Alguns de vocês não conhecem a Deus.
1 Coríntios 15. 34
Estou aqui no Rio desde o início de julho. De início, meu relacionamento com novos colegas se restringia àqueles que vieram comigo do Rio Grande do Norte. Éramos oito. Com o tempo, o círculo aumentou para os cearenses que vieram no mesmo vôo que nós. No primeiro mês, estávamos juntos cerca de trezentos novos empregados da Petrobras, das mais diversas formações. Era difícil estabelecer laços e formar amizades.
Apenas quando os profissionais de comunicação se separaram do grupo, nossos relacionamentos se estreitaram. E, ainda assim, com limitações: somos 123, divididos em duas turmas. Isso indica ser impossível um pleno relacionamento com todos eles. De alguns colegas da outra turma eu nem sei o nome.
Contei essa história porque essa semana percebi a repetição de um fenômeno comum na minha vida. Percebi que tenho intimidade hoje com especialmente dois colegas que, no início, jamais passaria pela minha cabeça a possibilidade de que se tornassem bons amigos. Tudo porque uma primeira experiência, um primeiro contato, uma primeira conversa não foi das melhores. Começamos com atritos, mas com o tempo, a convivência, a conversa e a intimidade percebemos muito mais coisa em comum e a amizade foi nascendo. O fenômeno de que a conversa e a intimidade me faz construir amizade e relacionamento com pessoas que jamais imaginei ser possível se deu novamente.
O que isso tem a ver com o texto? Alguns de vocês não conhecem a Deus. Tenho a impressão que nossas comunidades estão repletas de cristãos, sinceramente alcançados por Jesus, mas que, de verdade, não conhecem a Deus. Pessoas que querem servir a Jesus melhor, mas que não têm um relacionamento vivo e eficaz com Ele.
A experiência que eu relato é para mostrar que ninguém é capaz de realmente conhecer outra pessoa e desenvolver relacionamento com ela se não investir tempo e energia em intimidade, comunhão e diálogo. Isso vale muito no que diz respeito a nosso relacionamento com Jesus.
Existem muitos cristãos sinceros que, no entanto, não conseguem dispor tempo nem investir energia no relacionamento pessoal com Deus. Pessoas que até podem querer conhecer a Deus, mas não vão conseguir porque esquecem o fundamental.
Conhecer Jesus não é uma questão de seguir ritos religiosos nem regras eclesiásticas, sejam elas práticas ou morais. Conhecer Jesus é um processo que se dá na construção de um relacionamento efetivo com Ele, por meio da busca de intimidade, da comunhão e do diálogo.
Essas coisas vão acontecer a corações que efetivamente se rendam e caiam na presença de Deus. A presença se alcança não através de ritos religiosos, mas sim por meio de corações rendidos e quebrantados. É no lugar secreto – não no templo -, no coração – não no meio do povo -, que rendemos o coração e encontramos a doce e maravilhosa presença de Jesus. É um encontro em nossa privacidade e não um ritual coletivo.
E nesse privado, algumas ferramentas são fundamentais, ainda que digam mais respeito à atitude. Os corações sedentos se encontrarão com o Senhor à medida que se renderem em descobrir a Sua Palavra por meio da leitura bíblica, redimensionarem a sua vida por meio da reflexão e buscarem a intimidade do Senhor e Sua comunhão através do diálogo que é a oração. Nunca houve nem haverá outro caminho para se chegar à amizade e intimidade com o Senhor que não seja leitura e reflexão da Palavra e oração.
Talvez você se assuste porque conhecer a Jesus é conhecer a si mesmo, porque a Sua luz revela o nosso interior. Temos medo de nós mesmos e de nos vermos com clareza. Talvez isso seja assustador. Mas vale a pena romper o medo e buscar conhecer, verdadeira e intensamente, a maravilhosa pessoa do Deus Triúno.
23.9.06
19.9.06
Meu povo
Sinto uma grande tristeza e uma dor sem fim no coração por causa do meu povo, que é minha raça e meu sangue. Para o bem desse povo, eu mesmo poderia desejar receber a maldição de Deus e ficar separado de Cristo.
Romanos 9. 2 – 3
Vez por outra, a cena urbana me toca fundo no coração. Fico profundamente sentido e cheio de compaixão por algumas coisas que acontecem em nossas ruas. Já tive diversas vezes de escrever sobre isso.
Hoje, no fim de tarde, eu voltava aqui para o hotel pela avenida Rio Branco. Um senhor, aparentemente com mais de 50 anos, vinha pela rua, qual burro de carga, arrastando uma carroça de som que divulgava um dos candidatos a governador do Rio de Janeiro. Os cabelos brancos e a cara cansada daquele senhor que carregava um peso que judia até de animais calou fundo na minha alma. E mais uma vez fui levado a refletir sobre que povo é o nosso que coloca seus velhos e seus infantes em situações como essas? Quantas crianças sem futuro e quantos idosos sem reconhecimento por suas vidas?
De maneira quase óbvia o pensamento que sempre me domina nessas horas é a certeza de que preciso, de alguma maneira, contribuir para que essa desigualdade diminua. Trabalhar pela salvação dessa gente. Ainda que eu não saiba ainda direito como agir, estou certo de que a vivência do evangelho pela igreja brasileira passa pela transformação dessas questões tão prementes.
Sinto uma grande tristeza e uma dor sem fim no coração por causa do meu povo, que é minha raça e meu sangue. Para o bem desse povo, eu mesmo poderia desejar receber a maldição de Deus e ficar separado de Cristo. Esta paixão pelo seu próprio povo chega a ser emocionante nos textos de Paulo. Pela salvação de sua gente ele chega a dizer que estaria disposto a se perder. Em um mundo tão individualista quanto o nosso, acho difícil que exista alguém que esteja plenamente disposto a repetir essa oração paulina.
Mas o exemplo de Paulo deveria nos impulsionar. Existe um povo aí fora, que é o nosso povo, que anda cabisbaixo pelas ruas, sem muita perspectiva e muito futuro. Existe um povo cansado e sobrecarregado, a quem Deus quer nos enviar para fazer diferença.
O evangelho não é uma coisa que se esgote em nós. Ao contrário: seguir Jesus e o Seu evangelho é ser empurrado pela mensagem da graça e da vida de Deus para fora dos limites da igreja. É, também, ter a consciência paulina de que pouco vale a nossa boa vida sem que o nosso povo possa usufruir aquilo que já experimentamos. Transformar o mundo começa em viver o evangelho no mundo e no meio do povo em que estamos. Manifestar graça e amor nos conduz à luta pela mudança.
Neste início de noite, não houve melhor tradução do que era meu pensamento nem o desejo de meu coração do que a fala paulina na carta aos Romanos. Eu quero amar o meu povo e quero que ele possa conhecer a vida de verdade que só Jesus dá. Eu quero amar o meu povo e quero vê-lo mudando a forma como lida com suas crianças e seus velhos. Eu quero amar o meu povo e quero vê-lo rendido aos pés do Senhor, mas também quero vê-lo vivendo de forma digna desde já.
Em tempos difíceis como os nossos, quando nuvens de escuridão parecem querer surgir no horizonte de nossa história, o nosso povo precisa do amor da igreja de Cristo manifestando o amor e a graça de Deus no seu cotidiano. No mínimo, o povo precisa de nossa oração. Mas precisa muito mais de nossa presença, levando a luz, o poder e a graça de Jesus – a transformação de suas vidas.
Romanos 9. 2 – 3
Vez por outra, a cena urbana me toca fundo no coração. Fico profundamente sentido e cheio de compaixão por algumas coisas que acontecem em nossas ruas. Já tive diversas vezes de escrever sobre isso.
Hoje, no fim de tarde, eu voltava aqui para o hotel pela avenida Rio Branco. Um senhor, aparentemente com mais de 50 anos, vinha pela rua, qual burro de carga, arrastando uma carroça de som que divulgava um dos candidatos a governador do Rio de Janeiro. Os cabelos brancos e a cara cansada daquele senhor que carregava um peso que judia até de animais calou fundo na minha alma. E mais uma vez fui levado a refletir sobre que povo é o nosso que coloca seus velhos e seus infantes em situações como essas? Quantas crianças sem futuro e quantos idosos sem reconhecimento por suas vidas?
De maneira quase óbvia o pensamento que sempre me domina nessas horas é a certeza de que preciso, de alguma maneira, contribuir para que essa desigualdade diminua. Trabalhar pela salvação dessa gente. Ainda que eu não saiba ainda direito como agir, estou certo de que a vivência do evangelho pela igreja brasileira passa pela transformação dessas questões tão prementes.
Sinto uma grande tristeza e uma dor sem fim no coração por causa do meu povo, que é minha raça e meu sangue. Para o bem desse povo, eu mesmo poderia desejar receber a maldição de Deus e ficar separado de Cristo. Esta paixão pelo seu próprio povo chega a ser emocionante nos textos de Paulo. Pela salvação de sua gente ele chega a dizer que estaria disposto a se perder. Em um mundo tão individualista quanto o nosso, acho difícil que exista alguém que esteja plenamente disposto a repetir essa oração paulina.
Mas o exemplo de Paulo deveria nos impulsionar. Existe um povo aí fora, que é o nosso povo, que anda cabisbaixo pelas ruas, sem muita perspectiva e muito futuro. Existe um povo cansado e sobrecarregado, a quem Deus quer nos enviar para fazer diferença.
O evangelho não é uma coisa que se esgote em nós. Ao contrário: seguir Jesus e o Seu evangelho é ser empurrado pela mensagem da graça e da vida de Deus para fora dos limites da igreja. É, também, ter a consciência paulina de que pouco vale a nossa boa vida sem que o nosso povo possa usufruir aquilo que já experimentamos. Transformar o mundo começa em viver o evangelho no mundo e no meio do povo em que estamos. Manifestar graça e amor nos conduz à luta pela mudança.
Neste início de noite, não houve melhor tradução do que era meu pensamento nem o desejo de meu coração do que a fala paulina na carta aos Romanos. Eu quero amar o meu povo e quero que ele possa conhecer a vida de verdade que só Jesus dá. Eu quero amar o meu povo e quero vê-lo mudando a forma como lida com suas crianças e seus velhos. Eu quero amar o meu povo e quero vê-lo rendido aos pés do Senhor, mas também quero vê-lo vivendo de forma digna desde já.
Em tempos difíceis como os nossos, quando nuvens de escuridão parecem querer surgir no horizonte de nossa história, o nosso povo precisa do amor da igreja de Cristo manifestando o amor e a graça de Deus no seu cotidiano. No mínimo, o povo precisa de nossa oração. Mas precisa muito mais de nossa presença, levando a luz, o poder e a graça de Jesus – a transformação de suas vidas.
17.9.06
Contra a esperança
Finalmente perdemos toda a esperança de nos salvarmos.
Atos 27. 20
Abraão teve fé e esperança, mesmo quando não havia motivo para ter esperança...
Romanos 4. 18
Lembro do testemunho de um pastor, missionário em país latino-americano em Guerra Civil, anos atrás. Capturados por guerrilheiros, ele e o grupo missionário, após alguns dias, estavam prontos para serem executados. Os guerrilheiros se prepararam para matá-los, enquanto os missionários oravam. De repente, do nada, a explosão de uma bomba em local próximo assustou o grupo. Imediatamente, os homens armados abandonaram o local, sem tocar nos reféns, deixando-os para trás. O incrível e miraculoso é que não houve outras explosões, fora aquela. Não houve bombardeios. Na hora limite, Deus providenciara o livramento ao grupo.
Lucas narra a viagem de Paulo, prisioneiro, até Roma. O navio, açoitado pelos ventos e pelo mar, com mais de duzentas pessoas a bordo, vai à deriva. Depois de vários dias de sofrimento e luta, a morte é certa, segundo Lucas: Finalmente perdemos toda a esperança de nos salvarmos. Mas, miraculosamente, por amor a Paulo, Deus preserva e salva a todos naquele navio: Paulo, não tenha medo! Você precisa ir até a presença do Imperador. E Deus, na sua bondade, já lhe deu a vida de todos os que estão viajando com você (At. 27. 24).
Nunca tinha me apercebido claramente do valor da fala do narrador Lucas nessa passagem. A situação era limite e toda a esperança tinha se esvaído. O que estava acontecendo era grave demais e não havia qualquer possibilidade de salvação. Fé e esperança não existiam mais.
Nem preciso lembrar que, não só nessas duas histórias, mas em muitos momentos limites de nossas vidas, vemos a esperança se acabar. Olhamos em volta e percebemos que nos encontramos sem qualquer possibilidade de saída. Seja uma arma apontada contra nós, seja um navio indo a pique, seja um diagnóstico médico que nos condena, seja uma situação que, complicada, fecha as possibilidades de caminho à nossa frente. Vez por outra enfrentamos situações limites que nos colocam diante da perda da esperança.
Ter fé nessas horas é uma loucura maior ainda. Porque a fé na salvação em uma situação assim é esperar contra todas as circunstâncias e possibilidades. O desenho de todo o quadro e as circunstâncias que nos envolvem só nos fazem ter certeza do desfecho contrário. Mas a fé é capaz de esperar contra toda a esperança.
Paulo é o esperançoso naquele barco. Ele é o homem de fé e é por causa da sua fé que todos são salvos por Deus. Ele é o mesmo que, anos antes, escrevendo para a igreja em Roma sobre Abraão, define o porquê de ele ter sido o pai de muitas nações: Abraão teve fé e esperança, mesmo quando não havia motivo para ter esperança... Naquele navio, como em outros momentos de sua vida, Paulo teve a chance de provar sua coerência. Se ele era capaz de falar sobre a fé de Abraão como aquela que faz o homem esperar, mesmo quando não nenhum motivo para se ter esperança, era preciso ser coerente e honesto para vivenciar isso na prática.
Muitas vezes nos encontramos em uma situação limite que nos desespera. Como era a situação naquele navio no Mediterrâneo que levava Paulo ou como era a situação daquele grupo missionário em mãos guerrilheiras. Situação que nos deixa sem qualquer perspectiva de esperança. Essa é a hora da fé. Contra o fim certo, contra a condenação do diagnóstico, contra a fatalidade das circunstâncias, é hora da fé que nos coloca a esperar contra toda a esperança e aguardar o socorro e o livramento do Senhor.
Atos 27. 20
Abraão teve fé e esperança, mesmo quando não havia motivo para ter esperança...
Romanos 4. 18
Lembro do testemunho de um pastor, missionário em país latino-americano em Guerra Civil, anos atrás. Capturados por guerrilheiros, ele e o grupo missionário, após alguns dias, estavam prontos para serem executados. Os guerrilheiros se prepararam para matá-los, enquanto os missionários oravam. De repente, do nada, a explosão de uma bomba em local próximo assustou o grupo. Imediatamente, os homens armados abandonaram o local, sem tocar nos reféns, deixando-os para trás. O incrível e miraculoso é que não houve outras explosões, fora aquela. Não houve bombardeios. Na hora limite, Deus providenciara o livramento ao grupo.
Lucas narra a viagem de Paulo, prisioneiro, até Roma. O navio, açoitado pelos ventos e pelo mar, com mais de duzentas pessoas a bordo, vai à deriva. Depois de vários dias de sofrimento e luta, a morte é certa, segundo Lucas: Finalmente perdemos toda a esperança de nos salvarmos. Mas, miraculosamente, por amor a Paulo, Deus preserva e salva a todos naquele navio: Paulo, não tenha medo! Você precisa ir até a presença do Imperador. E Deus, na sua bondade, já lhe deu a vida de todos os que estão viajando com você (At. 27. 24).
Nunca tinha me apercebido claramente do valor da fala do narrador Lucas nessa passagem. A situação era limite e toda a esperança tinha se esvaído. O que estava acontecendo era grave demais e não havia qualquer possibilidade de salvação. Fé e esperança não existiam mais.
Nem preciso lembrar que, não só nessas duas histórias, mas em muitos momentos limites de nossas vidas, vemos a esperança se acabar. Olhamos em volta e percebemos que nos encontramos sem qualquer possibilidade de saída. Seja uma arma apontada contra nós, seja um navio indo a pique, seja um diagnóstico médico que nos condena, seja uma situação que, complicada, fecha as possibilidades de caminho à nossa frente. Vez por outra enfrentamos situações limites que nos colocam diante da perda da esperança.
Ter fé nessas horas é uma loucura maior ainda. Porque a fé na salvação em uma situação assim é esperar contra todas as circunstâncias e possibilidades. O desenho de todo o quadro e as circunstâncias que nos envolvem só nos fazem ter certeza do desfecho contrário. Mas a fé é capaz de esperar contra toda a esperança.
Paulo é o esperançoso naquele barco. Ele é o homem de fé e é por causa da sua fé que todos são salvos por Deus. Ele é o mesmo que, anos antes, escrevendo para a igreja em Roma sobre Abraão, define o porquê de ele ter sido o pai de muitas nações: Abraão teve fé e esperança, mesmo quando não havia motivo para ter esperança... Naquele navio, como em outros momentos de sua vida, Paulo teve a chance de provar sua coerência. Se ele era capaz de falar sobre a fé de Abraão como aquela que faz o homem esperar, mesmo quando não nenhum motivo para se ter esperança, era preciso ser coerente e honesto para vivenciar isso na prática.
Muitas vezes nos encontramos em uma situação limite que nos desespera. Como era a situação naquele navio no Mediterrâneo que levava Paulo ou como era a situação daquele grupo missionário em mãos guerrilheiras. Situação que nos deixa sem qualquer perspectiva de esperança. Essa é a hora da fé. Contra o fim certo, contra a condenação do diagnóstico, contra a fatalidade das circunstâncias, é hora da fé que nos coloca a esperar contra toda a esperança e aguardar o socorro e o livramento do Senhor.
12.9.06
Partida
Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa do seu pai e vá a uma terra que eu lhe mostrarei.
Gênesis 12. 1
Por uma série de fatores, a maior parte de nós concorda com a fala da Dorothy do Mágico de Oz de que não existe lugar como o nosso lar. O nosso lar é um ninho de abrigo e proteção com o qual nos acostumamos ao longo de toda uma vida. Ali, temos o calor do amor, a proteção contra os perigos. Desde a mais tenra infância, sob as asas dos pais e dos parentes que nos amam, somos protegidos quando nos arriscamos em desafios. Mesmo quando os enfrentamos, sabemos que voltaremos ao lar no fim do dia.
Por fatores assim, é muito difícil para a maioria de nós abrir mão do cuidado e da proteção do lar. Deve ter passado isso na cabeça de Abrão, quando Deus lhe fez esse desafio. Era hora de largar tudo e enfrentar nova vida e novos desafios. O desconhecido estava à sua frente. Deus o chamava para abrir mão da segurança de toda uma vida e aceitar o imponderável à sua frente.
Por isso Abrão é o pai da fé. A atitude de largar tudo, deixar uma vida para trás e aceitar o desafio divino é a manifestação mais perfeita da fé naquele que falava. Somente a crença em algo muito poderoso pode nos impulsionar a largar tudo em busca de uma visão que, afinal de contas, nem está tão definida assim. O desafio de Abrão era complexo: deixar a vida segura que levava, abandonar aqueles a quem amava, o lugar de sua infância que afetivamente ainda o impressionava e ir para um lugar desconhecido – cujo caminho até lá era uma incógnita. Somente um jogo de fé profunda em Deus poderia suportar essa sua decisão. Somente lançando-se em um relacionamento profundo e real com o Criador Abrão poderia decidir-se e se realizar em sua decisão.
Às vezes nós estamos na mesma encruzilhada que Abrão – que afinal mudou de nome para Abraão. Somos desafiados a mudar de vida, a deixar para trás uma velha vida. Os nossos adolescentes, em torno dos 18 anos, passam por isso quando se vêem obrigados a deixar a velha escola e ingressar numa faculdade que, imaginam, decidirá o futuro de sua vida. Ao saírem, experiências semelhantes. Coisas assim acontecem em diversos momentos da vida da gente.
Tive um professor quando estudava missões que costumava dizer que precisamos ser desinstalados. Esse, para mim, é o segredo da realização da vida de fé com Deus. Isso significa fazer do coração o lar, local de encontro com o Deus vivo e pessoal por meio de Jesus Cristo. Assim, isso é estar disposto a deixar tudo e seguir a vocação de Deus, como Abrão.
Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa do seu pai e vá a uma terra que eu lhe mostrarei. Esta semana estive visitando minha terra, minha família. A partida é dolorosa. Somente a fé e o relacionamento com o Pai podem nos suportar nisso. Literalmente, Deus me fez o desafio de Abrão: deixar a terra, os parentes, a casa da família e ir para uma terra que eu não conhecia. Essa primeira etapa já tem dois meses, mas esse fim de semana percebi fortemente a grandeza da decisão de não mais voltar ao antigo lar.
Algumas coisas devem estar firmes no coração para nos motivar em horas assim. Primeiro, a certeza de que é o Senhor quem faz essas coisas. Se sou servo dEle, devo obedecer a Sua vontade – mesmo que isso signifique abandonar tudo o que mais amo na vida. Isso é fé.
Depois, movido por essa fé, devo estar certo de que vou para uma terra que Ele me mostrará. Ou seja, estou indo para o lugar e a situação que Ele planejou para mim. Ir, nesse caso, é permanecer no melhor lugar do mundo: o centro da vontade de Deus. Mesmo que o futuro seja invisível a olhos humanos e humanamente incerto, Deus estando à frente de tudo e guiando nossos passos nessa caminhada – pela fé – é motivo de segurança e realização.
O texto da vocação de Abrão continua dizendo algumas coisas, das quais quero destacar duas idéias: Os seus descendentes vão formar uma grande nação. Eu o abençoarei, o seu nome será famoso, e você será uma bênção para os outros (Gn. 12. 2). Ficar quieto no nosso cantinho, o lar que amamos e ao qual estamos acostumados, implica não receber as bênçãos que Deus tem reservado para nós, caso saíamos com fé de onde estamos. Ficar no nosso canto, acomodados, é abrir mão da novidade de vida que Jesus tem para nós.
Ficar é perder a bênção de receber da graça de Jesus o que Ele tem reservado. Mas ficar é, especialmente, perder a bênção de ser bênção para pessoas que ainda nem conhecemos. Não atender à vocação do Senhor de deixar tudo significa não permitir que muitos recebam bênçãos do Senhor que viriam por nosso intermédio.
Estou desinstalado e em trânsito. Por enquanto no Rio, em novembro em Salvador. Estou me sentindo realizado por saber que o caminho está sendo mostrado pelo Senhor. Estou feliz por estar atendendo à vocação dEle, por saber que Ele tem uma vida nova para mim – para a Sua glória – onde eu vá ou esteja. E estou plenamente satisfeito com isso porque sei que Deus me tirou do meu ninho não só para me abençoar ricamente, como tem feito, mas para me fazer ser bênção na vida de pessoas que nem imagino que existam, de maneiras que nunca passaram pela minha cabeça.
Na hora de decidir por deixar o ninho, atendendo uma vocação divina, lembre que Ele guiará você para o melhor lugar: o centro da Sua vontade. E você será plenamente realizado com as Suas bênçãos e por ser bênção também para pessoas que você ainda vai encontrar, sob as asas do Pai.
Gênesis 12. 1
Por uma série de fatores, a maior parte de nós concorda com a fala da Dorothy do Mágico de Oz de que não existe lugar como o nosso lar. O nosso lar é um ninho de abrigo e proteção com o qual nos acostumamos ao longo de toda uma vida. Ali, temos o calor do amor, a proteção contra os perigos. Desde a mais tenra infância, sob as asas dos pais e dos parentes que nos amam, somos protegidos quando nos arriscamos em desafios. Mesmo quando os enfrentamos, sabemos que voltaremos ao lar no fim do dia.
Por fatores assim, é muito difícil para a maioria de nós abrir mão do cuidado e da proteção do lar. Deve ter passado isso na cabeça de Abrão, quando Deus lhe fez esse desafio. Era hora de largar tudo e enfrentar nova vida e novos desafios. O desconhecido estava à sua frente. Deus o chamava para abrir mão da segurança de toda uma vida e aceitar o imponderável à sua frente.
Por isso Abrão é o pai da fé. A atitude de largar tudo, deixar uma vida para trás e aceitar o desafio divino é a manifestação mais perfeita da fé naquele que falava. Somente a crença em algo muito poderoso pode nos impulsionar a largar tudo em busca de uma visão que, afinal de contas, nem está tão definida assim. O desafio de Abrão era complexo: deixar a vida segura que levava, abandonar aqueles a quem amava, o lugar de sua infância que afetivamente ainda o impressionava e ir para um lugar desconhecido – cujo caminho até lá era uma incógnita. Somente um jogo de fé profunda em Deus poderia suportar essa sua decisão. Somente lançando-se em um relacionamento profundo e real com o Criador Abrão poderia decidir-se e se realizar em sua decisão.
Às vezes nós estamos na mesma encruzilhada que Abrão – que afinal mudou de nome para Abraão. Somos desafiados a mudar de vida, a deixar para trás uma velha vida. Os nossos adolescentes, em torno dos 18 anos, passam por isso quando se vêem obrigados a deixar a velha escola e ingressar numa faculdade que, imaginam, decidirá o futuro de sua vida. Ao saírem, experiências semelhantes. Coisas assim acontecem em diversos momentos da vida da gente.
Tive um professor quando estudava missões que costumava dizer que precisamos ser desinstalados. Esse, para mim, é o segredo da realização da vida de fé com Deus. Isso significa fazer do coração o lar, local de encontro com o Deus vivo e pessoal por meio de Jesus Cristo. Assim, isso é estar disposto a deixar tudo e seguir a vocação de Deus, como Abrão.
Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa do seu pai e vá a uma terra que eu lhe mostrarei. Esta semana estive visitando minha terra, minha família. A partida é dolorosa. Somente a fé e o relacionamento com o Pai podem nos suportar nisso. Literalmente, Deus me fez o desafio de Abrão: deixar a terra, os parentes, a casa da família e ir para uma terra que eu não conhecia. Essa primeira etapa já tem dois meses, mas esse fim de semana percebi fortemente a grandeza da decisão de não mais voltar ao antigo lar.
Algumas coisas devem estar firmes no coração para nos motivar em horas assim. Primeiro, a certeza de que é o Senhor quem faz essas coisas. Se sou servo dEle, devo obedecer a Sua vontade – mesmo que isso signifique abandonar tudo o que mais amo na vida. Isso é fé.
Depois, movido por essa fé, devo estar certo de que vou para uma terra que Ele me mostrará. Ou seja, estou indo para o lugar e a situação que Ele planejou para mim. Ir, nesse caso, é permanecer no melhor lugar do mundo: o centro da vontade de Deus. Mesmo que o futuro seja invisível a olhos humanos e humanamente incerto, Deus estando à frente de tudo e guiando nossos passos nessa caminhada – pela fé – é motivo de segurança e realização.
O texto da vocação de Abrão continua dizendo algumas coisas, das quais quero destacar duas idéias: Os seus descendentes vão formar uma grande nação. Eu o abençoarei, o seu nome será famoso, e você será uma bênção para os outros (Gn. 12. 2). Ficar quieto no nosso cantinho, o lar que amamos e ao qual estamos acostumados, implica não receber as bênçãos que Deus tem reservado para nós, caso saíamos com fé de onde estamos. Ficar no nosso canto, acomodados, é abrir mão da novidade de vida que Jesus tem para nós.
Ficar é perder a bênção de receber da graça de Jesus o que Ele tem reservado. Mas ficar é, especialmente, perder a bênção de ser bênção para pessoas que ainda nem conhecemos. Não atender à vocação do Senhor de deixar tudo significa não permitir que muitos recebam bênçãos do Senhor que viriam por nosso intermédio.
Estou desinstalado e em trânsito. Por enquanto no Rio, em novembro em Salvador. Estou me sentindo realizado por saber que o caminho está sendo mostrado pelo Senhor. Estou feliz por estar atendendo à vocação dEle, por saber que Ele tem uma vida nova para mim – para a Sua glória – onde eu vá ou esteja. E estou plenamente satisfeito com isso porque sei que Deus me tirou do meu ninho não só para me abençoar ricamente, como tem feito, mas para me fazer ser bênção na vida de pessoas que nem imagino que existam, de maneiras que nunca passaram pela minha cabeça.
Na hora de decidir por deixar o ninho, atendendo uma vocação divina, lembre que Ele guiará você para o melhor lugar: o centro da Sua vontade. E você será plenamente realizado com as Suas bênçãos e por ser bênção também para pessoas que você ainda vai encontrar, sob as asas do Pai.
2.9.06
Sobre Anjos, sóis e fé
Tudo o que é meu é teu, e tudo o que é teu é meu; e a minha natureza divina se revela por meio daqueles que me deste. (...) Que eles sejam teus por meio da verdade; a tua mensagem é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, eu também os enviei. (...) E peço que todos sejam um. E assim como tu, meu Pai, estás unido comigo, e eu estou unido contigo, que todos os que crerem também estejam unidos a nós para que o mundo creia que tu me enviaste.
João 17. 10, 17, 21
Esta tarde eu assisti um filme que me incomodou profundamente. Anjos do sol me fez sair do cinema e correr para o banheiro, segurando as lágrimas, engolindo em seco. Um verdadeiro e direto soco no estomago. Crueza e dureza realística de um cotidiano do país.
Já aqui, no quarto do hotel, comecei a refleti sobre a dura realidade representada naquela hora e vinte de filme (acho que se o filme fosse maior, eu morreria de impotência). E comecei a me questionar sobre onde estamos, nós, que nos afirmamos cristãos? Onde estamos, aqueles que se dizem discípulos de Jesus? Como podemos querer ser aqueles que refletem a natureza divina se não temos feito diferença para transformar essas histórias contadas no filme – tão duras e tão reais.
O nome de Jesus aparece em alguns momentos. Quando o personagem de Chico Diaz está transportando mais uma leva de garotas compradas para exploração sexual, o caminhão que faz o transporte leva à frente o nome de Jesus pregado no pára-brisa. Acho que não é um papel muito diferente que temos feito nesse país. No máximo somos pára-brisas.
Nessa manhã via um dos muitos programas evangélicos que a tevê exibe aos sábados de manhã. Nele se relatava a “grande vitória” que foi para a igreja a revogação das mudanças que o código civil impunham aos estatutos eclesiásticos, no fim de 2004. Isso é um absurdo. As vitórias que as igrejas comemoram são aquelas que dizem respeito aos seus próprios umbigos. Convencer uma bancada evangélica que, a partir do seu presidente, agora é conhecida como sanguessuga, a lutar por uma mudança legal para preservar a igreja é o máximo que as igrejas estão fazendo de luta. Enquanto isso, crianças são vendidas pelos próprios pais para exploração sexual.
Algumas igrejas se contentam em alimentar e vestir os mendigos e moradores das ruas. Eu não quero me contentar com isso. O Rio de Janeiro não é só violência, nem é só beleza natural. É mendicância também. Hoje faz dois meses que estou hospedado em um hotel aqui no Centro da cidade. Meus vizinhos de calçada são dezenas de moradores de rua. Um senhor dorme, cercado por suas caixas e coberto de seus panos, a poucos metros da porta do hotel. Outra senhora dorme na esquina da Rio Branco. Até planta em jarro ela tem em seu canto. E quando eu penso no que a nossa sociedade é capaz de fazer aos seus velhos e no tamanho da desigualdade que impera nessas ruas, vejo que o evangelho não tem que ser pregado nessas ruas: ele tem que ser vivido em ações concretas de transformação social. Eu hoje tenho mais orgulho de ser parte da Petrobras do que de ser parte da Igreja Cristã no que diz respeito transformação e mudança da realidade dos que sofrem neste mundo, neste país.
Até em coisas aparentemente mais fáceis, estamos sofrendo para que alguém acredite que somos de Cristo. Uma dessas coisas é a comunhão interna das comunidades. Quem não conhece uma história como essa, que voltou a se repetir com uma pessoa de minha família: o irmão está gravemente enfermo, tendo que se submeter a uma cirurgia extremamente delicada e de risco de morte. Fica, depois, uma semana no hospital. Depois, mais três semanas com uma sonda. Por fim, quando a sonda é retirada, mais uma semana no hospital. Visitado por alguns líderes, sua falta não é sequer sentida pelo resto da comunidade. Que nem sequer é informada da doença do irmão.
E peço que todos sejam um. E assim como tu, meu Pai, estás unido comigo, e eu estou unido contigo, que todos os que crerem também estejam unidos a nós para que o mundo creia que tu me enviaste. Como o mundo crerá, se não conseguir nos comportar como verdadeiros discípulos? Às vezes penso que as comunidades, inclusive a que estou, não tem a menor vontade de que o mundo creia. Não se move nessa direção e vive de maneira que impede que isso aconteça.
Onde vamos parar? Como e quando seremos discípulos verdadeiros do Mestre Jesus? Do Cordeiro, Filho de Deus, Raiz de Davi? Ou será que vamos esperar que Deus nos tire da Videira e enxerte alguém que possa dar fruto?
João 17. 10, 17, 21
Esta tarde eu assisti um filme que me incomodou profundamente. Anjos do sol me fez sair do cinema e correr para o banheiro, segurando as lágrimas, engolindo em seco. Um verdadeiro e direto soco no estomago. Crueza e dureza realística de um cotidiano do país.
Já aqui, no quarto do hotel, comecei a refleti sobre a dura realidade representada naquela hora e vinte de filme (acho que se o filme fosse maior, eu morreria de impotência). E comecei a me questionar sobre onde estamos, nós, que nos afirmamos cristãos? Onde estamos, aqueles que se dizem discípulos de Jesus? Como podemos querer ser aqueles que refletem a natureza divina se não temos feito diferença para transformar essas histórias contadas no filme – tão duras e tão reais.
O nome de Jesus aparece em alguns momentos. Quando o personagem de Chico Diaz está transportando mais uma leva de garotas compradas para exploração sexual, o caminhão que faz o transporte leva à frente o nome de Jesus pregado no pára-brisa. Acho que não é um papel muito diferente que temos feito nesse país. No máximo somos pára-brisas.
Nessa manhã via um dos muitos programas evangélicos que a tevê exibe aos sábados de manhã. Nele se relatava a “grande vitória” que foi para a igreja a revogação das mudanças que o código civil impunham aos estatutos eclesiásticos, no fim de 2004. Isso é um absurdo. As vitórias que as igrejas comemoram são aquelas que dizem respeito aos seus próprios umbigos. Convencer uma bancada evangélica que, a partir do seu presidente, agora é conhecida como sanguessuga, a lutar por uma mudança legal para preservar a igreja é o máximo que as igrejas estão fazendo de luta. Enquanto isso, crianças são vendidas pelos próprios pais para exploração sexual.
Algumas igrejas se contentam em alimentar e vestir os mendigos e moradores das ruas. Eu não quero me contentar com isso. O Rio de Janeiro não é só violência, nem é só beleza natural. É mendicância também. Hoje faz dois meses que estou hospedado em um hotel aqui no Centro da cidade. Meus vizinhos de calçada são dezenas de moradores de rua. Um senhor dorme, cercado por suas caixas e coberto de seus panos, a poucos metros da porta do hotel. Outra senhora dorme na esquina da Rio Branco. Até planta em jarro ela tem em seu canto. E quando eu penso no que a nossa sociedade é capaz de fazer aos seus velhos e no tamanho da desigualdade que impera nessas ruas, vejo que o evangelho não tem que ser pregado nessas ruas: ele tem que ser vivido em ações concretas de transformação social. Eu hoje tenho mais orgulho de ser parte da Petrobras do que de ser parte da Igreja Cristã no que diz respeito transformação e mudança da realidade dos que sofrem neste mundo, neste país.
Até em coisas aparentemente mais fáceis, estamos sofrendo para que alguém acredite que somos de Cristo. Uma dessas coisas é a comunhão interna das comunidades. Quem não conhece uma história como essa, que voltou a se repetir com uma pessoa de minha família: o irmão está gravemente enfermo, tendo que se submeter a uma cirurgia extremamente delicada e de risco de morte. Fica, depois, uma semana no hospital. Depois, mais três semanas com uma sonda. Por fim, quando a sonda é retirada, mais uma semana no hospital. Visitado por alguns líderes, sua falta não é sequer sentida pelo resto da comunidade. Que nem sequer é informada da doença do irmão.
E peço que todos sejam um. E assim como tu, meu Pai, estás unido comigo, e eu estou unido contigo, que todos os que crerem também estejam unidos a nós para que o mundo creia que tu me enviaste. Como o mundo crerá, se não conseguir nos comportar como verdadeiros discípulos? Às vezes penso que as comunidades, inclusive a que estou, não tem a menor vontade de que o mundo creia. Não se move nessa direção e vive de maneira que impede que isso aconteça.
Onde vamos parar? Como e quando seremos discípulos verdadeiros do Mestre Jesus? Do Cordeiro, Filho de Deus, Raiz de Davi? Ou será que vamos esperar que Deus nos tire da Videira e enxerte alguém que possa dar fruto?
Assinar:
Postagens (Atom)