21.7.05

Descanso

Portanto, nós, os que cremos, recebemos o descanso prometido por Deus
Hebreus 4. 3

Hoje estou cansado, mas bem cansado mesmo. Acordei, se é que eu dormir de verdade, às quatro horas da manhã para viajar às cinco. Fomos, alguns membros do Comitê Potiguar pelo Desarmamento, até a cidade de Serra Negra do Norte, a 330 km de Natal. Chegamos na cidadezinha por volta das nove e meia da manhã. Logo após a audiência pública da qual participamos sobre “Violência, Cultura da Paz e Desarmamento”, almoçamos e pegamos a estrada de novo. Mais quatro horas e eu estava chegando em casa às dezessete horas e trinta minutos. Extenuado do dia de estrada. Cansado demais para querer outra coisa senão o descanso.
Lembrei-me, nesta história, do cansaço que deve ter abatido o povo de Deus no deserto. Após uma longa caminhada no calor do deserto, tudo que Israel necessitava era o descanso, finalmente, desta jornada. A chance de descanso aparece. Moisés envia espias à terra que lhes foi prometida. Tudo estava correndo para a entrada do povo, em breve, no descanso. Até que falhou a sua fé. À exceção de Josué e Calebe, todos os espias titubearam em sua fé. Como resultado da falta de fé de que Deus poderiam vencer os inimigos e estabelecer o Seu Povo no Seu descanso, Israel foi condenado a vagar ainda mais quarenta anos até poder entrar na terra. Provavelmente, foram quarenta anos de calor, cansaço e sofrimento. O povo devia restar, ao fim do dia, cansado demais para qualquer outra coisa senão o descanso e o sonho de, um dia, estar em uma terra sua, usufruindo o descanso absoluto que Deus concede.
Mas há um outro descanso à nossa espera. A caminhada do povo no deserto, em direção à terra prometida, tem servido como ilustração daquilo que representa nossa caminhada neste mundo. A Bíblia nos chama, cristãos, de peregrinos e forasteiros nesta terra, nos moldes do que representava para Israel ter ficado quatro séculos como povo escravo no Egito e, ainda mais, peregrinar por mais quarenta anos no sofrimento do deserto. Do mesmo modo que este povo anseia, desesperado, por descanso, aguardamos um outro descanso a nós reservado. Portanto, nós, os que cremos, recebemos o descanso prometido por Deus.
João contempla, no Apocalipse, a Nova Jerusalém, a realização definitiva do propósito do Reino de Deus no mundo. Ali, a descrição deixa bastante claro, está o nosso definitivo e absoluto descanso. O descanso eterno de nossa peregrinação no deserto da vida. O anjo também me mostrou o rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro, e que passa no meio da rua principal da cidade. Em cada lado do rio está a árvore da vida, que dá doze frutas por ano, isto é, uma por mês. E as suas folhas servem para curar as nações (Ap. 22. 1 – 2).
Mas é claro que não precisamos acreditar que só poderemos usufruir esse descanso que tanto ansiamos das lutas, tragédias, dificuldades e transtornos do dia a dia, no mundo vindouro. Podemos antecipar e participar um pouco que seja no nosso cotidiano do descanso que nos está disponível. Através da fé.
Na antecipação da fé, poderemos experimentar realidades como as de Isaías 64. 4: Nunca ninguém viu ou ouviu falar de outro deus além de Ti, de um deus que faz coisas assim em favor dos que confiam nele. Este texto foi atualizado por Paulo, quando escreve aos Coríntios: O que ninguém nunca viu nem ouviu, e o que jamais alguém pensou que podia acontecer, foi isso o que Deus preparou para aqueles que O amam (1 Co. 2. 9). Essa realidade apontada por Paulo não nos conduz necessariamente apenas para o mundo vindouro, mas, antes, indica que nós podemos a usufruir de parte deste descanso, ao mesmo tempo que antecipamos parte da experiência para sabermos exatamente o que ter como esperança. Esta revelação, apontada por Paulo, não é algo que está a ser revelado no futuro, no fim dos tempos. Pelo contrário, é algo que o Espírito já nos traz ao coração como fruto da fé: Mas foi a nós que Deus, por meio do Espírito, revelou o seu segredo (1 Co. 2. 10).
Esta é uma realidade que, para experimentá-la, é preciso vivenciar a vida plena na dimensão da fé. O descanso para as nossas almas, pasto verdejante para os nossos seres, refrigério nas nossas lutas, podem ser experimentados como antecipações daquilo que ainda continua a nós reservado, na vida que ainda temos escondida nas mãos de Deus, a se revelar no futuro. Essa antecipação é descanso na batalha, é paz e amor na dimensão da comunhão e intimidade com Deus. Não se traduz em termos de bênçãos, quaisquer que sejam elas, ou prosperidade, mas se realiza como plena comunhão e vivência com o Pai. O nosso descanso, na caminhada no deserto deste mundo, é estar diante da nuvem da glória do Senhor. É usufruir plenamente o prazer da Sua companhia e presença em nossas vidas. É deitar no Seu colo, beber da Água que Ele oferece, comer do Pão que desce do céu. Descansar.

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