Ontem dei uma entrevista a Nathanael, cujo conteúdo em geral deixarei privado.
Mas, acho, foi uma das primeiras vezes que verbalizei alguns aprendizados recentes sobre meu amor por meu pai e minha relação com ele.
Já disse algumas vezes que o ter me tornado pai mudou a minha compreensão acerca de meu pai. Em resumo, se antes eu me lamentava por ter perdido tantos momentos de intimidade com meu pai por sua ausência, depois de Alice passei a lamentar por meu pai ter perdido tantos momentos de paternidade comigo.
Outra coisa que entendi nos últimos anos é que, para alguém do tempo e da luta de meu pai, amar era ser clandestino. Quer dizer: fazia parte das consequências de sua luta contra a ditadura e por mais justiça manter as pessoas mais importantes e frágeis de sua vida afastadas - assim como ele fez ao optar pela clandestinidade em 69 e, depois, quando nem todo mundo sabia ou soube de suas ações no Partido Comunista Brasileiro Revolucionário. A clandestinidade protege quem realmente importa na vida do revolucionário.
Essas percepções ajudam no meu atual mergulho na dimensão espiritual da vida porque me ajudam a compreender de uma maneira nova minhas relações com o Deus que é Pai.
Se eu aprendo que o Pai representa a Lei e os limites dados aos filhos na infância, aprendo que seu objetivo é que esses filhos não aprendam a obedecer cegamente, mas encontrem amor e saibam pensar. Esse é o meu desejo como pai de Alice. E vejo ser essa a caminhada de Deus, o Pai, conosco.
Se há infância da fé, se somos crianças espirituais, precisamos de um Pai que seja legislador de nossas vidas. Até que passemos por aquela experiência de matar o Pai sobre a qual falei outro dia.
A partir desse momento, a gente volta a uma experiência com o Pai, mas que é bem diferente daquela de antes.
Assim como posso reencontrar meu pai em uma relação de amor, amizade, companheirismo, que me impacta e me marca de uma maneira ainda mais profunda, depois de abandonar essa fé infantil e legalista, matar o Pai, encontro uma espiritualidade ainda mais rica e profunda, uma relação mais amorosa e honesta, um coração mais inflamado e experiências mais marcantes e [e]ternas.
Mais poesia, mais beleza e amor.
"É tão profundo, tão imenso e cobre-nos
É furioso, poderoso e abraça-nos
Só Ele pode devolver a vida aos corações"
https://youtu.be/zOc855DIZyk
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