O Senhor Deus me deu o Seu Espírito, pois Ele me escolheu para levar boas notícias aos pobres.
Isaías 61. 1
Muitas pessoas buscam ardentemente pelo Espírito Santo. Querem ser cheias dEle. Querem receber a Sua unção. Embora seja uma promessa para aqueles que recebem a salvação em Cristo, para todos nós, o derramar do Espírito traz implicações para as quais não temos atentado muitas vezes. O poder do Espírito, Seus dons e Sua plenitude não vêm sem propósito. Se o poder de Deus vem sobre a igreja e sobre o cristão é para capacitá-lo para alguma coisa específica. Um serviço ou ministério que pertence a cada pessoa individualmente. Não existe poder do Espírito para se gastar em si mesmo, ou olhando para o próprio umbigo. Poder do Espírito é para nos impulsionar para fora de nós mesmos e abençoar os que estão à volta.
O Senhor Deus me deu o Seu Espírito, pois Ele me escolheu para levar boas notícias aos pobres. Fomos chamados por Deus e recebemos o Seu Espírito para sermos, especialmente, instrumentos de libertação e da transformação do mundo à nossa volta. Não fomos chamados para curtirmos o prazer de conhecer a Deus, mas sobre nós vem o Seu poder para que, nesse poder, possamos ir na direção do mundo, para transformar a realidade à nossa volta. Fomos chamados para libertar o mundo.
Não quero espiritualizar o texto de Isaías 61 porque não acredito que ele foi escrito para ser entendido, prioritariamente, de forma espiritualizada. Ele se refere à tradição do ano jubilar no Antigo Testamento: aquele momento, a cada sete ou cinqüenta anos, em que dívidas eram perdoadas, escravos eram libertados, as terras eram restituídas aos seus primeiros donos, numa verdadeira ação de Reforma Agrária conduzida pelo Senhor. O Espírito Santo nos unge, como ungiu Jesus, para promover uma transformação completa da humanidade, incluindo sua vida social. Isso é importante demais em um contexto como o Brasil contemporâneo: campeão mundial de mortes pela guerra urbana, um dos piores índices de IDH do mundo. Um lugar onde dizem que cresce a igreja de Cristo. Se ela cresce que papel tem desempenhado como ungida pelo Espírito Santo? Se é uma igreja cheia do Espírito, por que não tem contribuído para a transformação do mundo à sua volta? Por que acontece em nossas cidades algo como o que ocorre no bairro de Felipe Camarão, em Natal: um dos bairros com maior presença evangélica e, ao mesmo tempo, reconhecido como bairro mais violento da cidade?
Para mim, só há uma resposta. As igrejas não estão cheias do Espírito Santo, mas provavelmente estão cheias de si. Porque o Espírito nos unge e para realizar algumas tarefas bem definidas: O Senhor Deus me deu o Seu Espírito, pois Ele me escolheu para levar boas notícias aos pobres. Ele me enviou para animar os aflitos, para anunciar a libertação aos escravos e a liberdade para os que estão na prisão (Is. 61. 1). Agora, se eu e você, se a igreja está presente em um ambiente mas os pobres não recebem boas notícias, os aflitos não são animados, os escravos – os explorados – não são libertos, os presos – os injustiçados – não são livres, ou não recebem o nosso apoio em suas lutas, para mim isso é um forte indício de que não estamos tão cheios do Espírito quanto estamos de nós mesmos.
Billy Graham admitia que um dos traços principais que caracterizam uma igreja e um cristão como cheios do Espírito é o envolvimento nas causas que redundam na transformação da sociedade e libertação do oprimido. O cristão, cheio do Espírito, deveria ser alguém profundamente otimista, utópico e lutador. Mas o que vemos, lamentavelmente – e que nos marca como pessoas que precisam aprender a mergulhar mais na intimidade dos rios de águas vivas do nosso Deus –, são cristão adeptos da tese do quanto pior melhor, como se o mundo precisasse piorar para a volta de Jesus, para o quê a igreja colabora com sua omissão. Muitos cristãos, profundamente pessimistas, manifestam sua falta de enchimento do Espírito e sua plenitude de Si mesmos. Mas ainda há tempo de voltar atrás. As águas da vida de Jesus permanecem disponíveis para quem quiser bebê-las. Basta correr e se chegar a Ele. Com fome e sede de justiça, que serão plenamente saciadas.
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