Ele abriu mão de tudo o que era seu e tomou a natureza de servo, tornando-se assim igual aos seres humanos 
Filipenses 2. 7
Linguagem é a chave da comunicação.  O que quero dizer com isso é que é preciso que os interlocutores de uma comunicação dominem, conjuntamente, ao menos uma forma de linguagem para que possam interagir.  É preciso que haja o mínimo de entendimento entre eles para que se comuniquem.  Tenho descoberto isso.  Temos um estrangeiro hospedado aqui em casa hoje.  Um argelino.  É a segunda vez no ano que só forçado até o limite em meu inglês para poder me comunicar com ele.  Minha tia fala esperanto, como ele, mas eu não.  E no nosso inglês sofrível, tentamos conversar.
Mas não é só a língua que precisamos partilhar para nos comunicar.  Quando penso em linguagem, estou falando em algo bem mais amplo que só a língua.  Um momento marcou minhas dificuldades gestuais desde a última segunda-feira, quando Hamimi chegou.  Quando fomos apresentados um ao outro, não tinha a menor idéia de como nos cumprimentaríamos.  Não tinha noção de como era isso na Argélia.  Dei a mão para que apertasse; ele me puxou para junto dele e aí eu me embaralhei.  Ele queria me fazer quatro cumprimentos de ombros, conforme a tradição no país dele.  Não entendi isso e lhe dei o rosto.  Também faz parte do processo o toque dos rostos, mas não consegui saudá-lo na base da “ombrada”.  Fiquei morrendo de vergonha.
A lição que tenho aprendido com Hamimi se aplica a nossa vida com Deus.  Às vezes percebo que meu problema de relacionamento com Deus é que não entendo a linguagem que Ele fala.  É como se eu pertencesse a uma cultura estrangeira e não conseguisse compreender a língua ou os gestos do Senhor para manter comunicação comigo.  Como se quando entrasse nos territórios do relacionamento com o Pai, não conseguisse manter interação.  
Se, em algum momento, podemos ter relacionamento com Deus, é porque Ele desceu o nível da comunicação, entendimento e relação até os nossos limites.  Algo semelhante ao que Hamimi precisa fazer conosco e, muito mais, precisamos fazer com ele.  O nosso amigo nunca antes na vida sequer ouvira o português ser pronunciado.  Para que ele possa entender e possamos ter relação, precisamos “descer” ao nível de conhecimento que ele tem de nossa língua e cultura.  Deus fez e continua a fazer isso conosco.
Ele tinha a natureza de Deus, mas não tentou ficar igual a Deus.  Pelo contrário, ele abriu mão de tudo o que era seu e tomou a natureza de servo, tornando-se assim igual aos seres humanos.  E, vivendo a vida comum de um ser humano, ele foi humilde e obedeceu a Deus até a morte – morte de Cruz.  Por isso Deus deu a Jesus a mais alta honra e pôs nele o nome que é o mais importante de todos os nomes, para que, em homenagem ao nome de Jesus, todas as criaturas no céu, na terra e no mundo dos mortos, caiam de joelhos e declarem abertamente que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus, o Pai (Fp. 2. 6 – 11).  Esse é o mistério da Encarnação: o Deus Infinito do Universo olha para mim e para você, em nossas limitações e incapacidades de comunicação e relacionamento com Ele, e decide descer até nós, se fazer um de nós, morrer por nós para quebrar o poder da morte e do pecado e abrir o canal de comunicação entre nós e Ele.  Pela presença do Seu Espírito em nós, agora sim podemos partilhar com Ele a mesma linguagem e, desse modo, termos comunicação e relacionamento.  Porque mesmo quando nos faltam palavras ou linguagem, o Espírito de Deus vem nos ajudar na nossa fraqueza.  Pois não sabemos como devemos orar, mas o Espírito de Deus, com gemidos que não podem ser explicados por palavras, pede a Deus em nosso favor (Rm. 8. 26).  O Espírito nos faz falar a mesma língua.
P.S.: Alguns irmãos me criticaram ou apenas reclamaram porque classifiquei a opção pelo “Não” no Referendo de 23 de outubro como sendo conduzida por uma mentira do Diabo.  Quero reafirmar a minha visão do fato, independente das críticas.  Mas reafirmá-la como minha visão pessoal, e também de alguns cristãos sérios cujos textos li ou com quem conversei.  No meu caso, a convicção não nasceu do dia para a noite, nem foi gerada apenas pela campanha de outubro.  Desde o início, praticamente, tive noção de que estávamos em uma batalha espiritual.  Deus me mostrou algumas coisas e outras eu senti na própria pele.  Mas ninguém é obrigado a concordar comigo.  Só não acho que qualquer um tem o direito de me desqualificar pelo entendimento que, creio, tenho recebido de Deus.  Ao menos sem que antes pergunte diretamente a Deus o que Ele pensa dessa história.  Postura, aliás, que deveríamos ter em toda e qualquer circunstância.
 
 
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