11.2.17

O que uma jumenta pode ver

“Por que você bateu três vezes na jumenta?”, perguntou o anjo do Senhor. “Eu vim para impedir sua passagem, pois você insiste em seguir por um caminho que me desagrada”.
Números 22.32


Um relato no qual um animal - no caso, uma jumenta - fala não está registrado nas Escrituras para que discutamos sua historicidade ou a fantasia ficcional que porventura aponte.
Perdemos tempo e perdemos a aprendizagem possível quando, em vez de entender o que o texto nos diz, discutimos a possibilidade ou impossibilidade de uma jumenta falar - ou qualquer outra lacuna ou circunstância incrível que as Escrituras nos oferecem.
É o fundamentalismo ou o ateísmo militante que nos fazem perder esse tempo porque partem da mesma compreensão: a fé só seria real se uma jumenta falasse.
Ora, o texto nos fala de muito mais coisas do que isso.
Fala-nos, pelo menos, da nossa incapacidade de seguir o caminho que o Senhor propõe, nossa incapacidade de perceber, de ver, que Ele se opõe a diversas de nossas escolhas.
Quantas vezes não somos capazes de perceber que Deus não apoia nossa opção? No caso de Balaão, no entanto, a jumenta viu!
Nós, por vezes, somos menos inteligentes que uma jumenta para perceber a oposição do Senhor, entender que aquele não é o melhor caminho, que sua escolha seria outra. Algo tão óbvio, que até um asno veria - mas nós fomos capazes!
A melhor escolha, a escolha do caminho do Senhor, é às vezes tão evidente, tão óbvia, que não vemos. Não somos tão inteligentes quanto àquele animal. Ela viu. Balaão não.
As consequências de não perceber a vontade de Deus em seus caminhos para Balaão foram as piores possíveis, ainda que o livro de Números tenha lacunas em seu relato. O texto diz em Nm 31.8 que os israelitas mataram Balaão em Midiã - as causas dessa vingança são explicadas: sabendo que Deus não amaldiçoaria Israel como queria Balaque, Balaão teria ensinado como fazer com que o povo pecasse e, assim, fosse castigado por Deus.
Em outras palavras, a morte de Balaão, no relato de Números, é a consequência da vida de um sujeito que primeiro não viu o Senhor se opondo a seu caminho e, depois, gradativamente se afastou do caminho dEle até o pondo de tentar ludibriá-lo.
Não parece ser o caso de uma justiça retributiva da parte de Deus - uma punição -, mas sim a consequência natural de quem agiu sempre se afastando mais do caminho definido e escolhido pelo Senhor.
Que nós possamos perceber quando o Senhor se opuser às nossas escolhas - e recuar sempre que isso acontecer. Antes que as consequências sejam graves e imprevisíveis.

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