulo, Cristo e o cristão, estando em relação, fundem-se como se fossem uma só pessoa. Pois em Cristo, como ser humano, está presente toda a natureza de Deus, e, por estarem unidos com Cristo, vocês também têm essa natureza.
Esta idéia é o fundamento de qualquer tipo de misticismo cristão firmado nas Escrituras. A noção de que Deus está nos chamando para partilhar, em Cristo, de Sua vida, de Seu poder, de Sua natureza, de Sua glória. E este chamado não se reserva a alguns poucos privilegiados e iniciados, mas é a vocação de todo e qualquer cristão. Somos chamados para uma relação de tão profunda intimidade que podemos nos fundir e nos encontrar verdadeiramente ao sermos lançados às profundidades do relacionamento com Deus. Somos a noiva que anseia pela consumação das bodas do Cordeiro. Podemos viver a dimensão desse amor de Jesus por nós.
Paulo instrui acerca de como construir uma relação assim tão pessoal com o Senhor. E essa relação terá quatro pilares. Em primeiro lugar, diz o apóstolo, estejam enraizados nele (Cl. 2. 7). Uma vida mística é um risco constante de engano, engodo e desvio. Podemos ser iludidos e arrastados para muito longe do Senhor, se não tivermos cuidado. Tal coisa tem acontecido e podemos ver todos os dias, em cada cidade brasileira, irmãos e irmãs que, levados por um misticismo cego, vêm se afastando do Deus vivo que se revela nas Escrituras. A nossa única chance de nos mantermos firmes é enraizados em Jesus. Precisamos dedicar nosso coração à leitura, à meditação e ao estudo sério da Bíblia. Precisamos colocar nossa alma na busca pelo entendimento nas Escrituras. Enraizamo-nos em Jesus, tendo nosso prazer na Lei do Senhor e na Sua Lei meditando dia e noite.
Também é fundamental nesse processo não abandonar a comunhão de nossos companheiros de discipulado. Admoestando-nos uns aos outros a permanecermos ligados à Videira Verdadeira, preservaremos nossas almas de tão fatal desvio. É preciso, pois, que estejamos enraizados em Jesus.
A partir disso, podemos obedecer a Palavra que nos instiga: construam sua vida sobre ele (Cl. 2. 7). A lembrança imediata, ao ler esse trecho, é da fala de Jesus: Quem ouve esses meus ensinamentos e vive de acordo com eles é como um homem sábio que construiu a sua casa na rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes, e o vento soprou com força contra aquela casa. Porém ela não caiu porque havia sido construída na rocha (Mt. 7. 24 – 25). Alicerçados em Jesus, podemos construir uma vida que não seja destruída pelas intempéries que abatem e abalam nossa existência. E essa construção se dá quando aprendemos a obedecer os mandamentos de Deus. Nossa vida será firme quando ouvirmos os ensinamentos de Jesus e vivermos de acordo com eles.
A vida cristã é vida prática. Ela se estrutura e se estabelece na ação prática que realiza aquilo que é vontade de Deus. Muitas vezes, temos tido nossas emoções religiosas, temos mantido nosso conhecimento bíblico e acerca de Deus para nós mesmos. Mantemos essas coisas extremamente subjetivas. Elas existem em nós e se perdem em nós. Uma vida assim não está firme. A construção de nossa vida sobre Cristo se dá através da ação prática. Estaremos firmes à medida que transformarmos as tantas coisas que nos marcam subjetivamente na nossa relação com Deus em obras de obediência a Ele, de justiça em favor dos outros e no cumprimento de Seu plano no mundo.
Uma vida firme na Rocha supera e suporta toda luta, toda tribulação, toda angústia e toda dor porque olha para o invisível. Esta vida construída sobre Jesus se segura no barco contra todas as esperanças porque sabe que Deus, por fim, lhe conduzirá a porto seguro. E se tornem mais firmes na fé (Cl. 2. 7). Uma casa estável se sustenta diante de todo terremoto, de toda enchente, de todo abalo. E se mantém firme. Uma vida assim se fortalece na fé. E fortalecida na fé, traduz tudo em gratidão ao Deus que guia a vida: E dêem graças a Deus (Cl. 2. 7).
O chamado à comunhão com Jesus, à intimidade mística com Ele, corre o risco de nos conduzir para bem longe dAquele em Quem encontramos a inteireza da natureza de Deus. Deus nos quer em profunda, íntima e mística comunhão com Jesus. Uma comunhão que nos transforma, que nos impacta e que pode transformar o mundo. Comunhão com Aquele em quem está toda a plenitude de Deus e em Quem podemos gozar essa plenitude e essa presença gloriosa. Mas precisamos estar alertas. Precisamos estar enraizados em Jesus, construir nossa vida sobre Ele, permanecendo firmes na fé e louvando pelo Seu cuidado, Sua direção e Sua bênção em nossas vidas. Sob pena de nos desviarmos para bem longe dAquele que é o prazer de nossas almas.

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