Publicado inicialmente no De olho no discurso
Na última sexta-feira [i.e., em 4 de abril de 2013] fui ouvir o pastor Ricardo Gondim na celebração dos 32 anos da Igreja Betesda, aqui em Fortaleza.
Sua mensagem me fez pensar. Falando em cima de Filipenses 3. 13-14 (Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus), a reflexão do pastor tinha elementos psicanalíticos - como a ideia de que "esquecer" tem a ver com ressignificar os fatos do passado para que possamos deixar o que fica efetivamente para trás.
Uma coisa me fez pensar sobre minha própria vida. Instantes antes do pastor assumir a Palavra, o pastor Mardes, titular da igreja aqui em Fortaleza, me apresentou relembrando fatos de minha vida - de como eu planejava me tornar pastor e de como a vida mudou e me fez professor.
Sempre falo sobre isso focando os planos A, B ou C da vida que foram modificados.
Ricardo Gondim falou sobre isso: a vida não se torna uma desgraça somente porque um plano não tenha sido cumprido conforme planejamos. São milhares de planos que Deus tem em nossa vida para que alcancemos a sua vocação.
Isso me ajudou a aprofundar a ressignificação de vários momentos de mudanças e viradas em minha existência. Como quando eu deixei o seminário teológico - coisa lembrada pelo pastor Mardes.
Outra frase de Ricardo Gondim me fez pensar. Ao falar sobre sexualidade, o pastor lembrou que não existem pessoas hetero, homo ou bissexuais, mas sim existem pessoas que têm dificuldades em suas sexualidades. "Quem não tem dificuldades na sua própria sexualidade que atire a primeira pedra", disse.
Isso me fez refletir sobre uma coisa que já expressei no Facebook, mas que nunca havia trazido ao blog.
Vou fazê-lo agora.
***
Converti-me em uma igreja bem conservadora, na qual sequer podíamos acompanhar os cânticos com palmas e onde bateria era coisa do diabo. Se era assim no campo musical, avalie no que se refere às minorias, especialmente os homossexuais.
Fui criado também em uma cultura homofóbica e isso, associado à minha experiência religiosa, reforçava minhas ideias relacionadas aos homossexuais no âmbito do cristianismo.
Minha conversão ao evangelho de Jesus se deu em um processo durante o qual eu, espírita, entendi que Jesus era Deus feito homem. Desse modo, poderia morrer por mim e por quem cresse. O espiritismo parte de uma premissa irrefutável: afirma que cada um é responsável por suas próprias ações. Sendo assim, Jesus entendido como um simples homem nunca poderia expiar os pecados de outra pessoa. Por isso a compreensão da pessoa de Cristo e o valor de Seu sacrifício foram fundamentais para que eu me entregasse a Ele.
E a homossexualidade?
Lembro de uma vez, em meados da década passada, que viajamos uma caravana de Natal para participar de um encontro teológico em Alagoas. Tenho a impressão que do ônibus inteiro apenas um pastor se manifestava abertamente em favor da homossexualidade - e justificava tudo na perspectiva hermenêutica de entender manifestações culturais como essa como contingente.
Lembro que ouvia aquilo e discordava. Pensava ser uma heresia imensa e, por isso mesmo, lembro de refletir sobre se a unidade entre aqueles de posicionamento tão diverso seria possível ainda diante de tudo.
Mas do mesmo modo que a compreensão do sacrifício de Cristo mudou minha vida e me fez compreender o evangelho de uma forma que nunca tinha feito - e me fez converter-me -, foi a reflexão sobre o sacrifício de Cristo que me fez mudar minha perspectiva sobre a homossexualidade.
Para mim a questão é clara: o centro da fé em Jesus é Cristo e este crucificado. Ele fez aquilo por amor. Amor não combina com o ódio disseminado por cristãos que dizem que O seguem. E o discurso de nossas igrejas está repleta de ódio. E quando não há ódio, há desvio. Jesus andaria com esses, os discriminados, e rejeitaria aqueles, os religiosos. Fez isso quando esteve por aqui antes da cruz. Faria (faz, na verdade), hoje.
O comportamento do cristinianismo homofóbico (que esquece que a mensagem do evangelho é o amor de Deus revelado em Jesus Cristo crucificado) não difere (talvez seja pior) daqueles religiosos contra quem Jesus se levantou. Os mestres da ortodoxia. Aqueles que diziam que Jesus era pecador porque andava com a escória social de seu tempo - os publicanos, as prostitutas.
Os religiosos de hoje não sabem acolher - sabem condenar. Em defesa da homofobia e contra a luta de gente como Jean Wyllys, agora os cristãos além de discriminadores são mentirosos, ardilosos, falsos. Se distanciam da mensagem da cruz. Aliás, a mensagem que deveríamos estar pregando é a cruz de Cristo.
Enquanto isso, um monte de gente perde tempo fiscalizando o fiofó dos outros. Além disso, cada dia mais a ciência comprova que homossexualidade não tem uma causa que deva ser curada - homossexualidade é uma condição natural do sujeito. Não deve ser negada. É geneticamente influenciada - está escrita nos gens, no cerébro. Negá-la é desumanizar o sujeito. E Deus se fez homem em Jesus para que ninguém mais fosse desumanizado.
Acho que as pessoas não lêem a Bíblia ou são incapazes de ler pelo menos a história de Jesus. Creio no Cristo que morreu pelos que não são sãos. Porque os sãos não precisam de remédio. Justificam-se a si mesmos - como aquele fariseu que não teve a mesma sorte de receber a justificação como o publicano que sabia não ser merecedor. O discurso religioso conservador e homofóbico reproduz o que pensam na letra dissociada do Espírito. Letra sem o Espírito somente pode provocar a morte - como o faz o discurso homofóbico do conservadorismo religioso.
Passei a refletir minha mudança, esquecendo o que para trás fica, quando conheci o sofrimento de muitos irmãos que, gays, passavam a crer que sua condição como sujeito era pecaminosa. Um pecado impossível de ser restaurado. Desse modo, abandonam a fé e a igreja porque não cabem nessa fé por serem o que são. No entanto, crêem em Jesus como eu creio - mas sofrem sendo quem são.
Alguns já se libertaram. Sabem-se pecadores, como eu sou. Dependem da graça para serem salvos como eu.
Desde quando, na Bíblia, existe outra coisa que salve ou condene alguém a não ser o sacrifício de Cristo na cruz. desde quando é o que eu faço ou deixo de fazer que me salva? Isso "não é dom de Deus, não vem de vós"? Por que é possível julgar que alguém não é salvo pelas roupas que usa ou por sua orientação sexual? Nossos eventuais pecados são maiores que a graça de Deus, que a cruz de Cristo? Algum desses eventuais pecados é maior que os demais?
E o que fazer quando a ciência comprova a cada dia que ser gay ou hetero não é uma opção, mas uma orientação que é determinada, inclusive, geneticamente? Ou seja, é da essência do sujeito ser gay ou hetero - o que significa que negar o que se é é negar a própria humanidade. Como disse antes, a salvação em Cristo é fundamentalmente humanizadora: Deus, quando quis salvar, se fez um homem como nós na pessoa de Cristo.
O ponto de partida para ler a Bíblia é ou não é o sacrifício de Cristo na cruz? Vivemos sob a lei ou sob a graça?
Sinto que os cristãos andam precisando meditar mais sobre Cristo e sua cruz. Ler Paulo, ler o Antigo Testamento, sem que a base seja dada pelo significado de Jesus, sua vida e morte, é se afastar da vida na graça e continuar mergulhado na religiosidade das normas e das regras do isso pode isso não pode. É reduzir a eficácia da cruz para que se passe a determinar, humanos limitados, quem pode ou não amar a Deus, a Cristo e por Ele ser amado e perdoado. Encaixotamos Deus em nossa teologia, tiramos dEle a capacidade de amar, e criamos no seu lugar um ídolo assim - que costumo grafar deus. Desse deus eu quero ser e permanecer ateu.
Admito até que em Romanos 1. 24 - 27 Paulo esteja falando de homossexualidade - se bem que não acho que seja disso [apenas] que ele está falando. Tomando literalmente o que é dito ali, sexo somente poderia ser feito para reprodução e somente com intercurso vaginal. Nada de sexo oral ou de qualquer outra liberdade para a prática sexual de um casal heterossexual. Acontece que, com raras exceções, ninguém defende mais isso nas igrejas cristãs.
No entanto, os cristãos homofóbicos, que defendem que esse texto deve ser interpretado assim literalmente, não dizem o mesmo, por exemplo, de textos como 1 Coríntios 14. 34, no qual Paulo manda que as mulheres se calem na igreja. Por que se desobedece essa ordem de Paulo e, ao mesmo tempo, defende que ele esteja falando sobre homossexualidade quando cita imoralidade sexual e acredita que o texto de Rm. 1. 24-27 deve ser tomado literalmente hoje em dia? Isso, para mim, é incoerente. Quem acha isso de Romanos, deveria impedir que as mulheres falem na igreja e se comprometer, entre outras coisas, a levar seus filhos para serem apedrejados na porta da cidade em caso de desobediência. Por que a questão sexual é diferente?
Os homofóbicos adoram citar o texto de 1 Coríntios 6. 9 - 10: "Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus." Não percebem que, nessa lista, não sobra ninguém. Ninguém vai pro céu porque cada um de nós está abrangido em pelo menos uma dessas categorias.
Sua mensagem me fez pensar. Falando em cima de Filipenses 3. 13-14 (Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus), a reflexão do pastor tinha elementos psicanalíticos - como a ideia de que "esquecer" tem a ver com ressignificar os fatos do passado para que possamos deixar o que fica efetivamente para trás.
Uma coisa me fez pensar sobre minha própria vida. Instantes antes do pastor assumir a Palavra, o pastor Mardes, titular da igreja aqui em Fortaleza, me apresentou relembrando fatos de minha vida - de como eu planejava me tornar pastor e de como a vida mudou e me fez professor.
Sempre falo sobre isso focando os planos A, B ou C da vida que foram modificados.
Ricardo Gondim falou sobre isso: a vida não se torna uma desgraça somente porque um plano não tenha sido cumprido conforme planejamos. São milhares de planos que Deus tem em nossa vida para que alcancemos a sua vocação.
Isso me ajudou a aprofundar a ressignificação de vários momentos de mudanças e viradas em minha existência. Como quando eu deixei o seminário teológico - coisa lembrada pelo pastor Mardes.
Outra frase de Ricardo Gondim me fez pensar. Ao falar sobre sexualidade, o pastor lembrou que não existem pessoas hetero, homo ou bissexuais, mas sim existem pessoas que têm dificuldades em suas sexualidades. "Quem não tem dificuldades na sua própria sexualidade que atire a primeira pedra", disse.
Isso me fez refletir sobre uma coisa que já expressei no Facebook, mas que nunca havia trazido ao blog.
Vou fazê-lo agora.
***
Converti-me em uma igreja bem conservadora, na qual sequer podíamos acompanhar os cânticos com palmas e onde bateria era coisa do diabo. Se era assim no campo musical, avalie no que se refere às minorias, especialmente os homossexuais.
Fui criado também em uma cultura homofóbica e isso, associado à minha experiência religiosa, reforçava minhas ideias relacionadas aos homossexuais no âmbito do cristianismo.
Minha conversão ao evangelho de Jesus se deu em um processo durante o qual eu, espírita, entendi que Jesus era Deus feito homem. Desse modo, poderia morrer por mim e por quem cresse. O espiritismo parte de uma premissa irrefutável: afirma que cada um é responsável por suas próprias ações. Sendo assim, Jesus entendido como um simples homem nunca poderia expiar os pecados de outra pessoa. Por isso a compreensão da pessoa de Cristo e o valor de Seu sacrifício foram fundamentais para que eu me entregasse a Ele.
E a homossexualidade?
Lembro de uma vez, em meados da década passada, que viajamos uma caravana de Natal para participar de um encontro teológico em Alagoas. Tenho a impressão que do ônibus inteiro apenas um pastor se manifestava abertamente em favor da homossexualidade - e justificava tudo na perspectiva hermenêutica de entender manifestações culturais como essa como contingente.
Lembro que ouvia aquilo e discordava. Pensava ser uma heresia imensa e, por isso mesmo, lembro de refletir sobre se a unidade entre aqueles de posicionamento tão diverso seria possível ainda diante de tudo.
Mas do mesmo modo que a compreensão do sacrifício de Cristo mudou minha vida e me fez compreender o evangelho de uma forma que nunca tinha feito - e me fez converter-me -, foi a reflexão sobre o sacrifício de Cristo que me fez mudar minha perspectiva sobre a homossexualidade.
Para mim a questão é clara: o centro da fé em Jesus é Cristo e este crucificado. Ele fez aquilo por amor. Amor não combina com o ódio disseminado por cristãos que dizem que O seguem. E o discurso de nossas igrejas está repleta de ódio. E quando não há ódio, há desvio. Jesus andaria com esses, os discriminados, e rejeitaria aqueles, os religiosos. Fez isso quando esteve por aqui antes da cruz. Faria (faz, na verdade), hoje.
O comportamento do cristinianismo homofóbico (que esquece que a mensagem do evangelho é o amor de Deus revelado em Jesus Cristo crucificado) não difere (talvez seja pior) daqueles religiosos contra quem Jesus se levantou. Os mestres da ortodoxia. Aqueles que diziam que Jesus era pecador porque andava com a escória social de seu tempo - os publicanos, as prostitutas.
Os religiosos de hoje não sabem acolher - sabem condenar. Em defesa da homofobia e contra a luta de gente como Jean Wyllys, agora os cristãos além de discriminadores são mentirosos, ardilosos, falsos. Se distanciam da mensagem da cruz. Aliás, a mensagem que deveríamos estar pregando é a cruz de Cristo.
Enquanto isso, um monte de gente perde tempo fiscalizando o fiofó dos outros. Além disso, cada dia mais a ciência comprova que homossexualidade não tem uma causa que deva ser curada - homossexualidade é uma condição natural do sujeito. Não deve ser negada. É geneticamente influenciada - está escrita nos gens, no cerébro. Negá-la é desumanizar o sujeito. E Deus se fez homem em Jesus para que ninguém mais fosse desumanizado.
Acho que as pessoas não lêem a Bíblia ou são incapazes de ler pelo menos a história de Jesus. Creio no Cristo que morreu pelos que não são sãos. Porque os sãos não precisam de remédio. Justificam-se a si mesmos - como aquele fariseu que não teve a mesma sorte de receber a justificação como o publicano que sabia não ser merecedor. O discurso religioso conservador e homofóbico reproduz o que pensam na letra dissociada do Espírito. Letra sem o Espírito somente pode provocar a morte - como o faz o discurso homofóbico do conservadorismo religioso.
Passei a refletir minha mudança, esquecendo o que para trás fica, quando conheci o sofrimento de muitos irmãos que, gays, passavam a crer que sua condição como sujeito era pecaminosa. Um pecado impossível de ser restaurado. Desse modo, abandonam a fé e a igreja porque não cabem nessa fé por serem o que são. No entanto, crêem em Jesus como eu creio - mas sofrem sendo quem são.
Alguns já se libertaram. Sabem-se pecadores, como eu sou. Dependem da graça para serem salvos como eu.
Desde quando, na Bíblia, existe outra coisa que salve ou condene alguém a não ser o sacrifício de Cristo na cruz. desde quando é o que eu faço ou deixo de fazer que me salva? Isso "não é dom de Deus, não vem de vós"? Por que é possível julgar que alguém não é salvo pelas roupas que usa ou por sua orientação sexual? Nossos eventuais pecados são maiores que a graça de Deus, que a cruz de Cristo? Algum desses eventuais pecados é maior que os demais?
E o que fazer quando a ciência comprova a cada dia que ser gay ou hetero não é uma opção, mas uma orientação que é determinada, inclusive, geneticamente? Ou seja, é da essência do sujeito ser gay ou hetero - o que significa que negar o que se é é negar a própria humanidade. Como disse antes, a salvação em Cristo é fundamentalmente humanizadora: Deus, quando quis salvar, se fez um homem como nós na pessoa de Cristo.
O ponto de partida para ler a Bíblia é ou não é o sacrifício de Cristo na cruz? Vivemos sob a lei ou sob a graça?
Sinto que os cristãos andam precisando meditar mais sobre Cristo e sua cruz. Ler Paulo, ler o Antigo Testamento, sem que a base seja dada pelo significado de Jesus, sua vida e morte, é se afastar da vida na graça e continuar mergulhado na religiosidade das normas e das regras do isso pode isso não pode. É reduzir a eficácia da cruz para que se passe a determinar, humanos limitados, quem pode ou não amar a Deus, a Cristo e por Ele ser amado e perdoado. Encaixotamos Deus em nossa teologia, tiramos dEle a capacidade de amar, e criamos no seu lugar um ídolo assim - que costumo grafar deus. Desse deus eu quero ser e permanecer ateu.
Admito até que em Romanos 1. 24 - 27 Paulo esteja falando de homossexualidade - se bem que não acho que seja disso [apenas] que ele está falando. Tomando literalmente o que é dito ali, sexo somente poderia ser feito para reprodução e somente com intercurso vaginal. Nada de sexo oral ou de qualquer outra liberdade para a prática sexual de um casal heterossexual. Acontece que, com raras exceções, ninguém defende mais isso nas igrejas cristãs.
No entanto, os cristãos homofóbicos, que defendem que esse texto deve ser interpretado assim literalmente, não dizem o mesmo, por exemplo, de textos como 1 Coríntios 14. 34, no qual Paulo manda que as mulheres se calem na igreja. Por que se desobedece essa ordem de Paulo e, ao mesmo tempo, defende que ele esteja falando sobre homossexualidade quando cita imoralidade sexual e acredita que o texto de Rm. 1. 24-27 deve ser tomado literalmente hoje em dia? Isso, para mim, é incoerente. Quem acha isso de Romanos, deveria impedir que as mulheres falem na igreja e se comprometer, entre outras coisas, a levar seus filhos para serem apedrejados na porta da cidade em caso de desobediência. Por que a questão sexual é diferente?
Os homofóbicos adoram citar o texto de 1 Coríntios 6. 9 - 10: "Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus." Não percebem que, nessa lista, não sobra ninguém. Ninguém vai pro céu porque cada um de nós está abrangido em pelo menos uma dessas categorias.
Por que alguns textos devem ser interpretados sob a perspectiva da cultura e não os que falam da questão homossexual? Qual a chave hermenêutica que lhe diz que há diferença entre as duas coisas?
Eu respondo: nenhuma. Não existe nenhuma questão exegética ou hermenêutica que force que os dois tipos de texto podem ser interpretados de maneira diferente. Apenas a ideologia preconcebida de cada um. Ou seja: se eu acho que a mulher é inferior e deve ficar calada eu vou admitir como válido para os nossos dias o texto em que Paulo afirma que ela deve ficar calada. Se não, eu mudo. Do mesmo modo, com a questão da homossexualidade. Se eu acho que a fé cristã não deve ser espaço para os gays, eu afirmo que os textos devem ser interpretados como verdades absolutas para hj. Se eu admito que não é bem assim, eu os interpreto como histórica e socialmente condicionados. A gente faz isso com a Bíblia inteira. Por isso, o princípio básico da interpretação é Cristo e Seu sacrifício. A partir dele, lemos o resto. E para mim ler a Bíblia a partir disso mudou minha concepcão sobre homossexualidade e sobre a vida. Me tornei cristão quando entendi Jesus, Seu ministério e Seu sacrifício. Deixei de ser homofóbico quando refleti sobre isso do mesmo modo.
Um último comentário sobre Romanos 1. 24 - 27. O texto afirma a mulher como objeto e ninguém questiona isso: "o uso natural da mulher" é algo que me diz que a mulher nada mais é que um objeto para que eu a use. Se eu usar o texto para dizer isso numa pregação serei devidamente expulso do ambiente. Por que ninguém questiona assim o resto dos mesmos versículos?
Graças ao bom Deus e à luta dos protestantes, não vivemos em um estado ou sociedade cristãos. O estado e a sociedade são laicos. Somos nós, os cristãos, que não temos o direito de impor aos que não comungam de nossa visão de mundo aquilo que cremos. Nosso mundo é plural, diverso e pretensamente democrático. Temos os nossos direitos. Os gays, heteros, brancos e negros. E aqueles que estão em situação mais precária em seus direitos (como índios, negros, ciganos, gays) precisam ser protegidos pelo estado.
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