“Homem mortal, fique de pé. Eu quero falar com você.” Enquanto a voz falava, o Espírito de Deus entrou em mim e me fez ficar de pé.
Ezequiel 2. 1 – 2
Encontramos na Bíblia pelo menos dois tipos diferentes de experiências de prostração diante do Senhor. A primeira delas, aquela por que passa Ezequiel no nosso texto, relaciona-se a constatação de que, diante do Deus Santo, o homem pecador, o homem mortal, não pode permanecer de pé. O terror da presença gloriosa do Senhor à sua frente prostra o homem de uma forma tremenda.
É essa a experiência do profeta. O início de seu livro nos traz a descrição da presença gloriosa do Senhor que se aproxima dele a fim de transformá-lo de um dos sacerdotes no exílio a um profeta comissionado diretamente pelo Senhor. A visão é extremamente impactante e gera em Ezequiel a mesma reação que gerou em outros homens e mulheres que tiveram uma experiência assim imediata com o Pai: prostração. O profeta se queda prostrado, cônscio de ser um pecador diante do Deus vivo, que é fogo consumidor.
Uma experiência de prostração um tanto diferente é aquela que se encontra nas entrelinhas do ministério de Jeremias. O capítulo 20 de Jeremias descreve, primeiro, o seu enfrentamento com o sacerdote Pasur, que o prendeu e o surrou. Após anunciar que o Senhor mudara o nome de Pasur para Terror-por-todos-os-lados, Jeremias, provavelmente, caiu prostrado. Sua prostração era o cansaço da batalha. Ele não agüentava mais. Era como se dissesse a Deus que não pedira para estar naquela posição, que estava se cansando de tantos enfrentamentos, de tantas lutas. Tudo que Jeremias, possivelmente, quisesse era descanso naquela hora. Ele estava a ponto de desistir, acredito, por isso colocou a culpa de tudo, atribuiu toda a responsabilidade ao Senhor. Afirmava que tinha sido enganado por Deus quando de sua vocação, já que tudo o que conseguira no ministério tinha sido ser xingado, preso, apanhar. Agora, Jeremias estava exigindo de Deus que restaurasse a sua vida por inteiro: Ó Senhor Deus, tu me enganaste, e eu fiquei enganado. Tu és mais forte do que eu e me dominaste. Todos zombam de mim, caçoando o dia inteiro. Cada vez que falo, tenho de gritar e anunciar: “Violência! Destruição!” Ó Senhor, eles me desprezam e zombam de mim o tempo todo porque anuncio a tua mensagem (Jr. 20. 7 – 8). Mas o pior de tudo, para Jeremias, é saber que pior do falar é calar: as palavras que ele cala, queimam por dentro, até serem pronunciadas (Jr. 20. 9). Por tudo isso, Jeremias considerava que a obrigação de Deus era livrá-lo: Mas tu, ó Senhor, estás comigo e és forte e poderoso. Os que me perseguem tropeçarão e nunca vencerão. Eles ficarão muito envergonhados por causa do seu fracasso. A desgraça deles não acabará e nunca será esquecida (Jr. 20. 11).
Mas, enfim, eu vejo dois tipos diferentes de prostração diante de Deus. De um lado, a consciência de um coração pecador. De outro, o cansaço daquele que não suporta mais as batalhas que tem de enfrentar para ser fiel ao Senhor que o chamou. O cansaço das lutas também pode nos prostrar.
Nos últimos dias, em particular hoje, me sinto cansado demais. Minha mente não funciona direito, meu corpo pede por minha cama a cada instante. Sinto-me prostrado diante do Pai. Vencido. Percebo, com isso, que até mesmo as minhas obrigações, seja com os estudos, seja com o ministério, estão ficando de lado.
No meu caso, minha prostração é o enfado da batalha. Sinto-me como Jeremias. Você pode estar prostrado por outros motivos. Pode ser a convicção de pecado diante do Senhor, convicção que será ainda maior para aquele que ainda não teve uma experiência de salvação com o Deus vivo. Não importa qual a sua experiência de prostração, ambas vão ter o mesmo remédio. Enquanto a voz falava, o Espírito de Deus entrou em mim e me fez ficar de pé.
Não há nada, do ponto de vista humano, que possa ser feito para restaurar um prostrado. Nenhum homem ou idéia humana têm força para levantar aquele que está caído, seja cansado, seja convicto de que não pode permanecer em pé diante do Pai. Nada pode nos levantar em uma situação assim, a não ser uma ação do próprio Espírito Santo. É Ele quem vem a nós, nos fala docemente e nos faz ficar de pé.
Sei que ao estar prostrado, vencido, cansado, convicto de meu pecado, preciso abrir meu coração para receber um toque vivo do Espírito Santo de Deus. Ele está bem perto dos que O querem achar, pronto para restaurar as nossas vidas, para nos fazer de novo, para nos conduzir à sua intimidade, sua comunhão, a nadar, beber e se afogar no Seu rio de amor, vida e plenitude. Essa é a vida que o Senhor quer nos dar. Abra seu coração e permita que o Espírito fale com você, penetre em sua vida e o deixe de pé novamente. Perdoado e restaurado.
2 comentários:
Gostei muito do que escreveste, Daniel. Realmente tens razão: não há nada que possamos fazer para levantar um prostrado, só o Espírito!
Que isso aconteça contigo é a minha oração!
Eu penso que Deus nos prova e nos humilha, para nos levar a lugares altos. Por vezes, ao estar no cimo da montanha, não vemos o que se passa nos vales... e por vezes precisamos de ir lá abaixo, para ter outra perspectiva e subir novamente. Tenho estado nos vales, mas sei que quando subir, subirei com a força da alegria que Deus está operando em mim, e creio, em ti também.
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