Aí Jesus deu outro grito forte e morreu.
Mateus 27. 50
Quando vou a velórios, eu não falo nada aos familiares. Simplesmente vou até eles e os abraço carinhosamente. Já estive no lugar deles, já perdi entes queridos, e sei que nessas horas não há nada que possa ser dito. Palavra alguma resolve, diminui a dor, soluciona a situação. A única coisa que pode nos ajudar é um abraço carinhoso, um gesto de amor que diz para nós muito mais que as palavras possam dizer. Um gesto que diz que estamos unidos.
Ano passado, acho que já citei em outro momento, nossa igreja viu uma tragédia passar junto a nós. Um jovem que crescera na igreja morreu em um acidente de moto. Sua mulher estava com sete meses de gravidez. Uma semana depois, ela pôs fim à sua vida e à vida do bebê, saltando da janela do seu apartamento. No seu velório, não podiam ser ditas palavras. A dor era muito grande para que os corações se consolassem com qualquer coisa que viesse a ser dita, mesmo que partindo do fundo do coração, com a melhor intenção, com toda sinceridade. Três jovens vidas estavam perdidas. Quem poderia dizer qualquer coisa que servisse? O que poderia ser dito?
Tem uma canção que eu conheci logo que cheguei à igreja: Há momentos em que as palavras não resolvem, mas o gesto de Jesus revela amor por nós. Foi no calvário que Ele sem falar mostrou ao mundo inteiro o que é o amar. Há horas em que não existem palavras. Palavra alguma pode ser dita. A dor é tão intensa, a tristeza é tão profunda, que as palavras com certeza vão se perder num vazio. Os ouvidos não as ouvirão. Nessas horas, a única coisa que resta é apontar a Cruz. É apontar o gesto de Jesus. Não como muitos fazem, dizendo que Jesus sofreu muito mais, mas sim afirmando que a Cruz mostra o tamanho do amor de Cristo por nós. Que a nossa dor pode ser intensa, mas nós não estamos desamparados por Ele. É Ele quem está ao nosso lado para enxugar toda lágrima, para minorar os efeitos destrutivos da dor e da perda.
Aí Jesus deu outro grito forte e morreu. O gesto de amor de Jesus não significa que as nossas dores humanas vão passar ou que nós não vamos sofrê-las mais. Saber que Jesus com amor tão grande morreu por nós é saber que Ele vai estar em todo tempo ao nosso lado. Ele está nos amparando quando o sofrimento é mais sufocante. Nunca jamais Ele nos desamparará.
Eu vivi isso na prática. Quando há três anos eu experimentei aquela espécie de morte emocional e espiritual, um sofrimento tão intenso que eu não julgava ser possível de ser suportado, uma noite Deus me falou, em uma igreja. Ele me disse que tudo parecia tão insuportável simplesmente porque eu havia virado as costas ao Seu Amor. A dor era grande sim, mas Ele queria me ajudar a suportar me envolvendo pelo Seu amor, com a Sua presença. Ele queria manifestar a mim Seus gestos de amor, amparando-me enquanto atravessava aquele vale de sofrimento. Então, eu orei. Eu disse a Jesus que sabia que o sofrimento não ia passar, mas supliquei pela graça de me sentir amado por Ele de novo e para sempre. E Ele me amou. E realmente as coisas não melhoraram tão rápido, mas o modo como eu as encarava mudou suficientemente para que a minha vida fosse outra. Eu estava amparado pelo amor de Cristo, revelado na Cruz, e sabia disso.
Há momentos de dor tão intensa, de sofrimento sufocante e dilacerante, em que palavras não podem ajudar, não podem resolver. Mas nessas horas nossa única chance de sobreviver, de suportar o tamanho peso sobre nossos ombros, é nos lançarmos ao amor de Deus, revelado em Cristo Jesus, no gesto inigualável da Cruz.
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