6.11.05

Silêncio paterno

Mas Jesus não respondeu nada.
Mateus 15. 23

Na manhã deste domingo discutimos na igreja acerca de como se manifesta o cuidado de Deus por nossas vidas. Essa discussão se fundamentou na comparação entre o amor e o cuidado dos pais com os filhos e a relação que o Pai celeste tem conosco.
Para mim, tenho percebido, o cuidado de Deus não tem uma fôrma única, um padrão a partir do qual possamos dizer que o Senhor agirá somente desta ou daquela maneira – de modo absoluto. O que quero dizer é que não temos elementos para jamais termos certeza da forma como Deus vai lidar conosco – só podemos ter certeza que Ele fará o que é melhor para a realização do Seu projeto em nossas vidas.
Vez por outra Deus nos trata do mesmo modo como o pai ou a mãe que, tendo o filho acordado de madrugada, assustado com um pesadelo, permite que ele passe o resto da noite na cama. O filho assustado precisa ter certeza da proteção e do cuidado que o amor do pai tem sobre ele. Às vezes, como filhos assustados, precisamos sentir o toque do cuidado amoroso do Pai em nossas vidas. É isso que Ele vai fazer, enquanto tal coisa manifestar o melhor do que Deus tem para nós. Deus nos toma, então, em Seus braços, trazendo-nos guardados para junto de Si. Ele o cobrirá com as suas asas e debaixo delas você estará seguro. A fidelidade de Deus o protegerá como um escudo (Sl. 91. 4).
Mas às vezes, quando estamos mais maduros certamente, Deus nos tratará de uma maneira completamente diversa. A imagem disso, a meu ver, se assemelha a uma cena marcante da cinebiografia de Ray Charles – Ray. Em uma determinada passagem, quando o Ray menino está ficando cego, ele cai em casa e começa a gritar, chorando, pela mãe. A primeira reação da mãe é fazer menção de ajudar o filho assustado, mas depois ela recua. E por mais que ele grite e chore, ela fica silenciosamente distante. Até que ele se convence que não receberá ajuda e se levanta. Guiado pelos sons da casa, ele encontra a chama de um fogo a lenha, um grilo que salta pela sala da casa pobre, anda por todos os cantos. Depois de pegar o grilo com a mão, Ray vira-se para a mãe e diz que sabe onde ela está porque a ouviu desde o instante em que chegou em casa. Não foi maldade ou crueldade que manteve a mãe de Ray distante e calada. Pelo contrário, foi amor.
É desse modo que o Pai lida conosco algumas vezes. Ele se mantém silenciosamente distante. Não por maldade ou por ser cruel, mas como manifestação de Seu eterno e infinito amor. Mesmo que acreditemos que, no momento, o que precisamos é de colo e cuidado expresso e direto, em algumas horas o Pai sabe que o que realmente precisamos é aprender a confiar no amor de Deus independentemente das circunstâncias. E não há forma melhor de aprendermos isso do que o silêncio de Deus. Mas Jesus não respondeu nada.

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