7.11.05

O que liberta

Perdoa as nossas ofensas como também nós perdoamos às pessoas que nos ofenderam.
Mateus 6. 12

Precisava, pessoalmente, voltar a ouvir hoje uma Palavra de profundo impacto para a vida do homem. Precisava ouvir que o perdão é a chave de uma das maiores libertações que podemos experimentar. O perdão nos liberta, não só da culpa, mas do sentimento de peso que ela gera – ouvir uma palavra de perdão é ser libertado do remorso e da auto-condenação.
Ouvi de novo essa palavra assistindo mais uma vez O Senhor dos Anéis – O retorno no rei. Após vencer a batalha contra os exércitos de Sauron, Aragorn liberta os espíritos do povo das montanhas, escravos da maldição do remorso e auto-condenação por séculos. Ao declarar que eles haviam cumprido sua promessa, o rei humano lhes permite deixar de lado os sentimentos de culpa e remorso. Sabendo que o herdeiro de Godor lhes perdoou a sua falta antiga, o povo das montanhas pode sorrir aliviado. E livre. Ouvir uma palavra de perdão liberta o coração escravizado na angústia da culpa e do remorso.
Eu experimentei algo assim alguns anos atrás. Agi muito mal contra uma pessoa de extrema proximidade comigo. Após passar a raiva, percebi o tamanho do meu pecado. Arrependido, pedi perdão a Deus. E por mais que tivesse recebido esse perdão, não conseguia andar livre por aí. Um peso me prendia. Eu era arrastado pelo remorso e, mesmo perdoado pelo Pai do Céu, continuava auto-condenado e escravo em meu coração. As cadeias que me prendiam foram rompidas uma noite. Naquela noite, após vários meses de sofrimento terrível, a vítima de meu pecado me chamou do lado para conversar. Fazia muito tempo que não nos falávamos. Naquela noite, ela me relatou o que Deus havia feito na vida dela e como ela podia agora me liberar perdão. Ela havia me perdoado, disse. E o peso do mundo deixou as minhas costas. As cadeias que me prendiam viraram pó. Fui liberto de mim mesmo e do meu remorso. Deus começou o processo de me curar.
Essa experiência me fez aprender o valor de ser libertado pelo perdão. Não existem palavras mágicas quando dizemos que perdoamos alguém. Não há forças de transformação naqueles sons, mas o seu significado é profundo. A nossa escravidão não acontece por não sermos perdoados pelo outro nem porque Deus não tenha o poder de nos perdoar. O que nos escraviza é a nossa incapacidade de nos perdoar a nós mesmos enquanto não ouvirmos do outro que ele já nos perdoou. Quando alguém a quem ferimos chega até nós e nos diz que fomos perdoados as cadeias caem porque, agora, crentes no perdão que veio da parte do outro, somos capazes e temos poder de nos perdoar a nós mesmos. É esse perdão que nos liberta e tira o peso de nosso peito. Você consegue compreender o que eu digo?
Perdoa as nossas ofensas como também nós perdoamos às pessoas que nos ofenderam. É por isso que o perdão é algo tão rico e de tantas facetas. Nós pecamos contra Deus, e Ele nos perdoa em Cristo. Já nos perdoou por todas as faltas que sequer somos capazes de imaginar que vamos cometer ou temos cometido. Nós pecamos contra o próximo e carecemos de seu perdão. E o nosso pecado pesa em nós mesmos. Enquanto o perdão de Deus e o perdão do próximo são, de certa forma, coisas externas a nós, o perdão que precisamos ministrar a nós mesmos acontece em nosso coração. E só pode ser detonado a partir de palavras de perdão da parte do Pai e do próximo. Sabendo que somos perdoados, temos força para nos perdoar.
Isso deve servir para que jamais nos permitamos reter o perdão de quem quer que seja. Reter o perdão é manter escravo e sob tortura o próximo. Se alguém nos feriu, devemos tratá-lo da mesma forma que gostaríamos de ser tratados. Perdão é uma atitude antes de ser um sentimento. Precisamos abrir o coração para perdoar a fim de possibilitarmos a abertura das portas das prisões dos irmãos que nos feriram. Se não, nós mesmos vamos com eles partilhar a dor e o sofrimento dessa escravidão.

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